sábado, 31 de dezembro de 2016

A lembrança dos sonhos

Allan Kardec, comentando a resposta dos Espíritos Superiores à questão 402 de “O Livro dos Espíritos” [1], esclarece que “os sonhos são efeitos da emancipação da alma, que mais independente se torna pela suspensão da vida ativa e de relação.”

A questão 403 de “O Livro dos Espíritos” refere-se à razão de não nos lembrarmos claramente dos sonhos. Os Espíritos Superiores elucidam que o corpo “é matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva as impressões que o Espírito recebeu, já que tais impressões não chegaram ao Espírito por meio dos órgãos corporais”.


Emoções e Vibrações (Ver no YouTube)

Conforme nos orienta o Espírito Aniceto, no capítulo 38 da obra Os Mensageiros, do Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier [2], “Os Espíritos encarnados, tão logo se realize a consolidação dos laços físicos, ficam submetidos a imperiosas leis dominantes na Crosta. Entre eles e nós existe um espesso véu. É a muralha das vibrações. Sem a obliteração temporária da memória, não se renovaria a oportunidade. Se o nosso campo lhes fora francamente aberto, olvidariam as obrigações imediatas, estimulariam o parasitismo, prejudicando a própria evolução. Eis porque raramente estão lúcidos ao nosso lado. Na maioria dos casos, junto de nós, permanecem vacilantes, enfraquecidos...”.

José Náufel, no livro “Do ABC ao Infinito” [3], estudando o sono e os sonhos, esclarece que: “As percepções do encarnado são realizadas pela alma, que recebe as impressões do mundo exterior pelos órgãos sensoriais. Esse processo implica registros tanto na memória atual, a nível subconsciente (camada psíquica imediatamente inferior à esfera da consciência), quanto na memória espiritual, mediante utilização dos órgãos perispiríticos. Já a atividade do Espírito durante o sono, que se corporifica no sonho, é realizada fora do corpo, uma vez que a alma se encontra emancipada, embora continue ligada a ele por um cordão fluídico. Logo, o registro dessa atividade se faz tão-somente na memória espiritual, sem que as impressões dela resultantes passem pelos órgãos corporais. É claro que a relação eletromagnética entre as células do corpo somático e as do corpo espiritual estabelece comunicação entre a memória atual e a memória espiritual. Mas, para que os registros desta se façam também naquela, é necessária a ocorrência de condições específicas favoráveis, nem sempre presentes.” Daí, a lembrança clara de apenas alguns sonhos.


Fragmentos de lembranças em vigília (Ver no YouTube)

André Luiz, na obra “Mecanismos da Mediunidade” [4], explica que: “Dormindo o corpo denso, continua vigilante a onda mental de cada um – presidindo ao sono ativo, quando registra no cérebro dormente as impressões do Espírito desligado das células físicas, e ao sono passivo, quando a mente, nessa condição, se desinteressa, de todo, da esfera carnal. Nessa posição, sintoniza-se com as oscilações de companheiros desencarnados ou não, com as quais se harmonize, trazendo para a vigília no carro de matéria densa, em forma de inspiração, os resultados do intercâmbio que levou a efeito, porquanto raramente consegue conscientizar as atividades que empreendeu no tempo de sono.” Assim, “nem sempre o cérebro físico está em posição de fixar o encontro realizado ou a informação recebida”. José Náufel, na obra anteriormente citada, elucida que no caso do sono ativo, há possibilidade de lembrança do sonho. Já no sono passivo, “não acontece o referido registro, impedindo ou dificultando a lembrança do sonho”.

Sintonia e lembranças (Ver no YouTube)

Em “O Livro dos Médiuns” [5], Kardec pergunta, no item Evocação de Pessoas Vivas, se é possível modificar as ideias de uma pessoa em estado de vigília, atuando sobre o seu Espírito durante o sono. Há o esclarecimento de que tal é possível, algumas vezes, porque, não estando o Espírito preso à matéria por laços tão estreitos, “mais acessível se acha às impressões morais e essas impressões podem influir sobre a sua maneira de ver no estado ordinário. Infelizmente, acontece com frequência que, ao despertar ele, a natureza corpórea predomina e lhe faz esquecer as boas resoluções que haja tomado.”

Concluindo, observa-se que, se o Espírito vivencia uma situação no plano espiritual que não tem correspondência com sua vida encarnada atual, em termos de nível vibratório e/ou foco, tal lembrança não será registrada no cérebro físico e portanto, não acessível em estado de vigília.


Referências

1. KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1987. Questões 402 e 403.
2. XAVIER, Francisco Cândido. “Os Mensageiros”. Pelo Espírito André Luiz. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2000. Capítulo 38.
3. NÁUFEL, José. “Do ABC ao Infinito: Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita”. Rio de Janeiro, RJ: Éclat. 1994. Volume II, Tomo I. Capítulo V – O sono e os sonhos.
4. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. “Mecanismos da Mediunidade”. Pelo Espírito André Luiz. 14ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1995. Capítulo 21.
5. KARDEC, Allan. “O Livro dos Médiuns”. 55ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987. Segunda Parte. Capítulo XXV, Evocação das Pessoas Vivas. Questão 47.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Conscientemente

Integras as novas hostes do Senhor, na qualidade de obreiro da última hora, honrado pela oportunidade de redimir o passado. Nenhuma circunstância casual aparece no teu caminho. Pessoas e acontecimentos foram antecipadamente examinados para que possas seguir com o coração tranquilo e a mente alçada aos cimos da vida exuberante. Espíritos amigos corporificaram-se em membros ativos da tua família ou chegaram de outros clãs para te oferecerem mãos e serviço na tarefa da reestruturação do bem que te compete desenvolver.

Acidentes que surgem ameaçadores, céus que parecem carregados de tormentas, águas que se tisnam subitamente são concessões-advertência para que nem tudo seja róseo ou enganador e o apelo dos que choram ao rés-do-chão não desapareça perdido no alarido dos que seguem contigo.

Por essa razão, não cultives azedume, seja qual for o motivo que te convoque à amargura.

Se muita coisa te parece injusta e enfloresce a intolerância deste ou daquele teor, recorda que o passado é meirinho pontual a aparecer e reaparecer, chamando a atenção.

Cultiva, assim, o otimismo e a paciência sem cessar.

Aprofunda meditações nos preciosos conceitos da mensagem consoladora de Jesus, seguindo conscientemente.

Quando te falem que este é o momento da Ciência, pensa e vive a idéia da fraternidade com todas as criaturas.

Quando te informem que esta é uma hora própria para a Filosofia, pensa e vive a arte de servir.

Quando te exponham que hoje comporta uma nova Religião, pensa e vive o amor.

Quando te apontem jovens em correria tresloucada ou velhos que tombaram, inermes, nas seduções enganadoras, não reclames nem imponhas normas de conduta; pensa e vive com sobriedade e ética, expondo quando possível as razões da tua conduta inspirada no Modelo Excelente de todos nós.

