terça-feira, 31 de janeiro de 2017

ALMAS DO OUTRO MUNDO OU ALMAS PENADAS



Os gregos acreditavam que, depois da morte, a alma, sendo imortal, não desaparecia com o corpo e ia para uma região chamada Hades (o mundo dos mortos que ficava sob a terra e era governada pelos deuses Plutão ou Hades e Prosérpina). Para que a alma chegasse ao Hades, porém, havia que ser morta e enterrada segundo rituais. Caso uma pessoa morresse, mas não fosse enterrada, a sua alma não ia para o Hades e ficaria vagando pela terra perturbando a vida dos mortais. Era também por isso que as famílias greco-romanas antigas faziam o culto dos mortos ou culto dos ancestrais, cujo objetivo era prover a alma do morto de alimento para que, faminta, ela não viesse cobrar dos vivos a atenção que lhe seria devida.

Esta ideia atravessou os séculos e chegou aos nossos dias como alma penada, assombração ou alma do outro mundo. Assim, na cultura popular brasileira, acreditava-se que muitas almas estavam condenadas a vagar pela Terra cumprindo um fado que durava certo número de anos, normalmente sete. Outras ficavam apegadas a certos lugares, como a casa onde viveram. Tais lugares eram chamados de assombrados, pois em grego, apareciam na forma de sombra. Havia também lugares especiais habitados pelas almas como: cemitérios, lugares ermos, velhos castelos e teatros, onde atores fantasmas continuavam a encenar suas peças e assim por diante. Essa crença gerou um grande número de relatos que servem até hoje de matéria para filmes e livros.

Nos anos cinquenta, eu morava em um bairro chamado Rocha Miranda. Perto da minha rua, (a Rua 29) havia a Rua 30 em cuja parte mais alta havia os restos de uma fazenda antiga que o povo dizia ter pertencido ao Coronel Vira-Mundo. Ninguém passava à noite, principalmente, à meia-noite ou hora grande, nas imediações da fazenda, pois vindo de seus escombros ouviam-se gemidos lamentosos, uivos terríveis, gritos de dor. Outros afirmavam que aparecia o próprio Vira-Mundo, que vinha na bica de água ali existente lavar seu cavalo de fogo.

Na Rua 30, havia um fantasma conhecido como a Mulher que Crescia. Quem a havia visto contava que ela andava altas horas da noite por aquela rua. Vista de longe, parecia uma mulher comum, vestida de branco e de cabelos compridos, mas à medida que ela se aproximava do passante, ia crescendo... crescendo ...crescendo tanto que ficava mais alta do que um poste e depois, literalmente, se derramava sobre o pobre coitado que tivesse a infelicidade de vê-la: aterrorizado, saía em desabalada carreira ou mesmo desmaiava, só acordando pela manhã do dia seguinte.

Na Rua Américo da Rocha, em Honório Gurgel, havia um "meladeiro" misterioso que passava vendendo melado depois da meia-noite. Assustadas, as pessoas não abriam a janela para vê-lo, limitavam-se, fazendo o sinal da cruz ao ouvir-lhe a voz triste e lamentosa anunciando o seu produto até ao final da rua. Um dia, uma jovem que morava na Zona Sul estava na casa de uma prima que ia se casar e o ouviu passar; sem se importar, chamou-o e comprou uma garrafa de melado. O homem estranho não quis receber dinheiro algum e seguiu seu caminho. Depois, quando ela abriu o pacote onde estaria o melado encontrou uma canela de defunto.

Havia também as almas penadas que erravam pela Terra porque estavam no purgatório precisando de missas que não lhes eram feitas. Assim, essas almas apareciam para as pessoas pedindo a elas que lhes rezassem missas. Nessas histórias a assombração, se atendida por uma pessoa corajosa, revelava a esta a existência de tesouros escondidos com os quais ela poderia pagar as missas, geralmente sete, ficando com o restante.

Um desses relatos conta a história de um estudante muito corajoso que foi passear pelo interior do estado de Minas Gerais. Ao anoitecer, chegou a uma cidadezinha e desejou passar a noite ali, mas não havia hotéis na cidade e, como ele insistisse, um morador, lhe disse que havia, nas proximidades, uma fazenda abandonada em cujo casarão ele poderia dormir, desde que não tivesse medo porque o lugar era encantado (assombrado). O rapaz não teve medo e lá se foi para o lugar. Ali chegando, encontrou um velho cômodo que lhe pareceu bom para dormir e se deitou.

Altas horas da noite, ouviu uma voz que vinha do teto e dizia, apavorante: "Eu caio... Eu caio... Eu caio...". O rapaz não teve medo e falou: "Quer cair, pode cair." Nesse momento, caiu a perna de um esqueleto. A voz continuava dizendo a mesma coisa e o rapaz mandava cair. E caiam partes de um esqueleto. Quando o esqueleto ficou completo, disse ao jovem que o acompanhasse. O jovem seguiu com o fantasma que lhe apontou um lugar do lado de fora e lhe disse que cavasse ali: o rapaz cavou e encontrou uma panela cheia de moedas de ouro. O esqueleto, então, falou: "Pega este dinheiro reza sete missas para mim e fica com o resto para você." O rapaz fez isso e nunca mais apareceu coisa alguma na fazenda assombrada.

Essas histórias são folclóricas, resultado da imaginação popular e de materiais muito antigos que chegaram adaptados aos nossos dias e à nossa realidade. Entretanto, elas apontam para uma crença arraigada na alma popular: a vida continua e as pessoas chamadas mortas não estão desaparecidas para sempre e podem se manifestar aos vivos. Muitas dessas histórias podem ser explicadas pela Doutrina Espírita. Há, inclusive, um livro clássico de Camilo Flamarion As Casas Mal-Assombradas dedicado a este assunto e baseado em fatos reais documentados.

Ficamos por aqui, mas acredito que os interessados em pesquisa sobre este assunto poderiam mesmo escrever um livro que poderia se intitular: Fantasmas e assombrações segundo o Espiritismo. Matéria é o que não falta.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

ESTUDANDO O EVANGELHO



Nos áureos tempos do ensino médio, nas aulas de história militar, estudávamos preocupados com a prova que cobrava as batalhas do Brasil Império, seus detalhes e seus comandantes, com nomes, dados e números. Muita decoreba, pouca reflexão e um aprendizado que ficou dos momentos cômicos de sala de aula, mas pouco do que podemos aproveitar no presente com a história e o com o sacrifício dos que nos antecederam.

Essa visão da história, dos dados, predominou no Brasil no segundo quinquênio do século passado, demorando a surgir uma visão da história que priorizasse o entendimento das relações, das forças sociais e de que forma isso tudo nos ajuda a explicar o mundo como ele é hoje. Penamos, nos bancos escolares, com a memorização de dados e fatos estranhos à nossa realidade, achando que isso seria aprender história. E nos gabávamos desse saber! No máximo, nos preparávamos para um programa televisivo de perguntas e respostas.

Em uma época que exaltamos o estudo da "Bíblia" in natura, relançado o Novo Testamento pela Federação Espírita Brasileira; tempos no qual pensamos em fazer um filme espírita com a história de Jesus; em que se tem a descoberta recente do Evangelho de Barnabé, mais um texto que com suas polêmicas recebe alcunhas de apócrifo e abala as estruturas calcadas em textos evangélicos; ou seja, momentos em que os acontecimentos da passagem de Jesus pela Terra (encarnado) voltam com força pela sua verdade histórica às prateleiras e discussões, penso que merece uma singela reflexão a nossa postura diante do estudo do Evangelho, sob pena de cair na armadilha dos números e detalhes, do saber por saber.

O que queremos nós, espíritas, do estudo do texto evangélico? Vemos ali um livro sagrado, imutável, valorizado pela letra que mata e que deve ser estudado e repetido, como o terço e o rosário de outros tempos? Vemos neste uma fonte de estudos dos hábitos e a cultura de uma época, estranha a nós em um mundo moderno, esquecendo-nos da "parte boa" contida nas lições da moral? Ouço as pessoas dizerem que é importante estudar a Bíblia... Mas, por quê? Somente ela, com essa abordagem, dará conta de nossas questões como espírito encarnado no planetinha azul?

Completamos este ano, 2013, os 150 anos de O Evangelho Segundo o Espiritismo, obra magistral na qual Kardec trata da questão religiosa do espiritismo, da sua relação com o cristianismo, tendo em suas páginas iniciais estampado que a referida obra trata da " explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida", apontando que o foco é o espiritismo e como ele nos ajuda a entender as máximas morais de Jesus, de forma a nos tornar o ambicionado Homem de Bem, propósito maior.

Nesse sentido, a porta estreita de nos determos em tertúlias sobre detalhes e ocorridos da vida de Jesus e dos discípulos que os seguiram, em que pese seu valor histórico, pode ter um baixo potencial de nos auxiliar na transposição do Reino de Deus para os dias atuais. E ainda, necessitamos, como já advertido pelo próprio Kardec, filtrar a Bíblia, em suas múltiplas traduções, permeadas de guerras e lutas políticas, oriunda de uma história oral e carregada, em especial no Velho Testamento, de passagens sexistas e contrárias à ciência, que podem nos levam a adotar uma visão restrita disso tudo. Filtrar a Bíblia não é interpretá-la a nossa maneira, mas sim entender que o texto, como base de nossas reflexões, padece de interferências históricas e culturais. No espiritismo, não existe livro sagrado...

No estudo do Evangelho, do livro que fundamenta o cristianismo no mundo todo, é preciso mergulhar no espírito daquelas passagens, entender a mensagem em cada situação, na qual o Cristo se usa de parábolas ou de situações reais para exemplificar o que nos servirá para a eternidade. Kardec propôs isso... Interessa-nos essa história vista do alto, no contexto da época e trazido para a nossa realidade. É preciso superar os 500 anos de catolicismo arraigados em nossa alma e entender que o paradigma é diferente, é o da fé raciocinada, do livro que fala mais do que seu texto e de uma religião que rompa mitos e formalismo, como nos deixou o legado Kardequiano.

Na nossa jornada reencarnatória, necessitamos da mensagem do Evangelho a iluminar nossa rota, como um farol a nos guiar. Mas precisamos ter "olhos de ver" para enxergar essa luz, relembrando as guerras que a história da humanidade viveu com base em interpretações desses mesmos livros e de que a religião, como forma de relação com a nossa espiritualidade, pode redundar em absurdos, onde a razão precisa nos orientar. Quem não lembra o clássico filme da década de 80, "Footloose", onde o texto evangélico serviu como proibição da dança, mas também argumentou para a sua liberação naquela pequena comunidade. Jogos de palavras no qual a fé cega pode se servir... Interpretações literais sobre o que não temos certeza.

Estudos históricos, detalhes da época, nomes de personagens, com todo respeito a essas figuras históricas e seus sacrifícios, devem nos servir para algo mais do que decorar a nossa cultura sobre o povo judeu de 2000 anos atrás e o modo de vida no Oriente Médio, como se falássemos de seres supra-humanos. Kardec, ao falar do objetivo de O Evangelho Segundo o Espiritismo, reforça que ele trata da questão moral, daquela que se afasta da controvérsia e dos sectarismos e permanece para além dos séculos, e apesar dessa supremacia, demanda estudo e reflexão.

Quando vejo os textos do Novo e Velho Testamento carregados de pronomes pessoais em desuso na língua coloquial, como o "Vós", fica claro que isso se deve a uma fossilização do texto, que não pôde ser mudado pelo seu caráter sagrado. Resquícios de uma cultura do texto sagrado, na qual o próprio livro, fisicamente, é cultuado em um altar. Mas, e a ideia... Esse é o cerne dessa discussão, abandonar o formalismo do texto, do fato e avançar sobre a essência, ainda que o primeiro caminho seja mais fácil. Lembremos que a queima dos livros em Barcelona, na época de Kardec, foi visto como uma questão benéfica para a difusão das ideias espíritas.

Leonardo Da Vinci dizia que "(...) a simplicidade é o último degrau da sofisticação". Gandhi, em sua sabedoria, nos asseverou no século passado que "(...) se toda a literatura ocidental se perdesse e restasse apenas o Sermão da Montanha, nada se teria perdido", apontando que as coisas simples do Evangelho são as mais necessárias a nossa evolução. Lembremo-nos de André Luiz, no livro Agenda Cristã, quando diz "(...) não viva pedindo orientação espiritual, indefinidamente. Se você já possui duas semanas de conhecimento cristão, sabe, à saciedade, o que fazer." Isso não é um abandono do estudo e sim uma orientação da abordagem que ele deve adotar.

Nessa época de valorização da informação nua e crua, do grande acúmulo de dados pelas pessoas em seus equipamentos portáteis, ficamos extasiados com minúcias históricas e suas nuanças e esquecemos-nos da vida real, da aplicação daquele conhecimento em um contexto mais amplo. Hoje, posto que com a Internet tenhamos uma infinidade de dados ao alcance de nossas mãos, nos detemos em saber muito, sobre coisas e suas superficialidades, e estamos perdendo a competência de discutir e refletir. Navegamos na superfície, nos seus detalhes exteriores e esquecemos a essência.

Da mesma forma, a nossa sociedade valoriza o espetáculo, o bom produto a ser consumido e buscamos mergulhar nas histórias e nos tornamos aficionados pelos nossos personagens, com bonecos nas mesas do trabalho e posts nas redes sociais. Fazemos assim com nossos heróis evangélicos, endeusados pelos seus superpoderes, na releitura dos fenômenos de canonização, distantes em um mundo inatingível de fantasia a divertir nossas tardes de domingo.

Não se trata de uma redução do papel de Jesus, para o qual endereçamos, contritos, nossas preces antes de dormir. Citado na pergunta n° 625 de O Livro dos Espíritos como o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo; entendido pelas obras psicografadas por Chico Xavier como governador espiritual do planeta, Ele merece ser resgatado desse míope papel de Deus encarnado e salvador propagado pelas religiões, para uma visão na qual seja forte pelo seu legado, pela sua mensagem a se perpetuar na orientação de nossas questões mais íntimas.

Trata-se de fugir do atavismo, de uma divinização de Jesus na busca de cada detalhe de sua vida, como um fã incondicional que coleciona palhetas de guitarras, em posturas que redundam em outros conceitos no plano teórico, como o corpo fluídico e a evolução em linha reta do Cristo, como negações da grandeza do universo e da nossa pequenez nesse contexto. A adoração, como dito no mesmo O Livro dos Espíritos, agrada a Deus quando do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal. E isso se dá com estudo e reflexão, com pensamento e ação, no diferencial teológico do espiritismo, uma herança grandiosa do nosso codificador.

A discussão do Evangelho deve ser libertadora, como deve ser o ensino de história nos bancos escolares. Para além de fatos, hábitos e nomes, importa extrair dali o conteúdo para a nossa vivência. Na história, em suas discussões modernas, nos interessa a investigação complexa, atenta a estrutura profunda dos diversos fenômenos sociais, se debruçando sobre os conflitos, as hegemonias e as contradições, em uma visão de totalidade do evento histórico.

