sábado, 17 de dezembro de 2016

Influência do Meio

Allan Kardec, o Codificador das obras que compõem a Doutrina Espírita, aborda a questão da influência do meio no capítulo XXI de “O Livro dos Médiuns” [1]. Neste capítulo, porém, Kardec não restringe a influência energética do meio a quem possua capacidade ostensiva de percepção de mensagens de planos existenciais diferentes do em que se vive. Em nossa casa, em nossos ambientes de trabalho, estudo ou lazer, somos sempre influenciados e influenciamos a atmosfera — e não estamos simplesmente à mercê de influências alheias à nossa vontade, mas sempre de acordo com o que pensamos, dizemos ou fazemos.

Podemos traduzir meio, no contexto em estudo, como a esfera social ou profissional onde se vive ou trabalha; ambiente; círculo. [2]

No idioma original da Codificação Espírita, o francês [3], o capítulo XXI de “O Livro dos Médiuns” intitulado “Da Influência do Meio” é escrito como “Influence du Milieu”. A fim de verificar se a acepção da palavra “milieu”, traduzida literalmente como meio, era a mesma utilizada hoje, analisamos trechos de “A Revista Espírita” em francês, buscando encontrar o referido verbete. Entendimentos diferentes de palavras levam a conclusões muito distorcidas, como sói ocorrer com diversas traduções divergentes da Bíblia. Felizmente, neste caso, o entendimento do termo é o mesmo, como encontramos nos exemplos abaixo (os grifos são nossos):
“(...) les rayons fluidiques se dispersent, s'absorbent par le milieu ambiant (...)” traduzido como “(...) os raios fluídicos se dispersam e são absorvidos pelo meio (...)” [4]

“(...) il revienne à Paris, il s'y trouvera dans un milieu tout autre que la première fois et qui devra lui paraître nouveau (...)” traduzido como “(...) retorna a Paris e se encontra num meio completamente diverso do da primeira vez, e que lhe parecerá novo. (...)” [5]

Depreendemos que o meio abrange:
  • A atmosfera energética das pessoas, encarnadas ou desencarnadas, foco do capítulo XXI de “O Livro dos Médiuns”;
  • O ambiente, composto pelas matérias densa e quintessenciada, onde o fenômeno em estudo ocorre, foco de diversas obras subsidiárias, nas quais destacamos “Missionários da Luz”, “Nos domínios da Mediunidade” e “Obreiros da Vida Eterna” de André Luiz, recebidas pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier.

Kardec pontua, no referido capítulo de “O Livro dos Médiuns”, que é um erro acreditar que é necessário ter e exercer a capacidade ostensiva de comunicação com Espíritos para atraí-los. Em suas palavras e com seus próprios grifos, “Assim, onde quer que haja uma reunião de homens, há igualmente em torno deles uma assembleia oculta, que simpatiza com suas qualidades ou com seus defeitos, feita abstração completa de toda ideia de evocação.” [6]

O que pensamos, dizemos e fazemos atrai nossas companhias, sejam elas visíveis ou não. O apóstolo Paulo já nos havia alertado a respeito em sua carta aos seus patrícios hebreus, nos convidando a nos manter no caminho do Bem: “Portanto também nós, visto que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, pondo de lado todo o impedimento, e o erro que se nos apega, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta” (Paulo aos Hebreus 12:01)


O ambiente onde se realizam as atividades também é objeto de cuidados pelos Espíritos. A assepsia energética é condição importante para a realização de uma reunião nobre, tanto quanto a assepsia física do campo, seja esta reunião uma cirurgia, uma aula de alfabetização, um seminário científico, uma reunião de planejamento estratégico de uma empresa ou uma sessão mediúnica em um Centro Espírita. Independente de divergências, simpatias ou antipatias, levemos a nossos encontros o que de melhor podemos oferecer, pois somos corresponsáveis pela atmosfera que influiu nas decisões e resultados ocorridos em tais eventos.

Cuidemos, portanto, de nossos pensamentos, palavras e ações. Estes três determinarão que companhia teremos, as quais reforçarão nossas decisões sobre o que pensar, dizer e decidir. Estas três escolhas nossas igualmente irão colaborar na assepsia ou contaminação dos ambientes que frequentarmos.

Referências:

[1] KARDEC, Allan. "O Livro dos Médiuns". 55ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987. Segunda Parte, capítulo XXI.
[2] HOLANDA, Aurélio Buarque de. “Novo Dicionário Eletrônico Aurélio”. Versão 5.0 de 2004. Positivo Informática. Meio.
[3] Centre Spirite Lyonnais Allan Kardec. “Téléchargements gratuits des ouvrages et des fascicules spirites”. Disponível em http://spirite.free.fr/. Acesso em 27/04/2010.
[4] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de janeiro de 1859”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ. FEB 2004. “Sr. Adrien, Médium Vidente”.
[5] Idem, “Revista Espírita de junho de 1860”. “Conversas Familiares de Além-Túmulo”.
[6] KARDEC, Allan. "O Livro dos Médiuns". 55ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987. Segunda Parte, capítulo XXI, item 232.

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