sábado, 31 de janeiro de 2015

ESPIRITISMO NA ANTIGÜIDADE Humberto Rodrigues Neto

MISSA EGÍPCIA

Serápio, (do latim Serapeum) era o principal templo da antiga religião egípcia, estando, os principais, situados em Mênfis e Alexandria.

Eram construídos voltados para o nascente, de forma que, ao despontar, o sol penetrasse por aberturas estrategicamente projetadas, fazendo brilhar, em todo o seu esplendor, as estátuas dos deuses colocadas no cimo dos altares.

Como as pessoas do povo iam para o templo de madrugada e ali aguardavam o início da missa pela manhã, é de supor-se com que emoção viam os deuses resplandecerem na sua imensa glória!

Os principais deuses ali adorados eram Osíris, sua esposa Ísis e Hórus, o deus-menino, filho de ambos. Estaria aí a origem da tendência que as religiões têm de adotar deuses múltiplos?

Católicos e Evangélicos também crêem num Deus trino, representado pelas três pessoas da santíssima trindade. É interessante lembrar que na teologia egípcia a deusa Ísis também caminhava pelo céu conduzindo ao colo o deus-menino Hórus!

Nos Serapeuns, os fiéis acendiam velas e ali depositavam ex-votos, ou seja, partes do corpo curadas pelos deuses, como cabeças, braços, mãos, pernas, pés, etc., reproduzidos em cera, argila, gesso ou madeira, prática muito bem vista pela igreja católica, que os acolheu de muito bom grado, pois o povo gosta bastante de tais práticas e isso seria um atrativo a mais para arrebanhar novos adeptos.

Durante as missas, como advertência para chamar os fiéis à concentração, o auxiliar do sacerdote também fazia soar o sistro (do latim sistrum), uma espécie de arco atravessado por pequenas esferas de metal que, agitadas, vibravam, produzindo som estridente e prolongado, prática que, por sugestiva, foi, também, adotada pela Igreja.

Já se usava o incenso, mas não como oferenda de perfumes às divindades, e sim para atenuar o mau cheiro insuportável emanado de uma população ainda desprovida da comodidade do banho diário, outra atração que não poderia deixar, por interessante, de ser aproveitada. pela Igreja em seus rituais.

É extraordinária, por outro lado, a semelhança existente entre os hinos dedicados a Hórus e aqueles entoados ainda hoje nas igrejas ditas cristãs, tanto na composição musical, quanto na letra.

Vê-se, portanto, que em matéria de liturgia, pouco ou quase nada foi criado de novo, tudo não passando de simples imitações do que já existia, pois tais aparatos agradavam ao povo. A Igreja não iria, como dissemos, suprimir de seus rituais tão convincentes atrativos.

TEBAS E MÊNFIS

Os cultos a Osíris, Isis e Hórus, bem como a outras divindades menores, representadas por animais, como o gato, o escaravelho, o chacal, o boi ápis, etc., eram os permitidos às pessoas comuns do povo.

Os sacerdotes, entretanto, e os iniciados, conheciam a existência de um Deus único e criam na reencarnação, conforme se verifica destes antigos textos, traduzidos depois da decifração dos hieróglifos, por Champollion:

-- A luz que viste - dizia o sacerdote ao iniciado - é a Inteligência Divina. As trevas são o mudo material em que vivem os homens da Terra. As almas são filhas do céu e a viagem que fazem é uma prova.

“-- Na encarnação perdem a lembrança de sua origem celeste. Cativas pela matéria, elas se precipitam até à prisão terrestre, em que tu mesmo gemes, e em que a vida divina te parece um sonho vão. 

“-- As almas inferiores e más ficam presas à Terra por múltiplos renascimentos; as virtuosas voam para as esferas superiores, onde recobram a vista das coisas divinas.

“-- Tornam-se luminosas porque possuem o divino em si próprias e o irradiam em seus atos. Imagina, ó Hermés, o vôo dessas almas subindo a escala que conduz até o Pai.!”.

Por que - perguntamos nós - por que esses ensinamentos não eram transmitidos ao vulgo? Vamos em frente na leitura desses textos antiqüíssimos e ouçamos a voz daqueles antigos mestres:

“-- O conhecimento total da verdade só pode ser revelado àqueles que atravessarem as mesmas provas que eu e tu - diz o mestre ao iniciado - É preciso velá-la aos fracos, porque os tornaria loucos, e ocultá-la aos maus, porque fariam dela uma arma de destruição”.

A ciência de tais sacerdotes, absorvida de antigos mestres da Índia, ultrapassava em muitos pontos a ciência atual. Conheciam o magnetismo e o sonambulismo, curavam pelo sono provocado e praticavam largamente a sugestão, por eles denominada de magia.

Segundo afirmam Diodoro da Sicília e Estrabão, os sacerdotes do antigo Egito sabiam provocar a clarividência para fins terapêuticos. Galien cita um templo próximo a Mênfis, célebre por curas hipnóticas.

Como se vê, as práticas espíritas são tão antigas quanto o próprio homem.
 
Textos adaptados do livro “Depois da Morte”, de Léon Denis, Capítulo III, e da História das Civilizações, de Will Durant.

MISTÉRIOS DE ELÊUSIS

Também na Grécia o conhecimento da existência de um Deus único e das verdades da reencarnação eram apanágio apenas dos sacerdotes e dos iniciados

Deixava-se ao vulgo a crença na existência de vários deuses, uns voltados às ciências, outros à guerra, outros ao mar, outros ao fogo, outros às artes, etc., que hoje sabemos tratar-se de espíritos que superintendem esses ramos do conhecimento humano.

O ensino aos iniciados era ministrado em templos situados em Olímpia, em Delfos, mas, sobretudo, em Elêusis. Foi em Delfos que Cerefão ouviu o oráculo de que Sócrates era o mais sábio dos homens de seu tempo, tendo aquele filósofo julgada certa a predição, pois acreditava ser ele o único homem que sabia não saber nada.

Era em tais templos que faziam sua iniciação os sábios, poetas e filósofos. Foi dos antigos egípcios que os gregos iniciados souberam da existência de um Deus único e superior a todos os demais.

Foi dos antigos egípcios que os gregos souberam, também, estar a Terra envolta no fluido universal; serem reais as verdades da reencarnação; originarem-se, os planetas, da explosão do sol e ser este o centro do nosso sistema planetário.

Pitágoras, por exemplo, estudou os mistérios iniciáticos durante 30 anos no Egito. Copérnico só soube da rotação da Terra em torno do Sol ao ler uma passagem de Cícero em que Hicetas, discípulo de Pitágoras, fala do movimento diuturno do globo.

Pitágoras sabia, também, que cada estrela é um sol iluminando outros mundos. O que divulgasse na época tais verdades seria tachado de herético, motivo por que os iniciados estavam expressamente impedidos de divulgar ao vulgo os seus conhecimentos.

Plutarco escreveu: “Durante a iniciação nos mistérios, era possível conversar com as almas dos defuntos. Na maior parte das vezes, intervinham nos Mistérios de Elêusis excelentes espíritos, embora em outras procurassem, também os perversos, ali se introduzir”.

Segundo Pórfiro, “nossa alma deveria encontrar-se, no momento da morte, no mesmo estado em que se achava durante os Mistérios, isto é, isenta de paixão, de cólera e de ódio”.

Diz ainda, Próclus: “Em todos os Mistérios, os deuses - para nós, espíritos de todas as ordens - mostram-se de muitas maneiras, aparecem sob grande variedade de figuras e revestem a forma humana”. Todos esses comentários constam de “A República”, de Platão.

Ao final do livro citado, Platão, que também foi iniciado nos mistérios egípcios, reproduz a cena alegórica que já fizera constar no “Fédon” e no “Banquet”, sobre a teoria das reencarnações, alegoria essa segundo a qual um gênio tira, de sobre os joelhos das Parcas, os destinos das criaturas humanas e exclama:

“ -- Almas divinas! Entrai em corpos mortais; ide começar uma nova carreira. Eis aqui todos os destinos da vida. Escolhei livremente, mas a escolha é irrevogável. Se for má, não acuseis por isso a Deus!”.

Cícero não discordava de tais crenças e a elas se refere no “Sonho de Cipião”(cap. III), e também Ovídio a elas remonta nas suas “Metamorfoses” (cap. XV). Em Virgílio, no VI Livro da “Eneida”, verifica-se que Enéias encontra-se nos Campos Elíseos com seu pai Anquises, o qual lhe ensina a lei dos renascimentos.

Lucano, Tácito, Apúleo, bem como Filóstrato, o grego, acreditavam-se inspirados por gênios familiares e falam, freqüentemente, em suas obras, de sonhos, aparições e evocações de mortos.

Com o tempo, tanto os cultos de iniciação da Índia, como do Egito e da Grécia, foram sendo corrompidos pela admissão de iniciados sem as prerrogativas necessárias ao aprendizado de tão elevados ensinamentos, fomentando a admissão de charlatães e levando tais práticas ao descrédito e à conseqüente extinção.

Apenas os Essênios conseguiram conservar, em meio aos hebreus, os fundamentos puros de tais práticas, fonte onde o próprio Cristianismo foi beber a água viva de seus fundamentos.

Seria impossível imaginar que Moisés, redentor do povo hebreu, não tivesse absorvido as idéias do monoteísmo, ou a crença num Deus único, dos cultos de iniciação por ele freqüentados no Egito.

Há mesmo quem afirme ter Jesus participado, antes de iniciar o seu apostolado, das prédicas dos Essênios, não para aprendê-las, pois não tinha necessidade disso, mas, provavelmente, por simpatizar com as verdades e os ensinamentos delas emanados.


