domingo, 16 de fevereiro de 2014

Paciência Ativa


Por Nestor Fernandes Fidelis

Cada pessoa tem seus objetivos familiares, profissionais, religiosos, conquanto possa não ter plena consciência dos propósitos para os quais esteja inserido em cada contexto. Sendo assim, é natural que nos atritos do dia-a-dia, principalmente na convivência com o próximo, a criatura experimente momentos de dor.

Consoante nos ensina o Espírito Lázaro, na obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (cap. XI, item 8) “a dor é uma bênção que Deus envia a seus eleitos”, tornando-se, de certa forma, inevitável no processo evolutivo de nossas vidas, desde que vista como uma oportunidade de reflexão, de reparação, de correção de posturas, fazendo com que o sofrimento seja opcional.

Logo, vale a pena sermos pacientes, ao invés de adotarmos maneiras precipitadas, afoitas, levando-se em conta que a paciência é uma forma de caridade. Existem muitas formas de se exercitar a caridade, mas inevitável reconhecer que, no estágio atual da humanidade, as pessoas ainda associam o termo “caridade” com doação de esmolas ou de roupas surradas, porquanto desconhecem, ainda, o verdadeiro sentido e o real alcance da expressão “caridade” e, também, pelo fato de a caridade material ser a mais fácil de ser praticada.

Por outro lado, sabemos que Deus colocou pessoas no nosso caminho que estão sempre a nos solicitar, pacientemente, “o perdão”, que se apresenta como a caridade mais difícil de se vivenciar.

Todos sabemos que a vida ainda não é um mar de venturas, exigindo do ser humano muito esforço por manter-se em equilíbrio psíquico a todo instante, a fim de bem aproveitar as ensanchas de promoção intelecto-moral e de contribuir com Deus em sua incessante obra de paz. Porém, mesmo que não seja fácil, em decorrência de diversos fatores, mormente pela nossa indigência espiritual, basta cogitarmos a alegria e satisfação de sermos cumpridores fieis dos deveres que nos são confiados e, também, nas inegáveis recompensas maiores que receberemos, para concluir que vale a pena sermos pacientes.
Ser paciente é ser cristão.

Quando estamos diante de uma dificuldade podemos tomar caminhos evidentemente mais fáceis, como reagirmos, ou devolvermos possíveis agressões com outra atitude violenta, seja por palavras, gestos, ações e, até mesmo, por pensamentos que emitimos e que, em primeiro lugar, prejudicarão o próprio emissor; ou permanecermos passivos, passando, não raro, a falsa impressão de que somos “bonzinhos” e que não gostamos de briga, agindo com falsa-paciência. Todavia, nenhuma dessas opções são salutares: em primeiro lugar, porque já aprendemos a devolver o mal com o bem, ofertando a outra face, a face da razão aliada à emoção equilibrada; em segundo lugar, pelo fato de que, agindo na passividade excessiva, estaremos “cruzando nossos braços” e caindo em infrutífera lamentação, bem característica daqueles que ainda não desenvolveram a coragem para se conhecer melhor e acabam por eleger a fuga como meio “não resolver” os “problemas-provas”.

Revidar na mesma moeda (olho por olho, dente por dente), ou fingirmos ter “sangue-de-barata” e sofrermos sucessivas agressões, não são atitudes atinentes às Leis de Deus, que está gravada na consciência de cada criatura, tendo por arrimo o amor, a felicidade. A paciência sempre deve “andar de mãos dadas” com a “perseverança”. E a natureza nos apresenta excelentes modelos dessas virtudes. Vejamos o caso dos vegetais que, quando feridos, perseveram, resistem e regeneram seus próprios tecidos; ou das raras pérolas que pacientemente foram se formando a partir de um minúsculo grão de areia, dando claras demonstrações que a paciência sempre encontra um meio de deslindar as mais graves celeumas, com calma, bem se utilizando o tempo.

Imperioso notarmos, portanto, que o melhor caminho a ser tomado quando nos defrontamos com alguma dificuldade é o da paciência, jamais o do conformismo ou o da violência. Para tanto, faz-se mister aceitar a dor, senti-la sem entregar-se ao sofrimento, tampouco ao choro preguiçoso.

Emmanuel, em sua obra “Livro da Esperança”, psicografado, como centenas, por Chico Xavier, assevera que não devemos agir com “COMPLACÊNCIA CULPOSA”, ou seja, deixando a situação difícil como está para ver como é que fica. Há muitas pessoas, principalmente nossos confrades espíritas, que se auto-sentenciaram à eterna agonia moral, pois pensam que não merecem ser felizes, em virtude da consciência (ou subconsciência) culpada por erros e vícios adquiridos nesta ou noutra existência.

Tais pessoas entendem, equivocadamente, a nosso ver, que devem sofrer e que não têm direito à felicidade, devendo sacrificar-se, suportar martírios das formas mais diversas, porque assim estarão resgatando débitos do passado. Por conta disso, permitem que os outros as agridam moral e/ou fisicamente, abusem de seus direitos, vez que consideram estar agindo por renúncia, aduzindo que merecem passar por essas circunstâncias e, mais, que estão resgatando pretéritos erros, o que demonstra um ledo engano de interpretação a respeito das lições dos Espíritos.

Sacrifício é diferente de Renúncia, posto que o primeiro caracteriza martírio injustificado que sempre ocasionará desajuste psicossomático, ao passo que o segundo significa a sublimação da dor, motivada por uma causa maior, a do amor.

Sendo assim, a conivência com o erro do próximo nunca é bem-vinda, uma vez que com tal ato não estaremos a resgatar nada, muito menos a ajudar o outro ser. Ao contrário, a complacência, geralmente, fará com que o próximo contraia mais “dívidas” consigo mesmo e com outrem, posto que as atitudes equivocadas não agregam valor algum e poderão ensejar sua ruína moral.

Destarte, cumpre-nos, como cristãos, sermos pacientes no esclarecimento geral, não nos escondendo sob a capa da pseudopaciência, do bonzinho para agradar aos olhos da sociedade, que, não raro e infelizmente, tem o costume de julgar os outros sem ter total conhecimento do que se passa, em verdade.
Agir assertivamente, com paciência e perseverança, com arrimo na fé e com a força da oração, é dever do homem e da mulher de bem, nem que isso lhe requeira intensas dores.

É o que ocorre, por exemplo, com um casal que não observou a lei de amor e, por isso, encontrando-se em estado de profundo desrespeito mútuo decide, como medida extrema, visando salvar o casamento, se submeter a um afastamento temporário (por mais que seja dolorido), a fim de reflexionarem acerca da importância da felicidade de cada um e da família, preparando-se para um re-casamento salutar com o mesmo cônjuge, perseverando no amor e, também, para que não caiam ainda mais, ensejando, com isso, a queda do próximo e dando maus exemplos aos filhos.

À luz do conhecimento de Emmanuel, “Jesus foi a paciência sem limites”, suportou todos os golpes por compreender a inferioridade das pessoas que amava, mas preferiu aceitar a morte na cruz a ter de aplaudir o erro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário