sábado, 31 de outubro de 2015

Psicose – Uma visão médico-espírita

– Trabalho apresentado no I Congresso de Saúde e Espiritualidade de MG, em agosto de 2006, na sede da Associação Médica de MG, em Belo Horizonte, MG. Carlos Eduardo Sobreira Maciel

1- O objetivo deste trabalho é a ampliação da  compreensão da  patologia psicótica através da aproximação dos conhecimentos médicos e espíritas, e assim demonstrar como a Doutrina Espírita pode desembrutecer a psiquiatria.

“O espiritismo e a ciência se completam reciprocamente; a ciência, sem o espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao espiritismo, sem a ciência, faltariam apoio e comprovação” kardec  (“A Gênese”, pág 20)

2- Psicopatologia: (o que é psicose?)

n  Literatura médica – Segundo os tratados de psiquiatria, psicose é um grave transtorno mental, caracterizado por um processo de ruptura na linha de vida do paciente com profundas alterações das suas funções psíquicas.

n  Faces do transtorno psicótico – A psicose pode se manifestar de diversas formas, como transtornos afetivo bipolar, esquizoafetivo, paranóia, esquizofrenias, etc.

n  Sinais e sintomas : manifestações das funções psíquicas alteradas.

àfunções psíquicas alteradas : alterações do pensamento delírios; eco do pensamento; inserção ou roubo do pensamento; irradiação do pensamento; interceptações no curso do pensamento resultando em discurso incoerente,  neologismos; alterações da percepção: alucinações- auditivas, visuais, cenestésicas, cinestésicas, gustativas, olfativas, táteis; alterações afetivas: embotamento, inadequação, labilidade; alterações comportamentais: catatônicas, tais como excitação,  flexibilidade cérea, negativismo, mutismo; bizarrices; risos imotivados; solilóquios; alterações das características da “consciência do Eu”, funções psíquicas que dão à pessoa normal um senso de individualidade, unicidade e de direção de si mesmo.

3 – Psicopatologia:

n  Literatura espírita:

àMentor Carlos (orient.med. 11.11.02)- nos arquivos da AMEMG, temos Carlos explicando que o pensamento delirante é construído a partir de uma regressão do ser em desequilíbrio  às fases mais primitivas da infância, como observamos em hebefrênicos com sua puerilidade, ou a situações mais remotas como vemos nos paranóicos e seus delírios sistematizados que muitas vezes são lembranças reencarnatórias do indivíduo.

4 – Psicopatologia

àMentor Homero (orientação mediúnica 09.09.02): segundo Homero, as alucinações tem 2 origens. O conteúdo alucinatório pode ser fruto do inconsciente do paciente que se reporta às suas vivências passadas ou são pesadelos, imagens oníricas do processo de alienação sem ligação com experiências passadas. As alucinações mais ricas tanto em detalhes quanto numa construção aparentemente lógica estariam no primeiro grupo. Enquanto que, os processos muito desagregados estariam no segundo. Aqui devemos nos lembrar do conceito pobre de alucinação – percepção sem objeto. O paciente ouve ou enxerga o seu próprio inconsciente!

5 – Etiopatogenia:

–  Literatura médica

-Genoma (Nos últimos anos o seqüenciamento de nosso genoma tem representado um passo essencial no entendimento da biologia humana e estudos recentes demonstraram que há pelo menos 27 genes ou regiões genômicas possivelmente associadas com a esquizofrenia. Portanto a ciência chegou até o material genético, no núcleo de nossas células e identificou ali, possíveis causas da psicose. Esta predisposição genética em um indivíduo previamente sadio, faria com que em determinado momento de sua vida, em determinada circunstância, que chamamos de desencadeante.

-Distúrbios neuroquímicos: certas áreas cerebrais sofreriam distúrbios em seus neurotransmissores à dopamina, serotonina, dentre outros à Psicose)

6 – Etiopatogenia:

n  Literatura espírita:

-Mentor Carlos (orientação mediúnica 29.07.02): Carlos nos convida a lançarmos o nosso olhar mais além para descobrirmos que há uma etiopatogenia espiritual.

Explica que a causa da psicose antecede a composição genética, segue pelas reencarnações anteriores, onde o indivíduo agiu com crueldade, repetidas vezes, criando um campo psíquico propício para o surgimento da psicose.

7 – Etiopatogenia:

– Dr. Bezerra de Menezes (Loucura e Obsessão): explica o mecanismo através do qual  a psicose é formada naquele campo propício (de Homero) ponte entre a causa (Homero) e defeito genético (ciência).

Explicação para aquilo que está sendo descoberto pela genética. A consciência desencarnada repleta de culpa imprime no perispírito os remorsos ( marca o DNA)à perturbando o SNC (distúrbio neuroquímico ).

8 – Prognóstico:

–  Literatura médica:

– Prognóstico geralmente mais grave do que os outros quadros psiquiátricos,

– Evolução – tendência a cronificação, com déficit cognitivo,

– Agudização – crises que geralmente necessitam de internação.