Assim, enriquece-se o estudo do Evangelho quando transcende a questão narrativo-explicativa, do fato e seus detalhes e se prende aos valores, a postura das pessoas e aos seus desafios, tudo isso como fonte de educação ao espírito. Para isso, não importa-nos manusear o texto original simplesmente e sim buscar em cada obra no manancial espírita essa sabedoria, em discussões e reflexões.

Por fim, recordo-me dos mercadores da Idade Média, que comercializavam falsas relíquias sagradas, lascas do madeiro de Jesus, e as pessoas, que sem ter a certeza da origem daquele artefato, se apegavam a ele na sua fé cega. Kardec nos oferta em um mundo novo, a fé raciocinada, não no sentido de amplitude da superfície, conhecendo de forma extensa apenas a aparência, mas no mergulho da essência que relaciona o posto, o contexto e as outras realidades, passadas e presentes. Nas palavras de Kardec: "(...)A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade."

Queremos ao fim da vida, retornando ao Plano Espiritual, trazer algo mais do que eu trouxe das aulas de história e seus detalhes exaltadores de personalidades. Queremos trazer aquele Evangelho vivo, refletido em conduta e pensamento. O "amai-vos" e o "Instrui-vos" não figuram isolados e sim como elementos integrados, no qual estudamos para amar com mais qualidade e amamos impulsionados pelo entendimento da vida e de seus objetivos. Para isso, incumbe-nos saber amar, mas também saber a melhor forma de estudar...

domingo, 29 de janeiro de 2017

JUSTIÇA E PAZ



Bem aventurados os pacificadores porque eles serão chamados filhos de Deus." Jesus

Em abril de 1970, Divaldo Franco nos brindou com um belíssimo livro: Poemas de Paz, do Espírito que se identificou com o nome de Simbad. Nesse livro, calcado em ensinamentos de Jesus referentes à paz e consoante ao Evangelho Segundo o Espiritismo, o Amigo Espiritual, utilizando o formato de um diário, reservou sempre um conceito para meditação a cada um dos dias do ano.

Relendo com mais atenção, encontrei conceitos verdadeiramente preciosos, ricos de conteúdo próprio inclusive à presente situação político-social da humanidade terrena. Atualmente, face a tantos desmandos e desigualdades, debate-se a nossa nação em busca de justiça e paz, em muitas ocasiões de maneira inadequada pois que, na sua angústia e ansiedade, se atrapalha e se perde. E isso não acontece só no nosso Brasil...

Em Obras Póstumas, no Capítulo Questões e Problemas - Expiações Coletivas, Allan Kardec esclarece com o discernimento que lhe é próprio: "As convulsões sociais são revoltas dos Espíritos encarnados contra o mal que os acicata, índice de suas aspirações a esse reino de justiça pelo qual anseiam, sem, todavia, se aperceberem claramente do que querem e dos meios de consegui-lo. Por isso é que se movimentam, agitam, tudo subvertem a torto e a direito, criam sistemas, propõem remédios mais ou menos utópicos, cometem mesmo injustiças sem conta, por espírito, ao que dizem, de justiça, esperando que desse movimento saia, porventura, alguma coisa" .

Ao compreendermos o esclarecimento acima, podemos igualmente compreender e concordar com o Amigo Espiritual Simbad quando nos diz que "a maior manifestação dos que amam é a justiça, e o prêmio do justo é a coroa da paz". Que linda e profunda colocação... Não foi nosso Mestre maior, Jesus de Nazaré, quem nos pediu "amai-vos uns aos outros como eu vos amei"? E quem também nos deixou o sentido maior de justiça ao nos ensinar "fazei ao outro o que quereis que o outro vos faça"? Consequentemente entendemos perfeitamente que amor e justiça precisam caminhar juntos ou não será possível, tão cedo, alçar o planeta a um patamar evolutivo melhor, onde reine a paz e a dignidade entre todos.

Mas também não basta entender, concordar - é preciso buscar praticar esse ensinamento o tanto quanto possível a cada um de nós, a partir do aqui e agora, onde quer que seja nosso campo de atuação, qualquer que seja a nossa situação na comunidade em que nossas necessidades educativas visando nosso progresso espiritual nos colocaram. Somos seres pensantes, gregários, coletivos, como nos explica um Espírito na Revista Espírita de março de 1867: "O homem não é um ser isolado; é um ser coletivo. O homem é solidário do homem. É em vão que procura o complemento de seu ser, isto é, a felicidade em si mesmo ou no que o rodeia isoladamente: não pode encontrá-la senão no homem ou na humanidade, tanto que a infelicidade de um membro da humanidade, de uma parte de vós mesmos, poderá vos afligir" .

Chegamos ao mês de setembro, quando, além de se comemorar o dia nacional da independência do Brasil do domínio (ostensivo) estrangeiro, fruto justamente do esforço e da coragem de membros da nação, festeja-se a chegada da primavera, estação do ano que nos presenteia com o renascer da natureza, aparentemente sem vida, mas simplesmente adormecida, à espera da ocasião propícia à explosão de cores e flores...

Assim acontece também com a criatura - a cada reencarnação, que podemos simbolizar com a primavera da natureza, vemos renovadas as nossas oportunidades de colorir a vida terrena com melhores cores, mais bonitas, amenas e alegres; e de oferecer à humanidade as flores perfumadas das nossas ações e atitudes no bem coletivo, abandonando a estação invernal fria e improdutiva da omissão. Ouvimos falar da primavera árabe há poucos anos - que possamos instituir a primavera da fraternidade e da solidariedade verdadeiras, indiscriminada e incondicionalmente, seguindo o aconselhamento de Kardec, ainda em Obras Póstumas, mesmo capítulo:

" O reinado da solidariedade e da fraternidade será forçosamente o da justiça para todos, e o da justiça será o da paz e da harmonia entre os indivíduos, as famílias, os povos e as raças. Virá esse reinado? Duvidar do seu advento seria negar o progresso" .

Assim, irmãos de ideal, se o que efetivamente queremos é paz e harmonia, comecemos persistentemente a realizar a justiça e a vivenciar o amor fraterno no nosso cotidiano, nas pequeninas, mas importantíssimas oportunidades do nosso dia a dia, cultivando dentro de nós o "Cristo imanente", o reino de Deus, "que não está aqui nem acolá, mas dentro de nós", como nos assegurou o Mestre Nazareno.

sábado, 28 de janeiro de 2017

A GRANDE ASPIRAÇÃO DO HOMEM



“A aspiração do homem para uma ordem de coisas melhor que a atual é um indício certo da possibilidade de que chegará a ela.” (Allan Kardec – Obras Póstumas)

Hoje, mais do que nunca – visto a comunicação entre as criaturas, em todos os níveis e quadrantes, se alastra de forma estonteantemente rápida – essa afirmativa de Allan Kardec é da maior relevância, porque o que o homem vivencia na atualidade física, e extrafísica também, parece que ainda não atende absolutamente aos seus melhores anseios, às suas aspirações por um mundo melhor.

Entretanto, a longa caminhada que a humanidade vem fazendo no decorrer de um período que não conseguimos definir exatamente, pois a cada pesquisa antropológica se recua mais um pouco no tempo, demonstra o quanto efetivamente o homem já conquistou apesar do tanto que ainda lhe falta – já não somos mais os brutos das primeiras eras; já não praticamos mais uma série de atos hoje considerados bárbaros pela maioria das criaturas humanas, embora ainda possam existir numerosos casos de violência por vezes espantosa.