Nem sempre conviverás com os que chegaram para ajudar-te. Alguns seguirão, apressados, mais além.

Emudece o reproche ou a censura. Os espíritos seguem o rumo que melhor os atrai. Possivelmente longe de ti poderão elaborar novas ações, renovar-se, e aprenderão com a vida. Para onde se dirijam, encontrar-se-ão consigo mesmos, preparando-se para a grande experiência do Além-Túmulo...

Usa a feliz ocasião que te surge e refaze as lições.

A carne é veículo transitório e abençoado instrumento para o espírito aprender na Academia terrestre através do processo incessante da evolução.

Invectivando contra o abuso do poder, a rapina social e a degeneração dos costumes, Jesus foi enérgico e veraz, mas não permitiu, uma vez sequer, que as querelas dos obsidiados pelo jugo da posse e iludidos pelo prazer perturbassem a Sua paz e integridade no magistério de vivência com os sofredores do mundo, ensinando-nos, dessa forma, como proceder e avançar na direção de Deus...

Joanna de Ângelis

(FRANCO, D. P. "Lampadário Espírita".Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 6ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1996. Capítulo 10)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A Prece - Segunda parte


Conforme orientado pelos Espíritos Superiores a Allan Kardec [1], a prece é uma elevação do pensamento a Deus, na qual podemos louvar, agradecer e pedir. Lembremos, portanto, de não apenas fazermos pedidos em nossas preces. O dom da Vida e a oportunidade de uma nova existência corpórea, na qual podemos nos melhorar e reparar erros (“O Livro dos Espíritos”, questão 167), já são dádivas pelas quais devemos sempre ser gratos a Deus.

A prece, sendo um encontro nosso com a Espiritualidade Superior, deve visar a nos modificar, e não necessariamente modificar as provas pelas quais estejamos passando. Nossa sintonia elevada modifica, antes de tudo, o modo como vemos os problemas que devemos resolver. Assim, problemas passam a ser encarados como lições, e nunca castigos, ideia incompatível com Deus infinitamente justo e bom. A este respeito, Kardec orienta [2]: “O que Deus lhe concederá sempre, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante ideias que fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da ação.”

Dividindo os males da vida entre os que o homem não pode evitar e os causados por seus excessos ou negligência, temos [3]:
  • Acerca dos problemas evitáveis: a prece tem ação preventiva, trazendo inspiração elevada para não cedermos a tentações que atrasem nossa marcha evolutiva. Nas palavras de Kardec [4], “Um homem, por exemplo, vê arruinada a sua saúde, em conseqüência de excessos a que se entregou, e arrasta, até o termo de seus dias, uma vida de sofrimento: terá ele o direito de queixar-se, se não obtiver a cura que deseja? Não, pois que houvera podido encontrar na prece a força de resistir às tentações.”;
  • Sobre os problemas que o homem, mesmo com toda prece com fé, não puder evitar: as rogativas elevadas visam a trazer boa inspiração para resistirmos a pensamentos de revolta, os quais baixariam nossa vibração e nos permitiriam aceder a inspirações que nos atrasem a evolução moral. O que os Bons Espíritos, neste caso, fazem, “não é afastar de nós o mal, porém, sim, desviar-nos a nós do mau pensamento que nos pode causar dano (...)”. Ou seja, se não se modifica a prova, dá-se condição de modificar a pessoa.

Kardec aponta haver opositores à prática da oração, alegando que tudo no Universo está sob a regência de uma sequência inalterável de eventos, tornando inútil a prece [5]. Este argumento é analisado da seguinte forma:
  • A mecânica quântica indica que os sistemas físicos não são estáticos, mas evoluem, de modo que o mesmo sistema, preparado da mesma forma, pode dar origem a resultados experimentais diferentes dependendo do momento em que se realiza a medida [6];
  • Experimentos cientificamente controlados [7] demonstraram a modificação, através da intenção em estado meditativo, de grandezas físicas como pH (acidez ou alcalinidade) de água. O pesquisador japonês Masaru Emoto [8] identificou mudanças em cristais de água a partir da energia de frases ou músicas às quais esta se submetia — e 70% de nosso corpo físico é composto de água;
  • O Codificador aponta [5], de forma coerente com os preceitos científicos acima abordados: “Sendo livre o homem de agir num sentido ou noutro, seus atos lhe acarretam, e aos demais, consequências subordinadas ao que ele faz ou não. (...) Possível é, portanto, que Deus aceda a certos pedidos, sem perturbar a imutabilidade das leis que regem o conjunto, subordinada sempre essa anuência à sua vontade.”
Aduzimos o fato de a Teoria das Cordas [9] indicar que a matéria, na realidade, é formada por energia que, vibrando em diferentes tons, gera diferentes partículas. Se toda matéria, seja a matéria bruta (que forma corpos estudados pela ciência; vide comentários à questão 617 de “O Livro dos Espíritos”), seja a sutil (que forma o perispírito e a matéria de mundos mais adiantados; vide questões 181, 186 e 187 de “O Livro dos Espíritos), é vibração, como o é a prece, é viável a atuação da última sobre a primeira.

Comparemos a capacidade de recepção de vibrações de nossa mente à sintonia de um receptor de rádio FM. Sabemos que, para ouvir a programação de uma emissora específica, devemos sintonizar o receptor na sua frequência de portadora, em torno da qual as antenas da emissora concentram sua potência. Sintonizando em uma emissora, não ouvimos a programação de outras, mesmo com seu sinal chegando ao receptor de rádio. Emoções alegres e nobres têm frequência mais elevada do que vibrações como medo, tristeza ou raiva.

Fenômeno similar ocorre em nossas mentes, com a diferença que, ao contrário do rádio FM, o qual apenas recebe sinal, nós também o emitimos e o lançamos no Universo, através do Fluido Universal [10]. Ademais, há sempre, vindo de Mais Alto, boas inspirações e energias superiores, por graça de Deus e pela atuação de Bons Espíritos que velam por nós e pela Terra. Porém, sem sintonizarmos com essa vibração superior, nos fazemos surdos a seus bons conselhos.

Conforme abordamos na postagem “A Prece”, o autor Martins Peralva, na obra “Estudando a Mediunidade [11], classifica a prece em Vertical, Horizontal e Descendente. Apresentando, nas figuras a seguir, um exercício didático, representando a “antena” de nossa mente direcionada para expressões elevadas, terra-a-terra ou voltadas ao mal, temos:

  • Prece Vertical: elevação de sintonia de emissão e recepção.

  • Prece Horizontal: vibrações terra-a-terra, sem elevação.

  • Rogativa Descendente: baixo teor vibratório e sintonia com Inteligências afins.