9 – Prognóstico:

–  Literatura espírita

à A explicação para tal gravidade em relação às outras patologias psiquiátricas está no fato de que há lesão de estruturas mais sutis do perispírito, corpo mental, ao passo que nas depressões, fobias e outras , temos lesão de corpo emocional.

10 – Psicose e obsessão espiritual:

# Fronteiras divisórias entre os episódios psicopatológicos e os obsessivos. O espírito Manoel Philomeno De Miranda, no livro “Loucura e Obsessão”, esclarece que o Espiritismo não nega a loucura, mas o mentor chama a atenção para a necessidade de melhor identificarmos as fronteiras divisórias entre os episódios psicopatológicos e os obsessivos.

Dentro desta perspectiva devemos sempre considerar a comorbidade loucura e obsessão e ainda os quadros de obsessão pura.

-Caso clínico (HEAL): rapaz de 19 anos, com crises de agitação psicomotora e heteroagressividade, intercaladas com períodos de plena sanidade mental. Não se caracterizou como quadros médicos puros. Detectada grave obsessão, subjugação com mudança na tonalidade da voz e na força física do obsediado.

-Caso clínico (Loucura e Obsessão):  Paciente portador, segundo os médicos, de esquizofrenia catatônica. Dr. Bezerra De Menezes, no plano espiritual, examinou o paciente, mergulhando nos arquivos perispirituais, elucidou que o diagnóstico psiquiátrico era exato. Esclareceu ainda que havia além da doença, processo de resgate de faltas graves, a presença de alguns adversários espirituais que se lhe vinculavam, como cobradores impenitentes.

# Doença mental como antena emissora e receptora – O que se observa é que há casos de obsessão pura aparentando psicose, mas  é altíssimo o índice de obsessão espiritual em casos de psicose.         Encontramos uma explicação para a grande incidência de patologias mentais concomitantes às obsessões espirituais em um artigo do Dr Roberto Lúcio, na revista Delfos: “… a obsessão é um processo de afinidade mental negativa e o portador de doença mental é sempre uma antena estragada que atrai entidades espirituais doentias para si…”.)

11 – Tratamento:

–  Biológicos;

– Psicofármacos – realizado com medicamentos que possuem ação sobre os neurotransmissores envolvidos na doença.

– Eletroconvulsoterapia – introduzida em 1938; eficácia e segurança claramente estabelecidas; controvérsia ideológica trazida pelo movimento antipsiquiátrico e pelos presumíveis efeitos deletérios (nunca comprovados) sobre o cérebro; consiste na aplicação de uma série de estímulos elétricos para desencadear uma crise convulsiva, com duração de 25 segundos de manifestações motoras ou 20 segundos de manifestações eletroencefalográficas com finalidades terapêuticas; riscos: a mortalidade associada à ECT é a mesma associada à anestesia geral para uma pequena cirurgia (1 morte para 10000 pacientes tratados.

–  Psicoterápico (através de recursos da psicologia e terapia ocupacional)

–  Desobsessivo

12 – Tratamento:

–  Literatura espírita

– Mentor Calderaro (No Mundo Maior): Estudos científicos mostram sua eficácia e segurança, mas não se sabe qual o seu mecanismo de ação. No livro N.M.M, Calderaro explica a André Luiz que a eletroconvulsoterapia age no perispírito reajustando os centros de força e conseqüentemente os neurônios.

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Tratamento:

à Mentor Rafael (orientação mediúnica 16.12.02): Nos fala de uma possibilidade psicoterápica através da valorização da paz e do reaprendizado do carinho e da confiança, já que trilharam o sentido oposto, num caminho que  levou à doença psicótica.

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Referências bibliográficas:

1.   CID 10, OMS, 10ª edição.

2.   Condutas em Psiquiatria, 4ª ed., ed.Lemos.

3.   Revista de Psiquiatria Clínica, volume 31, nº 1, 2004.

4.   Loucura e Obsessão, Divaldo P. Franco, Manoel P. De Miranda.

5.   Revista Delfos, ano 4, nº 18.

6.   No Mundo Maior, cap. 7, Chico Xavier, André Luiz.

7.   Orientações espirituais, Mentores da AMEMG.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

“A Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal”.