Isso vem demonstrar que o anseio do bem e do belo é inato no ser humano, como inato é também em nós o sentimento da divindade e a intuição do “deus em nós”, desse potencial que faz de nós seres perfectíveis, destinados à felicidade e à perfeição relativa – relativa porque absoluta só a de Deus. Não foi por acaso que o Mestre Jesus nos incentivou a “deixar brilhar a nossa luz”...

Não é de agora que o homem busca através de movimentos e ações as mais diversas atingir uma situação de mais tranquilidade, bem-estar físico, material e espiritual e de justiça e segurança para todos.

N’O Livro dos Espíritos, questão 783, Allan Kardec pergunta: “O aperfeiçoamento da humanidade segue sempre uma marcha progressiva e lenta?” E os Espíritos Superiores respondem: “Há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas; mas quando um povo não avança bastante rápido, Deus lhe provoca, de tempos a tempos, um abalo físico ou moral, que o transforma” . A seguir, Kardec, nosso mestre espírita, comenta com uma propriedade admirável: “...O homem não pode permanecer perpetuamente na ignorância, porque deve chegar ao fim determinado pela Providência: ele se esclarece pela própria força das coisas. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram pouco a pouco nas ideias, germinam ao longo dos séculos, e depois explodem subitamente, fazendo ruir o edifício carcomido do passado, que não se encontra mais de acordo com as necessidades novas e as novas aspirações” .

Contudo, acomodados embora insatisfeitos, nós muitas vezes não compreendemos tais situações e acontecimentos e por isso mesmo Kardec, em seu comentário, nos esclarece: “O homem geralmente não percebe, nessas comoções, mais do que a desordem e a confusão momentâneas, que o atingem nos seus interesses materiais; mas aquele que eleva seu pensamento acima dos interesses pessoais, admira os desígnios da Providência, que do mal fazem surgir o bem. São a tempestade e o furacão que saneiam a atmosfera depois de a haverem revolvido” .

Na questão seguinte, a 784, Kardec comenta sobre a perversidade do homem, que parece recuar em lugar de avançar moralmente, e os Espíritos lhe respondem: “Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que ele avança, pois vai compreendendo melhor o que é o mal, e dia a dia corrige seus abusos. É preciso que haja excesso do mal para fazer-lhe compreender a necessidade do bem e das reformas” .

E é isso que hoje se passa – estamos cansados, enfastiados do mal, e já estamos buscando outro caminho, ainda que, por vezes, por meios drásticos e de consequências momentaneamente danosas – o tratamento de uma doença grave e prolongada é na maioria das vezes penoso e difícil, mas necessário para que, em breve, a cura se processe...

Em Obras Póstumas, capítulo Questões e Problemas, Kardec ainda nos explica que: “As convulsões sociais são revoltas dos Espíritos encarnados contra o mal que os acicata, índice de suas aspirações a esse reino de justiça que anseiam, sem, todavia, se aperceberem claramente do que querem e dos meios de consegui-lo. Por isso é que se movimentam, agitam, tudo subvertem a torto e a direito, criam sistemas, propõem remédios mais ou menos utópicos, cometem mesmo injustiças sem conta, por espírito, dizem, de justiça, esperando que desse movimento saia, porventura, alguma coisa. Mais tarde, definirão melhor suas aspirações e o caminho se lhes aclarará” .

Assim, com base nesses esclarecimentos criteriosos, nós, espíritas, podemos nos posicionar de forma tranquila diante dos acontecimentos tumultuados dos últimos tempos não só no Brasil, mas em diversos outros países. Cabe-nos seguir confiantes no planejamento divino, nas leis divinas, absolutamente perfeitas, sem, no entanto, nos tornarmos omissos e alienados quanto às melhorias sociais que urgem ser implementadas.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

SABEDORIA E CONHECIMENTO



Saber não é ser. Quantas coisas sabemos e não colocamos em prática?

O conhecimento é o somatório das informações que recebemos. É a base daquilo que chamamos de cultura. Podemos adquirir conhecimento sem viver qualquer experiência fora dos livros e das teorias.

Ser, fazer e ter – essa a sequência real para as nossas conquistas. Primeiramente, construir o mundo interior, porque o exterior é o reflexo dele.

No mundo existem os valores ter, ser, aparentar ter e aparentar ser. William Shakespeare, em 1603, colocou na boca de seu personagem Hamlet: “To be or not to be that is the question” (ser ou não ser eis a questão); no entanto, continuamos com esse questionamento, desconhecendo que ser é mais importante.

Há uma história na literatura internacional de dois discípulos que procuraram um mestre para saber a diferença entre sabedoria e conhecimento.

O mestre disse-lhes:

– Quem ouve, esquece; quem vê, entende, e quem faz, aprende. Portanto, darei a vocês uma tarefa: amanhã, bem cedo, coloquem dentro dos sapatos vinte grãos de feijão, dez em cada pé e apresentem-se a mim. Em seguida, subirão a montanha junto a essa aldeia, até o ponto mais elevado, com os grãos dentro dos sapatos.

No alvorecer do dia seguinte, os jovens começaram a subir o monte. Na metade da subida, um deles sentia muitas dores prejudicando a caminhada. Seus pés estavam doloridos e ele reclamava muito, demonstrando em sua face o desconforto. O outro seguia o mesmo caminho em direção ao topo da montanha, com naturalidade.

Quando chegaram ao alto, um estava com o semblante marcado pela dor; o outro, sorridente. Então, o que muito sofreu durante a escalada perguntou ao colega:

– Como você conseguiu realizar a tarefa do mestre com alegria, enquanto para mim foi uma verdadeira tortura?

O companheiro respondeu, com voz serena:

– Meu caro amigo, ontem à noite me preparei para a caminhada. Cozinhei os vinte grãos de feijão e hoje de manhã, distribuí-os entre os dois pés. O mestre deu a tarefa de vinte grãos, dez em cada sapato, mas não disse em que condição deveriam estar os grãos.

Quantas vezes temos a solução fácil e a tornamos difícil, porque recusamos pensar. Pensando, tomamos a atitude correta, treinamos a mente e adquirimos sabedoria. Não basta só viver. É preciso atenção e esforço constante. Foi o que o divino Mestre Jesus ensinou em sua despedida, no horto de Getsêmani: Vigiai e orai! Nessa ordem, vigiar é cuidar dos nossos passos buscando sempre o melhor em nossa missão principal – evoluir. O que vale a pena ser feito, vale a pena ser bem feito.

Aquele que adquiriu sabedoria em vez de apenas deter conhecimento direciona seus passos para os valores nobres da existência, como no dizer do grande sábio Albert Einstein: Procure ser uma pessoa de valor em vez de procurar ser uma pessoa de sucesso. O sucesso é só consequência.

Na Bíblia Sagrada, no capítulo 3, do 1º Livro de Reis, há uma passagem sobre o rei Salomão e sua sabedoria ao julgar o caso de duas mulheres. Elas disputavam o filho recém-nascido. Viviam na mesma casa e tiveram um filho, cada uma, na mesma semana. Um deles, porém, morreu e agora cada uma queria que o filho vivo fosse o seu.

Salomão mandou que o oficial do seu palácio trouxesse uma espada e ordenou-lhe cortar a criança ao meio e dividi-la: metade para cada uma. Então a mulher, cujo filho era vivo, (porque o amor materno se aguçou por seu filho), falou ao rei: Ah! Senhor meu, dai-lhe o menino vivo, e por modo nenhum o mateis. Porém a outra dizia: Nem meu nem teu: seja dividido.

Então respondeu o rei: Dai à primeira o menino; não o mateis, porque esta é a sua mãe.