Importante notar que, estando com o “rádio mental” sintonizado em baixas frequências, não temos como esperar “ouvir” e reter inspirações do Alto. E essa escolha de onde sintonizar é tão somente nossa.

Decorre, daí, a importância do estudo do Evangelho no Lar, onde agendamos uma reunião semanal com dia e hora fixos para exercitarmos, pelo estudo e prece, nossa vibração com esferas superiores – a Espiritualidade Superior também destinará um colaborador para lá estar, em nossa residência, à hora e dia agendados, para bem nos inspirar.

Aduzimos que não é somente pela prece que nos comunicamos com Deus. Nossos atos falam por si. Devemos colocar em prática o que apregoamos, pela caridade, que é o amor em ação, em todas as suas formas (caridade material; educação no trato com todos; tolerância à divergência etc.). Toda ocupação útil é trabalho (“O Livro dos Espíritos”, questão 675), e toda ação executada com caridade também é uma prece. Emmanuel [12], a esse respeito, elucida: “(...) em todos os climas da Humanidade, se a palavra esclarece, o exemplo arrasta sempre.”.


Referências:
[1] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. RIO DE JANEIRO, FEB: 1987. Questões 649 e 659.
[2] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. RIO DE JANEIRO, FEB: 1987. Capítulo XXVII, item 07.
[3] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. RIO DE JANEIRO, FEB: 1987. Capítulo XXVII item 12.
[4] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. RIO DE JANEIRO, FEB: 1987. Capítulo XXVII item 11.
[5] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. RIO DE JANEIRO, FEB: 1987. Capítulo XXVII item 06.
[6] Mecânica quântica. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Mec%C3%A2nica_qu%C3%A2ntica. Acesso em 12/03/2010.
[7] TILLER, William A. “Towards a Quantitative Science and Technology that Includes Human Consciousness”. Disponível em http://www.tillerfoundation.com/papers.php. Acesso em 12/03/2010.
[8] “Masaru Emoto: Messages from Water”. Disponível em http://www.life-enthusiast.com/twilight/research_emoto.htm. Acesso em 12/03/2010.
[9] Teoria das cordas. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_das_cordas. Acesso em 12/03/2010.
[10] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1991. Capítulo VI item 17 e capítulo XIV, item 2.
[11] PERALVA, Martins. “Estudando a Mediunidade”. 12ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1987. Cap. 33.
[12] XAVIER, F. C. “Religião dos Espíritos”. Pelo Espírito Emmanuel. 4.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1960. Capítulo 68.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A Prece -Primeira Parte

"Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á." (Mateus, 7:7)


A prece é um ato de adoração, que consiste da elevação do pensamento a Deus (“O Livro dos Espíritos”, questões 649 e 659). Allan Kardec esclarece, no item 9 do cap. XXVII e “O Evangelho Segundo o Espiritismo”[1], que “a prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objeto um pedido, um agradecimento, ou uma glorificação. Podemos orar por nós mesmos ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces feitas a Deus escutam-nas os Espíritos incumbidos da execução de suas vontades; as que se dirigem aos bons Espíritos são reportadas a Deus. Quando alguém ora a outros seres que não a Deus, fá-lo recorrendo a intermediários, a intercessores, porquanto nada sucede sem a vontade de Deus.”

Na Obra “Entre a Terra e o Céu”[2], André Luiz ouviu o Ministro Clarêncio apresentando importantes elucidações a respeito da prece, das quais destacamos:

“A prece, qualquer que ela seja, é ação provocando a reação que lhe corresponde. Conforme a sua natureza, paira na região em que foi emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota, segundo as finalidades a que se destina.”
(...)
“Cada prece, tanto quanto cada emissão de força, se caracteriza por determinado potencial de freqüência e todos estamos cercados por Inteligências capazes de sintonizar com o nosso apelo, à maneira de estações receptoras.”

Martins Peralva, na obra “Estudando a Mediunidade”[3], classifica a prece em três grupos, a saber:

“Sendo a prece «um apelo», evidentemente somos levados a, de acordo com as instruções dos Benfeitores Espirituais, classificá-la de vários modos.”

“Em primeiro lugar, teremos a «prece vertical», isto é, aquela que, expressando aspirações realmente elevadas, se projeta na direção do Mais Alto, sendo, em face dos mencionados princípios de afinidade, recolhida pelos Missionários das Esferas Superiores.”

“Em segundo lugar, teremos a «prece horizontal», traduzindo anseios vulgares. Essa prece não terá impulso oblíquo ou vertical, porque encontrará ressonância entre aqueles Espíritos ainda ligados aos problemas terrestres, vivendo, portanto, horizontalmente.”

“Por fim, teremos a descendente. A essa não daremos a denominação de «prece», substituindo-a por «invocação», consoante aconselha o Ministro Clarêncio («Entre a Terra e o Céu» — André Luiz».)”

“Na «invocação», o apelo receberá a resposta de entidades de baixo tom vibratório. São os petitórios inadequados, expressando desespero, rancor, propósitos de vingança, ambições, etc.”

"Pai, (...) não se faça a minha vontade, mas sim a tua." (Lucas 22:42)


Atendo-nos à prece vertical, conforme definido acima, a prece será eficaz se possuidora de vibrações capazes de atingir o Alto. Kardec, no preâmbulo do capítulo XXVIII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, afirma que a prece deve ser inteligível; clara; simples; concisa e sem fraseologia inútil — em suma, deve fazer refletir.

A fim de evitar a confusão do entendimento de “prece eficaz” com “atingir o que se quer”, o Codificador informa, no item 12 do capítulo XXVII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “Admitamos que o homem nada possa com relação aos outros males; que toda prece lhe seja inútil para livrar-se deles; já não seria muito o ter a possibilidade de ficar isento de todos os que decorrem da sua maneira de proceder? Ora, aqui, facilmente se concebe a ação da prece, visto ter por efeito atrair a salutar inspiração dos Espíritos bons, granjear deles força para resistir aos maus pensamentos, cuja realização nos pode ser funesta. Nesse caso, o que eles fazem não é afastar de nós o mal, porém, sim, desviar-nos a nós do mau pensamento que nos pode causar dano; eles em nada obstam ao cumprimento dos decretos de Deus, nem suspendem o curso das leis da Natureza; apenas evitam que as infrinjamos, dirigindo o nosso livre-arbítrio. (...) É isso o que o homem pode estar sempre certo de receber, se o pedir com fervor, sendo, pois, a isso que se podem sobretudo aplicar estas palavras: ‘Pedi e obtereis.’ (Marcos, cap. XI, v. 24)”

O Espírito V. Monod, no item 22 do capítulo XXVII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, também recomenda atenção ao tipo de prece que se faz. Em suas palavras:

“A vossa prece deve conter o pedido das graças de que necessitais, mas de que necessitais em realidade. Inútil, portanto, pedir ao Senhor que vos abrevie as provas, que vos dê alegrias e riquezas. Rogai-lhe que vos conceda os bens mais preciosos da paciência, da resignação e da fé. Não digais, como o fazem muitos: ‘Não vale a pena orar, porquanto Deus não me atende.’ Que é o que, na maioria dos casos, pedis a Deus? Já vos tendes lembrado de pedir-lhe a vossa melhoria moral? Oh! não; bem poucas vezes o tendes feito. O que preferentemente vos lembrais de pedir é o bom êxito para os vossos empreendimentos terrenos e haveis com freqüência exclamado: ‘Deus não se ocupa conosco; se se ocupasse, não se verificariam tantas injustiças.’ Insensatos! Ingratos! Se descêsseis ao fundo da vossa consciência, quase sempre depararíeis, em vós mesmos, com o ponto de partida dos males de que vos queixais. Pedi, pois, antes de tudo, que vos possais melhorar e vereis que torrente de graças e de consolações se derramará sobre vós.”

1. KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 2ª ed. de bolso. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1999.
2. XAVIER, Francisco Cândido. “Entre a Terra e o Céu”. 17ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1997. Cap. 1.
3. PERALVA, Martins. “Estudando a Mediunidade”. 12ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1987. Cap. 33.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Fluido Universal

“O vácuo absoluto existe em alguma parte no Espaço universal?
‘Não, não há o vácuo. O que te parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos.’” (“O Livro dos Espíritos”, questão 36)

O fluido universal, também referido por fluido cósmico, é a matéria elementar primitiva. Na obra “Evolução em Dois Mundos” [1], André Luiz assim discorre a seu respeito:
“O fluido cósmico é o plasma divino, hausto do Criador ou força nervosa do Todo-Sábio. (...) na essência, toda a matéria é energia tornada visível e que toda a energia, originariamente, é força divina de que nos apropriamos para interpor os nossos propósitos aos propósitos da Criação, cujas leis nos conservam e prestigiam o bem praticado, constrangendo-nos a transformar o mal de nossa autoria no bem que devemos realizar, porque o Bem de Todos é o seu Eterno Princípio. Compete-nos, pois, anotar que o fluido cósmico ou plasma divino é a força em que todos vivemos, nos ângulos variados da Natureza, motivo pelo qual já se afirmou, e com toda a razão, que ‘em Deus nos movemos e existimos’” (Paulo de Tarso, em Atos 17:28).
Tudo o que existe de matéria, ponderável e imponderável — ou seja, a matéria que forma nossos corpos densos e perispirituais —, é originário do Fluido Universal. Considerando matéria como energia tornada visível, também segundo o mesmo autor e obra acima citados, entende-se que toda energia também advém do Fluido Universal. O Princípio Inteligente, outra criação divina, se utiliza de todas essas formas de energia para se manifestar; não é o Princípio Material, mas faz uso deste.

Como antenas emissoras e receptoras de radiofrequência, emitimos e recebemos pensamentos constantemente. Nossos pensamentos, como energia que são, se propagam por meio do fluido universal, razão pela qual Espíritos podem “ouvir” nossos pensamentos e se afinizar com os mesmos, independente de qualquer conotação de mediunidade ostensiva.

Na obra “A Gênese”, encontramos diversas explanações acerca do fluido universal, como, por exemplo:
“Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os corpos. Esse fluido é o éter ou matéria cósmica primitiva, geradora do mundo e dos seres. São-lhe inerentes as forças que presidiram às metamorfoses da matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo.” [2]
“A matéria cósmica primitiva continha os elementos materiais, fluídicos e vitais de todos os universos que estadeiam suas magnificências diante da eternidade. Ela é a mãe fecunda de todas as coisas, a primeira avó e, sobretudo, a eterna geratriz. Absolutamente não desapareceu essa substância donde provêm as esferas siderais; não morreu essa potência, pois que ainda, incessantemente, dá à luz novas criações e incessantemente recebe, reconstituídos, os princípios dos mundos que se apagam do livro eterno. A substância etérea, mais ou menos rarefeita, que se difunde pelos espaços interplanetários; esse fluido cósmico que enche o mundo, mais ou menos rarefeito, nas regiões imensas, opulentas de aglomerações de estrelas; mais ou menos condensado onde o céu astral ainda não brilha; mais ou menos modificado por diversas combinações, de acordo com as localidades da extensão, nada mais é do que a substância primitiva onde residem as forças universais, donde a Natureza há tirado todas as coisas. [3]
Pesquisas científicas do final do século XX e primeira década do século XXI indicam que o Universo não é dotado de vácuo, ou seja, não é vazio, em lugar algum. Também se constatou que uma radiação de fundo, existente desde a formação do Universo, está presente em cada canto deste. Foi descoberta uma forma de energia ainda não detectável fisicamente, porém com sua influência verificável de forma teórica e prática. Esta se denomina energia escura. Em nossa interpretação, a partir das constatações de diversos artigos científicos, a energia escura pode ser um componente do fluido universal ainda em seu estado primitivo, ou seja, não transformado em outras formas de energia e matéria.

Vejamos alguns trechos de publicações científicas baseadas em medições de sondas espaciais como WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe) e COBE (Cosmic Background Explorer). Verifica-se, em artigos como os abaixo, que cientistas constatam uma ordem perfeita na distribuição de massa e energia em cada etapa da existência do Universo, incompatível com uma formação “ao acaso”. De fato, uma Inteligência Superior preside a tudo.
“(...) o universo realmente é repleto de uma radiação em microondas (se os nossos olhos fossem sensíveis a essa radiação, veríamos um brilho difuso no espaço à nossa volta) cuja temperatura é de aproximadamente 2,7 graus acima do zero absoluto, o que coincide exatamente com a expectativa da teoria do big-bang. Em termos concretos, em cada metro cúbico do universo — inclusive esse em que você está — existem em média 400 milhões de fótons que compõem coletivamente o vasto mar cósmico da radiação em microondas, o eco da criação.” [4]
“Energia escura: essa é uma forma verdadeiramente estranha de matéria, ou talvez uma propriedade do próprio vácuo, que é caracterizada por uma grande pressão negativa. Esta é a única forma de matéria que pode fazer a expansão do universo acelerar.” [5]

“WMAP mede a composição do universo. A composição varia conforme o universo expande: a matéria escura e átomos tornam-se menos densos à medida que o universo expande (...). Parece que a densidade de energia escura não diminui de forma alguma, então ela agora domina o universo ainda que tivesse uma minúscula contribuição há 13,7 bilhões de anos.” [6]

“(...) WMAP confirmou a existência de uma energia escura que age como uma antigravidade, levando o universo a acelerar sua expansão. Se a energia escura tivesse dominado mais cedo, o universo teria expandido rápido demais para comportar o desenvolvimento de vida. Nosso universo aparenta ter o princípio de Goldilocks [da fábula “Cachinhos Dourados e os Três Ursos”]: nada demais e nada de menos — exatamente a massa e energia suficientes para comportar o desenvolvimento de vida.” [7]