  1. Homossexualidade é ou não uma doença à luz do Espírito imortal?
“Desde 1973, a homossexualidade deixou de ser classificada como tal pela Associação Americana de Psiquiatria. Em 1975 a Associação Americana de Psicologia adotou o mesmo procedimento, deixando de considerar a homossexualidade como doença. No Brasil, em 1985, o Conselho Federal de Psicologia deixa de considerar a homossexualidade como um desvio sexual e, em 1999, estabelece regras para a atuação dos psicólogos em relação à questões de orientação sexual, declarando que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão” e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade. No dia 17 de Maio de 1990 a Assembléia-geral da Organização Mundial de Saúde (sigla OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, a Classificação internacional de doenças (sigla CID). Por fim, em 1991, a Anistia Internacional passa a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos” – Wikypedia
A Homossexualidade, segundo a ciência, é uma orientação afetivo-sexual normal. Sob o ponto de vista espírita, tem sido catalogada por muitos escritores espíritas como doença ou distúrbio da sexualidade, em franco desrespeito ao conhecimento científico atual. Não há base no conhecimento espírita para se afirmar tal coisa. Não há uma visão que seja consenso sobre o assunto no movimento espírita, mas há excelentes textos dos espíritos André Luiz e Emmanuel nos direcionando o pensamento e a reflexão para o respeito, acolhimento e inclusão da pessoa homossexual, entendendo a homossexualidade como uma condição evolutiva natural (e o termo “natural” como sinônimo de “presente na natureza”), decorrente de múltiplos fatores, sempre individuais para cada espírito, construída ou escolhida pelo espírito, em função de tarefas específicas ou provas redentoras, incluindo aí as condições expiativas e reeducativas devidas a abusos afetivo-sexuais no passado, que parecem ser a causa determinante da maior parte das condições homossexuais, segundo a literatura espírita.
2. Qual a diferença entre orientação e escolha sexual?
Orientação sexual representa o desejo e o interesse afetivo-sexual (note bem: não somente sexual, mas também afetivo) do indivíduo, decorrente de múltiplos fatores, os quais determinam com qual sexo ele se sente realizado para uma parceria íntima.  A orientação sexual é fruto da história pessoal do indivíduo, presente e passada; é influenciada pela cultura e pelas identificações psicológicas, porém não controlada ou determinada conscientemente pelo indivíduo. Nasce-se com ela. Escolha é fruto da decisão consciente de se viver ou não a orientação, aceitá-la ou reprimi-la, de acordo com as idealizações e a pressão familiar-social-cultural do meio em que o indivíduo se encontra reencarnado.
3. O homem homossexual se sente uma mulher? A mulher homossexual se sente um homem?
De forma alguma. Identidade e orientação sexual são coisas distintas. Identidade é como o indivíduo se sente, a qual sexo pertence, com qual sexo se identifica psicologicamente. A orientação homossexual representa exclusivamente o direcionamento do afeto e do interesse sexual para indivíduos do mesmo sexo. O homem homossexual tem a sua identidade masculina, sente-se homem, embora possa ou não ter trejeitos afeminados, conforme sua história e identificação psicológica. Igualmente, a mulher homossexual tem a identidade feminina, embora possa ter ou não trejeitos masculinizados. Quando o indivíduo está em um corpo de um sexo, e sua identidade é a do sexo oposto, dizemos que ele é transexual, que é diferente do homossexual.
4. Em todos os casos, o espírito já renasce homossexual? É possível reverter essa orientação?
Há uma diferença entre comportamento homossexual e identidade afetivo-sexual homossexual. Observamos comportamentos homossexuais em indivíduos com doenças psiquiátricas, entre presidiários e soldados em guerra; nessas condições, na ausência da figura feminina, a prática sexual entre iguais praticada por muitos como campo de liberação das tensões sexuais e da busca do prazer. Isso não quer dizer que eles sejam homossexuais. O indivíduo com identidade homossexual é aquele que se sente atraído afetiva e sexualmente por pessoa do mesmo sexo, o que pode ser percebido ou descoberto em diferentes fases da vida do indivíduo. Não podemos afirmar que todos os homossexuais tenham nascido com essa orientação, pois a variedade de manifestações nessa área nos remete a múltiplas causas, embora a literatura mediúnica espírita nos informe de que em boa parte dos casos as pessoas homossexuais trazem de seu passado espiritual a fonte de sua orientação presente.
Não sendo, em si, uma condição maléfica para o indivíduo, mas neutra, podendo ser positiva ou não, dependendo da forma como for vivenciada, não há necessidade de reverter essa condição. A orientação da ciência médica e psicológica atual é de que o indivíduo homossexual que não se aceita e sofre com isso deve ser classificado como portador de transtorno egodistônico, e os esforços devem se direcionar no sentido de auxiliá-lo a se aceitar e se amar tal qual é, sentindo-se digno de amor e respeito, buscando relações que lhe fortaleçam o autoamor e nas quais possa ser natural, espontâneo e verdadeiro, em busca de sua felicidade e de seu progresso.