Do livro “Depois da Morte” - Léon Denis.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

ERRATICIDADE - REFLEXÕES Humberto Rodrigues Neto

Sabemos que a erraticidade é o tempo compreendido entre o momento em que desencarnamos e o instante em que reeencarnamos em outro corpo físico. Simplificando, é o intervalo de nossas vidas no qual voltamos a ser apenas espíritos.

Em que condições assumimos esse estado? Será que há estatísticas, lá em cima, aptas a nos fornecerem alguma luz sobre o assunto? Existem, sim.

No livro Sexo e Destino, no capítulo 9, psicografado pelo saudoso Chico Xavier, André Luiz visita o Instituto Almas Irmãs, onde é inteirado, por Belina, de que aquela casa já contava, na época, 82 anos de existência, abrigando uma população flutuante de 5 a 6 mil espíritos.

De cada 100 espíritos que ali aportam - diz Belina - 18 chegam vitoriosos da reencarnação; 22 ficam melhorados; 26 apresentam-se imperfeitamente melhorados, e 34 para lá retornam onerados por novas dívidas.

Ressalte-se que o “chegar vitoriosos”, dos 18 acima citados, não significa, necessariamente, terem assumido o estado de espíritos puros, mas cumprido integralmente apenas aquilo que planejaram na erraticidade anterior.

É muito pouco, caro irmão. Tais números servem para calar a bazófia dos que alardeiam dotes de perfeição. Mas, voltemos a Belina.

Se tomarmos um total de 1.000 - diz ela - somente 5 conseguem chegar aqui irrepreensivelmente melhorados, atingindo o estado de “completistas”. Mas, que é um “completista”?

Na obra Missionários da Luz, capítulo 12, André Luiz pergunta a Manassés o significado daquele termo, sendo inteirado tratar-se de título conferido aos raros irmãos que aproveitaram todas as possibilidades construtivas a si oferecidas por sua vivência em corpos terrestres.

Mas, negligenciamos no uso pleno de nossa capacidade física - continua Belina. Fazemos algo útil para nós e para outrem, mas desprezamos, por vezes, 50, 60, 70% e até mais de nossa capacidade, quando desperdiçamos valiosas energias em atividades que degradam o intelecto e embrutecem o coração.

A crueza das estatísticas apresentadas obrigam-nos à seguinte reflexão: se a Terra tem 6.500.000.000 de habitantes; se 5 a cada mil chegam a tal distinção, é de se concluir que ainda existem 335.000.000 de vagas para almas sequiosas de participar da maratona dos completistas. 

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

RESSENTIMENTO, MÁGOA, MAUS PENSAMENTOS Humberto Rodrigues Neto

Este texto tem o escopo precípuo de alertar os menos esclarecidos sobre o quão prejudiciais se tornam os ressentimentos, como também a mágoa ou um simples pensamento negativo que venhamos a dirigir contra quem quer que seja.

Sempre sublinhamos, em nossas palestras, que tais sentimentos funcionam como autênticos bumerangues, os quais retornam, infalivelmente, na direção de seus arremessadores.

Já dizia Lèon Denis que, quando os emitimos, forma-se ao redor do nosso perispírito uma espécie de campo escuro que afeta sensivelmente todas as nossas funções orgânicas, inclusive as do metabolismo basal, podendo originar uma série bastante apreciável de enfermidades.

Ademais, esse campo obscuro permanecerá conosco e não nos abandonará nem mesmo quando seguirmos para a outra dimensão, onde será percebido pela entidade espiritual encarregada de nos receber e orientar.

Concomitantemente, o fenômeno também gravará, no perispírito do ofendido, sentimentos de profunda aversão contra nós.

Se aquele a quem dirigimos tais sentimentos negativos for um espírito de pouca luz, ele irá buscar-nos em todos os cantos do outro plano até encontrar-nos, a fim de mover contra nós a mais tenaz obsessão.

Esse campo negativo, todavia, pode ser eliminado ainda em vida, a partir do momento em que peçamos e consigamos, do ofendido, o perdão pela falta cometida e o incluamos em nossas orações de fim-de-noite.

É por isso que Jesus dizia: "Reconcilia-te com teu inimigo enquanto estás a caminho"- ou seja, volta às pazes com ele enquanto estejam ambos encarnados, porquanto um ajuste de contas, já como espíritos, será muito mais difícil.

Portanto, mesmo que tenhamos absoluta certeza de que a culpa pela inimizade é inteiramente do outro, ainda assim é vantagem nos colocarmos na posição de réu e pedir-lhe desculpas, por mais que essa atitude nos pareça injusta e até humilhante.

Essa é a atitude que sempre recomendamos a todos os aprendizes dos cursos que, humildemente, mas pela graça de Deus, ministramos sobre a Doutrina.

"Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra". William Shakespeare (1564-1616).

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

NINGUÉM É DE NINGUÉM Humberto Rodrigues Neto


A ciência que conhecemos como Sociologia, e tudo o mais que aprendemos sobre a história das civilizações comprovam que todos os países com sede de domínio sobre as nações mais pobres acabam, inexoravelmente, perdendo suas conquistas tão logo os desígnios divinos assim o determinem.

Ignoram, os seus mandatários, que as leis naturais reguladoras das relações entre os países também se acham sujeitas à supervisão de espíritos de alta hierarquia, os quais, providencialmente, fazem ruir tais impérios territoriais ou econômicos com a mesma facilidade com que o algodão doce se derrete em boca de criança.

O império romano, que parecia inexpugnável e abrangia quase todo o mundo conhecido esfacelou-se, nem tanto pelas guerras, mas, sobretudo, pela dissolução de costumes e a consequente desagregação dos valores de família. A imensurável grandeza territorial de um império onde o sol nunca se punha restringe-se, hoje aos acanhados limites da Itália, um do menores países do mundo.

Com todo o seu fastígio, o colonialismo inglês, presente nos cinco continentes, soçobrou pela ânsia incontrolável da dominação econômica de povos miseráveis, como a Índia e outros inúmeros países.

Sem que se entendesse muito bem, o extenso mapa da União Soviética, no qual ninguém ousava botar a mão começou a esboroar-se com a simples derrubada do muro que dividia em duas a Alemanha, reduzindo a frangalhos a tão decantada cortina de ferro, de que tanto se ufanavam os soviéticos.

Quanto ao maior império econômico atual, os americanos já tiveram dois avisos bem sugestivos da espiritualidade sobre o fato de estarem extrapolando no seu apetite quase sensual de dominação econômica dos demais povos, e também na truculenta e antipática ingerência nos assuntos internos de outros países. A primeira foi a destruição das torres do Trade Center, pondo a nu a fragilidade dos seus “sofisticados” sistemas de defesa. A segunda ficou patente durante o flagelo do “Katrina”, quando, sob chuvas contínuas e torrenciais morreram centenas de pessoas humildes, afogadas nas enchentes ou vitimadas pelo desabamento de casas.

A face cruel desse lamentável acontecimento é o fato de Bush e seus acólitos se manterem surdos aos apelos de toda a imprensa e retardarem, propositalmente, o envio de socorros, só o fazendo quatro dias depois de serenada a tormenta. Segundo denúncias dessa mesma imprensa, o retardamento tinha por objetivo o diabólico propósito de eliminar o maior número possível de negros, que era a população predominante nos estados atingidos pela catástrofe!

Como não aprenderam a lição, pois professam credos dogmáticos segundo os quais vive-se apenas uma vez, o plano superior atinge-os agora no que eles têm de mais sagrado: o enfraquecimento de sua moeda, mediante a qual tencionam o domínio mundial dos mercados internacionais, obrigando-os a uma correção de rota em seus sinistros planos. E os castigaram ainda mais, colocando na presidência do país um negro, raça pela qual os povos bretões nutrem uma ojeriza secular. Quanto à submersão de toda a costa americana do Pacífico (inclusive São Francisco) ainda são projetos a serem aplicados mais tarde pelo plano superior caso não resolvam baixar a cerviz.

É assim, prezados amigos, que a coisa funciona, no modesto entender deste leigo observador de tais fenômenos. Mas não precisamos nos assustar com tão funestos acontecimentos, os quais ainda demorarão um bom tempo até se concretizarem, podendo até serem antecipados caso a China confirme a sua supremacia no controle mundial de todas as transações internacionais, proeza que os americanos não vão tolerar em hipótese alguma.

Quem viver verá!

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

MÉDIUNS: MISSIONÁRIOS, MAGOS? QUEM SÃO ELES? Humberto Rodrigues Neto


Segundo trecho de Emmanuel, reproduzido na folha 45, do Capítulo VII - Médiuns, do excelente livro Estudando a Mediunidade, de Martins Peralva, temos o seguinte, em relação aos médiuns:

“Os médiuns, em sua generalidade, não são missionários na acepção comum do termo; são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram, sobremaneira, o curso das leis divinas e que resgatam, sob o peso de severos compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso. O seu pretérito, muitas vezes, se encontra enodoado de graves deslizes e erros clamorosos”.

É preciso notar que Emmanuel não diz todos os médiuns, mas a generalidade, ou seja, uma parte considerável deles. É bom não generalizarmos, portanto, a generalidade.

Labora em erro, por conseguinte, aquele que vai a uma casa espírita e vê no médium uma criatura privilegiada de Deus, ou então crê estar diante de um missionário dotado de poderes miraculosos, cuja elevação espiritual estivesse situada muito acima daquela apresentada por aqueles que o procuram em busca de um conforto físico ou espiritual.