Em sua sabedoria, Salomão escreveu no versículo 12, do capítulo 10 de Provérbios: O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões.

O rei Salomão, conforme o Espírito Áureo descreveu no livro Universo e Vida, editado pela FEB, foi Abraão, um dos sublimados Espíritos de um orbe da Capela, que renunciou à promoção para Sírius, um mundo mais aperfeiçoado, a fim de acompanhar os degredados de seu planeta, na Terra, que, nessa época, era mundo primitivo, conforme a classificação didática feita por Allan Kardec.

Após Salomão, esse Gênio Espiritual, reencarnou como Simão Bar Jonas, o amoroso apóstolo Pedro.

No repositório de sabedoria amealhada, o apóstolo Pedro declarou em sua 1ª epístola, capítulo 4, versículo 8, uma frase semelhante à afirmação anterior como rei Salomão: Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados.

Muitos autores citam os discípulos de Jesus como analfabetos, por desconhecerem a lei da reencarnação, que proporciona a sabedoria, graças à repetição das experiências nobres nas multifárias existências do espírito rumo à suprema felicidade.

Os discípulos foram escolhidos por Jesus em vista da bagagem espiritual enriquecida nos caminhos do amor e da sabedoria.

Em sua maioria, aparentemente, eram pescadores humildes de informação e conhecimento. Gente do povo, am ha aretz, para a missão de implantar com Jesus, a segunda revelação da Lei de Deus, na Terra – a Lei de Amor. Entretanto, eram sábios em sua transcendental vivência.

Escreve Áureo, no livro supracitado, que Isaac, o filho legítimo de Abraão com Sara, reencarnou, na esteira do tempo, como profeta Daniel e, a seguir, como João Evangelista, o discípulo amado, assim denominado, porque muito amava.

Se Isaac, filho de Abraão, reencarnou como João, e Abraão reencarnou como Pedro, logo, Pedro havia sido pai de João em existência passada, e, ambos, eram médiuns de alta potencialidade.

Vemos, no evangelho, Jesus convidá-los nos momentos em que a mediunidade ostensiva precisava ser exemplificada. A passagem da transfiguração, por exemplo, está assim descrita, no capítulo 17, de Mateus: Toma Jesus consigo a Pedro e aos irmãos Tiago e João, e os leva, em particular, a um alto monte. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz.

O verdadeiro sábio é humilde. Sem humildade não há sabedoria, tampouco bondade.

O sábio sem bondade é comparável à flor de estufa: tem beleza, mas não tem seiva nem perfume. Enquanto o bom sem sabedoria, é comparável ao fruto do campo, não tem beleza, mas sacia a fome.

Disse Jesus: Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Dizendo que o reino dos céus é dos simples, quis Jesus significar que a ninguém é concedida a entrada nesse reino sem a simplicidade de coração e humildade de espírito; que o ignorante possuidor dessas qualidades será preferível ao sábio que mais crê em si que em Deus (capítulo VII, item 2 de O Evangelho Segundo o Espiritismo)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

VAMPIRISMO ESPIRITUAL



“Quase todas as almas situadas nessas furnas e locais sombrios da espiritualidade, sugam energias dos encarnados e lhes vampirizam à vida, como se fossem lampreias insaciáveis, no oceano do oxigênio terrestre.” (Livro Libertação, ditado pelo espírito de André Luiz, na psicografia de Francisco Cândido Xavier – Cap. IV).

Depois que atravessamos as águas enigmáticas do rio da morte, não mudamos quase que absolutamente nada: continuamos a ser exatamente o que éramos antes, porque carregamos conosco o céu ou o inferno que construímos dentro de nós mesmos, ou seja, permanecemos com os vícios, desejos e paixões que alimentamos quando vivos, assim como as virtudes e méritos, não ocorrendo nenhum milagre com o evento de nossa desencarnação.

Assim, os espíritos que partem para o outro lado da vida endividados com os crimes hediondos, como chacinas, massacres, estupros, pedofilia, luxúria, parricídio e infanticídio, entre outros, são atraídos, depois da morte do corpo físico, para s zonas sombrias e trevosas da espiritualidade, e ali se juntam a milhares de outros malfeitores do espaço, formando verdadeiras quadrilhas, que passam a assediar os encarnados que sintonizam com eles, numa simbiose incrível de viciação, com prejuízo incalculável para a humanidade terrestre.

Esses espíritos voltados exclusivamente para o mal se envolvem com a vida dos encarnados, atuando permanentemente na influenciação psíquica dos seres humanos, sujeitando aqueles que se afinam com eles a uma dominação constante e agressiva, sugestionando-os diuturnamente a exemplificar maus hábitos, pendores, vícios e costumes, numa simbiose espiritual, numa parceria degradante, que pode levar o encarnado à loucura, pois se trata de espíritos perversos, denominados “ vampiros do espaço”, e assim são chamados porque sugam as energias e vampirizam a vida de quem se deixa encantar pelos prazeres carnais, oferecidos para aqueles que se deixam iludir.

Muitos cientistas catalogam esses malfeitores do espaço como sendo seres à parte da criação divina, o que corresponde a um grande erro, porque na realidade são apenas homens despidos da roupagem carnal, e que quando viviam na Terra, se enveredaram pelo caminho do mal, comprometendo-se com todo o tipo de mal, tornando-se avessos a conselhos ou a religiosidade, e por isso só encontram apoio na espiritualidade inferior, onde são recebidos com festas pelos chefões da maldade e da crueldade.

Aumenta-se diariamente o contingente desses “vampiros” da vida alheia, que procuram insistentemente novos adeptos, principalmente pessoas que estão ligados ao álcool, às drogas, ao sexo, ao fumo, ao jogo, às falcatruas, aos escândalos e a todo tipo de crimes hediondos que vemos estampados todos os dias nos noticiários da televisão, rádios e jornais. Essas criaturas tenebrosas do astral inferior, depois de muito tempo praticando o mal e estagiando em faixas vibratórias do Umbral, Trevas ou Abismo, perdem até mesmo a fisionomia física, passando a apresentar semblantes animalescos, monstruosos, devido à descaracterização da forma humana, que só é mantida do outro lado da vida quando o espírito leva para o além recursos espirituais conquistados com as virtudes, pelo bem que ornamentou à vida dos outros.

Esses irmãos que estão atrelados ao mal, e que estagiam nesses locais obscuros e de grande sofrimento, não estão desamparados da misericórdia divina; mas continuam com o amparo dos bons espíritos para se libertarem desse tipo de vida. Eles são perfeitamente reabilitáveis, desde que desejem isso do fundo do coração, chegando ao arrependimento e ao remorso, e se colocando à disposição dos benfeitores do espaço a fim de que possam encetar uma nova caminhada de paz, de alegria e de felicidade.

As lutas, as provações, as dores, os sofrimentos e as aflições, estarão sempre conosco nessa caminhada terrestre, e por isso precisamos enfrentar com galhardia, coragem, fé e determinação os obstáculos da vida, descartando sempre a ação insidiosa dos espíritos trevosos, exercendo uma vigilância diuturna nos nossos pensamentos e sentimentos, evitando invadir fronteiras alheias ou fazer mal aos outros, levando uma vida ética, social, voltada para o bem dos nossos semelhantes, evitando que possam falar mal de nós, angariando laços de amizade e fraternidade, que em síntese se transformam em moeda corrente a circular no outro lado da vida.

