domingo, 31 de agosto de 2014

E, ao Final da Jornada, Seremos Perfeitos Renato Costa

"Sede, pois, perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito."
Jesus (Mateus, V:44-48)



Tem-se falado no movimento espírita em só podermos atingir uma tal de “perfeição relativa” e que “só Deus é perfeito”. Esse dizer, em aparente contradição com a exortação do Mestre, levou-nos a refletir sobre o assunto.

Antes de mais nada, recorramos ao Aurélio para aprender o real significado de perfeição. Interessam-nos, para este estudo, as acepções de números 1 e 3.

Perfeição. [Do lat. Perfectione] S.f. 1. O Conjunto de todas as qualidades; a ausência de quaisquer defeitos: a perfeição do ser absoluto. ... 3.O maior grau de bondade ou virtude a que pode alguém chegar; pureza: perfeição de caráter, de sentimentos.

Pelo que vemos, quando falamos que Deus é perfeito, estamos qualificando Deus segundo a acepção de número 1 do substantivo perfeição. Por outro lado, ao falarmos que um Espírito Puro é perfeito, o estamos qualificando pela acepção de número 3. E as duas formas de falar são corretas em nosso idioma. 

A simples análise que acabamos de fazer leva-nos a duas conclusões. 

A primeira é que, ao dizermos que Deus é perfeito, estamos qualificando o inqualificável.  Deus é a “inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” (LE Q. 1). No estágio em que nos achamos, falta-nos entendimento para compreender a natureza íntima de Deus (LE Q. 10). Logo, é ilógico e impossível para nós qualificar Deus de qualquer coisa, até mesmo de perfeito. O que sabemos dos atributos de Deus é por via indireta, pelo que percebemos com nossos precários sentidos e entendemos com nossa limitada razão. Sabemos, apenas, pela resposta à Questão Primeira, que a própria perfeição e tudo o mais que existe, seja concreto ou abstrato, tem Deus como causa primária e como inteligência original criadora. 

A segunda é que não há necessidade alguma de fazer a ressalva de que o Espírito Puro é perfeito “apenas o quanto uma criatura pode ser perfeita” ou coisa assim. O Espírito Puro é perfeito, e ponto final! A língua portuguesa é rica em polissemias, isto é, no uso da mesma palavra com mais de um significado. Se, por um lado, conhecer tais polissemias e saber utilizá-las é recomendável para todas as pessoas cultas, por outro, trata-se de uma obrigação para todos nós, Espíritas, visto sermos advertidos pela Codificação sobre a necessidade do permanente aprendizado.

Mas, para que não pareça que estarmos de má vontade, aprofundemos nossa análise sobre a questão da perfeição relativa.

Em O Livro dos Espíritos, lemos a seguinte pergunta de Kardec e a resposta dos instrutores espirituais:.
 

170. O que fica sendo o Espírito depois da sua última encarnação?
 
“Espírito bem-aventurado; puro Espírito.”


Ora, se o Espírito não encarna mais após se tornar Espírito Puro, então é porque ele alcançou o maior grau de bondade e sabedoria a que pode algum Espírito chegar. Logo, como vimos no Aurélio, pela acepção de número 3 do substantivo perfeição, é correto dizermos que ele é Perfeito. 

Vejamos, então o que pode e deve ser chamado de “perfeição relativa”.

Tudo o que é relativo pressupõe a existência de uma referência, em relação à qual se restringe aquela relatividade. 

Uma característica nossa é relativa a uma determinada referência de valor quando, mudada a referência, a característica em questão, igualmente, deixa de valer.  Assim, se um homem é perfeito como artista plástico, isso não implica em que ele seja, também, perfeito como eletricista. Sua perfeição é relativa àquilo que conhece bem e que faz com seriedade e capricho, qual seja, a arte plástica. Se um aluno da educação infantil é perfeito como aluno da educação infantil, tirando nota 10 em todos os testes e provas que se lhe aplicam, isso não faz dele um perfeito aluno do ensino médio. Logo, podemos dizer que sua perfeição é relativa à educação infantil.
 
Levando esse conceito para a evolução, podemos dizer que um Espírito que nada mais tenha a aprender na Terra pode ser visto como dotado de perfeição relativa à Terra. Mais tarde, esse mesmo Espírito poderá não ter mais nada a aprender no Sistema Solar, o que fará dele perfeito em relação ao Sistema Solar e, assim por diante. Quando, no final da jornada, no entanto, esse Espírito nada mais tiver a aprender em nenhum mundo existente em toda Criação, sua perfeição não será mais relativa a nada e, sim, absoluta. Terá ele atingido, então, a condição de Espírito Puro.

Voltando à exortação de Jesus, acreditamos ser possível concluir que o Mestre comparava a perfeição entre duas realidades distintas. Tais licenças de linguagem foram muito usadas pelo Mestre, pois comparando planos diferentes de realidade ele nos ajudava, como ainda ajuda, a entender as leis morais que, como sabemos, são imutáveis e válidas em toda parte. 

Sejamos, pois, perfeitos, criaturas que somos, assim como nosso Pai, o incriado criador, é perfeito.



Artigo publicado em O Espírita Fluminense, Ano XLIX, no 302, Setembro/Outubro de 2005

sábado, 30 de agosto de 2014

Desprendimento dos Bens Terrenos A que bens terrenos que o Espírito se refere? Octávio Caúmo Serrano


No longo item 14,  do capítulo XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, “Servir a Deus e a Mamon”, Lacordaire nos trouxe, em 1863, importante mensagem sobre o “Desprendimento dos Bens Terrenos”.

A quem bens terrenos ele se refere?

Habituamo-nos a raciocinar que somos um espírito encarnado e, portanto, subjugado ao mundo da matéria, extremamente apelatória, imediatamente vem-nos à mente que os bens terrenos são as casas, os carros, as roupas e a comida, entre outros de igual natureza.

Não há dúvida que esses bens exercem fascínio em todos os homens. Fazem parte das necessidades humanas: o conforto, a boa comida, a roupa bonita, a jóia que enfeita, porque nosso corpo é ainda com o que mais nos identificamos. Temos sido mais matéria do que espírito, característica inerente aos mundos de provas e expiações, onde a imperfeição domina os seus habitantes.

A prova do que afirmamos é que nunca se cultivou tanto a forma física. As pessoas estão artificializadas. Tudo nelas está ficando postiço, enxertado. Jovens já a partir de quinze anos, meninas e meninos, procurando “turbinar-se”, causando danos à saúde e não percebendo a efemeridade da juventude.

É difícil desprender-nos desses bens, porque mesmo quando nos explicam sobre esse tema, vem-nos a idéia de que para ser cristão é preciso fazer voto de pobreza – porque confunde-se pobreza com humildade -  e os valores do mundo são proibidos pelas Leis de Deus. Logo nos chega à mente as lições de Jesus quando disse ao moço que deveria vender tudo e segui-Lo para ter o reino dos Céus; ou quando disse que é mais fácil o camelo passar pela agulha do que o rico ir para o Céu.

Isso não faz sentido, porque se nos fizermos pobres materialmente passaremos a ser mais um fardo para a sociedade, onde já existe tanta miséria e desigualdade. E seu Deus deixa que cheguem às nossas mãos recursos que nos permitem dar empregos ou consumir os produtos dos que trabalham, nenhum mal existe nisso. Só há mal quando tentamos obter riqueza de maneira desonesta ou com danos ao semelhante.

Temos para nós, porém, que há bens terrenos mais difíceis de ser vencidos pelos homens que são aqueles ligados aos sentimentos. Falamos de poder, de vaidade, de beleza, de inteligência. Falamos ainda de competições. Não porque elas existam. Afinal são necessárias para que o homem trace objetivos e busque o sucesso. Mas porque não sabemos lidar com elas.

Observemos as competições de toda ordem. Para que dez por cento fique feliz, noventa por cento têm de sofrer, pela derrota e por ser ofendido pelo sadismo do vencedor. Fala-se tanto na paz do mundo, mas enquanto houver a ganância, a avareza, o egoísmo insaciável dos seres humanos, a paz será impossível. Não fogem a essa análise nem mesmo as religiões. Todas pretendem ter a verdade e não percebem que dividem em vez de harmonizar. No entanto, todas elas têm parte da verdade e estão, em processo evolutivo, interligadas. 

A proposta do Espiritismo de nos concitar ao desprendimento dos bens terrenos é mostrar-nos que somos antes espírito que matéria, porque material somos por um tempo e espiritual, seremos eternamente. Como os bens materiais mal administrados lesam o homem espiritual, se não aprendermos agora a valorizar os bens terrenos com equilíbrio, seremos escravos deles, mesmo após a morte. Os avarentos de hoje serão os obsessores de amanhã..

Não temos a ilusão de imaginar que esse quadro possa mudar dentro de alguns séculos. O progresso e o entendimento são muito lentos. É tudo pouco a pouco, um a um, até que todos compreendam que desprender do mundo é libertar-se de si próprio. Mas para nós espíritas, é mais fácil compreender essa orientação de Lacordaire, a mesma de muitos outros orientadores.

Se considerarmos toda a gama de bens terrenos, veremos que desprender de casas, e outros bens patrimoniais, é ainda mais fácil do que a mãe desprender-se do filho,  a esposa do marido, a irmã do irmão e o cidadão da sua pátria. Difícil ao homem desprender-se da vaidade, das raças, dos cargos, das posições, da importância que lhe dão no mundo. Vemos isso até na diretoria de agrupamentos espíritas, onde o dirigente faz da casa o “seu centro”. Precisa da autoridade de presidente. Precisa da importância.