Incorre em falta ainda maior o médium que se considera um missionário, um ser que caiu nas graças do Senhor, sendo por Ele escolhido para espalhar a bondade pelo mundo durante toda a vida.

Que leva alguns médiuns a raciocinar dessa forma? Muito simples: boa parte deles esquece que essa missão meritória lhe foi concedida na erraticidade, a seu próprio pedido, para resgatar as faltas a que alude Emmanuel e a que se reporta Martins Peralva em suas considerações. Fossem mais afeitos aos cursos de doutrinação que as casas espíritas oferecem, e ouvissem os conselhos a si feitos nesse sentido pelos Dirigentes, não se deixariam enredar por tão sedutores, mas desarrazoados devaneios.

Resumindo, ao invés de devotar-lhes nossa admiração, seria bem mais interessante, como preito de gratidão à espinhosa missão de socorro que nos prestam, dirigir nossos pensamentos contritos ao Criador e pedir-lhe, no fervor e na sinceridade de nossas preces, que povoe de espíritos elevados o seu meio ambiente, a fim de que possam, assim assessorados, cumprir dignamente os pesados encargos de redenção a que se propuseram quando desencarnados.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O BULLYING E A ROTURA DE VALORES MORAIS Victor Manuel Pereira de Passos

O BULLYING assimila todos os moldes de atitudes agressivas, premeditadas e recalcadas, que acontecem sem causa evidente, adoptadas por um ou mais estudantes contra outros, ocasionando dor e angústia, e efetuadas num relacionamento desigual de poder. O desequilíbrio de poder é uma das causas primárias, que levam à possível a intimidação da vítima, pois ela é feita geralmente em grupo e não permite que o lesado se possa defender.

Infelizmente já se tornou um problema mundial, ponto vital de ataque, Escolas, Instituições e Colégios particulares, mesmo não existe preferência do meio, porque nada lhes é adverso, eles atuam em qualquer um, a nível rural, citadino, não existe preocupação da parte dos intimidadores, para eles é mais um sítio, mais, e só apenas isso.

A maior fragilidade é a omissão, da parte das Instituições, talvez por medo de represálias.

Estes jovens não têm empatia, ou relacionamento averbado a amizades. Geralmente, pertencem a famílias desestruturadas, nas quais não existe relacionamento afetivo entre seus membros.

Seus pais exercem uma pobre ou nenhuma influência sobre eles, toleram e oferecem como modelo para solucionar conflitos o comportamento agressivo ou expansivo. Claro que isso se vai refletir num futuro recente, dos jovens, quando adultos terão com toda a certeza um comportamento antissocial e violento, podendo vir a adoptar, inclusive, atitudes delinquentes ou de criminalidade inconsequente, a qual não terá parâmetros de quantificação.

Os atingidos são pessoas tímidas, e sem meios de poderem defender-se, pela sua fragilidade, tudo porque a pouca sociabilidade, lhes retira o apoio ou então nutrem dum sentimento de insegurança os impede de solicitar ajuda.

Estas individualidades vivem sem esperança quanto às possibilidades de se ajustarem ao agregado que os envolve. A baixa autoestima é enorme, e reforçada pelas por ingerências críticas ou pela indiferença dos seres que estão à sua volta, sobre seu sofrimento. O mais saliente é que muitos creem ser merecedores da malvadez que lhe é tributada.

A falta de amizade, passividade, quietude dá-lhes a inoperância para reagir em sua defesa. Claro com tudo isto o desempenho escolar caí por terra, permanecem e aguentam todo este horror ou negam-se a ir para a escola, até simulam doenças. Andam de colégio para colégio com assiduidade, ou repudiam os estudos. Há jovens que tomam os extremos da depressão acabando por tentar ou cometer o suicídio.

Tudo isto está banalizado por falta de coerência e de tomadas de medidas que equacionem a defesa destes jovens.

Em tempos remotos, nós já verificamos estas passagens, pelas perseguições da inquisição, aos que falavam com os seus Deuses da época, mais recentemente pelas perseguições horrendas dos Judeus, mas se meditarmos sobre tal situação verificaremos que os extratos que mais humilham, são aqueles que nem precisam materialmente de nada, mas tem ausência de escrúpulos, usando e abusando atropelando todos os valores do respeito pelo próximo, diria mesmo que estamos em período, inquisitório, onde a Lei é só uma, o medo pelo medo.

Estamos em mudanças enormes, os valores Familiares estão a ser pressionados, pelos cortes materiais, pois vive-se cada vez mais apertado economicamente, os Pais não tem presença atempada em casa, ambos trabalham, chegam e cruzam-se, quase nem um sorriso tem para dividir, tal é o afastamento. O desemprego, agregado também ao enorme desamor entre familiares, redunda numa enormidade de divórcios, mas nada que não se supere, o período matriarcal está a perder força, e o poder patriarcal está em crescendo mais uma vez! Mas desta forma voltamos às raízes pensam vocês! Não amigos isto, é apenas o começo do defraudar da imposição da lei de afinidade, pois quem colhe ventos semeia tempestades. Não adianta lamentarmo-nos, porque tudo tem a sua causa e efeito, e o desagregamento, familiar a cobiça, o prazer desmedido e o recalcamento do pretérito tem como cobrança a desordem de valores e troca abrupta da vida equilibrada para uma de provação e expiação. Quem quer deter-se, quem toma a bandeira da responsabilidade da violência!? É fácil, os culpados, não existem, somos todos nós por incúria, facilitismo, e devaneio que saímos da estrada da vida espiritual, da moldagem das almas pelos valores evangélicos, nada nos falta, mas tudo se perde, apenas queremos um pouco mais acima, porém esquecemo-nos, que a crise não é só amoedada, mas principalmente pela falta de conhecimento moral, espiritual e intelectual. As ocorrências dos espetáculos, levam muita gente, mas a mascara da verdade, não mostra o que vai no interior, é tudo platónico, nada de que o Universo vivente não estivesse à espera, as intempéries aumentam, os acidentes mortíferos aumentam, as catástrofes estão aí, mas ninguém procura refletir que a maior calamidade saí de nós, dos nossos sentimentos , das nossas atitudes, da corrupção de valores, e da falta de sensibilidade, para os valores que encerram a continuidade no caminho da felicidade, amigos não esqueçam seus objetivos, a razão que os trouxe aqui a este plano, porque cá viemos, o que fazemos aqui senão resgatar, crescer, aprender a amar, mas se assim não queremos viver e ousamos tomar tudo pela ausência de amor, então preparem-se as cobranças só ainda agora começaram, o Mundo passa pela sua mudança, e os que quiserem seguir os caminhos da solidez, da comunhão dos ensinamentos do Mestre que tomem da enxada e que não deixem a faina, porque existe muito por desbravar, uns terão de ajudar os outros, porque muitos irão ranger os dentes, mas depois disso a suavidade dos céus, fará vibrar as alegrias do amor…. Vamos arregaçar as mangas , tomar o arado e lavrar o terreno que há por lavrar , porque a seara ainda tem muito para trabalhar, tenhamos fé, generosa e amemos, o próximo, Deus fará o resto.

Amigos, tudo começa em nós, cada um, será sempre uma centelha que no seu mapeamento mental tem que discorrer o sentido do seu caminho, por isso não deixemos que se avolume a obra, vamos arregaçar as mangas e unir esforços em caridade amando, e sendo perseverantes, sem vencedor ou vencidos, mas acrescidos da verdade redentora, o amor em caridade.
 

domingo, 25 de janeiro de 2015

OBJETOS DE CULTO E ESPIRITUALIZAÇÃO DO PENSAMENTO Tales Henrique da Silva Waisberg

Adeptos de muitas religiões, desde um passado longínquo, valem-se de objetos destinados a reforçar a fé que professam e servir-lhes de meio de ligação com Deus ou os seres que, dentro da crença que possuem, são os representantes maiores da Bondade Divina junto aos homens. Estátuas, talismãs, colares e correntes, medalhas, “santinhos”, roupas especiais e outros objetos de culto são utilizados largamente por fiéis, dentro e fora de templos religiosos, com vistas a promover um contato mais estreito com o “Alto” (como costumamos chamar os Espíritos de elevada hierarquia ou os planos superiores que estes habitam). A Doutrina Espírita mostra-nos que não é necessário o uso de elementos exteriores para o cultivo da espiritualidade e da elevação do pensamento, ao nos trazer o conhecimento das leis mentais e de como estas funcionam. Justamente por compreender a finalidade a que esses objetos se destinam (desde que a serviço do sentimento sincero de devoção e do desejo de vínculo com as forças do bem), devemos respeitar tais comportamentos em irmãos que pertencem a outras escolas religiosas. Ao mesmo tempo, esclarecidos pelos ensinamentos da Codificação Kardequiana e obras complementares, cabe-nos desenvolver a disciplina mental e a capacidade de realizar esse vínculo com as esferas mais elevadas sem recorrer a “interfaces” materiais, e de forma cada vez mais natural e permanente.