A forma animalesca que muitos desses espíritos denominados “vampiros” apresentam provocam medo e pavor nas pessoas vazias, sem fé e sem coragem, e instiga a sintonia espiritual naqueles que vivenciam as mesmas viciações. Uma vez conectadas à atração e à sintonia, inicia-se um processo de obsessão de longo curso, que acaba por desaguar na “subjugação”, que é um estágio mais avançado da perturbação espiritual, que pode levar o encarnado à loucura. O sexo desregrado, o vício das drogas, do jogo, do fumo e do álcool, são atrações especiais para os “vampiros”, que se aproximam através da nossa “aura humana”, que contaminada pelas viciações, passa a exsudar odores relativos ao mal que carregamos conosco, e que não podemos evitar. Esses espíritos do mundo espiritual inferior, geralmente se apresentam para os médiuns videntes maltrapilhos, sujos, desleixados e irritados, causando susto em todas as pessoas que mantém contato direto com eles.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

AMOR – PARTÍCULA DIVINA



Desde que Leucipo, na Grécia antiga, em torno do ano 430 a.C., criou a teoria dos átomos e Demócrito lhe deu continuidade, a busca pela partícula inicial da matéria se tornou uma das principais atividades da ciência.

No afã de desvendar esse segredo, muitas descobertas foram feitas, mostrando que o caminho continuava aberto às pesquisas em direção à causa da existência do universo, da matéria e do ser humano.

Pesquisando o ar, o químico francês Antoine Lavoisier, em 1780, descobriu o oxigênio, e no ano de 1810, em Londres, Henry Cavendish descobriu o hidrogênio, provando que a água, até então tida como elemento simples, era produto da combustão do hidrogênio no ar e composta dos dois elementos químicos: hidrogênio e oxigênio.

Isaac Newton, no ano de 1687, observou a existência de uma força fundamental de atração que age em todos os objetos por causa de suas massas, e lhe deu o nome de lei da gravitação universal. Com essa descoberta, a teoria do átomo voltou a ser aceita, quando o inglês John Dalton demonstrou experimentalmente sua realidade.

No ano de 1905, Albert Einstein propôs a teoria da relatividade restrita, com a fórmula matemática: E=mc² – energia é igual à massa vezes o quadrado da velocidade da luz –, colocando-nos na era atômica, mostrando que o átomo não era indivisível como até então se pensava, ele podia ser destruído e transformado em energia, assim como a massa é a energia coagulada.

Agora já era real a Teoria da Relatividade, mas a demonstração de que toda massa pode ser transformada em energia pela equação E=mc² deveria aguardar um pouco mais. Foi somente no inverno de 1938 que surgiu a revelação dos mecanismos profundos da matéria, permitindo que a energia prometida para E=mc² emergisse por intermédio de uma solitária judia austríaca, de 60 anos, Lise Meitner, a que ela chamou de fissão nuclear.

No ano de 1936, o físico Wolfgang Pauli concebeu um elemento sem massa, destituído de carga elétrica e de campo magnético, e lhe deu o nome mindons, porque seria uma partícula da mente humana. O físico inglês V. A. Firsoff, no ano de 1957, conseguiu comprovar sua existência, com o nome de neutrino. A partir dessa descoberta, em 1970, a física do neutrino se tornou uma cadeira nas universidades, porque somente ele poderia explicar a coesão gravitacional das galáxias.

No ano de 1947, um cientista brasileiro, Cesar Lattes, junto com outros cientistas, descobriu uma substância cuja massa é 280 vezes a do elétron: o mésonpi. Por intermédio dos aceleradores de partículas, em 1948, muitos mésonspi foram produzidos por meio de alta energia entre partículas nucleares. Os mésons são uma espécie de cola entre os prótons e os nêutrons.

No ano de 1964, o britânico Peter Higgs e o belga François Englert conceberam uma partícula responsável por conferir massa a tudo o que existe no mundo. Somente em julho de 2012, com experimentos no LHC (Large Hadron Collider) Grande Colisor de Hádrons, o maior acelerador de partículas construído – com 27 quilômetros de circunferência, a 175 metros abaixo do nível do solo, na fronteira franco-suíça, próximo a Genebra, demorou 25 anos para ficar pronto e funcionando desde 2008 –, foi comprovada a existência da partícula.

Essa partícula, apelidada de “partícula de Deus”, nada tem que ver com a visão dos cientistas. Surgiu de uma decisão comercial dos editores do livro do cientista Leon Lederman, que resolveu escrever sobre ela. A intenção de Lederman não era a de enaltecer a partícula, muito pelo contrário. O título que Lederman propôs para o livro foi The Goddamn Particle (A Partícula Amaldiçoada). Os editores acharam melhor transformar a revolta de Lederman, com a dificuldade de encontrar a partícula em algo mais comercial. O livro saiu como The God Particle (A Partícula de Deus). E o apelido pegou. Foi o suficiente para que os céticos propagassem que Deus não existe e que o enigma da criação do universo já estava resolvido.

Afirma a ciência que o Universo é comandado por quatro forças: força eletromagnética, força forte, força fraca e força gravitacional.

Mas quem criou a força e o movimento? Quem criou a matéria inicial? Quem criou o princípio inteligente do universo?

Os Espíritos Superiores responderam a Allan Kardec, nas questões de números 1 e 27: “Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas”. ”Existe uma trindade universal: Deus, espírito e matéria, e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas”.

O sábio e amoroso espírito Emmanuel assim se refere sobre a profunda beleza da lei divina, nas questões de números 21, 322 e 333, do livro O Consolador, editado no ano de 1940:

“Ao sopro inteligente da vontade divina, condensa-se a matéria cósmica no organismo do Universo. Surgem as grandes massas das nebulosas e, em seguida, a família dos mundos, regendo-se em seus movimentos pelas leis do equilíbrio, dentro da atração, no corpo infinito do cosmo.”

“O ciclo da evolução apresenta aí um dos seus aspectos mais belos. Sob a diretriz divina, a matéria produz a força, a força gera o movimento, o movimento faz surgir o equilíbrio da atração e a atração se transforma em amor, identificando-se todos os planos da vida na mesma lei de unidade estabelecida no Universo pela sabedoria divina.”

“A lei divina é uma só, isto é, a do amor que abrange todas as coisas e todas as criaturas do Universo ilimitado.”

“O amor é a lei própria da vida e, sob o seu domínio sagrado, todas as criaturas e todas as coisas se reúnem ao Criador, dentro do plano grandioso da unidade universal.”

“Desde as manifestações mais humildes dos reinos inferiores da Natureza, observamos a exteriorização do amor em sua feição divina. Na poeira cósmica, síntese da vida, temos as atrações magnéticas profundas; nos corpos simples, vemos as chamadas “precipitações” da química; nos reinos mineral e vegetal verificamos o problema das combinações indispensáveis. Nas expressões da vida animal observamos o amor em tudo, em gradações infinitas, da violência à ternura, nas manifestações do irracional.”

“No caminho dos homens é ainda o amor que preside a todas as atividades da existência em família e em sociedade.”

“Reconhecida a sua luz divina em todos os ambientes, observaremos a união dos seres como um ponto sagrado de referência dessa lei única que dirige o Universo.”