A finalidade da reencarnação é ajustar o homem aos valores espirituais. É viver no mundo, sem ser do mundo, como ensinam os espíritos. É sair daqui melhor do que chegou. Se assim não for, a reencarnação de nada valerá. Portanto, devemos selecionar com critério quais são os bens que valem nossos maiores investimentos. Se pensarmos apenas nos que ficam na Terra, nada construiremos para o futuro. 

Tudo o que dissemos até aqui é comprovado ao vermos ricos tão infelizes quanto pobres. Uns, pobres, têm privações materiais. Outros, ricos, vivem a miséria espiritual. Se existe nos dias atuais tanta depressão causada pelo estresse da vida moderna, isso se deve à dificuldade do homem em desprender dos bens terrenos. Desprender não é relaxar. É administrar com sabedoria. E isto é o que nos tem faltado.

Sugerimos que leiam atentamente todo o item 14, do capítulo XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, para compreenderem mais claramente o que fazemos na Terra.  


Desprendimento dos bens terrenos

14. Venho, meus irmãos, meus amigos, trazer-vos o meu óbolo, a fim de vos ajudar a avançar, desassombradamente, pela senda do aperfeiçoamento em que entrastes. Nós nos devemos uns aos outros; somente pela união sincera e fraternal entre os Espíritos e os encarnados será possível a regeneração.
O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, com as aplicardes todas às coisas materiais. Sede sinceros: proporciona a riqueza uma felicidade sem mescla? Quando tendes cheios os cofres, não há sempre um vazio no vosso coração? No fundo dessa cesta de flores não há sempre oculto um réptil? Compreendo a satisfação, bem justa, aliás, que experimenta o homem que, por meio de trabalho honrado e assíduo, ganhou uma fortuna; mas, dessa satisfação, muito natural e que Deus aprova, a um apego que absorve todos os outros sentimentos e paralisa os impulsos do coração vai grande distância, tão grande quanto a que separa da prodigalidade exagerada a sórdida avareza, dois vícios entre os quais colocou Deus a caridade, santa e salutar virtude que ensina o rico a dar sem ostentação, para que o pobre receba sem baixeza.
Quer a fortuna vos tenha vindo da vossa família, quer a tenhais ganho com o vosso trabalho, há uma coisa que não deveis esquecer nunca: é que tudo promana de Deus, tudo retorna a Deus. Nada vos pertence na Terra, nem sequer o vosso pobre corpo: a morte vos despoja dele, como de todos os bens materiais. Sois depositários e não proprietários, não vos iludais. Deus vo-los emprestou, tendes de lhos restituir; e ele empresta sob a condição de que o supérfluo, pelo menos, caiba aos que carecem do necessário.
Um dos vossos amigos vos empresta certa quantia. Por pouco honesto que sejais, fazeis questão de lha restituirdes escrupulosamente e lhe ficais agradecido. Pois bem: essa a posição de todo homem rico. Deus é o amigo celestial, que lhe emprestou a riqueza, não querendo para si mais do que o amor e o reconhecimento do rico. Exige deste, porém, que a seu turno dê aos pobres, que são, tanto quanto ele, seus filhos.
Ardente e desvairada cobiça despertam nos vossos corações os bens que Deus vos confiou. Já pensastes, quando vos deixais apegar imoderadamente a uma riqueza perecível e passageira como vós mesmos, que um dia tereis de prestar contas ao Senhor daquilo que vos veio dEle? Olvidais que, pela riqueza, vos revestistes do caráter sagrado de ministros da caridade na Terra, para serdes da aludida riqueza dispensadores inteligentes? Portanto, quando somente em vosso proveito usais do que se vos confiou, que sois, senão depositários infiéis? Que resulta desse esquecimento voluntário dos vossos deveres? A morte, inflexível, inexorável, rasga o véu sob que vos ocultáveis e vos força a prestar contas ao Amigo que vos favorecera e que nesse momento enverga diante de vós a toga de juiz.
Em vão procurais na Terra iludir-vos, colorindo com o nome de virtude o que as mais das vezes não passa de egoísmo. Em vão chamais economia e previdência ao que apenas é cupidez e avareza, ou generosidade ao que não é senão prodigalidade em proveito vosso. Um pai de família, por exemplo, se abstém de praticar a caridade, economizará, amontoará ouro, para, diz ele, deixar aos filhos a maior soma possível de bens e evitar que caiam na miséria. E muito justo e paternal, convenho, e ninguém pode censurar. Mas será sempre esse o único móvel a que ele obedece? Não será muitas vezes um compromisso com a sua consciência, para justificar, aos seus próprios olhos e aos olhos do mundo, seu apego pessoal aos bens terrenais? Admitamos, no entanto, seja o amor paternal o único móvel que o guie. Será isso motivo para que esqueça seus irmãos perante Deus? Quando já ele tem o supérfluo, deixará na miséria os filhos, por lhes ficar um pouco menos desse supérfluo? Não será, antes, dar-lhes uma lição de egoísmo e endurecer-lhes os corações? Não será estiolar neles o amor ao próximo? Pais e mães, laborais em grande erro, se credes que desse modo granjeais maior afeição dos vossos filhos. Ensinando-lhes a ser egoístas para com os outros, ensinais-lhes a sê-lo para com vos mesmos.
A um homem que muito haja trabalhado, e que com o suor de seu rosto acumulou bens, é comum ouvirdes dizer que, quando o dinheiro é ganho, melhor se lhe conhece o valor. Nada mais exato. Pois bem! Pratique a caridade, dentro das suas possibilidades, esse homem que declara conhecer todo o valor do dinheiro, e maior será o seu merecimento, do que o daquele que, nascido na abundância, ignora as rudes fadigas do trabalho. Mas, também, se esse homem, que se recorda dos seus penares, dos seus esforços, for egoísta, impiedoso para com os pobres, bem mais culpado se tornará do que o outro, pois, quanto melhor cada um conhece por si mesmo as dores ocultas da miséria, tanto mais propenso deve sentir-se em aliviá-las nos outros.
Infelizmente, sempre há no homem que possui bens de fortuna um sentimento tão forte quanto o apego aos mesmos bens: é o orgulho. Não raro, vê-se o arrivista atordoar, com a narrativa de seus trabalhos e de suas habilidades, o desgraçado que lhe pede assistência, em vez de acudi-lo, e acabar dizendo: "Faça o que eu fiz." Segundo o seu modo de ver, a bondade de Deus não entra por coisa alguma na obtenção da riqueza que conseguiu acumular; pertence-lhe a ele, exclusivamente, o mérito de a possuir. O orgulho lhe põe sobre os olhos uma venda e lhe tapa os ouvidos. Apesar de toda a sua inteligência e de toda a sua aptidão, não compreende que, com uma só palavra, Deus o pode lançar por terra.
Esbanjar a riqueza não é demonstrar desprendimento dos bens terrenos: é descaso e indiferença. Depositário desses bens, não tem o homem o direito de os dilapidar, como não tem o de os confiscar em seu proveito. Prodigalidade não é generosidade: é, freqüentemente, uma modalidade do egoísmo. Um, que despenda a mancheias o ouro de que disponha, para satisfazer a uma fantasia, talvez não dê um centavo para prestar um serviço. O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los. Se, por efeito de imprevistos reveses, vos tornardes qual Job, dizei, como ele: "Senhor, tu mos havias dado e mos tiraste. Faça-se a tua vontade." Eis ai o verdadeiro desprendimento. Sede, antes de tudo, submissos; confiai nAquele que, tendo-vos dado e tirado, pode novamente restituir-vos o que vos tirou. Resisti animosos ao abatimento, ao desespero, que vos paralisam as forças. Quando Deus vos desferir um golpe, não esqueçais nunca que, ao lado da mais rude prova, coloca sempre uma consolação. Ponderai, sobretudo, que há bens infinitamente mais preciosos do que os da Terra e essa idéia vos ajudará a desprender-vos destes últimos. O pouco apreço que se ligue a uma coisa faz que menos sensível seja a sua perda. O homem que se aferra aos bens terrenos é como a criança que somente vê o momento que passa. O que deles se desprende é como o adulto que vê as coisas mais importantes, por compreender estas proféticas palavras do Salvador: "O meu reino não é deste mundo."
A ninguém ordena o Senhor que se despoje do que possua, condenando-se a uma voluntária mendicidade, porquanto o que tal fizesse tornar-se-ia em carga para a sociedade. Proceder assim fora compreender mal o desprendimento dos bens terrenos. Fora egoísmo de outro gênero, porque seria o indivíduo eximir-se da responsabilidade que a riqueza faz pesar sobre aquele que a possui. Deus a concede a quem bem lhe parece, a fim de que a administre em proveito de todos. O rico tem, pois, uma missão, que ele pode embelezar e tornar proveitosa a si mesmo. Rejeitar a riqueza, quando Deus a outorga, é renunciar aos benefícios do bem que se pode fazer, gerindo-a com critério. Sabendo prescindir dela quando não a tem, sabendo empregá-la utilmente quando a possui, sabendo sacrificá-la quando necessário, procede a criatura de acordo com os desígnios do Senhor. Diga, pois, aquele a cujas mãos venha o que no mundo se chama uma boa fortuna: Meu Deus, tu me destinaste um novo encargo; dá-me a força de desempenhá-lo segundo a tua santa vontade.
Aí tendes, meus amigos, o que eu vos queria ensinar acerca do desprendimento dos bens terrenos. Resumirei o que expus, dizendo: Sabei contentar-vos com pouco. Se sois pobres, não invejeis os ricos, porquanto a riqueza não é necessária à felicidade. Se sois ricos, não esqueçais que os bens de que dispondes apenas vos estão confiados e que tendes de justificar o emprego que lhes derdes, como se prestásseis contas de uma tutela. Não sejais depositário infiel, utilizando-os unicamente em satisfação do vosso orgulho e da vossa sensualidade. Não vos julgueis com o direito de dispor em vosso exclusivo proveito daquilo que recebestes, não por doação, mas simplesmente como empréstimo. Se não sabeis restituir, não tendes o direito de pedir, e lembrai-vos de que aquele que dá aos pobres, salda a dívida que contraiu com Deus. - Lacordaire. (Constantina, 1863.)