“(...) a densidade de energia do vácuo permanece constante mas a energia total do vácuo cresce conforme o universo cresce (expande). Esta energia adicional provém da energia potencial gravitacional do universo. (...) se a densidade de energia escura mudou, não pode consistir de energia do vácuo. Para solucionar este problema, Robert R Caldwell, Paul J Steinhardt e Rahul Dave, em 1998, propuseram a quintessência: (...) uma forma de energia dinâmica, que evolui com o tempo e depende do espaço, com pressão negativa o suficiente para acelerar a expansão do universo. (...) O nome provém da ideia de um 5º elemento como um tipo especial de matéria que preenche o cosmos introduzida pelos gregos. Na cosmologia aristotélica, por exemplo, o universo seria finito, estático e formado por cinco elementos primordiais: água, ar, terra, fogo e quintessência.” [8]
Graduação colorida de temperaturas do Universo, na faixa de ±200 μK (-273,1498°C a -273,1502°C), ao longo de 13,7 bilhões de anos. Fonte: NASA / WMAP Science Team

Allan Kardec apresentou, aos Espíritos da falange do Consolador, diversas questões acerca de tal fluido. Vejamos alguns exemplos.
Será o fluido universal uma emanação da divindade?
‘Não.’
Será uma criação da divindade?
‘Tudo é criado, exceto Deus.’
O fluido universal será ao mesmo tempo o elemento universal?
‘Sim, é o princípio elementar de todas as coisas.’
(...)
Já disseram que o fluido universal é a fonte da vida. Será ao mesmo tempo a fonte da inteligência?
‘Não, esse fluido apenas anima a matéria.’
Pois que é desse fluido que se compõe o perispírito, parece que, neste, ele se acha num como estado de condensação, que o aproxima, até certo ponto, da matéria propriamente dita?
‘Até certo ponto, como dizes, porquanto não tem todas as propriedades da matéria. É mais ou menos condensado, conforme os mundos.’
Como pode um Espírito produzir o movimento de um corpo sólido?
‘Combinando uma parte do fluido universal com o fluido, próprio àquele efeito, que o médium emite.’” [9]

Será o fluido universal o veículo do pensamento, como o ar o é do som?
‘Sim, com a diferença de que o som não pode fazer-se ouvir senão dentro de um espaço muito limitado, enquanto que o pensamento alcança o infinito. O Espírito, no Além, é como o viajante que, em meio de vasta planície, ouvindo pronunciar o seu nome, se dirige para o lado de onde o chamam.’” [10]

Como se comunicam entre si os Espíritos?
‘Eles se veem e se compreendem. A palavra é material: é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veiculo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro.’” [11]

De onde tira o Espírito o seu invólucro semimaterial?
‘Do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.’
a) — Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um perispírito mais grosseiro?
‘É necessário que se revistam da vossa matéria, já o dissemos.’” [12]
Ponderando sobre as orientações acima, dentre outras, Kardec assim conclui a respeito do elemento que forma os corpos densos e semimateriais:
“O fluido cósmico universal é, como já foi demonstrado, a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza (Cap. X). Como princípio elementar do Universo, ele assume dois estados distintos: o de eterização ou imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal, e o de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, consecutivo àquele. O ponto intermédio é o da transformação do fluido em matéria tangível. Mas, ainda aí, não há transição brusca, porquanto podem considerar-se os nossos fluidos imponderáveis como termo médio entre os dois estados.” [13]
“(...) O corpo perispiritual e o corpo humano têm, pois, sua fonte no mesmo fluido; um e outro são matéria, conquanto em dois estados diferentes. Assim, tivemos razão de dizer que o perispírito é da mesma natureza e da mesma origem que a mais grosseira matéria. Como se vê, nada há de sobrenatural, já que o perispírito se liga, por seu princípio, às coisas da Natureza, das quais não passa de uma variedade.
Sendo o fluido universal o princípio de todos os corpos da Natureza, animados e inanimados e, por conseguinte, da terra, das pedras, razão tinha Moisés quando disse: “Deus formou o corpo do homem do limo da terra.” [Gênesis 02:07] Isto não quer dizer que Deus tomou terra, petrificou-a e com ela modelou o corpo do homem, como se modela uma estátua com argila e como acreditaram os que tomam as palavras bíblicas ao pé da letra; mas, sim, que o corpo era formado dos mesmos princípios ou elementos que o limo da terra.
Moisés acrescenta: “E lhe deu uma alma vivente, feita à sua semelhança.” [Gênesis 05:01] Ele faz, assim, uma distinção entre a alma e o corpo; indica que ela é de natureza diferente, que não é matéria, mas espiritual e imaterial como Deus. Diz: uma alma vivente, para especificar que nela só está o princípio da vida, ao passo que o corpo, formado da matéria, por si mesmo não vive. Estas palavras: à sua semelhança, implicam uma similitude e não uma identidade. Se Moisés houvesse considerado a alma como uma porção da Divindade, teria dito: Deus o anima dando-lhe uma alma tirada de sua própria substância, como disse que o corpo tinha sido tirado da terra.
Estas reflexões são uma resposta às pessoas que acusam o Espiritismo de materializar a alma, porque lhe dá um envoltório semimaterial.” [14]
Outra função do fluido universal é a de veículo do pensamento. Compreendendo tal propriedade, a prece deixa de ser ritual místico e se torna mecanismo lógico de comunicação, como pontua o Codificador da Doutrina Espírita a seguir:
“O Espiritismo torna compreensível a ação da prece, explicando o modo de transmissão do pensamento, quer no caso em que o ser a quem oramos acuda ao nosso apelo, quer no em que apenas lhe chegue o nosso pensamento. Para apreendermos o que ocorre em tal circunstância, precisamos conceber mergulhados no fluido universal, que ocupa o espaço, todos os seres, encarnados e desencarnados, tal qual nos achamos, neste mundo, dentro da atmosfera. Esse fluido recebe da vontade uma impulsão; ele é o veículo do pensamento, como o ar o é do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito. Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, que relações se estabelecem a distância entre encarnados.
Essa explicação vai, sobretudo, com vistas aos que não compreendem a utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas tornar-lhe inteligíveis os efeitos, mostrando que pode exercer ação direta e efetiva. Nem por isso deixa essa ação de estar subordinada à vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas, único apto a torná-la eficaz.” [15]

O entendimento de que tudo, mundos e criaturas, provêm do mesmo Criador, nos traz a noção de todos sermos irmãos. A compreensão de que, na totalidade do universo, estamos imersos no mesmo fluido universal, interligando tudo e todos, faz perceber que somos irmãos muito próximos, estejamos em lados opostos da Terra ou em mundos sitos a milhões de anos-luz de distância do planeta que ora habitamos.