Há religiosos e profissionais fundamentalistas que oferecem terapia e assistência espiritual, sobretudo em igrejas evangélicas, para que o indivíduo se “cure” da homossexualidade. Não há registros de casos bem sucedidos. O que frequentemente se observa são indivíduos bissexuais alterando o direcionamento do seu afeto para indivíduos do mesmo sexo, porém muitos deles têm relações sexuais clandestinas com pessoas do mesmo sexo e nos procuram nos consultórios cheios de culpa, medo e vergonha por não se sentirem “curados”. Além disso, há os indivíduos homossexuais que decidem vestir a máscara de heterossexuais e por algum tempo formam famílias; frequentemente, saem de casa após algum tempo para viverem o que sentem como sua real atração afetivo-sexual.
5. Existem casos de homossexualidade desenvolvida exclusivamente pela educação na infância? Em caso afirmativo, é possível reverter o processo?
Segundo Freud, sim, o que não significa que seja passível de reversão ou que haja necessidade disso. Segundo o Conselho Federal de Psicologia a identidade e a orientação sexual estruturadas na infância não são passíveis de reversão, e a homossexualidade não é uma condição que necessite reversão, já que não é uma doença e muito menos um desvio moral. Porém, na visão espírita, os benfeitores espirituais nos informam que o espírito, ao reencarnar, já escolhe a natureza de suas provas e as condições familiares sociais e pessoais necessárias ao seu progresso, conforme sua consciência indique a necessidade de reparação dos equívocos do passado e de melhoramento pessoal. Em outras situações, quando o espírito não se encontra maduro para definir suas provas, elas são estabelecidas por orientadores evolutivos, mas, ainda assim, são definidas previamente à reencarnação. Assim, a família, o corpo que a pessoa tem e os principais pontos da existência já estão definidos para patrocinar as condições necessárias ao progresso do indivíduo. Além disso, o espírito traz impressos em si o fruto de suas escolhas, o resultado de suas experiências passadas, em seu psiquismo e no corpo espiritual, a determinar a identidade e a orientação sexual da presente encarnação.
6. Muitos consideram que a abstinência é uma recomendação educativa no caso de homossexualidade. O que você acha?
Abstinência não representa educação do desejo e da prática sexual. Contudo, pode ser uma etapa necessária em certos casos, para a disciplina dos impulsos íntimos, de heterossexuais e homossexuais, quando se percebam necessitados de controle do desejo e da prática sem limites. Também pode acontecer que tenham a condição de abstinência imposta pela misericórdia divina como recurso emergencial de salvação perante circunstâncias de abusos reiterados nessa área.
Diz Ermance Dufaux, no livro Unidos para o Amor: “Abstinência nem sempre é solução e pode ser apenas uma medida disciplinar sem que, necessariamente, signifique um ato educativo. Por educar devemos entender, sobretudo, a desenvoltura de qualidades íntimas capazes de nos habilitar ao trato moral seguro e proveitoso com a vida. (…) A questão da sexualidade é pessoal, intransferível, consciencial e a ética nesse campo passa por muitas e muitas adequações”.
O Espiritismo recomenda a todas as criaturas a conscientização a respeito da sacralidade do corpo físico e da sexualidade, como fonte criativa e criadora, destinada a ser fonte de prazer físico e espiritual, sobretudo de realização íntima para o ser humano, em todas as suas formas de expressão.
Sintetiza Emmanuel, na introdução do livro Vida e Sexo: “(…) em torno do sexo, será justo sintetizarmos todas as digressões nas normas seguintes: Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta, mas emprego digno, com o devido respeito aos outros e a si mesmo. Não indisciplina, mas controle. Não impulso livre, mas responsabilidade (grifos nossos). Fora disso, é teorizar simplesmente, para depois aprender ou reaprender com a experiência. Sem isso, será enganar-nos, lutar sem proveito, sofrer e recomeçar a obra da sublimação pessoal, tantas vezes quantas se fizerem precisas, pelos mecanismos da reencarnação, porque a aplicação do sexo, ante a luz do amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um”.
7. O homossexual não consegue de forma alguma ter atração por pessoa do sexo oposto ou isso pode acontecer de forma natural?
Segundo o relatório Kinsey, extensa pesquisa sobre o comportamento sexual humano realizada nos EUA na década de 60 do século XX, pelo biólogo Alfred Kinsey, tanto a homossexualidade como a heterossexualidade absoluta são condições raras em nossa sociedade. A grande maioria das pessoas tem uma condição de desejo predominante, em graus variáveis. Por exemplo, uma pessoa pode ser 80% heterossexual e 20% homossexual ou vice-versa. É natural, portanto, que uma atração heterossexual possa ocorrer na vida de um indivíduo homossexual, o que muitas vezes é entendido pelo leigo como “cura” da homossexualidade.
Emmanuel nos esclarece a respeito dessa realidade no livro Vida e Sexo, cap.21: “através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas. O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente masculino ou acentuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta.”