É comum, depois de nos tornarmos espíritas, menosprezarmos ou ridicularizarmos (mesmo que apenas em pensamento) o uso de objetos de culto pelos adeptos de outras religiões. Por compreender que é possível direcionar a mente para a Espiritualidade Maior sem nenhum auxílio externo, por vezes taxamos aqueles que utilizam tais objetos de pessoas ignorantes ou de religiosidade inferior à nossa. De fato, o uso de “penduricalhos místicos” é uma conseqüência da pouca evolução espiritual da humanidade terrena, que ainda, em sua maioria, depende de recursos físicos para expressar o sentimento religioso, que é inato ou inerente à alma. Livrar-se desse tipo de intermediação é passo importante no processo de despertar, libertação e ampliação da consciência (assim como o aprimoramento da concepção que fazemos de Deus, da vida e seu sentido mais profundo, das Leis Divinas, seu propósito e seus mecanismos, dentre outros pontos). Entretanto, não devemos desprezar ou diminuir o esforço feito pelos que recorrem a objetos de culto (desde que o façam com finalidade nobre e construtiva), nem subestimar o papel que esses elementos desempenham ou a sua utilidade para estas pessoas, como explica André Luiz, na seguinte passagem da obra “Mecanismos da Mediunidade”:

“Em toda a parte, desde os amuletos das tribos mergulhadas em profunda ignorância até os cânticos sublimados dos santuários religiosos dos tempos modernos, vemos o reflexo condicionado, facilitando a exteriorização de recursos da mente, para o intercâmbio com o plano espiritual.

Talismãs e altares, vestes e paramentos, símbolos e imagens, vasos e perfumes, não passam de petrechos destinados a incentivar a produção de ondas mentais, nesse ou naquele sentido, atraindo forças do mesmo tipo que as arremessadas pelo operador dessa ou daquela cerimônia mágica ou religiosa e pelas assembléias que os acompanham, visando a certos fins.” (1)

Com o auxílio de objetos exteriores, muitos Espíritos, ainda mergulhados em crenças supersticiosas, conseguem exteriorizar e canalizar seus pensamentos (“recursos da mente ou ondas mentais”) mais facilmente, na tentativa de estabelecer a desejada sintonia com o Criador ou os Espíritos Superiores que Lhe executam os desígnios (nas orações proferidas pelos que procuram a Deus, sabemos que vêm em nosso amparo os seres que já se constituíram em emissários do amor divino).

A crença com que fiéis de determinadas religiões se apegam a esses apetrechos, acreditando que neles se encontra um meio de conectarem-se a Deus ou aos seres de grandiosa elevação moral com quem pretendem comunicar-se, pode levar à mobilização de ondas mentais que se conjugam com aquelas emitidas pelo condutor de uma reunião ou cerimônia religiosa (no caso de haver a figura deste “coordenador” de esforços mentais), e que sincronizam com a presença e a vibração dos mentores que amparam essas reuniões.

Como bem acentua Andre Luiz, essas ondas podem ser de tipo enobrecido ou envilecido, atiradas então para o bem ou para o mal. Pode-se, portanto, operar também a sintonia com planos inferiores, se tais objetos motivarem a emissão de ondas mentais negativas, enfermiças ou de baixo padrão vibratório, normalmente em assembléias organizadas por líderes que esposam idéias e ambições contrárias à paz e ao amor (e que atuam sob a influência de entidades infelizes cujo saber ainda é empregado integralmente na prática do mal).

O Espiritismo não possui fórmulas, ritos, dogmas, símbolos, emblemas ou talismãs, que ainda são conseqüências do primarismo espiritual que caracteriza boa parte dos Espíritos reencarnados na Terra. Ensina-nos também que a nossa ligação, na condição de encarnados, com as esferas espirituais é permanente, e depende fundamentalmente do estado interior ou clima psíquico com que nos apresentamos a cada instante (estamos sintonizados, onde quer que estejamos, com os seres cujos pensamentos, idéias, emoções, aspirações e desejos se afinam com os nossos, nas diversas dimensões que compõem o universo). Ao invés de buscar o elo com o Criador ou as Forças Espirituais Superiores que a Ele servem, apenas durante uma cerimônia religiosa, o Espiritismo nos adverte da necessidade de procurar esse vínculo de forma ininterrupta, através de uma conduta mental cada vez mais ajustada com os princípios nobres e superiores da vida. O meio para atingir tal objetivo é internalizar, de forma crescente, aspirações, idéias, pensamentos e sentimentos alinhados com o Bem Supremo e que expressem a vivência dos ensinamentos de luz e amor do Evangelho. Ao falar sobre a oração, no mesmo capítulo de “Mecanismos da Mediunidade”, André Luiz explica:

“Observamos, em todos os momentos da alma, seja no repouso ou na atividade, o reflexo condicionado (ou ação independente da vontade que se segue, imediatamente, a uma excitação externa) na base das operações da mente, objetivando esse ou aquele gênero de serviço.” (2)

É neste ponto que entra a reflexão que todo espírita sincero deve fazer a respeito do padrão vibratório e do tipo de pensamento que sustentamos na maior parte do tempo, e a indisciplina que ainda vige nas ondas mentais que emitimos. Como vai o esforço de cada um de nós, privilegiados pelo conhecimento das Leis que regem a vida nas esferas invisíveis ao olhar físico, no sentido de manter o pensamento elevado e colocar-se em comunhão incessante com as Forças do Bem? Se já nos conscientizamos de que não precisamos de objeto algum para promover essa integração mental com o Alto, o quanto estamos nos dedicando para criar essa ligação? Como está o nosso empenho no que se refere ao controle do que sai da própria mente, buscando esvaziá-la de conteúdos daninhos e preenchê-la de material mais elevado e sublime?

Muitas vezes, pegamo-nos gastando tempo precioso com a simulação mental de diálogos conflituosos com outras pessoas, ou com idéias negativas e de pessimismo. Ou nos isolando em pensamentos de revolta diante do que não conseguimos obter – e que talvez nos fosse fazer mais mal do que bem – no lugar de cultivarmos gratidão pelas inúmeras bênçãos e possibilidades com que somos agraciados pelo Criador todos os dias, mas que passam muitas vezes despercebidas. Ou fazendo crescer a mágoa ou o ódio pelos que nos agridem, ao invés de utilizarmos o poder do pensamento para refletir sobre a realidade evolutiva e impermanente dos que nos cercam, exercitando o raciocínio sobre por que tolerar e compreender os que tentam nos prejudicar. Se tal reflexão mencionada acima for feita, constataremos, sem dificuldades, que não empregamos nem 10% do tempo que poderíamos utilizar na projeção de pensamentos de luz sobre nós mesmos e os que estão à nossa volta, ou na ligação com nossos mentores, pedindo forças e inspiração para transpor dificuldades e superar as imperfeições das quais devemos nos despojar.

Não se pode negar o fato de que, para o nosso atual estágio evolutivo, é ainda demasiadamente difícil manter um padrão vibratório elevado a todo instante, principalmente quando premidos por circunstâncias que ainda têm o potencial de nos fazer esquecer rapidamente os ensinamentos de luz e amor do Cristo. A agitação do dia-a-dia, a busca do atingimento de objetivos efêmeros, a correria para atender aos inúmeros compromissos que assumimos, desarmonias no ambiente do lar e do trabalho, e as distrações com que o mundo nos seduz (basta notar a facilidade com que muitos se perdem por horas diante da programação das emissoras de televisão), dentre outros fatores, freqüentemente impõem grandes empecilhos ao exercício do pensamento que exprime a ligação mental de ordem superior, de forma natural e ininterrupta. Também a fixação mental na área dos impulsos e dos instintos é grande barreira ao adestramento da mente, pois nos encarcera dentro do círculo das paixões inferiores, maior componente do nosso passado espiritual e das quais devemos paulatinamente nos desvencilhar. Com isso, fechamo-nos para o recebimento das orientações que mentores espirituais procuram nos transmitir, colocando-nos em posição de completa falta de alinhamento com a vibração das entidades nobres e o pensamento iluminado que estas procuram fazer fluir sobre nós. 

A saída, como recomendado também para o desenvolvimento de outras virtudes ou qualidades da alma, está no treinamento constante, por intermédio do esforço ininterrupto para manter uma atitude íntima de oração que nos vincule a nossos mentores e demais representantes da Vida Maior. Uma das propostas do processo de evolução, no qual nos encontramos, é a de convergirmos cada vez mais idéias e emoções com a luz dos planos superiores do espírito, tornando natural e incessante o contato com aqueles que, do “outro lado da vida”, tentam orientar-nos e sustentar-nos a caminhada. O roteiro para atingirmos gradualmente esse estado é o da elevação de propósitos e renovação interior, lutando contra o potencial perturbador do torvelinho das pressões diárias. Criar a disciplina desejada da mente, eliminando comportamentos infelizes também na área dos pensamentos, exige mudança significativa e treino paciente da parte de quem o pretenda, e está intrinsicamente relacionado com o agir enobrecido. Andre Luiz, ainda em “Mecanismos da Mediunidade”, esclarece sobre a necessidade de consagrarmo-nos ao bem, sustentando atitudes dignas e compatíveis com uma postura mental mais elevada, a fim de usufruirmos dos benefícios salutares da interação com mentores e demais mensageiros do Cristo:

“Dai resulta o impositivo da vigilância sobre a nossa própria orientação, de vez que somente a conduta reta sustenta o reto pensamento e, de posse do reto pensamento, a oração, qualquer que seja o nosso grau de cultura intelectual, é o mais elevado toque de indução para que nos coloquemos, para logo, em regime de comunhão com as Esferas Superiores.

De essência divina, a prece será sempre o reflexo positivamente sublime do Espírito, em qualquer posição, por obrigá-lo a despedir de si mesmo os elementos mais puros de que possa dispor.