O que pensamos, dizemos e fazemos, ecoa por todos os mundos; influi nessa teia energética que a todos interconecta e, portanto, faz toda a diferença. Nossa escolha por vencer nossas más tendências, traduzidas por ações em prol do Bem do próximo, irradia vibrações de frequências mais elevadas — e, portanto, de maior energia — nesse fluido. Evolui a atmosfera psíquica ao nosso redor e, por extensão, do próprio Universo. Eis o nosso compromisso.


Referências:
[1] XAVIER, Francisco Cândido. “Evolução em Dois Mundos”. Pelo Espírito André Luiz. 14ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1995. Primeira Parte. Capítulo 1.
[2] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo VI, item 10.
[3] Ibidem, item 17.
[4] GREENE, Brian. “O universo elegante: supercordas, dimensões ocultas e a busca da teoria definitiva”. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2001. Capítulo 14. “O Teste do Big-Bang”.
[5] National Aeronautics and Space Administration (NASA). “Cosmology: The Study of the Universe”. Publicado em 19 de outubro de 2009. Disponível em http://wmap.gsfc.nasa.gov/universe/WMAP_Universe.pdf. Acesso em 03/08/2010.
[6] NASA/WMAP Science Team. “Content of the Universe”. Publicado em 07 de março de 2008. Disponível em http://wmap.gsfc.nasa.gov/news/5yr_release.html. Acesso em 02/08/2010.
[7] National Aeronautics and Space Administration (NASA). “Understanding the Evolution of Life in the Universe”. Disponível em http://map.gsfc.nasa.gov/universe/uni_life.html. Acesso em 02/08/2010.
[8] BERGMANN, Thaisa Storchi. “Constante Cosmológica”. Departamento de Astronomia. Instituto de Física. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Disponível em http://www.if.ufrgs.br/~thaisa/cosmologia/Constante_Cosmologica1.htm. Acesso em 02/08/2010.
[9] KARDEC, Allan. "O Livro dos Médiuns". 55ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Segunda Parte, Capítulo IV, item 74, questões I, II, III, VI, VII e VIII.
[10] Ibidem, Capítulo XXV, item 282, questão 5ª-a.
[11] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 282.
[12] Ibidem, Questão 94.
[13] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo XIV, item 2
[14] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de março de 1866”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “Introdução ao Estudo dos Fluidos Espirituais”, Item VII.
[15] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XXVII, item 10.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Família Espiritual

Nosso núcleo familiar consanguíneo é o primeiro agrupamento em que nos compete fazer o Bem. Mas não é o único, pois nossa família é a Humanidade inteira.
O Dicionário Aurélio define que família diz respeito a laços de parentesco. Contudo, não restringe o conceito a este tipo de afinidade: estipula que, por extensão, família significa “grupo de indivíduos que professam o mesmo credo, têm os mesmos interesses, a mesma profissão, são do mesmo lugar de origem etc.” [1].

Jesus explica o conceito de família espiritual na passagem do Evangelho de Mateus, capítulo 12, versículos 46 a 50:
“Enquanto ele ainda falava à multidão, a mãe e os irmãos dele estavam de fora, procurando falar-lhe. E alguém disse-lhe: ‘olha, tua mãe e teus irmãos estão lá fora e procuram falar-te’. Mas ele respondeu ao que lhe falava: ‘quem é minha mãe e quem são meus irmãos’? E estendendo a mão para seus discípulos, disse: ‘Eis minha mãe e meus irmãos; porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe!’”
Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, no Capítulo XIV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, assim analisa esta passagem evangélica:
“Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação. Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem então atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos, ao passo que dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, conforme se observa todos os dias: problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências. (Cap. IV, nº 13.)
Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. Duráveis, as primeiras se fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma; as segundas, frágeis como a matéria, se extinguem com o tempo e muitas vezes se dissolvem moralmente, já na existência atual. Foi o que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: Aqui estão minha mãe e meus irmãos pelos laços do Espírito, pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” [2]
Carlos Torres Pastorino, analisando o versículo 46 do capítulo 12 do Evangelho segundo Mateus (“Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?”), pondera:
“A pergunta, aparentemente desrespeitosa para com Sua mãe, vem demonstrar que Jesus, em Sua missão, não está preso pelos laços sanguíneos, tão frágeis que só vigoram numa dada encarnação. A família espiritual é muito mais sólida, pois os vínculos são espirituais (sintônicos) e não materiais (sangue e células perecíveis). Jesus não pode subordinar-se às exigências do parentesco terreno, mesmo em se tratando de Sua mãe. Com o olhar benévolo sobre os que O rodeavam, Jesus lança Sua doutrina nítida: o ideal é superior aos laços de sangue; a família espiritual é mais importante que a natural e sobreleva a ela.” [3]
Kardec, no mesmo diapasão, esclarece, no item 18 do Capítulo IV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:
“No espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçados pela afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações. Ditosos por se encontrarem juntos, esses Espíritos se buscam uns aos outros. (...) Se uns encarnam e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento.” [4]
Na obra “Entre a Terra e o Céu”, Clarêncio orienta:
“A família espiritual é uma constelação de Inteligências, cujos membros estão na Terra e nos Céus. Aquele que já pode ver mais um pouco auxilia a visão daquele que ainda se encontra em luta por desvencilhar-se da própria cegueira. Todos nós, por mais baixo nos revelemos na escala da evolução, possuímos, não longe de nós, alguém que nos ama a impelir-nos para a elevação. Isso podemos verificar nos círculos da matéria mais densa. Temos constantemente corações que nos devotam estima e se consagram ao nosso bem.” [5]



Naturalmente, essas passagens não nos devem jamais levar à conclusão de que a família em que ora encarnamos é de pouca importância. Não nascemos por acaso ou acidente em nenhum círculo familiar. Há pessoas que, em momentos de rebeldia, afirmam que “não pediram para nascer”. Contudo, ainda que não nos lembremos, a maioria da Humanidade terrestre pede novas chances de aprendizado e reparação, dentro de nossas possibilidades de maturidade moral e intelectual. Nascemos onde, quando e com quem precisávamos, como lemos, por exemplo, nas respostas às questões 184, 269, 334, 335, 338, 393, 572, 574, 950 e 986 de “O Livro dos Espíritos”.