Podemos compreender assim que todos os indivíduos trazem em sua intimidade a possibilidade de se sentirem atraídos e se apaixonarem por alguém do mesmo sexo (afinal de contas,  a pessoa se apaixona por um indivíduo completo, e não pelo seu corpo apenas). Isso não significa que vá ou necessite viver essa situação.  O psiquismo atende e responde ao impulso do espírito, que é assexuado, mas que cumpre programas específicos em um ou outro sexo, conforme definição anterior e necessidade evolutiva, inserido em um contexto sociocultural que o limita na percepção e expressão do que vai em sua intimidade profunda.
8. Homem ou mulher que tenham fantasias com pessoas do mesmo sexo podem ser considerados homossexuais?
Na adolescência as experiências homossexuais são naturais, definidas pela psicologia como experiências de experimentação de uma identidade sexual em formação; não atestam, necessariamente, a orientação homossexual. Já no adulto a fantasia é uma das formas de expressão do desejo e da atração homoafetiva e atestam a intimidade da criatura, mesmo que não sejam aceitas pela personalidade consciente.
9. Qual sua avaliação sobre como a comunidade espírita trata a homossexualidade?
Em geral, observamos uma abordagem superficial e discriminatória por parte da comunidade espírita com os homossexuais e a homossexualidade. É compreensível que seja assim, pois todo meio religioso lida com idealizações e preconceitos seculares. Todavia, tal postura pode ser modificada por meio do que recomenda Allan Kardec: estudo sério e aprofundado de um tema para que se possa opinar sobre ele. É lamentável que nós, adeptos de uma fé raciocinada, nos permitamos o mesmo comportamento dos religiosos fundamentalistas.
Observa-se muita opinião pessoal sem fundamento tomada como regra e lei. Tais opiniões costumam ser destituídas de compaixão e amorosidadee terminam por isolar o indivíduo homossexual, tachando-o de doente, perturbado, promíscuo e/ou obsediado. Às vezes ele é até mesmo afastado das atividades espíritas habituais, como se fosse portador de grave moléstia que devesse receber reprovação e crítica por parte da parcela heterossexual “normal” da sociedade. Tais posturas são frequentemente embasadas no tradicional preconceito judaico-cristão-ocidental de que a única e exclusiva função da sexualidade é a procriação humana, tomando a parte pelo todo.
O Espiritismo é uma doutrina livre e libertária, compromissada com o entendimento da natureza íntima do ser humano e o progresso espiritual. Nos dá bases muito ricas de entendimento do psiquismo e da sexualidade do espírito imortal, como instrumentos divinos dados por Deus ao homem para seu aprimoramento e felicidade. Além disso, nos oferece esclarecimento a respeito das condições e situações determinadas pela liberdade do homem, que desvia esses instrumentos superiores de suas funções sagradas.
É imprescindível que se extinga em nosso movimento o preconceito e que os homossexuais tenham campo de trabalho, se dediquem ao estudo e à prática da doutrina espírita, com a mesma naturalidade de heterossexuais. Isso, para que compreendam o papel de sua condição em seu momento evolutivo e a utilizem com respeito e dignidade com vistas ao equacionamento dos dramas internos, ao cumprimento dos planos de trabalho específicos em sua proposta encarnatória e ao seu progresso pessoal, da família e da sociedade da qual faz parte, da mesma maneira como deve fazer o heterossexual.
10.   Como devem se comportar os pais espíritas de um indivíduo que se descubra homossexual?
Aos pais de uma pessoa homossexual cabe o acolhimento integral e amoroso do indivíduo, com aceitação de sua condição, que nada mais é que uma das características da personalidade. Ser homossexual não é sinônimo de ser promíscuo, inferior, afeminado (para homens) ou masculinizado (para mulheres). Simplesmente atesta que o indivíduo se realiza sexual e afetivamente no encontro entre iguais. A pessoa homossexual deve receber a mesma instrução e educação a respeito da sexualidade que os heterossexuais, a fim de bem direcionar as suas energias e esforços no sentido da construção do afeto com quem eleja como parceiro (a). A postura na vivência da sexualidade, para homossexuais, deve ser a mesma aconselhada pelos espíritos a heterossexuais: dignidade, respeito a si mesmo e ao outro,  valorização da família, da parceria afetiva profunda no casamento e dedicação da energia sexual criativa em benefício da comunidade em que está  inserido.
O acolhimento amoroso da família é fundamental para que o indivíduo homossexual possa se aceitar, se compreender, entendendo o papel dessa condição em sua vida atual, e para que se sinta digno e responsável perante suas escolhas. A luta, para aqueles que vivem essa condição, é grande, a fim de afirmar a sua autoestima em uma sociedade que banaliza a condição sexual e vulgariza a diferença. A família é o núcleo onde se encontram corações compromissados em projetos reencarnatórios comuns, com vínculos pessoais de cada um com o passado daqueles que com eles convivem, devendo ser cada membro dessa célula da sociedade, um esteio para que o melhor do outro venha à tona, por meio da experiência amorosa.
Os pais de homossexuais poderão ler e compartilhar interessantes experiências de outros pais no site e nos livros de Edith Modesto: http://www.gph.org.br