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Aparições no Momento da Morte José Lucas

Parte I


Momentos antes de morrer, muitas pessoas alegam ver junto de si seres conhecidos, familiares e amigos, também já falecidos. Estes estudos têm tido o interesse de muitos pesquisadores. 

Ernesto Bozzano (1861-1943) foi um dos mais eruditos sábios dos últimos tempos. Foi um famoso escritor italiano, mundialmente conhecido pelas excelentes obras espíritas legadas ao mundo, através de suas investigações. Uma de suas pesquisas denomina-se «Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte» e relata muitos casos confirmados e catalogados de pessoas que tiveram contacto visual com seres conhecidos, familiares, amigos, todos eles já falecidos e que viriam então “buscá-los” para a sua nova vida. Factos muito interessantes que acontecem amiúde, e que os mais desavisados facilmente consideram ser apenas uma alucinação visual, não dando a menor importância aos mesmos.
Ao longo das próximas semanas iremos dissecar, neste espaço, algumas das nuanças existentes neste tipo de fenómenos psíquicos, no momento da morte do corpo físico.
Ensina-nos o Espiritismo (ver “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec) que as pessoas, quando o corpo físico se vai deteriorando ao ponto de não mais suportar a vida no planeta Terra, começam a desligar-se naturalmente, passo a passo, desse mesmo corpo.
«...é possível aos falecidos (chamados de desencarnados, isto é, fora do corpo de carne) tornarem-se visíveis perante nós  encarnados, isto é, ainda no corpo de carne.»
Sendo o ser humano um espírito eterno, que tem temporariamente um corpo físico, esse ser volta um dia para o mundo espiritual, continuando aí a viver em várias cidades e organizações existentes nesse mesmo mundo espiritual, mas agora, vivendo com o corpo espiritual (denominado de perispírito), que é uma espécie de duplicação do corpo físico, só que em outro estado da matéria.
Nesse sentido, e por um processo de “condensação” molecular desse mesmo corpo espiritual, é possível aos falecidos (chamados de desencarnados, isto é, fora do corpo de carne) tornarem-se visíveis perante nós  encarnados, isto é, ainda no corpo de carne. É o que acontece amiúde com pessoas que se encontram em estado de doença  prolongada, e que vão assim desligando-se paulatinamente do corpo físico, estando por vezes, no momento da morte, mais “do lado de lá” do que “no lado de cá”, como é usual dizer-se. Essas pessoas, descrevem seres conhecidos, já falecidos, que estão ao seu lado, amistosamente, e relatam muitas vezes suas conversas com esses mesmo seres, podendo inclusive prever com alegria o momento da morte do corpo físico.
Um caso pessoal
Recordo-me de um caso curioso que aconteceu na minha família. A minha avó materna, excelente pessoa com quem tinha muita afinidade, já bastante idosa, entrou em estado de doença. Sendo diabética, poder-se-ia no entanto dizer que a sua doença seria aquilo a que comumente se designa de velhice.
Acamada, e com os extremados zelos da minha mãe, diariamente inteirava-me do seu estado de saúde. Um dia, a minha mãe, muito preocupada, veio dizer-me que a minha avó começara a delirar, isto é, que ao acordar de manhã, falava como se estivesse em outra casa, dizendo que queria ir para a sua casa (onde se encontrava acamada), e relatando com extrema felicidade que  seu marido bem como seus pais (já falecidos), estavam muito luminosos, felizes, e que estavam ali com ela. Depois, com o passar dos minutos lá se apercebia que estava em sua casa, realmente.
Neófito no Espiritismo, informei a minha genitora que era muito comum isso acontecer às pessoas que estão para desencarnar (falecer), e que se fosse preparando para o desenlace pois tudo indicaria que assim acontecesse. De facto, passado três semanas de consecutivos relatos diários de visitas dos familiares já falecidos, minha avó acabou por desencarnar em muita paz e serenidade.

Parte II

Vamos hoje referir casos nos quais as aparições dos mortos são percebidas unicamente pelo moribundo e referem-se a pessoas cujo falecimento era por ele conhecido.


As pessoas mais distraídas facilmente dirão que se tratam de alucinações as descrições que os moribundos muitas vezes fazem, de seres conhecidos, já falecidos, que eles dizem estarem ali no momento da morte. No entanto, a investigação e uma análise mais cuidada do assunto, por parte de investigadores conceituados, mostra-nos o contrário. Diz Ernesto Bozzano , investigador e escritor ilustre, italiano, que «...se o pensamento, ardentemente voltado para as pessoas caras, fosse a causa determinante dos fenómenos, o moribundo, em lugar de experimentar exclusivamente formas alucinatórias representando defuntos – por vezes, mesmo, defuntos esquecidos pelo doente – deveria ser sujeito, as mais das vezes, a formas alucinatórias representando pessoas vivas às quais fosse vivamente ligado – o que não se produz... São bem conhecidos casos de agonizantes que têm tido visões de fantasmas que se crê sejam de pessoas vivas; mas, nesses casos, verifica-se invariavelmente, em seguida, que essas pessoas tinham morrido pouco antes, posto que nenhum dos assistentes nem o próprio doente o soubessem»(1)
São bem conhecidos casos de agonizantes que têm tido visões de fantasmas que se crê sejam de pessoas vivas; mas, nesses casos, verifica-se invariavelmente, em seguida, que essas pessoas tinham morrido pouco antes, posto que nenhum dos assistentes nem o próprio doente o soubessem
Refere ainda Ernesto Bozzano: «... Já citei um facto (VIII Caso), no qual o moribundo, percebendo aparições semelhantes, exclama:
- Como! Mas são pessoas como nós! – Sobre o que o narrador observa: “ Provavelmente ele sentia a imaginação cheia das imagens habituais dos anjos alados e das harpas angélicas; por consequência, nada mais provável que no último momento haja exprimido surpresa, vendo que os mortos que o vinham acolher tinham o aspecto de “pessoas como nós”. Contarei mais adiante (XXIV caso) um terceiro episódio concernente a uma menina de 10 anos, que, por seu turno, manifesta admiração vendo “anjos sem asas”. Ora, esses incidentes apresentam um valor probante real, pois que os fantasmas alucinatórios, como se sabe, tomam formas correspondentes às ideias que se têm figurado, anteriormente, na mentalidade do doente, e não podia ser de outra maneira. Resulta daí que, se a ideia dos anjos alados (de que temos ouvido falar por nossa mãe durante nossa infância e de que mais tarde lemos a descrição na Bíblia e vemos centenas de vezes representada nos quadros de assuntos religiosos), se tivesse gravado nas vias cerebrais do doente, este deveria supor estar vendo anjos com asas. Ora, como vimos nos casos narrados, os moribundos, dominados por essa ideia preconcebida, perceberam fantasmas cuja aparência era contrária á ideia em questão; devemos, pois, concluir que, nas circunstâncias descritas, se trata de aparições verídicas de fantasmas de defuntos e não de alucinações patológicas.» (1)
Caso do moribundo que vê fantasmas de defuntos desconhecidos mas conhecidos da família
Vamos ver um caso de um moribundo que vê fantasmas de defuntos que não conhece, se bem que fossem eles conhecidos dos de sua roda, o que elimina a hipótese da auto-sugestão. (extraído do “Journal of The American Society for Psychical Research, 1907, p-47)
«...Fui encontrar uma senhora, cujo filho, uma criança de 9 anos, morrera há 15 dias. Tinha sido operado de apendicite, dois ou três anos antes e a operação provocara uma peritonite, de que se tinha, no entanto, curado. Mas ficou de novo doente e foi preciso transportá-lo ao hospital para nova operação. Quando acordou da anestesia, estava perfeitamente consciente, reconheceu os seus pais, o médico e a enfermeira. Teve, no entanto, o pressentimento de morrer e pediu à sua mãe que lhe segurasse a mão até à hora de se ir embora... Olhando para o alto, disse:
- Mãe, não vês lá em cima a minha irmãzinha?
- Não, querido, onde a vês tu?
- Aqui; ela olha para mim.
Então a mãe para acalmá-lo, assegurou-lhe que a via também. Algum tempo depois, a criança sorriu de novo e disse:
- Quem está agora é a Sra. C...., que também vem ver-me. (Era uma senhora de quem ele gostava muito e que tinha morrido dois anos antes). Ela sorri e chama-me...
- Chega também Roy. Eu vou com eles, mas não te queria abandonar, mãe, e tu virás em breve ter comigo, não é? Abre a porta e pede-lhes para entrar. Eles estão á espera do lado de fora. E assim dizendo, expirou.
Ia esquecendo a mais importante visão: a da avó. Enquanto a mãe lhe segurava a mão, ele diz:
- Mãe, tu tornas-te cada vez menor; estás sempre com a minha mão presa? A avó está aqui comigo e é muito maior e mais forte que tu, não é?...» (in “Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte”, Ernesto Bozzano, FEB, 3ª edição, 1982).
Neste caso foi confirmado que o pequeno de 9 anos, falecido, nunca tinha visto a avó, morta 4 anos antes do seu nascimento, e Roy era um seu amigo morto um ano antes.
Na próxima semana abordaremos outro tipo de manifestações, recomendando a leitura do livro acima referido, que contém casos catalogados, bem interessantes.
(1) “Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte”, Ernesto Bozzano, FEB, 3ª edição, 1982