Portanto, temos, sim, de investir nosso melhor em nossa família consanguínea, pois certamente temos muito a aprender e muito bem a fazer a esses Espíritos. A lição trazida na passagem evangélica acima citada é que fazemos parte da família das Humanidades, não só de toda a Terra, mas de todo o Universo — e temos o dever de fazer o Bem a todos, a começar pela família que temos em casa, mas não restritos a ela. O Espírito Galileu corrobora essa ideia, no Capítulo VI de “A Gênese”:
“Uma mesma família humana foi criada na universalidade dos mundos e os laços de uma fraternidade que ainda não sabeis apreciar foram postos a esses mundos. Se os astros que se harmonizam em seus vastos sistemas são habitados por inteligências, não o são por seres desconhecidos uns dos outros, mas, ao contrário, por seres que trazem marcado na fronte o mesmo destino, que se hão de encontrar temporariamente, segundo suas funções de vida, e encontrar de novo, segundo suas mútuas simpatias. É a grande família dos Espíritos que povoam as terras celestes; é a grande irradiação do Espírito divino que abrange a extensão dos céus e que permanece como tipo primitivo e final da perfeição espiritual.” [6]
Espíritos de maior elevação moral e intelectual, os quais, por seu empenho no Bem, atingem o direito de viver em mundos mais felizes, não desfazem seus laços de afeição a quem amam e que, temporariamente, seguem vivendo na Terra ou em outros mundos de Espíritos em etapas evolutivas anteriores. Observemos o exemplo do Espírito denominado Samuel Filipe, pessoa sempre empenhada em fazer o melhor por seu semelhante, o que o qualificou a fazer uma transição tranquila para o mundo espiritual. Questionado sobre o local onde habitara quando evocado e sobre sua lembrança de seus entes queridos, assim argumentou:
“P. Esse mundo tão novo e comparado ao qual nada vale o nosso, bem como os numerosos amigos que nele reencontrastes, fizeram-vos esquecer a família e amigos encarnados?
— R. Se os tivesse esquecido seria indigno da felicidade de que gozo. Deus não recompensa o egoísmo, pune-o. O mundo em que me vejo pode fazer com que desdenhe a Terra, mas não os Espíritos nela encarnados. Somente entre os homens é que a prosperidade faz esquecer os companheiros de infortúnio. Muitas vezes venho visitar os que me são caros, exultando com a recordação que de mim guardaram; assisto às suas diversões, e, atraído por seus pensamentos, gozo se gozam ou sofro se sofrem.” [7]
A Terra, apesar de ainda estar longe da condição de mundo feliz, vem demonstrando constante evolução. Kardec comenta a esse respeito em “A Gênese”, lançado em 06 de janeiro de 1868, já observando, há quase 143 anos, movimentos mais comumente divulgados nos dias atuais:
“Hoje, a Humanidade está madura para lançar o olhar a alturas que nunca tentou divisar, a fim de nutrir-se de ideias mais amplas e compreender o que antes não compreendia. (...)
Essa fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de reformas úteis e que começam a encontrar eco. Assim é que vemos fundar-se uma imensidade de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o influxo e por iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração; que as leis penais se vão apresentando dia a dia impregnadas de sentimentos mais humanos. Enfraquecem-se os preconceitos de raça, os povos entram a considerar-se membros de uma grande família; pela uniformidade e facilidade dos meios de realizarem suas transações, eles suprimem as barreiras que os separavam e de todos os pontos do mundo reúnem-se em comícios universais, para as justas pacíficas da inteligência.
Falta, porém, a essas reformas uma base que permita se desenvolvam, completem e consolidem; falta uma predisposição moral mais generalizada, para fazer que elas frutifiquem e que as massas as acolham. Ainda aí há um sinal característico da época, porque há o prelúdio do que se efetuará em mais larga escala, à proporção que o terreno se for tornando mais favorável.” [8]
Ao estudarmos as palavras de Jesus, assim como analisando, pela História, a redução das fronteiras entre os povos, bem como estudando, pela Física, a interligação de todos pelo Fluido Universal, sempre chegamos à mesma conclusão: todos somos filhos do mesmo Criador, e, portanto, uma única família, à qual nos compete auxiliar levando todo o Bem que sabemos praticar, e aprendendo para praticar todo o Bem que ainda nos caiba aprender.

Referências:

[1] HOLANDA, Aurélio Buarque de. “Novo Dicionário Eletrônico Aurélio”. Versão 5.0 de 2004. Positivo Informática. Família.
[2] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XIV, item 8.
[3] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 3. A Família de Jesus.
[4] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo IV, item 18.
[5] XAVIER, Francisco Cândido. “Entre a Terra e o Céu”. 17.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1997. Cap. 33.
[6] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo VI, item 56.
[7] KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno”. 37.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Segunda parte, Capítulo II. Samuel Filipe.
[8] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo XVIII, itens 20 e 21.

domingo, 25 de dezembro de 2016

A Prova da Escolha das Provas

Se, por um lado, há Espíritos que escolhem como prova estar em contato com seus maus hábitos para superá-los, não há outros que desejam estar em contato com eles para continuar a fruí-los? Eis o que Allan Kardec pergunta à Espiritualidade Superior à questão 265 de “O Livro dos Espíritos”[1]:
Havendo Espíritos que, por provação, escolhem o contato do vício, outros não haverá que o busquem por simpatia e pelo desejo de viverem num meio conforme aos seus gostos, ou para poderem entregar-se materialmente a seus pendores materiais?

Necessitamos analisar não apenas as respostas às questões propostas por Kardec, mas também estudar em profundidade as perguntas.

Allan Kardec propõe mais uma questão interessante aos Espíritos Superiores, no capítulo da escolha das provas.

O Codificador considera inicialmente que há Espíritos que escolhem o contato do vício como sendo uma provação, para que esses Espíritos, defrontando seus maus hábitos, demonstrem que podem superá-los, transformando-se em Espíritos melhores. Lemos, às questões 644 e 645 de “O Livro dos Espíritos” [2], que muitos Espíritos escolhem reencarnar expostos às suas más tendências e, amparados pelo Alto — como sempre todos somos amparados — e sintonizando com esse amparo, demonstram, por essa prova, terem superado sua má tendência, seu vício, seu hábito mundano. Isso é vencer o mundo, como Jesus nos recomendou:
“Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo.” (João 16:33)

Por outro lado, Kardec indaga se não há outros Espíritos que buscam este tipo de provação imbuídos de outra intenção que não a de superação, mas sim a de viverem em um meio que seja conforme seus gostos, para se entregarem aos seus pendores, às suas tendências ainda ligadas ao plano material.

Analisemos, ainda, a que Kardec se refere quando aborda o “contato com o vício”. Em francês, o termo “vício” não é utilizado principalmente para referir dependência de drogas. No idioma original das Obras Básicas, vício designa principalmente a “disposição a fazer o mal” [3]. Mesmo no idioma português, é importante considerar que o termo vício é amplo e não apenas restrito aos vícios comumente conhecidos, como vício em álcool ou outras drogas lícitas ou ilícitas. Vício, na definição léxica, consiste em defeito ou imperfeição, hábito inveterado.