11.  Gostaria de acrescentar algo?
Romanos 14:14 “Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus, que nada é de si mesmo imundo a não ser para aquele que assim o considera; para esse é imundo.”
Todas as experiências evolutivas onde estejam presentes o autorrespeito, a autoconsideração, a autovalorização e o autoamor são experiências evolutivas promotoras de progresso e evolução, pois aquele que se oferece essas condições naturalmente as estende ao outro na vida. A homossexualidade, independentemente da forma como se haja estruturado como condição evolutiva momentânea do indivíduo, pode ser vivenciada com dignidade e ser um rico campo de experimentação do afeto e construção do amor, desde que aqueles que a vivam se lembrem de que são espíritos imortais e de que a vida na matéria é tempo de plantio para a eternidade, no terreno do sentimento e das conquistas evolutivas propiciadas pelo amor, em qualquer de suas infinitas manifestações.
Diz-nos Emmanuel no livro Vida e Sexo, lição 21 – Homossexualidade, ed. Feb:
“A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si, exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos ou a deprime pelo mal que causa com a parte que assume no jogo da delinqüência.”
E complementa André Luiz, no livro Sexo e destino –  Cap. 5,  pág 155 – ed. Feb:
“(…) no mundo porvindouro os irmãos reencarnados, tanto em condições normais quanto em condições julgadas anormais, serão tratados em pé de igualdade, no mesmo nível de dignidade humana, reparando-se as injustiças achacadas, há séculos, contra aqueles que renascem sofrendo particularidades anômalas, porquanto a perseguição e a crueldade com que são batidos pela sociedade humana lhes impedem ou dificultam a execução dos encargos que trazem à existência física, quando não fazem deles criaturas hipócritas, com necessidade de mentir incessantemente para viver, sob o sol que a Bondade Divina acendeu em benefício de todos.”
Para saber mais:
Indico, entre outros, os seguintes livros espíritas, com abordagens responsáveis e bem fundamentadas sobre o assunto:
1- Vida e sexo, Emmanuel/Chico Xavier, em especial cap. 21 – ed. Feb
2- Sexo e destino e Ação e reação – ambos de André Luiz/Chico Xavier – ed. feb
3- Além do rosa e do azul – Gibson Bastos – Ed. Celd
4- O preço de ser diferente (romance) – Ed. Vida e Consciência