No reconhecimento ou na petição, na diligência ou no êxtase, na alegria ou na dor, na tranqüilidade ou na aflição, ei-la exteriorizando a consciência que a formula, em efusões indescritíveis, sobre as quais as ondulações do Céu corrigem o magnetismo torturado da criatura, insulada no sofrimento educativo da Terra, recompondo-lhe as faculdades profundas”. (3)

Em outra obra de André Luiz, "No Mundo Maior", o instrutor espiritual Calderaro assim se expressa sobre a relação entre conduta mental e evolução espiritual: "Para que se efetue a jornada iluminativa do espírito, é indispensável deslocar a mente, revolver idéias, renovar as concepções e modificar, invariavelmente, para o bem maior o modo íntimo de ser..." (4)

O apóstolo Paulo transmitiu ensinamento semelhante, ao nos deixar a famosa orientação contida na Carta aos Romanos, capítulo 12, versículo 2: “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” (5)

Nossa trajetória, como os Luminares da Espiritualidade revelaram a Kardec, na Codificação, é sempre de progresso, melhoria e ascensão. Época virá em que a disciplina do pensamento e a comunhão perene com os planos superiores, serão tão importantes para a mente encarnada quanto o consumismo, a ânsia pelo poder efêmero, a busca irracional de prazeres corrosivos, ou a paranóia da estética o são nos dias atuais. E essa ligação será realizada com o uso do recurso mais poderoso (e o único do qual necessitamos) para tanto, que é o pensamento bem-direcionado de todos os que procurarem instituir o “Reino dos Céus” em si mesmos. Nesse futuro - que fatalmente chegará para todos - o amor terá penetrado integralmente nossas mentes e nosso modo de ser (o pensar, o sentir e o agir). E cada homem ou mulher irá passar por essa transformação ao seu tempo e à sua maneira, como consequência do despertar inevitável para a realidade transcendental da vida e de si mesmo.

Bibliografia:

(1) Luiz, Andre (Espírito). Mecanismos da Mediunidade / psicografado por Francisco Candido Xavier e Waldo Vieira, 25ª edição, FEB (2006), pág. 193 e 194
(2) Idem, pág. 195
(3) Idem, pág. 195
(4) Luiz, Andre (Espírito). No Mundo Maior / psicografado por Francisco Candido Xavier, 24ª edição, FEB (2005), pág. 259

(5) Paulo. Carta aos Romanos, 12:2 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

DESIGUALDADE DAS RIQUEZAS Sérgio Honório da Silva

Em toda a história da humanidade a desigualdade das riquezas e desigualdade sociais sempre existiram e são motivos de revolta e de revoluções. Os desafortunados sempre inconformados pela miséria ou pela falta de bens que lhe garantam o conforto, os ricos também se julgam infelizes, pois com a riqueza suas necessidades aumentam, e ele nunca julga possuir o bastante para satisfazer à sua ambição.

O que vemos é toda a humanidade sofrendo pela riqueza que se tem e pela que não se tem, a busca pela riqueza é tão grande que ela faz prisioneiros àqueles que a veneram como se fosse a causa mais importante da vida, e isso em conseqüência da visão limitada do espírito encarnado, em querer enxergar somente esta existência sem se preocupar com a vida futura. A riqueza é um laço estreito que, movida pelo orgulho e egoísmo, prende o homem à Terra desviando sua necessidade de buscar riquezas com outros valores, elegidos pela razão e emoção que não se transfere de mãos, que poderá levar consigo quando de sua mudança para outros planos da vida.

No Novo Testamento encontramos a verdadeira riqueza que nos conduzirá a tão almejada paz de espírito, Lucas no capítulo 12:15 diz: “tende cuidado de preservar-vos de toda a avareza, porquanto seja qual for a abundância em que o homem se encontre, sua vida não depende dos bens que ele possuir”.

Antes de nos revoltarmos pelas desigualdades existentes em toda parte é preciso compreender que a Justiça Divina estabeleceu igualdade de direitos e de méritos entre as criaturas, mas não estabeleceu a desigualdade social, pois esta é obra do orgulho e do egoísmo humano.

Se, num determinado momento, fosse feita a distribuição de toda a riqueza do mundo, em partes iguais, a todas as pessoas, essa distribuição se desfaria, num segundo momento, em razão das diferentes aptidões e do grau evolutivo de cada um, porque cada um faria um diferente uso e aplicação de sua parte, com os conseqüentes resultados, e muito rapidamente as riquezas mudariam de mãos.

A igualdade das riquezas só seria possível se fosse acompanhada da igualdade do grau evolutivo e aptidões entre todos, o que seria impossível, pois cada um tem sua própria experiência e visão, no estágio da vida neste planeta.

No Livro dos Espíritos, questão 804, os Espíritos asseveram que: “Deus criou todos os espíritos iguais, mas cada um viveu mais ou menos tempo e, por conseguinte, realizou mais ou menos aquisições; a diferença esta no grau de experiência e na vontade, que é o livre arbítrio: daí decorre que uns se aperfeiçoam mais rapidamente, o que lhes dá aptidões diversas”. A Doutrina Espírita não condena a riqueza, mas sim a forma como ela é adquirida e utilizada.

A diversidade de riquezas e misérias tem uma finalidade útil que é a de provar os seres nos excessos ou na submissão. Somente os que sabem realmente sofrer com resignação e trabalho constantes é que conseguem superar essas provas de riqueza e pobreza, ambas muito difíceis.

Se houvesse uma única existência do Espírito na carne, nada justificaria esse estado de coisas na Terra, mas se considerarmos não só a vida atual, mas o conjunto das existências, veremos que tudo se equilibra com justiça, por isso o pobre não tem motivos para invejar o rico, e nem os ricos de se vangloriarem pelo que possuem. Conforme disse Jesus: “onde estiver o seu tesouro, ali estará o seu coração”, Ele não veio até nós para julgar ou dividir, veio abrir o caminho para nós, desejando a união entre os pobres e os ricos, e por isso nos ensinou a caridade, onde pobres e ricos, irmanados, encontrarão oportunidade de segui-lo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

POSSESSÃO: HÁ A POSSE FÍSICA DO ENCARNADO? Paulo da Silva Neto Sobrinho

“E o homem que estava possesso do espírito mau pulou sobre eles com tanta violência, que tiveram de fugir daquela casa, sem roupas e cobertos de ferimentos”. (Atos 19,16)

INTRODUÇÃO

Por várias vezes nos deparamos com essa dúvida, quando pessoas nos perguntavam se, nos casos de obsessão, haveria verdadeiramente uma posse física do encarnado, ou seja, se o espírito obsessor “entraria” mesmo no corpo do obsidiado, passando a agir com o corpo deste.

A nossa própria experiência nos leva a crer que, em alguns casos, tem-se mesmo a nítida impressão que sim. Mas é importante ressaltar que, de forma alguma, estamos generalizando para todos os casos de obsessão. Vamos contar agora uma ocorrência que nos levou a rever nosso posicionamento anterior de que a posse física não poderia ocorrer em nenhuma hipótese.

REALIDADE X TEORIA: UM PACIENTE EM OBSESSÃO

Cerca de ano e meio atrás, fomos chamados para ajudar uma moça que havia sido hospitalizada por estar se comportando de maneira anormal. Entretanto, dentre os parentes, alguns perceberam que ela estava influenciada por espíritos; por isso solicitaram o nosso auxílio. Chegando ao local onde ela se encontrava, vimos que a possibilidade de estar mesmo sob influência espiritual era evidente, pois, além de falar com voz masculina, falava outras coisas que em seu estado normal não lhe era habitual. Naquele momento tinha, segurando-lhe os braços, dois homens fortes, restringindo-lhe os movimentos, uma vez que queria agredir a si mesma. Por algum dos presentes no quarto, tivemos notícias de que o pároco da cidade havia passado por lá, numa rápida visita. Ele, ao sair, disse que, quando ela ficasse boa, ele voltaria. Como se diz popularmente: aí, até nós!...

A equipe de médiuns, que nos acompanhava naquele atendimento fraterno, também teve essa mesma impressão. Passamos, então, a estabelecer diálogo com os espíritos que a atormentavam. E, após vários se apresentarem, conseguimos, finalmente, libertá-la daquelas influências, fato que a fez voltar a seu estado normal.

Passados alguns dias, fomos, novamente, chamados para ajudar essa moça. Desta vez, estava em sua própria residência, com os mesmos sintomas, falando com voz que não era a sua, e tentando se agredir, ou seja, comportava-se exatamente como da primeira vez. Na oportunidade, conversamos com vários espíritos. A situação estava difícil, pois, mal acabávamos de convencer um espírito a se afastar da moça, “entrava” outro. E, assim, ficamos por mais de uma hora. Por fim, dada a nossa incapacidade de resolver a questão, recomendamos aos familiares que a levassem ao Hospital Espírita André Luiz, na capital mineira, para avaliação e tratamento, se a situação assim o exigisse.

A equipe do Hospital constatou que a moça, realmente, estava sob forte influência espiritual, recomendando que seu nome fosse levado para a reunião específica de desobsessão e que, semanalmente, por um tempo longo, tomasse passe, além de ter receitado medicamentos para tranquilizar a paciente, de conformidade com os procedimentos médicos tradicionais para o caso.

Daí, sempre que possível, a família a levava ao Grupo Espírita que frequentávamos. Na hora do passe era um sufoco, pois a moça fechava os olhos, e pronto: entrava em sintonia com os espíritos que a perseguiam. Isso fez com que orientássemos aos passistas para que não a deixassem se concentrar, no momento do passe.

Entretanto, numa certa vez, após adentrar à câmara de passes, entrou em transe, numa nítida sintonia espiritual. Aliás, nunca vimos uma pessoa sintonizar-se tão facilmente quanto ela. Fomos imediatamente chamados para ajudar. Embora a situação fosse extremamente inadequada, de igual modo que nas anteriores, iniciamos o diálogo com o espírito que a assediava, e, com muito custo, conseguimos dele a promessa de que iria “sair” da moça. Imediatamente após ele dizer isso, a moça perdeu todo o controle do corpo, caindo ao chão, sem que pudéssemos fazer absolutamente nada, dada a rapidez com que isso aconteceu. Ajudado pelos companheiros, com relativa dificuldade, a colocamos numa cadeira, tentando reanimá-la, o que ocorreu poucos minutos depois. Ao voltar a seu normal não se lembrou de nada do que lhe ocorrera nesse período de tempo. Saiu naturalmente, como entrou, de forma que, quem a viu sair da câmara de passes, não percebeu o que havia lá ocorrido.