Parte III

Vamos hoje abordar casos nos quais outras pessoas, colectivamente com o moribundo, vêm o mesmo fantasma do defunto.
São comuns os casos em que moribundos relatam a presença de pessoas falecidas junto ao seu leito e que essas presenças são também apercebidas por familiares e / ou acompanhantes desse mesmo moribundo, mesmo que em outra divisão da casa.
Este grupo de casos, percepção colectiva do mesmo fantasma, tem um grande interesse, embora possamos igualmente no plano teórico encontrar outras hipóteses de explicação.
«Com efeito, a coincidência da aparição vista por terceiras pessoas, colectivamente com o moribundo, nos casos de visualidade simultânea, pode atribuir-se a ter este último servido de agente transmissor de uma forma alucinatória elaborada no seu cérebro. Se, ao contrário, o fantasma é percebido pelos assistentes e pelo moribundo, em momentos e em lugares diferentes, o caso, então, atinge grande significação teórica no sentido da sua interpretação espírita». (1)
As evidências das aparições de pessoas falecidas junto de moribundos, dizendo que os vêm buscar e auxiliar no momento do desenlace físico, são indicativos de que a vida continua para além da morte do corpo físico
De realçar os casos em que as pessoas que assistem ao moribundo percebem a aparição no momento em que o doente se encontra em estado de coma, o qual exclui toda e qualquer elaboração do seu pensamento, bem como quando o moribundo é uma criança de tenra idade, circunstância que, na maior parte dos casos, exclui a possibilidade de elaboração mental do doente.
Vejamos um caso bem interessante. Joy Suell, enfermeira diplomada, Inglaterra, depois de exercer a sua profissão durante vinte anos, escreveu um livro sobre Metapsíquica, “The Ministry of Angels”, em que conta  as suas próprias experiências como sensitiva clarividente, à cabeceira de inumeráveis doentes a que assistira. O livro é interessante, atraente e instrutivo, e relata casos em que o moribundo percebe, ao lado do leito, personalidades de defuntos que reconhece, mas que são invisíveis para os outros. No seu caso, graças à mediunidade de vidência, ela podia confirmar a presenças de seres espirituais relatados pelo moribundo. Vejamos um caso:
«A primeira vez que tive esta prova ocular foi com M.lle. L..., graciosa jovem de 17 anos, que era minha amiga e morria de tísica, sem sofrimentos; mas o extremo langor do corpo tornava-a moralmente fatigada e desejosa de repouso eterno.
Chegada a hora suprema, percebi-lhe ao lado duas formas espirituais, uma à direita, outra à esquerda do leito. Não me havia apercebido da sua entrada; quando se me tornaram visíveis, estavam já dispostas ao lado da moribunda; eu via-as, porém, tão distintamente como  pessoas vivas.
Designei essas radiosas entidades com o nome de anjos... Reconheci logo, nessas formas angélicas, duas meninas que tinham sido, quando vivas, as melhores amigas da doente, possuindo as três a mesma idade.
Um instante antes dessa aparição, a agonizante dissera:
- Fez-se, de repente, a obscuridade; não vejo mais nada. Apesar disso viu e reconheceu, logo depois, uma das suas amigas. Sorriso de suprema felicidade iluminou-lhe o rosto, e, estendendo os braços, perguntou ela, cheia de felicidade:
-Vieram buscar-me? Sinto-me feliz com isso, porque estou fatigada.
E enquanto a agonizante estendia as mãos aos anjos, estes faziam outro tanto, apertando-lhe um a mão direita e outro a esquerda. Seus rostos tinham um sorriso ainda mais doce do que aquele que brilhava no rosto da moribunda, alegre esta, por cedo encontrar o repouso que tanto almejava.
Não falou mais, mas continuou, durante cerca de um minuto, com os braços levantados ao céu, e as mãos unidas às das suas defuntas amigas, não cessando de contemplá-las, com expressão de ventura infinita.
Casos de aparições junto de moribundos em estado de coma ou em crianças de tenra idade, são indicativos da não interferência do psiquismo do doente nestes fenómenos
Em dado momento, as amigas abandonaram-lhe as mãos, que caíram pesadamente sobre o leito. A expirante emitiu um suspiro, como se se dispusesse tranquilamente a dormir, e, depois de alguns instantes, o seu espírito deixava o corpo para sempre. Sobre o rosto, porem, ficou-lhe gravado o doce sorriso que o tinha iluminado, quando percebeu ao lado as duas amigas mortas». (1)
Este e outros casos bem interessantes, que por falta de espaço não publicamos, bem como a análise dos mesmos, poderão ser encontrados no livro «Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte», do conceituado autor italiano Ernesto Bozzano, que recomendamos vivamente.
(1) “Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte”, Ernesto Bozzano, FEB, 3ª edição, 1982

Parte IV

Vamos hoje abordar casos  de aparições no leito da morte, coincidindo com prenúncios ou confirmações análogas, obtidas através da mediunidade.

Vamos hoje abordar mais um caso extraído do livro «Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte»  , Editora FEB, 3ª ed., 1982, Brasil, caso este retirado por sua vez dos «Annali dello Spiritismo in Italia» de 1875, páginas 120 e 149:

«O Dr. Vincent Gubernári, natural de Maremmes, na Toscana, instalou-se definitivamente em Arcétri, perto de Florença, e, se bem que não fosse médico oficial, exercia aí igualmente a sua profissão. Gubernári, favorecido dos bens da fortuna, esposara Isabel Segardi. Também ela era rica e tinha trazido ao marido um grande dote. Os esposos combinaram fazer uma doação recíproca dos bens e a Sra. Gubernári fizera o seu testamento nesse sentido e supusera que o marido tinha feito outro tanto em seu benefício.
Posto que o Sr. Gubernári, materialista como era, zombasse do Espiritismo e dos Espíritos, não pôde deixar de impressionar-se, vendo muitos dos seus amigos, que ele sabia bem instruídos, isentos de preconceitos, e outrora mais antiespíritas que ele, tornarem-se repentinamente crentes com as manifestações espíritas.
...E o espírito de sua tia manifestou-se, predizendo a sua morte e incentivando-o a melhorar a sua vida moral...
Um belo dia, pois, o doutor, ou porque se quisesse convencer pessoalmente, ou porque se quisesse divertir à custa dos amigos, manifestou-lhes o desejo de tentar uma experiência na própria casa e convidou-os a nela tomar parte. Logo que os experimentadores formaram a cadeia em torno da mesa, um Espírito agitou-a com força surpreendente...e o doutor ficou extremamente admirado quando, perguntando-se o nome do Espírito presente, este lhe respondeu:
- Tua tia Rosa.
O doutor ficara órfão, com pouca idade, e fora educado com ternura por essa tia, que lhe tinha servido de mãe. Quando voltou a si da surpresa exclamou:
- Pois bem, se és verdadeiramente minha tia Rosa, ajuda-me a ganhar muito dinheiro!
- Estou aqui para bem outra coisa – respondeu o Espírito.
- Aqui estou para aconselhar-te a mudar de vida e pensar na tua mulher.
- Já pensei na minha mulher – respondeu, sem vergonha, o doutor – tanto que ambos fizemos os nossos testamentos, com benefícios recíprocos.
- Mentira! – respondeu o Espírito, sacudindo fortemente a mesa, para demonstrar o seu descontentamento – Ela deixou-te tudo, sim, mas tu não lhe deixaste nada!
A Sra. Gubernári tomou parte, então, no diálogo e querendo persuadir o Espírito de que o seu marido tinha feito testamento em seu favor, disse, corajosamente, que ele podia prová-lo, mostrando o mesmo testamento aos amigos presentes.
O doutor, em consequência dessa intervenção inesperada da sua mulher, viu-se comprometido e sem saber como sair do aperto. Sabia o que lhe dizia a consciência e era-lhe impossível mostrar os documentos, declarando que o Espírito não tinha dito a verdade. Muito perturbado com o incidente, declarou, então, que não faria ver a ninguém o testamento. E o Espírito, agitando a mesa com força ainda maior, respondeu:
- Tu és um impostor! Sim, eu repito-te: esqueceste a tua mulher, e no teu testamento só te lembraste da tua criada, porque... Muda, sim, o teu modo de vida e o teu testamento, e apressa-te, porque não tens tempo a perder, dentro de alguns dias estarás connosco no mundo dos Espíritos.
Essa revelação foi como que um raio sobre a cabeça do doutor. Ele ficou aterrado e, depois, com raiva, gritou:
 O falecido Dr. Panattôni foi visto pelo moribundo, sem que este soubesse que o espírito se tinha manifestado anteriormente, predizendo a sua morte.
- Como? Tenho que morrer antes da minha mulher, eu que sou mais novo que ela? Não, isso não acontecerá nunca; quero viver ainda e viverei. Assim dizendo, levantou-se irritado tendo terminado a sessão.
No dia seguinte, um amigo, o Coronel Maurício, para o acalmar, disse que fariam outra sessão na casa da Condessa Passeríni, como contraprova, mas sem a presença dele. Nessa reunião foi confirmada a veracidade da comunicação da tia Rosa, assegurando que o médico morreria antes do final do corrente ano. Os amigos disseram-lhe que “os espíritos confirmaram que tinha sido uma mistificação e que não acreditasse”, caso contrário ele ficaria perturbadíssimo. O médico riu-se, feliz, e seguiu a sua vida normalmente.
Na noite de 12 de Novembro o referido médico foi assaltado de febre muito forte, acompanhado de muitas dores, e como sofria horrivelmente, os amigos fizeram nova sessão na casa da Condessa. Aí, manifestou-se um espírito, dizendo-se médico, informando ser o Dr. Panattôni, (parente do deputado do mesmo nome, tinha sido um bom médico e havia exercido a sua profissão em Florença) e que o doente faleceria em breve.
Em 30 de Dezembro de 1874 falecia o Dr. Gubernári dizendo ver perto de si o Espírito do Dr. Panattôni, que não o abandonava um só momento, e à sua cabeceira os espíritos de sua mãe e sua tia Rosa, que o consolavam com a sua presença, e o encorajavam a deixar a vida terrestre (o Dr. Gubernári, nada sabia da manifestação do Dr. Panattôni na sessão em casa da Condessa).»