5- Quem perdoa, liberta – José Mário/Wanderley Oliveira – Cap. Homoafetividade e mediunidade
*Andrei Moreira é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Integra, desde 2005, uma equipe do Programa de Saúde da Família, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Especializado em Homeopatia.
Preceptor do Internato em Atenção Integral à Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Alfenas, campus BH, desde 2008.
Participa ativamente do movimento espírita nacional e internacional, proferindo palestras e seminários. Integra equipes de atendimento a pacientes com a metodologia médico-espírita na Amemg.
Presidente da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais, desde 2007.
Autor do livro: Cura e autocura – uma visão médico espírita – AME Editora, 2010

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

HIV-AIDS – Uma visão médico espírita

O HIV é um retrovírus transmitido por via sexual, transfusões sanguíneas, compartilhamento de seringas ou de mãe contaminada para o feto, no parto ou amamentação. Ele se multiplica no organismo destruindo as células de defesa, os glóbulos brancos, mais especificamente os linfócitos T CD4. Quando esse exército natural do corpo humano está bastante diminuído, estabelece-se a imunodeficiência, ou AIDS, que abre as portas para infecções oportunistas que debilitam e causam sofrimento ao indivíduo nessa condição. Atualmente, existem cerca de 40 milhões de portadores do vírus HIV em todo mundo, concentrando-se a maioria na África subsaariana. Existem potentes coquetéis anti-retrovirais que impedem a multiplicação viral, auxiliando a evitar a AIDS, diminuindo doenças oportunistas e aumentando a longevidade e qualidade de vida do portador do vírus.
Na visão espírita, o ser humano é entendido sob o prisma da imortalidade da alma, como um ser eterno, filho de Deus, que marcha rumo ao progresso e à felicidade exercendo a liberdade relativa dada por Deus aos seus filhos. Nesse processo, passa pelas múltiplas vidas sucessivas, ou reencarnação, guiado pelas leis de justiça e misericórdia, ambas derivações da lei do amor, que regulam o equilíbrio da criação. Toda vez que o exercício da liberdade humana fere a lei do amor, o ser entra em desequilíbrio consigo mesmo e com o universo, e quando insiste em seu comportamento, confirmando tendências e hábitos, e muitas vezes construindo vícios na alma, aciona mecanismos automáticos e naturais de reequilíbrio e re-harmonização perante a lei divina, que está inscrita na sua consciência. Guiado pelo amor, o ser evolui construindo o seu percurso da maneira que lhe apraz, determinado ações que geram reações, dentro da lei de progresso inexorável. Dessa forma, atrai para si as circunstâncias a que faz juz e que necessita, com vistas ao crescimento, bem como constrói circunstâncias que não seriam exatamente necessárias para seu progresso, mas que expressam seu momento evolutivo e suas dificuldades morais.
O corpo humano, guardando sabedoria inata a serviço do espírito imortal que o habita e conduz, obedece à consciência profunda manifestando saúde ou doença conforme esteja o ser equilibrado ou desequilibrado perante a lei do amor, seja consigo mesmo ou com o próximo. Nessa visão, as doenças se manifestam como resultado do posicionamento do ser no mundo, de acordo com seu pensar, falar e agir, posicionamento este reafirmado ao longo do tempo, das vidas sucessivas, e muitas vezes cristalizado em atitudes de desamor e desconsideração aos sentimentos superiores do amor, respeito, consideração, etc. A doença se apresenta como um convite, um chamado da alma, manifestando seu momento evolutivo, seus conflitos, seu estado mental e emocional, bem como suas necessidades espirituais.
Ao reencarnar, o espírito escolhe o gênero de suas provas e, por meio da análise do seu presente estado, derivado de seu passado espiritual, sabe de suas tendências e predisposições, escolhendo as provas que lhe sirvam como fonte de progresso e expiação das faltas cometidas, visando pacificar a consciência e manifestar saúde total, do corpo e da alma1.
André Luiz nos orienta2 que as doenças infecto-contagiosas se estabelecem sobre zonas de predisposição mórbida que existam no psiquismo e no corpo espiritual, como conseqüência natural da ressonância magnética e da necessidade de reequilíbrio do ser imortal.  A infecção pelo HIV é uma circunstância atraída pelo indivíduo para sua vida por variados motivos, que devem sempre ser individualizados, mas que, em linha gerais, podemos dizer que oportuniza o desenvolvimento do auto-amor, do auto-cuidado, da individuação, o estabelecimento de limites e, sobretudo, a reeducação sexual e afetiva profundas, quando este aproveita a condição para seu despertamento espiritual.
André Luiz nos esclarece3 que “muito raramente não estão as doenças diretamente relacionadas ao psiquismo. Todos os órgãos são subordinados à ascendência moral.” O padrão mental e emocional do portador do vírus, bem como as mudanças que faça para tornar-se mais amoroso consigo mesmo e com o próximo, mais cuidadoso com as relações afetivas e com os compromissos assumidos com outros corações, atuarão diretamente na intimidade das células e do sistema imunológico, ativando as defesas naturais do corpo e inibindo a replicação viral. Dessa forma, o HIV pode se tornar uma doença crônica controlável, assim como o diabetes ou a hipertensão arterial, não acarretando sofrimentos dispensáveis visto que o amor cumpriu seu papel educativo na vida do indivíduo.
A mensagem do Cristo, expressa na sabedoria do evangelho, convida a todos a refletir na sua posição como filhos de Deus, no seu papel co-criador e no desenvolvimento dos dons divinos que haja em si. Ela representa a fórmula de saúde por excelência, conduzindo o homem de volta a Deus.
O espírito Joseph Gleber, médico alemão do séc. XX, nos informa4 que “Saúde é a real conexão criatura-criador, e a doença o contrário momentâneo de tal fato”. Útil, portanto, questionar, diante da infecção pelo HIV os por-quês e os para-quês da experiência, extraindo da dor o amadurecimento imprescindível para extinguí-la com proveito. Para tal se faz necessário uma postura permanente de auto-atenção e auto-conhecimento, bem como esforço pelo domínio de si mesmo, dentro da perspectiva otimista e esperançosa que o evangelho propõe. Nessa visão não cabem culpas, pensamentos ou ações depressivas e auto-punitivas, e sim coragem e ânimo renovado para vencer-se a cada dia, desenvolvendo o auto-amor que auxilie a despertar o amor ao próximo, como medidas de cura efetiva da alma.
O espírito Franklim nos oferece5 um testemunho de sua experiência de amadurecimento com o HIV, dizendo “No meu caso em particular, a aids funcionou como o anjo da dor que me libertou das garras da viciação e do desequilíbrio moral. Talvez alguns estranhem por eu falar dessa forma, mas após a jornada triste e sombria que eu realizei, quando encarnado, nas loucuras do desregramento, a doença realmente funcionou como um freio, proporcionando-me a oportunidade de rever meus passos na vida moral, e, graças à ajuda dos amigos espirituais, pude libertar a minha consciência do pesadelo do mal e do desequilíbrio”
A doutrina espírita, ofertando esclarecimentos e orientações sobre a natureza do ser e sua íntima relação com a matéria, as conseqüências físicas e morais de seus atos,  oferece amplo caminho de aceitação de si mesmo e responsabilização espiritual perante as circunstâncias do caminho. A fluidoterapia, por meio dos passes e água magnetizada, bem como a renovação dos padrões da alma, são recursos medicamentosos efetivos e profundos oferecidos gratuitamente, bastando a aceitação do sujeito de suas responsabilidades e potencialidades espirituais e a decisão por  melhorar-se continuamente na marcha do progresso.
A casa espírita, enquanto local sagrado de acolhimento e educação dos convidados de Jesus, deve ser o espaço de fraternidade e instrução, que abra os passos para os portadores do vírus HIV e das demais patologias, que desejem se entender sob a visão imortalista espírita, sem críticas, preconceitos ou julgamentos. O trabalho espírita, centrado no amor ao próximo orientado por Jesus, é o trabalho de compaixão e misericórdia, ofertando àqueles que assim desejem campo abençoado de estudo e trabalho, renovação e entendimento, para a conquista da saúde integral.
Finalmente, a casa espírita deve cumprir seu papel de estimuladora e propiciadora das práticas no bem, nosso maior e melhor advogado em todas as horas. Diz-nos Emmanuel que “quando a justiça nos procure para acerto de contas, se nos encontra trabalhando em favor do próximo, manda a misericórdia divina que ela retorne sobre seus passos sem data prevista de retorno”. E complementa André Luiz2: “o bem constante gera o bem constante e, mantida a nossa movimentação infatigável no bem, todo o mal por nós amontoado se atenua, gradativamente, desaparecendo ao impacto das vibrações de auxilio, nascidas, a nosso favor, em todos aqueles aos quais dirijamos a mensagem de entendimento e amor puro, sem necessidade expressa de recorrermos ao concurso da enfermidade para eliminar os resquícios de treva que, eventualmente, se nos incorporem, ainda, ao fundo mental. Amparo aos outros cria amparo a nós próprios, motivo porque os princípios de Jesus, desterrando de nós animalidade e orgulho, vaidade e cobiça, crueldade e avareza, e exortando-nos à simplicidade e à humildade, à fraternidade sem limites e ao perdão incondicional, estabelecem, quando observados, a imunologia perfeita em nossa vida interior, fortalecendo-nos o poder da mente na auto-defensiva contra todos os elementos destruidores e degradantes que nos cercam e articulando-nos as possibilidades imprescindíveis à evolução para Deus”.