Foi a partir desse episódio que passamos a questionar o conceito de que todos os fenômenos mediúnicos têm como base a mente; em outras palavras, tudo ocorre em nível de sintonias mentais entre os envolvidos, sem qualquer tipo de ligação física. Mas, o fato ocorrido nos remetia a acreditar que havia realmente uma posse física, o que, a nosso ver, justificava a queda da moça após a “saída” do espírito, se assim podemos nos expressar, não conseguindo, o seu próprio espírito assumir, a tempo, o controle do corpo, de modo a evitar a sua queda.

Essa questão foi amplamente debatida entre os membros do Grupo e, na ocasião, chegou às nossas mãos um texto publicado no site Portal do Espírito, em que o articulista defendia, ou melhor, demonstrava que Kardec havia falado algo a respeito disso. Vejamos, então, nas obras kardequianas o que podemos encontrar.

O ASSUNTO NAS OBRAS BÁSICAS

Iremos apresentar em ordem cronológica o que encontramos daquilo que Kardec disse, para que fique clara a evolução do seu entendimento sobre o assunto.

1) Abr/1857 – O Livro dos Espíritos

Abordado nas seguintes questões: 
473. Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é, introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado neste corpo?
“O Espírito não entra em um corpo como entras numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material.”

474. Desde que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada?
“Sem dúvida, e são esses os verdadeiros possessos. Mas, é preciso saibas que essa dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitavam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos”. 
O vocábulo possesso, na sua acepção vulgar, supõe a existência de demônios, isto é, de uma categoria de seres maus por natureza, e a coabitação de um desses seres com a alma de um indivíduo, no seu corpo. Posto que,nesse sentido, não há demônios e que dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo corpo, não há possessos na conformidade da ideia a que esta palavra se acha associada. O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se com relação a Espíritos imperfeitos que a subjuguem.
(KARDEC, 2007a, p. 282)
Nessa circunstância, não há nenhuma margem para dúvidas de que, naquele momento, não julgava que pudesse haver possessão física, mas sim subjugação. E Kardec justifica o porquê de não querer usar o termo possessão, já que poderiam relacioná-lo com demônios, seres que não existem para o Espiritismo, senão na acepção de espíritos imperfeitos e ainda dedicados ao mal.

2) Jan/1861 – O Livro dos Médiuns

No capítulo XXIII, intitulado Da Obsessão, Kardec volta novamente ao assunto.
240. A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob um verdadeiro jugo.

A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é uma como fascinação. No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente, por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis, simulavam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo nas ruas, nas portas, nas paredes.

Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais ridículos atos. Conhecemos um homem, que não era jovem, nem belo e que, sob o império de uma obsessão dessa natureza, se via constrangido, por uma força irresistível, a pôr-se de joelhos diante de uma moça a cujo respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casamento. Outras vezes, sentia nas costas e nos jarretes uma pressão enérgica, que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a se ajoelhar e beijar o chão nos lugares públicos e em presença da multidão. Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações; estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o era; porquanto tinha consciência plena do ridículo do que fazia contra a sua vontade e com isso sofria horrivelmente.

241. Dava-se outrora o nome de possessão ao império exercido por maus Espíritos, quando a influência deles ia até à aberração das faculdades da vítima. A possessão seria, para nós, sinônimo da subjugação. Por dois motivos deixamos de adotar esse termo: primeiro, porque implica a crença de seres criados para o mal e perpetuamente votados ao mal, enquanto que não há senão seres mais ou menos imperfeitos, os quais todos podem melhorar-se; segundo, porque implica igualmente a ideia do assenhoreamento de um corpo por um Espírito estranho, de uma espécie de coabitação, ao passo que o que há é apenas constrangimento. A palavra subjugação exprime perfeitamente a ideia. Assim, para nós, não hápossessos, no sentido vulgar do termo, há somente obsidiados, subjugados fascinados. (KARDEC, 2007b, p. 320-321).
Ainda aqui Kardec não muda de opinião; mantém a que já possuía a respeito desse assunto; apenas, como bom educador, esclarece com mais detalhe o que havia dito antes.

3) Dez/1863 – Revista Espírita

Neste ponto Kardec muda de opinião, retificando o seu pensamento anterior, após ter uma prova de que há possessão física, sim. Vejamos o que ele narra: 
Um caso de possessão
Senhoria Julie

Dissemos que não havia possessos no sentido vulgar da palavra, mas subjugados; retornamos sobre esta afirmação muito absoluta, porque nos está demonstrado agora que pode ali haver possessão verdadeira, quer dizer, substituição, parcial no entanto, de um Espírito errante ao Espírito encarnado. Eis um primeiro fato que é a prova disto, e que apresenta o fenômeno em toda a sua simplicidade. […].

[...] Ele [o espírito] declara que, querendo conversar com seu antigo amigo, aproveitou de um momento em que o Espírito da Senhora A..., a sonâmbula, estava afastado de seu corpo, para se colocar em seu lugar. […].

P. Que fez durante esse tempo o Espírito da senhora A...? – R. Estava lá, ao lado, me olhava e ria de ver-me nesse vestuário.

(KARDEC, 2000, p. 373-374).
Como se pode notar, transcrevemos apenas o que nos pareceu interessante para o nosso estudo. Entretanto, partindo das próprias afirmações de Kardec, algumas pessoas colocam como ainda não doutrinária essa questão, por estar apenas na Revista Espírita. De fato, é perfeitamente aceitável pensar assim diante do que Kardec disse na Introdução de A Gênese“A Revue, muita vez, representa para nós, um terreno de ensaio, destinado a sondar a opinião dos homens e dos Espíritos sobre alguns princípios, antes de os admitir como partes constitutivas da doutrina”. (KARDEC, 2007c, p. 17).

Teríamos, como a maioria, também dado esse assunto por encerrado, já que a evidência era demasiadamente forte para contestarmos, apesar de, particularmente, não estarmos vendo a questão dessa forma, pois, para nós, a mudança de opinião é clara demais na Revista Espírita, não se tratando de questão que foi ali colocada para ver as opiniões sobre o assunto. Para nós, ao dizer isso, ele, Kardec, está tornando pública a sua opinião sobre o tema.

Mas, continuando as pesquisas, deparamos com algo que não deixará dúvidas, ficando claro que faz parte, sim, dos princípios constitutivos da Doutrina. Vejamos, então, o que encontramos, por último, naquilo que pesquisamos.

4) Jan/1868 – A Gênese

Kardec volta a essa questão, agora em definitivo, nesse livro, no capítulo XIV, Os Fluidos, quando, tratando das obsessões, diz: 
46 - Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às perniciosas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau. A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral preciso é se contraponha uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortifica-se o corpo; para garanti-la contra a obsessão, tem-se que fortalecer a alma; donde, para o obsidiado, a necessidade de trabalhar por se melhorar a si próprio, o que as mais das vezes basta para livrá-lo do obsessor, sem o socorro de terceiros. Necessário se torna este socorro, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque nesse caso o paciente não raro perde a vontade e o livre-arbítrio.

Quase sempre a obsessão exprime vingança tomada por um Espírito e cuja origem frequentemente se encontra nas relações que o obsidiado manteve com o obsessor, em precedente existência.

Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É daquele fluido que importa desembaraçá-lo, Ora, um fluído mau não pode ser eliminado por outro igualmente mau. Por meio de ação idêntica à do médium curador, nos casos de enfermidade, preciso se faz expelir um fluido mau com o auxílio de um fluido melhor.

Nem sempre, porém, basta esta ação mecânica; cumpre, sobretudo, atuar sobre o ser inteligente, ao qual é preciso se possua o direito de falar com autoridade, que, entretanto, falece a quem não tenha superioridade moral. Quanto maior esta for, tanto maior também será aquela.

Mas, ainda não é tudo: para assegurar a libertação da vítima, indispensável se torna que o Espírito perverso seja levado a renunciar aos seus maus desígnios; que se faça que o arrependimento desponte nele, assim como o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em evocações particularmente feitas com o objetivo de dar-lhe educação moral. Pode-se então ter a grata satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito.

O trabalho se torna mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua situação, para ele concorre com a vontade e a prece. Outro tanto não sucede quando, seduzido pelo Espírito que o domina, se ilude com relação às qualidades deste último e se compraz no erro a que é conduzido, porque, então, longe de a secundar, o obsidiado repele toda assistência. É o caso da fascinação, infinitamente mais rebelde sempre, do que a mais violenta subjugação. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII.)

Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso meio de que se dispõe para demover de seus propósitos maléficos o obsessor.

47. - Na obsessão, o Espírito atua exteriormente, com a ajuda do seu perispírito, que ele identifica com o do encarnado, ficando este afinal enlaçado por uma como que teia e constrangido a proceder contra a sua vontade.

Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado; toma-lhe o corpo para domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado pelo seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão de que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da concepção. (Cap. XI, nº. 18.)

De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito se serve dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços, conforme o faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo o pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o último que fala e obra; quem o haja conhecido em vida, reconhece-lhe a linguagem, a voz, os gestos e até a expressão da fisionomia.

48. - Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato a outro encarnado. Isso se verifica sem qualquer perturbação ou incômodo, durante o tempo em que o Espírito encarnado se acha em liberdade, como no estado de emancipação, conservando-se este último ao lado do seu substituto para ouvi-lo.

Quando é mau o Espírito possessor, as coisas se passam de outro modo. Ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o, se este não possui bastante força moral para lhe resistir. Fá-lo por maldade para com este, a quem tortura e martiriza de todas as formas, indo ao extremo de tentar exterminá-lo, já por estrangulação, já atirando-o ao fogo ou a outros lugares perigosos. Servindo-se dos órgãos e dos membros do infeliz paciente, blasfema, injuria e maltrata os que o cercam; entrega-se a excentricidades e a atos que apresentam todos os caracteres da loucura furiosa.

São numerosos os fatos deste gênero, em diferentes graus de intensidade, e não derivam de outra causa muitos casos de loucura. Amiúde, há também desordens patológicas, que são meras consequências e contra as quais nada adiantam os tratamentos médicos, enquanto subsiste a causa originária. Dando a conhecer essa fonte donde provém uma parte das misérias humanas, o Espiritismo indica o remédio a ser aplicado: atuar sobre o autor do mal que, sendo um ser inteligente, deve ser tratado por meio da inteligência. (1).

49. - São as mais das vezes individuais a obsessão e a possessão; mas, não raro são epidêmicas. Quando sobre uma localidade se lança uma revoada de maus Espíritos, é como se uma tropa de inimigos a invadisse. Pode então ser muito considerável o número dos indivíduos atacados. (2).
______
(1) Casos de cura de obsessões e de possessões: Revue Spirite, dezembro de 1863, pág., 373; - janeiro de 1864, pág. 11; - junho de 1864, pág. 168; - janeiro de 1865, pág. 5; - junho de 1865, pág. 172; - fevereiro de 1868, pág. 38; - junho de 1867, pág. 174.

(2) Foi exatamente desse gênero a epidemia que, faz alguns anos, atacou a aldeia de Morzine na Saboia. Veja-se o relato completo dessa epidemia na Revue Spirite de dezembro de 1862, pág. 353; janeiro, fevereiro, abril e maio de 1863, págs. 1, 33, 101 e 133.

(KARDEC, 2007c, p. 347-351). (Grifo nosso)
Vê-se, portanto, que Allan Kardec não deixa de registrar numa obra básica o seu novo posicionamento diante do tema possessão. Infelizmente, assim como a Revista Espírita, o livro A Gênese não é quase lido pelos espíritas; poucos se aventuram a lê-lo; com isso, o entendimento fica equivocado, quando se afirma que não há possessão física, com base em posição anterior de Kardec, posição essa que foi mudada diante dos fatos que lhe foram apresentados.

Tomamos a liberdade de sugerir à FEB – Federação Espírita Brasileira, que, nas obras citadas - O Livro dos EspíritosO Livro dos Médiuns e A Gênese -, registre isso em notas de rodapé, visando alertar ao leitor sobre a mudança de entendimento por Kardec.

Um outro fator que não podemos deixar de chamar à atenção é o fato de que, para Kardec, possessão não significa necessariamente uma obsessão, como muitos de nós acreditamos; para ele é apenas um fato no qual, certos espíritos, literalmente, “tomam posse” do corpo do médium, podendo, tais espíritos ser bons ou maus, conforme o caso. É isso o que ficou claro, para nós, quando da leitura dos itens 47 e 48, acima transcritos.

5) Fev/1869 – Revista Espírita

Na narrativa de Kardec a respeito de um espírito que não acreditava ter morrido, mas apenas sonhando, podemos encontrar mais alguma coisa sobre o assunto de que estamos tratando. Vejamos: 
Na sessão da Sociedade de Paris, de 8 de janeiro, o mesmo Espírito veio se manifestar de novo, não pela escrita, mas pela palavra, em se servindo do corpo do Sr. Morin, em sonambulismo espontâneo. Ele falou durante uma hora, e isso foi uma cena das mais curiosas, porque o médium tomou a sua pose, seus gestos, sua voz, sua linguagem ao ponto que aqueles que o tinham visto o reconheceram sem dificuldade. [...]

Numa outra reunião, um Espírito deu sobre este fenômeno a comunicação seguinte:

Há aqui, uma substituição de pessoa, uma simulação. O Espírito encarnado recebe a liberdade ou cai na inação. Digo inércia, quer dizer, a contemplação daquilo que se passa. Ele está na posição de um homem que empresta momentaneamente a sua habitação, e que assiste às diferentes cenas que se realizam com a ajuda de seus móveis. Se gosta mais de gozar da sua liberdade, ele o pode, a menos que não haja para ele utilidade em permanecer espectador.

Não é raro que um Espírito atue e fale com o corpo de um outro; deveis compreender a possibilidade deste fenômeno, então que sabeis que o Espírito pode se retirar com o seu perispírito mais ou menos longe de seu envoltório corpóreo. Quando esse fato ocorre sem que nenhum Espírito disto se aproveite para ocupar o lugar, há a catalepsia. Quando um Espírito deseja para ali se colocar para agir, toma um instante a sua parte na encarnação, une o seu perispírito ao corpo adormecido, desperta-o por esse contato e restitui o movimento à máquina; mas os movimentos, a voz não são mais os mesmos, porque os fluidos perispirituais não afetam mais o sistema nervoso do mesmo modo que o verdadeiro ocupante.

Essa ocupação jamais pode ser definitiva; seria preciso, para isso, a desagregação absoluta do primeiro perispírito, o que levaria forçosamente à morte. Ela não pode mesmo ser de longa duração, pela razão de que o novo perispírito, não tendo sido unido a esse corpo desde a sua formação, não tem nele raízes, não estando modelado sobre esse corpo, não está apropriado ao desempenho dos órgãos; o Espírito intruso não está numa posição normal; ele é embaraçado em seus movimentos e é porque deixa essa veste emprestada desde que dela não tenha mais necessidade. (KARDEC, 2001, p. 48-49)
Aqui, então, diante do assunto incluído num dos livros das obras básicas, não há mais como contestar não ser tema constitutivo da Doutrina, embora, como já o dissemos, já o aceitávamos por estar tão objetivamente na Revista Espírita, e como resposta à experiência pessoal que tivemos, inicialmente relatada. A novidade é que Kardec afirma que até um Espírito bom poderá possuir o corpo de um encarnado, desde que as condições o exijam, conforme abordado no tópico anterior.

OPINIÕES SOBRE O ASSUNTO

No capítulo XIX – Transes e Incorporações do livro No Invisível, Léon Denis fala justamente daquilo que estamos presentemente estudando. Vamos ver, então, o que disse aquele que é considerado o sucessor de Kardec: 
O estado de transe é esse grau de sono magnético que permite ao corpo fluídico exteriorizar-se, desprender-se do corpo carnal, e à alma tornar a viver por um instante sua vida livre e independente. A separação, todavia, nunca é completa; a separação absoluta seria a morte... No transe, o médium fala, move-se, escreve automaticamente; desses atos, porém, nenhuma lembrança conserva ao despertar.

O estado de transe pode ser provocado, quer pela ação de um magnetizador, quer pela de um Espírito. Sob o influxo magnético, os laços que unem os dois corpos se afrouxam. A alma, com seu corpo sutil, vai-se emancipando pouco a pouco; recobra o uso de seus poderes ocultos, comprimidos pela matéria. Quanto mais profundo é o sono, mais completo vem a ser o desprendimento. [...]

No corpo do médium, momentaneamente abandonado, pode dar-se uma substituição de Espírito. É o fenômeno das incorporações. A alma de um desencarnado, mesmo a alma de um vivo adormecido, pode tomar o lugar do médium e servir-se de seu organismo material, para se comunicar pela palavra e pelo gesto com as pessoas presentes. (DENIS, 1987, p. 249).
Nesse ponto Léon Denis cita Dr. Oliver Lodge e o professor Myers como testemunhas da realidade desses fatos. E continuando, lemos: 
Indagam certos experimentadores: o Espírito do manifestante se incorpora efetivamente no organismo do médium? Ou opera ele antes, à distância, pela sugestão mental e pela transmissão de pensamento, como o pode fazer o Espírito exteriorizado do sensitivo?

Um exame atento dos fatos nos leva a crer que essas duas explicações são igualmente admissíveis, conforme os casos. As citações que acabamos de fazer provam que a incorporação pode ser real e completa. É mesmo algumas vezes inconsciente, quando, por exemplo, certos Espíritos pouco adiantados são conduzidos por uma vontade superior ao corpo do médium e postos em comunicação conosco, a fim de serem esclarecidos sobre sua verdadeira situação. Esses Espíritos, perturbados pela morte, acreditam ainda, muito tempo depois, pertencerem à vida terrestre. Não lhes permitindo seus fluidos grosseiros o entrarem em relação com os Espíritos mais adiantados, são levados aos grupos de estudo, para serem instruídos acerca de sua nova condição. É difícil às vezes fazer-lhes compreender que abandonaram a vida carnal, e sua estupefação atinge o cômico, quando, convidados a comparar o organismo que momentaneamente animam com o que possuíam na Terra, são obrigados a reconhecer o seu engano. Não se poderia duvidar, em tal caso, na incorporação completa do Espírito.