Parte V

Vamos hoje referir um caso no qual as aparições de pessoas falecidas são percebidas unicamente pelos familiares do  moribundo.

Encontrámos um caso bem interessante, no livro «Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte», de Ernesto Bozzano, editora FEB, 3ª ed., 1982, Brasil, caso este retirado do «Journal of the Society for Psychical Research» (1908, pp. 308-311):

«O Dr. Burges envia ao Dr. Hodgson o episódio seguinte, que se passou em presença do Dr. Renz, especialista em moléstias nervosas. M. G., protagonista do episódio, escreve:
“... Antes de descrever os acontecimentos e no interesse daqueles que lerem estas páginas, tenho a declarar que não faço uso de bebidas alcoólicas, nem de cocaína, nem de morfina; que sou e fui sempre moderado em tudo, que não possuo um temperamento nervoso; que minha mentalidade nada tem de imaginativa e que sempre fui considerado como homem ponderado, calmo e resoluto. Acrescento  que, não somente nunca acreditei no que se chama – Espiritismo – com os fenómenos relativos de materializações mediúnicas e do corpo astral visível, como fui sempre hostil a essas teorias.
Um caso espantoso em que assitiu ao trabalho espiritual na morte da esposa
A minha mulher morreu às 11h45, da noite de Sexta-feira, 23 de Maio de 1902; e só às 4 horas da tarde desse mesmo dia foi que me persuadi que estava perdida toda a esperança. Reunidos em torno do leito, na expectativa da hora fatal, estávamos muitos amigos, o médico e duas enfermeiras... Assim se passaram  duas horas, sem que se observasse nenhuma alteração...às 6h45 (estou certo da hora porque havia um relógio colocado diante de mim, sobre um móvel) aconteceu-me voltar o olhar para a porta de entrada e percebi sobre o sólio, suspenso no ar, três pequenas nuvens muito distintas, dispostas horizontalmente, parecendo cada uma do comprimento de cerca de 4 pés, com 6 a 8 polegadas de volume... O meu primeiro pensamento foi que os amigos (e peço-lhes perdão por esse injustificado juízo) se tinham posto a fumar, além da porta, de  maneira que o fumo dos seus charutos penetrasse no quarto. Levantei-me de um salto para ir reprová-los e notei que nas proximidades da porta, no corredor e no quarto, não havia ninguém. Espantado, voltei-me para olhar as nuvenzinhas que, lentamente, mas positivamente, se aproximavam da cama, até que a envolveram por completo.
Olhando através dessa nebulosa, percebi que ao lado da moribunda se conservava uma figura de mulher, de mais de 3 pés de altura, transparente, mas ao mesmo tempo resplandecente de uma luz de reflexos dourados; o seu aspecto era tão glorioso, que não há palavras capazes de descrevê-lo. Ela vestia um costume grego de mangas grandes, largas, abertas; tinha uma coroa à cabeça. Essa forma mantinha-se imóvel como uma estátua no esplendor de sua beleza; estendia as mãos sobre a cabeça da minha mulher, na atitude de quem recebe um hóspede alegremente, mas com serenidade.
Duas formas vestidas de branco, detinham-se de joelhos, ao lado da cama, velando ternamente a minha mulher, enquanto que outras formas, mais ou menos distintas, flutuavam em torno. Acima da minha mulher estava suspensa, em posição horizontal, uma forma branca e nua, ligada ao corpo da moribunda por um cordão que se lhe prendia acima do olho esquerdo, como se fosse o “corpo astral”. Em certos momentos, a forma suspensa ficava completamente imóvel; depois, contraía-se e diminuía até reduzir-se a proporções minúsculas, não superiores a 18 polegadas de comprimento, mas conservando sempre a sua forma exacta de mulher; a cabeça era perfeita, perfeitos o corpo, os braços, as pernas.
Quando o corpo astral se contraía e diminuía, entrava em luta violenta, com agitação e movimento dos membros, com o fim evidente de se desprender e libertar do corpo físico. E a luta persistia até que ele parecia cansar; sobrevinha, então, um período de calma; depois o corpo astral começava a aumentar, mas para diminuir de novo e recomeçar a luta.
Os familiares e amigos falecidos, vêm, no momento do desenlace, ajudar-nos a entrar no outro mundo.
Durante as cinco últimas horas de vida da minha mulher, assisti, sem interrupção, a essa visão pasmosa...Não havia maneira de fazê-la apagar dos meus olhos; se me distraía conversando com os amigos, se fechava as pálpebras, se me achava de outro lado, quando voltava a olhar o leito mortuário, revia inteiramente a mesma visão. No correr das cinco horas experimentei estranha sensação de opressão na cabeça e nos membros; sentia as minhas pálpebras pesadas como quando se está tomado pelo sono, e as sensações experimentadas, unidas ao facto da persistência da visão, faziam-me temer pelo meu equilíbrio mental, e então dizia ao médico muitas vezes: - «Doutor, eu enlouqueço».  Enfim, chegou a hora fatal; depois de um último espasmo, a agonizante deixou de respirar e vi, ao mesmo tempo, a forma astral redobrar de esforços para libertar-se. Aparentemente, a minha mulher parecia morta, mas começava a respirar alguns minutos depois, e assim aconteceu por duas ou três vezes. Depois, tudo acabou. Com o último suspiro e o último espasmo, o cordão que a ligava ao corpo astral quebrou-se e eu vi esse corpo apagar-se. As outras formas espirituais, também, assim como a nebulosidade de que fora invadido o quarto, desapareceram subitamente; e, o que é estranho, a própria opressão que eu sentia sumiu-se como por encanto e permaneci de novo como fui sempre, calmo, ponderado, resoluto; dessa forma fiquei em condições de distribuir ordens e dirigir os tristes preparativos exigidos pelas circunstâncias...”
Afirma o Dr. Renz: “Desde que a doente se extinguiu, M. G., que durante cinco horas havia ficado à sua cabeceira, sem dali sair, levantou-se e deu ordens que as circunstâncias requeriam, com expressão tão calma, de homem de negócios, que os assistentes ficaram surpresos. Se ele tivesse sido submetido, durante cinco horas, a um acesso de alucinação, o espírito não se lhe teria tornado claro e normal de um momento para o outro. Dezassete dias já se passaram depois da visão e da morte da sua mulher; M. G. continua a mostrar-se perfeitamente são e normal de corpo e de espírito. (Assinado: Dr. C. Renz)”.»

Parte VI

Terminamos aqui uma série de seis artigos sobre aparições no leito de morte, com exemplo de aparições de defunto produzidas pouco depois de um caso de morte, e percebidas na mesma casa em que jaze o cadáver.