Há também referência, na Codificação, a vícios, segundo a acepção de hábitos que destroem o corpo físico. Lemos, à questão 952 de “O Livro dos Espíritos” [4], que isso é considerado, pela Espiritualidade, como um “suicídio moral”, decorrente da falta de coragem e do esquecimento de Deus.

Assim, são exemplos de vícios: o egoísmo, o orgulho, a maledicência, a rebeldia, a queixa, tudo enfim que não constitui os caracteres do homem de bem. Ilustra-se claramente o uso dessa acepção da palavra vício à questão 913 de “O Livro dos Espíritos”:
Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? ‘Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. (...)’” [5]

Dispondo desse entendimento sobre a questão do contato com os vícios, analisemos a resposta à questão 265:
“Há, sem dúvida, mas tão-somente entre aqueles cujo senso moral ainda está pouco desenvolvido. A prova vem por si mesma e eles a sofrem mais demoradamente. Cedo ou tarde, compreendem que a satisfação de suas paixões brutais lhes acarretou deploráveis consequências, que eles sofrerão durante um tempo que lhes parecerá eterno. E Deus os deixará nessa persuasão, até que se tornem conscientes da falta em que incorreram e peçam, por impulso próprio, lhes seja concedido resgatá-la, mediante úteis provações.” [1]

Percebemos que a própria escolha das provas pelas quais o Espírito passará em sua futura encarnação já constitui uma prova em si: pelas suas escolhas o Espírito demonstra a sua maturidade, o seu grau de progresso, a sua compreensão da vida, bem como o conhecimento que já adquiriu de si mesmo.

Aqueles que, como no segundo caso considerado pelo Codificador, desejam estar em contato com o vício para perpetuá-lo, demonstram que são imaturos espiritualmente. São como crianças que não sabem escolher o que seja melhor para si, simplesmente escolhem aquilo que lhes satisfaz momentaneamente, mas que pode trazer prejuízo a longo ou mesmo médio prazo.

Os Espíritos respondem que realmente há aqueles que assim procedem. E esclarecem que "a prova vem por si mesma e eles a sofrem mais demoradamente". Como um mau hábito gera consequências negativas, esses Espíritos terão de suportá-las. E até quando isso ocorrerá? Até que esses Espíritos despertem, percebam que essa escolha não é a melhor para eles e desejem mudar. Deus permite que isso ocorra porque Ele não viola o nosso livre-arbítrio, permitindo que tenhamos a liberdade de escolher nossos caminhos e façamos escolhas conscientes.

Às questões 264 e 265 de “O Livro dos Espíritos” [6], lemos que a natureza de nossos pontos fracos determina as provas que escolheremos. Porém, sabemos, pela orientação constante da questão 393, que Espíritos mais desenvolvidos atuam em nossa programação [7]. Nada do que pensamos fica oculto a Espíritos mais evoluídos. É possível que o reencarnante almeje contato com suas más tendências com a finalidade de fruí-las, e enfrentará as más consequências disso até cansar-se de sofrer. Kardec nos orienta em “A Gênese”, capítulo III, item 7:
“(...) Deus, todo bondade, pôs o remédio ao lado do mal, isto é, faz que do próprio mal saia o remédio. Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida. Instruído pela experiência, ele se sente compelido a procurar no bem o remédio, sempre por efeito do seu livre-arbítrio. (...)” [8]

Nem que seja para “cansarmos do erro”, ou seja, nos tornarmos conscientes de ser esse um caminho inadequado, essa temporária insistência em uma má conduta servirá — e a Espiritualidade Superior sabe disso.

Importante destacarmos que nosso livre-arbítrio está em desenvolvimento; não é ainda pleno [9]. Por isso, nem nossa escolha no mal é feita sem que Deus imponha limites razoáveis. Além disso, não precisamos cometer todos os erros para só então fugirmos deles; lembremos a questão 120 de “O Livro dos Espíritos”:
Todos os Espíritos passam pela fieira do mal para chegar ao bem? ‘Pela fieira do mal, não; pela fieira da ignorância.’” [10]

À questão 470 de “O Livro dos Espíritos”, concluímos que ninguém reencarna com a programação de fazer o mal [11]. Isso seria incoerente com a bondade e justiça de Deus; Ele sempre nos oferece oportunidades de fazer o bem. Kardec nos orienta, no item 872 (“Resumo teórico do móvel das ações humanas”) de “O Livro dos Espíritos”:
“(...) O homem não é fatalmente levado ao mal; os atos que pratica não foram previamente determinados; os crimes que comete não resultam de uma sentença do destino. Ele pode, por prova e por expiação, escolher uma existência em que seja arrastado ao crime, quer pelo meio onde se ache colocado, quer pelas circunstâncias que sobrevenham, mas será sempre livre de agir ou não agir. (...)” [12]

Referências:
[1] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 265.
[2] Ibidem. Questões 644 e 645.
[3] Le Dictionnaire. Palavra vice. Disponível em http://www.le-dictionnaire.com/definition.php?mot=vice. Acesso em 09 de março de 2012.
[4] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 952.
[5] Ibidem. Questão 913.
[6] Ibidem. Questão 264.
[7] Ibidem. Questão 393.
[8] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ, FEB. 1991. Capítulo III, item 7.
[9] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 262.
[10] Ibidem. Questão 120.
[11] Ibidem. Questão 470.
[12] Ibidem. Item 872.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Programa Evolutivo

O delinquente primário, diante das leis humanas, não raro, tem o direito de responder ao processo em clima de liberdade, e, mesmo quando condenado, faz jus a vários recursos que lhe amenizam a pena.
O criminoso renitente, pela circunstância da conduta, encontra-se incurso nas penalidades severas e experimentará o isolamento em educandários de segurança, não fruindo de maior consideração...
Assim também ocorre com o Espírito.
Quando os seus erros e delitos são de pequena monta, reencarna-se sob provações reparadoras, enfrentando as disciplinas que o reeducarão, para depois gozar de paz e liberdade.
Os calcetas e empedernidos, os refratários ao amor e os que se arrojaram aos despenhadeiros do suicídio, do homicídio, recomeçam, na Terra, encarcerados nas expiações lenificadoras...


A provação é oportunidade para o Espírito renovar-se.
A expiação constitui-lhe corretivo severo.
Provado, o Espírito se sente estimulado a conquistas novas, enquanto resgata os débitos anteriores.
Expiando, recupera-se e aprende, sem outra alternativa, enjaulado no processo de depuração.
A provação é solicitada.
A expiação é imposta.
Na primeira, há liberdade de ação; na segunda, desaparece a livre opção, ante o impositivo estabelecido.



Sob prova ou expiação, estás colocado no dispositivo da evolução, de que necessitas, e que é melhor para o teu progresso.
Aplica a razão e o sentimento lúcidos nesse programa evolutivo e ergue-te, da posição em que te encontres, alcançando o triunfo da tua reencarnação.

Joanna de Ângelis