A lei do amor é a única que dirige o universo. João Evangelista, o grande médium e discípulo de Jesus, inspirado, escreveu em sua primeira epístola, no versículo 8, do capítulo 4: Deus é amor. E nós todos, sem exceção, temos essa partícula divina, como afirmou Jesus, referindo-se ao livro de Salmos, capítulo 82, versículo 6: Eu disse: Sois deuses, sois todos filhos do altíssimo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

AS DORES E SOFRIMENTOS MORAIS DO ESPÍRITO IMORTAL



“ Quando chegarmos a esse tempo, muitos serão escandalizados e terão praticado traições uns com os outros, e outros se aborrecerão, e surgirão muitos falsos profetas, que enganarão a muitos, mas ainda não será o fim”. (Mateus, 24:10)

Não há a menor dúvida de que estamos vivendo a transição planetária do homem, ou seja, o fim dos tempos. O nosso Planeta de Provas e Expiações passa por momentos de grande tribulação, com seus habitantes desejando, a todo custo, buscar meios de encontrar o próprio destino ou a salvação alardeada por profetas, pregadores e filósofos. Porém, esquecemos de que essa iluminação interna não chegará até nós pelos meios da gratuidade, do automatismo ou do milagre, e sim pelo esforço próprio, que é o artífice de toda essa destinação do nosso Orbe Terrestre, levando a humanidade para faixas vibratórias da Regeneração, onde a felicidade nos aguarda. Mas para isso precisamos mudar muita coisa, principalmente no campo interno, como o comportamento, os sentimentos e o pensamento contínuo.

Enquanto estivermos apegados demasiadamente aos valores transitórios da vida, interessados no poder financeiro, político e administrativo, ou na ostentação dos valores materiais, dificilmente alcançaremos as faixas rarefeitas do infinito de Deus, porque ficaremos vedados pela nossa consciência imortal, que não aceita erros e cumplicidade com o mal. A nossa consciência está alinhada com as Leis Divinas que regem a vida cósmica, e aguarda sempre que o seu detentor, o homem terrestre, possa se reconciliar com a vida e com seus semelhantes, para então iniciar um processo de reparação íntima, desenvolvendo valores novos, dando prioridade aos valores espirituais, que são recursos divinos aliados à perfeição de Deus.

A indiferença da humanidade terrestre diante do Evangelho de Jesus, de suas determinações e de sua doação incondicional pela vida dos seres humanos, faz com que ainda passemos por todo o tipo de dores e sofrimentos, que só irão acabar quando atingirmos um patamar de virtudes que nos propicie encarar a vida física com responsabilidade, ética, amor e dedicação do nosso tempo, em trabalhar sempre para os outros e para nós, na busca de recursos que chegam até nós, quando nos doamos por inteiro, num trabalho humanitário de compartilhamento constante, sem descanso, até a hora da nossa morte, que não deve nos surpreender na preguiça, no desânimo, na ociosidade, na tristeza e na melancolia, e sim nas atividades diárias, cumprindo com nossos deveres e com nossas ordenações humanas.

Enquanto houver no nosso Planeta de Provas e Expiações divergências, desentendimentos, violência, ódio, rancor, raiva, autoritarismo, prepotência, perversidade, crueldade, mentira, ciúme e egoísmo, ou outras formas sombrias de relacionamento humano, não estaremos aptos para transcender às nossas dificuldades e obstáculos, e alcançar as metas maiores do nosso destino, e certamente ficaremos agregados ao passado, junto aos vícios, desejos e paixões, onde haverá sempre dores e ranger de dentes. Aqueles que se aproveitam dos incautos de fé frágil, e que ensinam mas não convencem, que oferecem salvação gratuita, o automatismo ou o milagre, encontrarão dificuldades para caminhar em paz, porque não a conquistaram, e nem armazenaram nenhum valor crístico, que possa amparar os anseios do coração.

Do outro lado da vida, ou seja, no além, as dores, sofrimentos e aflições são de cunho moral, e repercutem diretamente na estrutura íntima do espírito imortal, que não poderá se livrar desses acicates, e às vezes são tão pungentes e dolorosas que, para a entidade espiritual que está passando por essas dificuldades, o sofrimento parecerá eterno. Mas não é bem assim: chega uma hora que tudo termina, principalmente quanto o endividado chega ao remorso e ao arrependimento, dando condições para que espíritos bondosos e evoluídos possam lhe socorrer, levando o infrator para locais de atendimento fraterno, onde são tratados e preparados para continuar a jornada evolutiva.

Ali, nesses recantos de solidariedade e de compartilhamento, esses endividados do espaço recebem instruções e recursos fluídicos para o reequilíbrio, e se prepara para novas reencarnações, em que muitas vezes reaparecem aqui na Terra, com limitações dolorosas no corpo físico, como única forma de reparar os erros escabrosos da retaguarda da vida.

Esse processo de reeducação dos espíritos no além pode durar anos e anos sucessivos, exatamente o tempo em que passaram na intemperança mental, invadindo fronteiras alheias e direcionando forças negativas para atassalhar a vidas dos semelhantes. Ninguém sofre à toa, pois tem sempre um motivo, uma causa iniciante que deságua na dor, no sofrimento e nas aflições, aqui ou no além, depois que atravessamos as águas enigmáticas do rio da morte.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

PODEMOS MUDAR NOSSO DESTINO?

Heráclito, filósofo grego, dizia: “A única coisa permanente no universo é a mudança”. A sabedoria do I Ching revela que tudo é mutação. Antoine Lavoisier, considerado o pai da química moderna, por sua vez, afirmava: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

Se tudo muda, conforme preconiza a sabedoria milenar, e a nossa trajetória na vida? Temos poder para mudar nosso destino?

O insigne mestre Allan Kardec perguntou aos Espíritos Superiores, na questão 860 de O Livro dos Espíritos: “Pode o homem, por sua vontade e por seus atos, fazer que se não deem acontecimentos que deveriam verificar-se?” E recebeu como resposta: “Pode-o, se essa aparente mudança na ordem dos fatos tiver cabimento na sequência da vida que ele escolheu”.

O que não podemos mudar são os fatos principais da nossa reencarnação, os quais traçamos juntamente com nossos padrinhos espirituais, no momento da escolha da vida que merecemos e precisamos ter. “A cada um será dado segundo suas obras”.

Muitas vezes a doença representa a cura verdadeira para nosso espírito. A dor, o sofrimento, são instrumentos utilizados como filtro para a limpeza das nossas imperfeições.

No livro Contos e Apólogos, no capítulo intitulado, “Dívida e Resgate”, o Espírito Humberto de Campos narra a história de uma senhora rica, que, ao retornar à sua fazenda, às margens do Rio Paraíba, na antevéspera do Natal de 1856, após um ano de entretenimento na Corte, no Rio de Janeiro, é recebida, com sorrisos e gestos humildes, por seus sessenta e dois cativos, que lhe pediam bênçãos, de joelhos:

— Louvado seja Nosso Senhor Jesus-Cristo, sinhá!

— Louvado seja! — acentuava Dona Maria com terrível severidade a transparecer-lhe da voz.

Em um canto recuado, esperando sua vez de cumprimentá-la, pobre moça mestiça sustentava nos braços duas crianças recém-nascidas, sob a feroz atenção de um capataz desalmado. A fazendeira, demonstrando na face e nos gestos o que iria fazer, dirigiu-se a ela, duramente:

— Matilde, guarde as crias na senzala e encontre-me no terreiro. Precisamos conversar.

No grande pátio, já noite, guiadas pelo rude capitão do mato, as duas mulheres dirigiram-se para o rio transbordante. Dona Maria falou:

— Diga de quem são essas duas “crias” nascidas em minha ausência!

— De nhô Zico, sinhá!

— Miserável! — bradou a proprietária poderosa. — Meu filho não me daria semelhante desgosto. Negue essa infâmia!

— Não posso! Não posso!

A patroa encolerizada relanceou o olhar pela paisagem deserta e bramiu, rouquenha:

— Nunca mais verá você essas crianças que odeio...

— Ah! sinhá — soluçou a infeliz —, não me separe dos meninos! Não me separe dos meninos! Pelo amor de Deus! ...