Embora estes factos sejam dos mais raros, não podemos deixar de os referir nesta série de artigos, casos estes retirados do livro «Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte» do famoso investigador italiano Ernesto Bozzano. O seguinte caso foi retirado do volume V, pag. 422, dos «Proceedings of the S.P.R.»:

«Agosto , 1886. No sábado, 24 de Outubro de 1868, despedimo-nos dos nosso amigos (os marqueses de Lyns) - com os quais permanecêramos em Malvern Well -, para irmos a Cheltenham, residência de um cunhado do meu marido, Georges Copeland.
Desde algum tempo, já este estava doente, em consequência de um ataque de paralisia, que o havia reduzido à imobilidade, ficando, no entanto, perfeitamente sãs as suas faculdades mentais.
Esta última circunstância fazia que os seus amigos ficassem perto do doente, a fim de adoçar-lhe a desventura, tanto quanto possível. Aproveitando a pouca distância que nos separava, resolvemos, por nossa vez, fazer outro tanto. Fomos, porém, informados de que o doente já tinha outras pessoas em sua casa; decidimos, então, ir para Cheltenham, sem o prevenir, a fim de alugar um apartamento, antes que ele no-lo impedisse de fazer, por um convite. Tomamos vários quartos situados na vizinhança da habitação de Copeland.
Na agonia da morte, muitos familiares e amigos  vêm ajudar-nos a desembaraçarmo-nos dos laços que nos ligam ao corpo físico
Feito isto, estávamos prontos para nos ausentar do hotel, quando muitos frascos de remédios, dispostos numa mesa, atraíram o nosso olhar. Perguntámos se havia doentes na casa e informaram-nos que certa senhora R...., hóspede no hotel com a sua filha, estava doente desde algum tempo; era coisa de pouca importância e não havia perigo. Depois dessa ocasião não pensámos mais no assunto. Logo após fomos à casa de Copeland, e no correr da tarde, veio a pronunciar-se o nome dos nossos vizinhos de hotel. Copeland disse, então, que conhecia a Sra. R....; explicou que era viúva de um doutor, ex-clínico em Cheltenham, e que uma das suas filhas se casara com um professor de colégio, um certo Sr. V... Lembrei-me então de Ter conhecido a Sra. V... por ocasião de uma recepção em casa do Dr. Barry e Ter nela feito reparo por causa da sua grande beleza, enquanto ela conversava com a dona da casa. Era tudo o que eu sabia a respeito dessas senhoras.
Na manhã de Domingo, à hora do almoço, observei que o meu marido parecia preocupado. Terminado que foi o repasto, perguntou-me ele:
- Ouviste arrastar uma cadeira há pouco? A velha que mora em baixo morreu na própria cadeira, esta noite; arrastaram esse móvel, trouxeram-na para o quarto.
Fiquei muito impressionada; era a primeira vez que me encontrava nas proximidades de um cadáver; desejei, pois, mudar sem demora, de apartamento. Muitos dos nosso amigos, sabendo do facto, tinham-nos gentilmente oferecido hospitalidade; mas o meu marido, opusera-se, lembrando que uma mudança é sempre um aborrecimento, que meus terrores eram tolos, que ele não achava nenhum prazer em deslocar-se num dia de Domingo, que não era generoso partir porque uma pessoa havia morrido e que, enfim, se assim procedessem para connosco, não nos deixaríamos de aborrecer. Em suma, tivemos de ficar.
Passei o dia na companhia do cunhado e das sobrinhas e só voltamos ao hotel à hora de ir para a cama. Depois de haver adormecido, acordei de repente, como de hábito, alta noite, sem causa aparente e vi distintamente, ao pé da cama, um velho fidalgo, de rosto gordo, rosado e sorridente, com um chapéu na mão.
Estava vestido com um casaco azul-celeste, de talhe antigo, guarnecido de botões de metal; tinha um colete claro e calças da mesma cor.
Visões e descrições da presença de falecidos junto dos moribundos são evidências que muitas vezes  não podem ser explicadas de outro modo
Quanto mais o encarava, melhor lhe discernia os menores detalhes do rosto e das vestes. Não me senti muito impressionada; depois de algum tempo ensaiei fechar os olhos durante um ou dois minutos; quando os reabri, o velho fidalgo tinha desaparecido.
Dormi algum tempo depois. Vindo a manhã, propus-me nada dizer a ninguém, do que me tinha acontecido, até que tivesse visto uma das minhas sobrinhas, à qual queria expor o facto, a fim de saber se, por acaso, não haveria nenhuma semelhança entre o Dr. R... e o fidalgo da minha visão. Apesar de me parecer absurda esta ideia, queria certificar-me. Encontrei minha sobrinha, Maria Copeland (hoje senhora Brandling), de volta da igreja, e logo lhe perguntei:
- O Dr. R... não tinha o aspecto de velho fidalgo, de rosto cheio, rosado e sorridente, etc., etc.?...
Ela estremeceu de espanto.
- Quem to disse? - perguntou. - Nós dizíamos, de facto, que ele se assemelhava mais a um bom feitor de fazenda do que a um doutor. Como é estranho que um homem de aspecto tão vulgar tivesse por filha tão bela criatura!
Tal é a narrativa rigorosamente exacta do que me aconteceu. As minhas duas sobrinhas estão ainda vivas e devem lembrar-se exactamente de tudo isso. Naturalmente, não estou em condições de explicar o facto. O corpo da velha senhora jazia no quarto que ficava imediatamente abaixo do nosso. O que me surpreende, sobretudo, é que eu tivesse ficado tão pouco  impressionada e que pudesse dormir alguns instantes depois, sem incomodar ninguém. (Assinado: D. Bacchus).»
O marido  da Sra. Bacchus confirma o acontecimento:
«Leamington, 27 de Setembro de 1886 - Li a narração da minha mulher a respeito do que sucedeu em Cheltenham, quando nós aí estivemos em 1868. Ela corresponde exactamente ao que a minha mulher contou de viva voz, na manhã que se seguiu ao facto, de que perfeitamente me recordo. Também me lembro que nessa manhã mesma, ela contou todos os detalhes do acontecimento à sua sobrinha. (Assinado: Henry Bacchus).»
De realçar que a declaração da precipiente não ter nunca conhecido e não ter tido nunca a ideia do aspecto do defunto Dr. R..., admitindo-se assim a realidade objectiva da aparição, afastando a hipótese de um fenómeno de auto-sugestão alucinatória, provocado na Sra. Bacchus, pelo pensamento desagradável de ter perto de si o cadáver da Senhora R...»
(Série de seis artigos reproduzidos com autorização da ADEP e dispostos de forma contínua para mais fácil estudo)

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Amparo e Orientação na Espiritualidade Vitor Ronaldo Costa

A maioria dos Espíritos que reencarnam recebe a devida preparação educativa. Resta a cada um saber aproveitar a chance.
 