Andrei Moreira
Médico de família e comunidade e Homeopata
Presidente da Associação Médico-Espírita de MG – Brasil
Referências e Para saber mais…
  1. O Livro dos Espíritos – Allan Kardec q. 258 e 264 em especiais
  2. Evolução em dois mundos – parte II, cap. XX – André Luiz /Francisco cândido Xavier
  3. Missionários da Luz – André Luiz /Francisco cândido Xavier
  4. O Homem Sadio – Espíritos diversos/Roberto Lúcio e Alcione Albuquerque
  5. Canção da Esperança – diário de um jovem que viveu com AIDS – Ângelo Inácio/ Robson Pinheiro
  6. A Alma da Matéria – Marlene Nobre

sábado, 24 de outubro de 2015

Entenda Identidade De Gênero E Orientação Sexual

Por Lívia R. Pinheiro

Mas o que é exatamente orientação sexual e identidade de gênero?
O termo orientação sexual é relativamente conhecido, e se refere a como nos sentimos em relação à afetividade e sexualidade. Por não se tratar exclusivamente de sexo, o termo mais apropriado talvez seja orientação afetivo-sexual, ou romântica-sexual. Falamos de orientação, e não de opção, porque não é algo que possamos mudar de acordo com nosso desejo.

Existem quatro tipos de orientação afetivo-sexual: os bissexuais se sentem atraídos pelos dois gêneros; os heterossexuais, pelo gênero oposto; e os homossexuais, pelo mesmo gênero. Os assexuados representam um caso singular, uma vez que podem apresentar uma orientação romântica, porém não sexual, direcionada a algum dos gêneros (ou a ambos), ou não apresentarem orientação romântica e nem sexual.


A identidade de gênero, por sua vez, costuma ser menos compreendida. Ao passo que a orientação sexual se refere a outros, a quem nos relacionamos, a identidade de gênero faz referência a como nos reconhecemos dentro dos padrões de gênero estabelecidos socialmente.
Existem dois sexos, mulher e homem, e dois gêneros, feminino e masculino. Embora a maioria das mulheres se reconheça no gênero feminino e a maioria dos homens no masculino, isto nem sempre acontece. Falamos, então, de pessoas cujo sexo biológico discorda do gênero psíquico: são os travestis e transexuais, ou transgêneros.
Existe muita confusão a respeito das relações entre orientação sexual e identidade de gênero, e a verdade é que não existe relação – são coisas completamente independentes. Uma pessoa de sexo biológico feminino pode se enquadrar no gênero masculino e se sentir atraído exclusivamente por homens. Ele seria, então, um homem transexual gay. A tabela abaixo sumariza as possibilidades existentes de orientação sexual e identidade de gênero:
Sexo biológicoGênero psíquicoOrientação sexualComo reconhecemos
MulherFemininoBissexualMulher bissexual
MulherFemininoHeterossexualMulher heterossexual
MulherFemininoHomossexualMulher homossexual
MulherFemininoAssexualMulher assexual
MulherMasculinoBissexualHomem bissexual
MulherMasculinoHeterossexualHomem heterossexual
MulherMasculinoHomossexualHomem homossexual
MulherMasculinoAssexualHomem assexual
HomemMasculinoBissexualHomem bissexual
HomemMasculinoHeterossexualHomem heterossexual
HomemMasculinoHomossexualHomem homossexual
HomemMasculinoAssexualHomem assexual
HomemFemininoBissexualMulher bissexual
HomemFemininoHeterossexualMulher heterossexual
HomemFemininoHomossexualMulher homossexual
HomemFemininoAssexualMulher assexual

Mas as identidades de gênero são muito mais complexas do que esta tabela sugere, uma vez que o que define determinado gênero é mutável e, cada vez mais, flexível.
Uma das concepções errôneas mais freqüentes envolvendo gênero é a de que homens com traços ou gestos considerados femininos são necessariamente gays, ou que mulheres que vestem roupas largas são, com certeza, lésbicas. Esta idéia é geralmente acompanhada daquela segundo a qual homens afeminados queriam ser mulheres, e mulheres masculinizadas queriam ser homens.
O modo de andar, de gesticular, de falar, e a preferência por determinados tipos de roupas ou de atividades não têm, necessariamente, nada a ver nem com orientação sexual, nem com identidade de gênero. Se fôssemos acrescentar cada uma destas características na tabela, a única novidade que teríamos seria o acréscimo da característica escolhida na denominação que já existe. Em outras palavras, nada impede uma pessoa ser uma mulher biológica homossexual que se enquadra perfeitamente no estereótipo feminino.
Enfim, a confusão a respeito de papéis de gênero, orientação sexual e identidade de gênero se deve ao padrão binário que temos a mania de querer aplicar a tudo. Mas as possibilidades de expressão humanas não cabem em um sistema como este. Embora o preconceito e a discriminação contra quem não segue o padrão existam e sejam fortes..