Após muitas ofensas e humilhações à sua cativa, Dona Maria Augusta fez um gesto para seu capataz, que estalou o chicote no dorso da jovem. Esta, indefesa, caiu na corrente profunda do rio.

— Socorro! Socorro, meu Deus! Valei-me, Nosso Senhor! — gritou a mísera, debatendo-se nas águas.

Todavia, daí a instantes, apenas um cadáver de mulher descia rio a baixo, ante o silêncio da noite...

Cem anos passaram...

Na antevéspera do Natal de 1956, Dona Maria Augusta Correia da Silva, reencarnada, estava na cidade de Passa-Quatro, no sul de Minas Gerais. Mostrava-se noutro corpo de carne, como quem mudara de vestimenta, mas era ela mesma, com a diferença de que, em vez de rica latifundiária, era agora apagada mulher, em rigorosa luta para ajudar o marido na defesa do pão. Sofria no lar as privações dos escravos de outro tempo. Era mãe, padecendo aflições e sonhos... Ante a expectativa do Natal, Dona Maria Augusta meditava nos filhinhos, quando a chuva, sobre o telhado, se fez mais intensa.

Horrível temporal desabara na região...

Diante da ex-fazendeira erguia-se um rio inesperado e imenso e, em dado instante, esmagada de dor, ante a violenta separação do companheiro e dos pequeninos, tombou na caudal, gritando em desespero:

— Socorro! Socorro, meu Deus! Valei-me Nosso Senhor!

No entanto, decorridos alguns momentos, apenas um cadáver de mulher descia corrente a baixo, ante o silêncio da noite...

A antiga sitiante do Vale do Paraíba resgatou o débito que contraíra perante a Lei.

Nas questões 258 a 273 de O Livro dos Espíritos, marco inicial do Espiritismo, os Espíritos Superiores nos esclarecem, em um verdadeiro tratado sobre a escolha, como se processa o nosso destino, quanto ao gênero de vida, às particularidades das provas e às expiações.

O sábio e bondoso espírito Emmanuel, em seu livro O Consolador, psicografado pela mediunidade sublimada de Chico Xavier, define, de forma clara, na questão 246, o que significam a provação e a expiação:

“A provação é a luta que ensina ao discípulo rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação espiritual. A expiação é a pena imposta ao malfeitor que comete um crime”.

Somos, dessa forma, rebeldes, preguiçosos e criminosos, pois aqui nos encontramos com a missão sublime de evoluir. Esse é o objetivo principal de nossa estada neste mundo classificado, didaticamente, por Allan Kardec, como mundo de expiações e de provas.

Porém, como nos valorizamos muito, alguém pode contestar e dizer: “Não sou criminoso!” Entretanto, na questão 358 da obra basilar da Doutrina Espírita, os Emissários Divinos afirmam: “Há crime sempre que transgredis a lei de Deus”.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo V, que trata sobre “Causas atuais das aflições”, os Espíritos Superiores escreveram: “Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho reto. Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis consequências, mais ou menos deploráveis. Daí se segue que, nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou.”

Mas, a Lei de Deus não é lei de cobrança inflexível e, sim, de reajuste. Deus é Amor e Justiça. Se fizemos um mal, por pior que seja, podemos atenuá-lo ao infinito das possibilidades, construindo o bem. Se plantamos espinhos nas estradas da vida e retornamos plantando rosas, corrigimos, assim, nossos passos em direção a um novo caminho. Dependendo do quantum de bem que praticarmos, diminuiremos ou dissiparemos completamente nosso erro.

No mundo espiritual, no intervalo das reencarnações, escolhemos, consciente ou inconscientemente, o gênero de provas, de acordo com nossas necessidades e possibilidades adquiridas pela conduta. Entretanto, ao reencarnarmos, não ficamos escravos desse modo de vida, uma vez que as particularidades correm por nossa conta. A todo o instante, podemos escolher a atitude a tomar, como disseram as Entidades Sublimadas: “Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes tiveram. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal”.

Podemos, dessa forma, atenuar as dificuldades do nosso caminho e ser muito felizes, à proporção do bem que praticarmos, com fé em Deus e a consciência tranquila.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Rigidez e Teimosia

Teimosia é uma forma de rigidez da personalidade. É um apego obstinado às próprias ideias e gostos, nunca admitindo insuficiências e erros.
Conviver com criaturas que estão sempre com a razão, que acreditam que nasceram para ensinar ou salvar todo mundo e que jamais transgridem a nada, é viver relacionamentos desgastantes e insatisfatórios.
Quase sempre, fugimos desses indivíduos dogmáticos, incapazes de aceitar e considerar um ponto de vista diferente do seu. Nesses relacionamentos, ficamos confinados à representação de papéis instrutor-aprendiz, orientador-orientado, mentor-pupilo. Somente escutamos, nunca podemos expressar nossa opinião sobre os eventos e as experiências que compartilhamos.
As pessoas teimosas vão ao excesso do desrespeito, por não darem o devido espaço para as diferenças pessoais que existem nos amigos e familiares.
“(…) pelos vossos excessos, chegais à saciedade e vos punis a vós mesmos”¹
Os limites traçados pela natureza nos ensinam onde e quando devemos parar, bem como por onde e quando devemos seguir. A Natureza respeita nossos dons próprios, ou seja, nossa individualidade. Assim, devemos também aceitar e respeitar nosso jeito exclusivo de ser, bem como a de todos aqueles com quem compartilhamos a existência terrena.
O excesso de rigidez e severidade faz com que criemos um padrão mental que influenciará os outros para que nos tratem da mesma forma como os tratamos. Poderemos ainda, no futuro, provocar em nós um sentimento de autopunição, pois estaremos usando para conosco o mesmo tratamento de austeridade e dureza. O arrependimento se associa à culpa, nascendo daí uma vontade de nos redimir pelos excessos cometidos, o que acarreta uma necessidade de expiação – o indivíduo se compraz com o próprio sofrimento.
Nossos limites se expressam de maneira específica e ninguém pode exigir igualdade de pensamento e ação de outro ser humano. Respeitando nossa singularidade, aprenderemos a respeitar a singularidade dos outros e sempre cairemos no excesso, quando não aceitarmos nosso ritmo de crescimento, bem como o do próximo.
Segundo Alfred Adler, a “compensação” é um dos métodos de defesa do ego e consiste num fenômeno psicológico que busca contrabalançar e dissimular nossas tendências inconscientes por nós consideradas reprováveis e que tentam vir à nossa consciência.
Os excessos de todo gênero funcionam, na maioria das
vezes, como disfarce psicológico para compensar nossas tendêcias interiores. Exageramos posturas e inclinações na tentativa de simular um caráter oposto.
Atitudes exageradas de um indivíduo significam. quase o contrário do que ele declara.
Excesso de pudor – compensação de desejos sexuais normais reprimidos.
Excesso de afabilidade — compensação de agressividade mal elaborada.
Excesso de alimentação – compensação de insegurança ou necessidade de proteção.
Excesso de religião – compensação de dúvidas desmoralizadoras existentes na inconsciência.
Excesso de dominação — compensação de fragilidade e desamparo interior.
Atrás de todo excesso ou rigidez se encontra a não aceitação da naturalidade da vida, fora e dentro de nós mesmos.
¹ O Livro dos Espíritos, Questão 713:
Traçou  a Natureza limites  aos gozos?
Traçou para vos indicar o limite do necessário. Mas. pelos vossos excessos, chegais  à saciedade e vos punis a vós  mesmos.

Livro As Dores da Alma, item Rigidez, Espírito Hammed – psicografia de Francisco do Espírito Santo Neto.