O Mundo Espiritual é muito mais rico em realizações construtivas do que se imagina. Habitualmente, as nossas preocupações se voltam para os obsessores, os espíritos perturbadores, as entidades sofridas, as zonas umbralinas e outros aspectos negativos da erraticidade, infelizmente verdadeiros, em face da precária evolução de considerável número de espíritos ainda presos aos vícios e à maldade. No entanto, os aspectos positivos da dimensão espiritual também devem ser relembrados, discutidos e divulgados. O espírito André Luiz nos legou farta e ilustrativa descrição dos acontecimentos que se processam nas colônias mais próximas da crosta, como “Nosso Lar” e “Campos da Paz”. Esse querido autor espiritual, por meio da psicografia do inesquecível Chico Xavier, costuma ressaltar em sua obra literária as inúmeras oportunidades de reabilitação concedidas aos espíritos falidos em suas experiências terrenas. As vivências experimentadas pelos desencarnados nas respectivas colônias espirituais em que se demoram, revelam-se repletas de aprendizados notáveis, o que assegura a cada individualidade, de certo modo, a chance de um melhor desempenho na próxima reencarnação. Assim, as nossas atenções se voltam para a diversidade de instituições educativas vigentes no campo astral. Cada uma delas conta com um efetivo de instrutores aptos a transferir conhecimentos enriquecedores tanto àqueles que se submetem ao processo de reabilitação para melhor entender a própria condição espiritual, quanto àqueles que se preparam para o retorno. Todos, sem exceção, em determinado momento são convidados ao esforço preparatório com vistas ao próximo mergulho na carne. As falhas e equívocos pretéritos cometidos no terreno profissional, no âmbito familiar, no trato com a coisa pública, no relacionamento com as pessoas, no campo sentimental e em outras posições típicas da condição terrena são identificados e revisados com todo o carinho e atenção. Tudo feito de modo a permitir que o espírito, uma vez reencarnado, possa reparar o pretérito culposo, não reincidir nos equívocos mais costumeiros e construir, com certa dose de esforço e dedicação, um porvir mais ditoso. Portanto, ninguém tem o direito de se queixar de não ter recebido dos bons espíritos a orientação segura e capaz de garantir uma experiência humana exitosa.
Comentemos, então, resumidamente, o papel pedagógico de alguns institutos dedicados aos espíritos atormentados pelo remorso tardio e pelo desejo de novas oportunidades reencarnatórias com vistas à própria reabilitação moral.
1 - Instituto de Psiquiatria Protetora. Está constituído por espíritos ligados à área da saúde. São psiquiatras, psicólogos e assim por diante. O Instituto se consagra à proteção e ao tratamento de seus tutelados. Presta o socorro inicial aos egressos do Umbral, aos que desencarnaram vítimas de sofrimentos aflitivos e aos que alimentaram sérios desajustes no campo mental durante o estágio terreno. É um trabalho de reajustamento do espírito enfermo. A rotina se assemelha à de uma instituição terrena dedicada ao amparo dos desajustados mentais. Em consultórios simples, mas confortáveis, os doentes abrem os seus corações; rememoram passagens significativas da última existência, retratam-se moralmente e prestam contas à própria consciência. Alguns se lastimam e vertem lágrimas de arrependimento sincero. Sentem-se envergonhados e deprimidos, porém, segundo notifica André Luiz: “A dor moral nos mede a noção de responsabilidade”. Graças ao Instituto, os enfermos espirituais, após submeterem-se à judiciosa psicoterapia regenerativa, sentem-se mais habilitados ao desempenho de tarefas gratificantes de acordo com suas tendências e aptidões.
2 - Instituto de Ciências do Espírito. Propõe fornecer elucidações a respeito dos fatos que se desenrolam na própria dimensão extrafísica, por exemplo: os mecanismos vigentes nas relações espirituais; as noções sobre os diversos graus de condensação da matéria; e “Um mais amplo exame de percepção da mente”. Os Instrutores demonstram que os recursos restritos dos sentidos comuns dos encarnados proporcionam ilusões, pois poucos imaginam que por detrás das paisagens terrenas aparentemente fixas, encontra-se a matéria interconversível em energia e luz. Aprendem que a existência planetária não passa de especial tarefa para o espírito, e que, uma vez reencarnados concentram-se na crosta com o objetivo de evoluir, valorizando cada qual os seus próprios princípios religiosos. O Instrutor de Ciências prepara os menos esclarecidos ao melhor entendimento da realidade espiritual. Cada qual deverá tirar o máximo de proveito do aprendizado na Pátria Maior, para sujeitar-se, em momento oportuno, ao retorno terreno imbuído de maior grau de esclarecimento.
3 - Instituto Magnético. Existem vários desses institutos na cidade astral de “Campos da Paz” e no âmbito do Ministério do Auxílio em “Nosso Lar”. Destinam-se à aplicação do magnetismo restaurador nos espíritos vitimados por intensos desequilíbrios da mente. São desencarnados que durante longos períodos de suas vivências terrenas se aferraram ao modo de vida inferior. Aqui se excluem os perversos, os que sentiram prazer em matar. O instituto se reserva ao atendimento dos que se perderam pelos desvãos dos prazeres ilusórios. O excesso de centralização nas experiências indignas que eles próprios escolheram, acaba por gerar uma espécie de desequilíbrio nos fulcros mentais. São espíritos vítimas dos arrastamentos de suas próprias tendências viciosas. Ao despertarem na espiritualidade, custam a reconhecer a condição de desencarnados. Lamentam o sofrimento de que são vítimas, reclamam providências terapêuticas, exigem alívio imediato, mas se esquecem de mobilizar qualquer esforço no sentido da auto-iluminação. A maioria em estado de alucinação ou delírio, aos poucos, se beneficia da terapêutica magnética, além de receber auxílio variado e esclarecimento oportuno.
4 - Instituto de Administradores. De ordinário, as criaturas nos embates terrenos se apegam com sofreguidão aos cargos de destaque social e, levadas pela vaidade enfermiça, buscam obter o prestígio entre seus pares e os aplausos dos bajuladores. Poucos se incomodam com o bem-estar dos semelhantes. Outros aspiram as posições bem remuneradas quer na política, quer na burocracia pública. Todavia, levado pela ambição desmesurada, considerável número desvia-se dos caminhos retos e se perde nos meandros da desonestidade, desperdiçando as chances de crescimento espiritual. Eis que, após a morte física, os falidos morais, os aproveitadores inconseqüentes, os que desviaram verbas, os que se locupletaram indevidamente carregam na consciência o arrependimento e a vergonha que os deprime. Então, no tempo adequado, são convidados a se matricularem em um dos institutos de administradores com a finalidade de buscarem a restauração da própria energia, discutirem as quedas morais, tudo com o objetivo de corrigir os erros cometidos na mordomia terrestre. Em conseqüência, ficamos a pensar: em face da desonestidade reinante no atual momento, imaginamos a quantidade de administradores moralmente falidos na espera da matrícula...
5 - Instituto Preparatório da Reencarnação. Destina-se a elaboração dos mapas reencarnatórios e demais procedimentos relativos àqueles que se preparam para a volta. Cada individualidade tem o seu histórico de vida registrado num desses institutos. Assim, tendo em vista a próxima reencarnação, cada órgão do corpo humano e respectiva função, cada situação conflitiva a ser enfrentada são previamente analisados e viabilizados de acordo com as necessidades educativas do aprendiz da vida. Certas deformidades físicas, doenças crônicas e restrições mentais de ordem congênita ajustam-se perfeitamente às necessidades cármicas dos espíritos reencarnantes. A confecção desses mapas fica a cargo dos “construtores espirituais”, verdadeiros especialistas em atividade reencarnatória. Encarregam-se, também, das operações de restringimento do perispírito e da redução do nível de consciência que antecede a ligação do corpo astral com a célula-ovo. Em relação ao futuro quadro de vida, tais estudos, muitas vezes, incluem a participação e a aquiescência do próprio interessado. Embora, nada escape aos ditames das Leis de Deus, a programação da existência, ao ser traçada, leva em conta o livre arbítrio e a opção pelo bem, esta última, é o grande diferencial capaz de amenizar a carga dos sofrimentos reeducativos. Os programas pré-reencarnatórios criam uma espécie de predisposição aos esquemas expiatórios, mas não um determinismo absoluto, pois tudo vai depender do esforço evolutivo de cada um. Não esqueçamos que o “amor sempre cobre uma multidão de pecados”. 
6 - Instituto de Reeducação Sexual. Tem o objetivo de congregar espíritos que faliram no campo da sexualidade humana. Ali se matriculam os que passaram pelas zonas umbralinas e, durante muitos anos, purgaram, em regime de intenso sofrimento, os fluidos tóxicos concentrados no corpo espiritual. Em geral, poucos imaginam o quanto o sexo aviltado, corrompido, desviado de seus objetivos maiores, degrada o campo mental e desarticula os “centros de força” ligados à atividade reprodutiva. Pois bem. Após recuperar-se dos sofrimentos na erraticidade penumbrosa, a entidade, já em condições de um melhor entendimento, é conduzida a um desses centros de reeducação sexual e, ali, em contato com outros alunos vitimados por idênticos problemas, discutem as questões cruciais que motivaram os próprios desequilíbrios na área da sexualidade. Inúmeras disciplinas correlatas são abordadas e debatidas, de modo que, o espírito devidamente instruído, possa retornar ao orbe terreno com a finalidade de expiar os seus equívocos e reparar os prejuízos infligidos aos semelhantes, aprendendo, enfim, que as forças sexuais da alma, quando bem direcionadas, são energias construtivas, capazes de sublimar as almas em trânsito na grande universidade terrena.
7 - Instituto de Paternidade e Maternidade. Destina-se ao abrigo, ao refazimento e orientação daqueles que não souberam valorizar a missão da paternidade e, em conseqüência, viram os próprios filhos se perderem pelos caminhos dos vícios e da marginalidade social. Integrados ao grupo, dedicam-se ao estudo da questão, reavaliam os pontos em que falharam, articulam idéias que os fortaleçam na repetência e aguardam o momento do retorno com a esperança de recompor os vínculos partidos, recebendo no regaço do lar os filhos desviados de outrora, com o propósito de melhor encaminhá-los na existência. Assim, como ficou visto, outros institutos existem com a finalidade de abrigar, consolar, debater e orientar os que fracassaram nos embates da existência. A nossa preparação é articulada com carinho e o máximo de empenho por parte dos mentores amigos. Por isso, tenhamos a certeza de que lá do invisível espíritos amigos torcem pelo nosso bom desempenho aqui na condição de encarnados. Refaçamos idéias, adotemos comportamentos saudáveis, esmeremo-nos na condição de pais, de cônjuges, de trabalhadores e de cidadãos do mundo, pois, se bem nos desempenharmos, certamente, quando retornarmos à Pátria Maior, não lamentaremos nossos enganos, mas aproveitaremos o tempo na condição de alunos felizes, a articular novos projetos de realizações construtivas.
Bibliografia:
1- LUIZ, André & XAVIER, Francisco C. E a Vida Continua. 20. ed. FEB.
2 - id. Os Mensageiros21. ed. FEB.
3 - id. Missionários da Luz9. ed. FEB.
4 - id. Sexo e Destino14. ed. FEB.

Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo, edição de agosto de 2005 e reproduzido com autorização do autor

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A Ética Espírita

Texto básico da exposição feita no Painel "O Livro dos Espíritos - Princípios Filosófico-­Espíritas para uma nova Sociedade" no 4o ­Congresso Espírita Mundial, realizado em Paris, França, no dia 3 de outubro de 2004

Altivo Ferreira

 

1. Ética e Moral

A Ética (do grego ethika) é a parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana (Dicionário Michaelis)1. Relaciona-se com os costumes, sendo chamada ciência da conduta e ciência da moral, cujo objetivo é o julgamento e a distinção entre o bem e o mal. A Ética teve origem na Grécia, com Aristóteles (384-322 a.C.), o qual utilizou esse nome pela primeira vez em seu livro Ética a Micômaco.

Afirma Marilena Chauí2"Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, valores concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido e à conduta correta e incorreta (...). No entanto, a simples existência da moral não significa a presença explícita de uma ética, entendida como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discuta, problemize e interprete o significado dos valores morais."

A distinção entre ética e moral é, todavia, tênue. Já na Roma antiga, Cícero (106-43 a.C.) dizia que eles denominavam moral o que os gregos chamavam de ética.