Noutras circunstâncias, a teoria da transmissão, à distância, parece melhor explicar os fatos. As impressões oriundas de fora são mais ou menos fielmente percebidas e transmitidas pelos órgãos. Ao lado de provas de identidade, que nenhuma hesitação permitem sobre a autenticidade do fenômeno e intervenção dos Espíritos, verificam-se, na linguagem do sensitivo em transe, expressões, construções de frases, um modo de pronunciar que lhe são habituais. O Espírito parece projetar o pensamento no cérebro do médium, onde adquire, de passagem, formas de linguagem familiares a este. A transmissão se efetua em tal caso no limite dos conhecimentos e aptidões do sensitivo, em termos vulgares ou escolhidos, conforme o seu grau de instrução. Daí também certas incoerências que se devem atribuir à imperfeição do instrumento.

Ao despertar, o Espírito do médium perde toda consciência das impressões recebidas no sentido de liberdade, do mesmo modo que não guardará o menor conhecimento do papel que seu corpo tenha desempenhado durante o transe. Os sentidos psíquicos, de que por um momento haviam readquirido a posse, se extinguem de novo; a matéria estende o seu manto; a noite se produz; toda recordação de desvanece. O médium desperta num estado de perturbação, que lentamente se dissipa. (DENIS, 1987, p. 252-254).
As colocações de Léon Denis vêm corroborar o que o próprio Kardec disse sobre a possessão. Agora, mais do que nunca, ficamos convictos dessa realidade, uma vez que todas as colocações que citamos estão coerentes entre si, não havendo, portanto, algo que demonstre qualquer contradição entre elas.

Poderemos ainda acrescentar, apenas para reforçar essa ideia, algumas coisas que encontramos no livro Nos Domínios da Mediunidade, Chico Xavier, ditado por André Luiz.

Vejamos os trechos nos quais, falando a respeito de determinado médium, está dito:
Quando empresta o veículo a entidades dementes ou sofredoras, reclama-nos cautela, porquanto quase sempre deixa o corpo à mercê dos comunicantes, quando lhe compete o dever de ajudar-nos na contenção deles, a fim de que o nosso tentame de fraternidade não lhe traga prejuízo à organização física’”. (XAVIER, 1987, p. 30).
Segundo pensamos, se o médium “empresta o veículo a entidades” é porque os espíritos tomam posse do corpo físico dele ou, no linguajar popular, incorpora-se no médium. 
[…] Entretanto, adaptando-se ao organismo da mulher amada que passou a obsidiar, nela encontrou novo instrumento de sensação, vendo por seus olhos, ouvindo por seus ouvidos, muitas vezes falando por sua boca e vitalizando-se com os alimentos comuns por ela utilizados. Nessa simbiose vivem ambos, há quase cinco anos sucessivos, contudo, agora, a moça subnutrida e perturbada acusa desequilíbrios orgânicos de vulto. […] (XAVIER, 1987, p. 54).
É praticamente o que diz Kardec ao final do item 47, na passagem comentada no item 4 acima – A Gênese. A única divergência é que o codificador falou de posse momentânea, e aqui descreve uma com, provavelmente, cinco anos de duração. 
Notamos que Eugênia-alma afastou-se do corpo, mantendo-se junto dele, a distância de alguns centímetros, enquanto que, amparado pelos amigos que o assistiam, o visitante sentava-se rente, inclinado-se sobre o equipamento mediúnico ao qual se justapunha, à maneira de alguém a debruçar-se numa janela”. (XAVIER, 1987, p. 54-55).

[…] nesses trabalhos, o médium nunca se mantém a longa distância do corpo... (XAVIER, 1987, p. 56).
Impressionante como esse trecho se assemelha à fala do espírito que explicava como possuía o corpo físico da Senhora A..., na possessão citada na Revista Espírita. E, para quem assistiu ao filme Ghost,essa descrição faz-nos lembrar do que acontecia com a personagem vivida por Whoopi Goldberg, que antes brincava de “receber” espíritos, e depois passou a “recebê-los” de fato.

Vejam bem: tudo isso se ajusta ao que está dito em A Gênese; mas, mesmo que no livro do autor espiritual André Luiz fatos extremamente idênticos sejam relatados, lemos nessa obra - Nos domínios da mediunidade -, o seguinte: “Achando-se a mente na base de todas as manifestações mediúnicas, quaisquer que sejam os característicos em que se expressem...” (XAVIER, 1987, p. 18).

Isso vem justamente contradizer, salvo melhor juízo, o que está descrito nesse mesmo livro de André Luiz, quando dos casos de incorporação e dos de obsessão, uma vez que, por eles fica caracterizada a posse do corpo do médium ou, conforme o caso, do obsidiado. Assim, acreditamos que poderia estar havendo certo exagero em se dizer de forma absoluta que a mente está na base de todas as manifestações mediúnicas, como se afirma no mencionado livro, a não ser que estejamos entendendo de maneira errada o que quer colocar o autor espiritual. Poderia, quem sabe, estar mesmo querendo dizer que essa base é a mente do desencarnado, não como sendo a ligação mental entre os envolvidos no fenômeno mediúnico.

Podemos ainda citar o Dr. Hermani Guimarães Andrade que utilizou quase das mesmas passagens que citamos de André Luiz, quando estudou a questão das incorporações mediúnicas, obsessões e possessões. A certa altura diz-nos esse saudoso mestre:

A “incorporação mediúnica” pode, também, distinguir-se por diversas modalidades de comunicação: psicofonia, psicografia, possessão parcial ou total das manifestações de habilidades não aprendidas tais como nos casos de psicopictografia, psicocirurgia, psicoescultura, psicomúsica, escrita automática incontrolável com xenografia, xenoglossia, múltipla personalidade, transfiguração (esta última pertencendo também ao capítulo das ectoplasmias), etc.

O mecanismo da “incorporação mediúnica” é fácil de compreender. Ela pode principiar pela aproximação da entidade que deseja comunicar-se. Esta poderá eventualmente influenciar o “médium”, facilitando-lhe o “transe”. O médium passa então a sofrer um desdobramento astral (OBE) e sua cúpula juntamente com o corpo astral deslocam-se parcial ou totalmente de maneira a permitir que a cúpula e o corpo astral do Espírito comunicante ocupe parcial ou totalmente o campo livre deixado pelo “corpo astral” do médium. A incorporação é tanto mais perfeita quanto maior o espaço é cedido pelo astral do médium ao afastar-se do seu corpo físico, deixando lugar para a cúpula com o corpo astral do comunicador. Este – o Espírito comunicante – deverá sofrer um processo semelhante ao desdobramento astral, para permitir que sua cúpula e corpo astral possam justapor-se ao espaço livre deixado pelo médium (ver fig. 16).

Na figura 16 mostramos esquematicamente o mecanismo de uma incorporação mediúnica completa. Há casos em que a parte astral do médium se desloca só parcialmente, permitindo que apenas uma fração do astral do Espírito comunicador entre em contacto com a zona anímico-perispirítica daquele. Mesmo nestas condições pode haver comunicação, a qual poderá ser em parte direta e em parte telepática. Emsemelhante circunstância há sempre possibilidade de controle das comunicações, por parte do médium. Este poderá interferir no processo, ainda mesmo que totalmente afastado, pois a ligação com a sua zona anímico-perispirítica não cessa. Há sempre a presença do “cordão prateado” garantindo o domínio do próprio equipamento somático. (ANDRADE, 2002, p. 122-124).
CONCLUSÃO

O que aprendemos, como uma oportuna lição, é que sempre devemos fazer nossas pesquisas em todos os livros de Kardec; até que tenhamos a opinião final, não podemos ficar com a primeira opinião que, por ventura, venhamos encontrar. Conforme ficou demonstrado neste estudo, Kardec mudou de opinião sobre a possessão; daí, poderemos concluir que não colocou nada como verdade absoluta, mas, como sempre, passível de novos entendimentos. Vai mais longe ao dizer, em relação à progressividade evolutiva do Espiritismo: “Se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro sobre um ponto, modificar-se-á sobre esse ponto; se uma nova verdade se revela, ele a aceita”(KARDEC, 2007c, p. 40).

Devemos, pois, reformular nossos conceitos sobre a possessão, tendo em vista que deverá prevalecer, segundo acreditamos, a última opinião de Kardec; e é ela que vem dizer da possibilidade real da possessão, por um espírito, do corpo de um encarnado. Poderemos dizer que na subjugação o encarnado não quer fazer, mas é constrangido a fazer aquilo que o espírito obsessor deseja que subjugado faça. A atuação do espírito é por envolvimento. Nessa hipótese o encarnado está consciente da situação, mas nada pode fazer para evitá-la. Já na possessão o encarnado não tem a mínima ideia do que está lhe acontecendo; faz, sem tomar consciência, a vontade do espírito, conforme percebemos, senão em todos, pelo menos na maioria dos casos de que tomamos conhecimento. Nessa situação está completamente inconsciente, não oferecendo a mínima resistência à vontade do obsessor, que faz do obsediado um marionete, se assim podemos nos expressar.

Diante do exposto, podemos aceitar, sem medo de errar, que, em alguns casos, existe mesmo uma real incorporação, no sentido exato da palavra, aplicado a esse fenômeno mediúnico, conclusão a que chegamos por este nosso estudo.

Paulo da Silva Neto Sobrinho
Jun/2006.
(revisado em dez/2010)

Referências Bibliográficas:
ANDRADE, H.G., Espírito, Perispírito e Alma, São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2002.
DENIS, L., No Invisível, Rio de Janeiro: FEB, 1987.
KARDEC, A. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2007c.
_________ O Livro dos EspíritosRio de Janeiro: FEB, 2007a.
_________ O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 2007b.
_________ Revista Espírita, tomo VI, 1863, Araras – SP: IDE, 2000.
_________ Revista Espírita, tomo XII, 1869, Araras – SP: IDE, 2001.

XAVIER, F. C. Nos Domínios da Mediunidade, Rio de Janeiro: FEB, 1987.