Com Jesus Cristo, os conceitos éticos assumiram nova dimensão, como se depreende das palavras do Espírito Carlos Torres Pastorino, no recente livro Impermanëncia e Imortalidade3, cap. "Ética e razão"':

"Foi Jesus que apresentou o amor como fundamental para a vida, dando início ao primado do dever e da moral como essenciais à felicidade humana. Antes dEle, os princípios da ética moral eram graves, especialmente em Israel, atados às leis severas, estabelecidas por homens cruéis, mais interessados em punir, em vingar-se do que em educar e corrigir. Desde a Pena de Talião, que Ele substituiu pela do perdão, mediante o qual é concedido ao infrator a reabilitação, não ficando isento da responsabilidade do erro e das suas conseqüências, mas facultando-lhe possibilidades de retribuir à sociedade em bens os males que praticou."

Surge, assim, a ética cristã, fundamentada nos ensinos do Mestre Nazareno. Pedro e seus companheiros vivenciam o amor e praticam a caridade na Casa do Caminho. Paulo de Tarso dá-lhe consistência, traçando diretrizes de ordem comportamental aos gentios em suas memoráveis Epístolas, das quais destacamos estes preceitos: "Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem" (Romanos, 12:21); "Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam" (I Coríntios, 10:23); e reforça com seu exemplo: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gálatas, 2:19-20).

Com o correr do tempo e o predomínio da Igreja, depois, com a Reforma Protestante, a ética cristã foi sendo adaptada às concepções da Teologia, na medida em que o comportamento humano era influenciado pelo temor a Deus, pela crença no pecado, nas penas eternas, em que a salvação da alma era condicionada à submissão aos dogmas e sacramentos, ou à fé em Cristo.

Iniciada no século XVII a Era da Razão, a partir de René Descartes (1596-1650), passando pelos filósofos do Iluminismo, até Jean-Jacques Rousseau (1712-1799) e Emmanuel Kant (1724-1804), no século XVIII, as reflexões éticas prepararam o pensamento humano para o advento do Consolador prometido por Jesus, destinado a reconduzir a ética cristã à sua pureza original.

2. Ética e Doutrina Espírita

Em nossa pesquisa, não encontramos menção à Ética nas obras da Codificação Kardequiana e na Revista Espírita. Todas as referências se reportam à Moral, cujo conceito espírita se confunde com o de Ética, como podemos conferir nas respostas dos Espíritos Reveladores às questões 629 e 630 de O Livro dos Espíritos (Ed. FEB), formuladas por Kardec:

629. Que definição se pode dar da moral

A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus.O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.

630. Como se pode distinguir o bem do mal?

O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é pro ceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-Ia.

Na obra Filosofia Espírita da Educação (vol. 1)4 Ney Lobo acentua que, como "existe a Filosofia Espírita, deve, forçosamente, corresponder-lhe determinada ética, a Ética Espírita" (destaque do autor).

Os princípios da Doutrina Espírita, em seu tríplice aspecto - Filosofia, Ciência e Religião - fundamentam-se na moral do Cristo, que é a mais elevada expressão da Ética.

A concepção de Deus - justo e misericordioso para com todos os seus filhos -, como a "inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas"; a certeza da vida futura e o conhecimento do mundo espiritual, confirmados, através da mediunidade, pelas comunicações dos Espíritos; a origem, evolução e destinação do Espírito imortal; a pluralidade das existências e dos mundos habitados; a compreensão da justiça e da misericórdia divinas pelo funcionamento da lei de causa e efeito; o princípio de responsabilidade decorrente do exercício do livre-arbítrio; a concepção espírita das penas e gozos terrestres e futuros - repercutem na consciência moral do homem, levando-o a formular e praticar uma nova filosofia de vida, uma nova conduta ética.

Nas Leis Morais, da Parte 3a de O Livro dos Espíritos, a Ética Espírita apresenta-se em sua plenitude. No capítulo 1, Kardec reúne o ensino dos Espíritos sobre a lei divina ou natural, examinando os caracteres e o conhecimento dessas leis; coloca as questões acerca do bem e do mal e apresenta (q. 648) a divisão da lei natural em dez partes (cap. II a XI), que compreendem as leis de adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso, igualdade, liberdade e, por fim, a de justiça, amor e caridade. Afirmam os Espíritos que "essa última lei é a mais importante, por ser a que faculta ao homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras."

Ainda sobre a última lei moral, Kardec enfatiza, na Conclusão (IV) de O Livro dos Espíritos. "O progresso da Humanidade tem seu principio na aplicação da lei de justiça, de amor e de caridade, lei que se funda na certeza do futuro."

Além da questão acima (648), três outras merecem destaque, por seu significado ético:

621. Onde está escrita a lei de Deus? Na consciência.

625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo? Jesus.

647. A Lei de Deus se acha contida toda no preceito do amor ao próximo, ensinado por Jesus?

Certamente esse preceito encerra todos os deveres dos homens, uns para com os outros. (...).

O Codificador termina o estudo das leis morais com a abordagem de um aspecto fundamental da Ética em geral e da Ética Espírita em particular - a Perfeição Moral. As primeiras questões apresentadas tratam das virtudes e dos vícios. Indaga ele (q. 893) sobre qual a mais meritória das virtudes, e recebe por resposta: "Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem. (...) A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal em favor do próximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade." (Grifamos.)

No exame das paixões, a resposta dos Espíritos à pergunta 907 esclarece que a paixão, em sua origem, não é má; "a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal".

egoísmo é o vício mais radical (q. 913), dele derivando todo o mal. "Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. (...) Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades."

Fénelon responde de forma admirável à indagação - Qual o meio de destruir-se o egoísmo? (q. 917). Eis alguns trechos do seu pensamento:"De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de erradicar-se (...). O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro, real e não desfigurado por ficções alegóricas." (...).

No longo e elucidativo comentário sobre essa questão, Kardec afirma ser necessário combater o egoísmo na sua raiz "pela educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral".

Sobre a educação à luz do Espiritismo, Ney Lobo5 enfatiza: "A Ética Espírita é a argamassa que cimenta a Filosofia com a Educação Espírita, arti­culando-as funcionalmente num enlace perfeito e doutrinário: a Filosofia for­nece a Ética para a Educação realizá-la."

3. Comportamento ético-espírita

A Ética Espírita, aliando a fé à razão - e pelo seu caráter educativo -, leva o homem, à mudança positiva de comportamento. Daí a exortação do Codificador6 "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. "

Retomando o citado capítulo sobre a Perfeição Moral, encontramos o modelo de comportamento ético-espírita na questão 918, em que Kardec, no seu comentário, apresenta os caracteres do homem de bem e declara: "Verdadeiramente, homem de bem, é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade na sua maior pureza." Ele desdobra esse tema no capítulo XVII de O Evangelho segundo o Espiritismo, descreve a conduta do homem de bem, e conclui - referindo-se aos bons espíritas - que o Espiritismo leva aos resultados por ele obtidos que"caracterizam o verdadeiro espírita, como o cristão verdadeiro, pois que um o mesmo é que outro ". (Grifamos.)

 ***
A Ética Espírita foi enriquecida, no século XX, com o apostolado mediúnico de Francisco Cândido Xavier, através do qual a Espiritualidade Superior canalizou para o homem contemporâneo valiosas diretrizes de ordem comportamental, sob a visão evangélico-­doutrinária da Terceira Revelação. Destacamos desse tesouro as mensagens de Emmanuel que compõem a série (editada pela FEB) Caminho, verdade e Vida, Pão Nosso, Vinha de Luz e Fonte Viva, assim como as de André Luiz, cujo livro Conduta Espírita é um repositório de orientações a quantos queiram ter um comportamento ético­-cristão. Esta contribuição do Mundo Espiritual é acrescida pelas obras de Joanna de Ângelis sobre o homem integral e a psicologia profunda, psicografadas por Divaldo Pereira Franco.

O comportamento ético-espírita não pode limitar-se aos momentos em que estamos na Casa Espírita ou no atendimento às carências do próximo. Ele deve constituir o nosso modo de ser e de agir em todas as circunstâncias da vida.

Ao espírita compete manter uma conduta ética no cotidiano, em todas as relações que estabelece com o seu semelhante e a sociedade, ainda que em detrimento de seu interesse pessoal. Cabe-lhe viver e exemplificar a conduta ética no lar, na vida profissional, nos negócios, na política, na administração pública, bem como nas outras situações apresentadas pelo Espírito André Luiz7, consultando sempre a sua consciência, onde está escrita a lei de Deus.


Referências Bibliográficas


1 MICHAELIS: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1998, 2.267 p., p. 908.

2 CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Editora Ática, 2003, 424 p., p. 310.

3 FRANCO, Divaldo Pereira. Impermanência e Imortalidade, pelo Espírito Carlos Torres Pastorino. Rio de Janeiro: FEB, 2004, 224 p., "Ética e razão", p. 215-222.

4 LOBO, Ney. Filosofia Espírita da Educação. Rio [de Janeiro]: FEB, 1989, v. l, p. 50.

5 ld., ibid., p. 53.

6 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 120. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2002, 435 p., cap. XVII, p. 274.

7 VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita, pelo Espírito André Luiz. 5. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1974, 155 p.

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(Estudo originalmente publicado na Revista Internacional de Epiritismo, Ano LXXX, No 02, Matão, Março 2005 e reproduzido com autorização do autor)