quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O Amor Nosso de Cada Dia



Por Nestor Fernandes Fidelis


Muitos de nós não podemos ouvir uma música romântica que já ficamos todos empolgados num conto de fadas. Aliás, músicas, cantores, conjuntos que na adolescência considerávamos como sendo o ápice do brega, já assumimos hoje, sem vergonha, que tocam nosso coração, como, por exemplo, as canções do Peninha, do Roberto Carlos (nosso rei), do Roupa Nova, etc.

O fato é que no mundo ocidental, principalmente para nós latinos, somos educados para aprender o apego e não o amor. Somos aqueles que nos apaixonamos com facilidade, e nos desapaixonamos com mais rapidez ainda. E quando isso acontece, nossa tendência emocional é ficar no mundo da ilusão, criando fantasias para nós e vivendo uma vida que não é real, numa busca constante por nova aventura fugaz, como fazem muitos artistas, que não se comprometem integralmente, apenas se envolvendo sensorialmente.

Muitas pessoas pensam que felicidade verdadeira é a paixão. A paixão é um sentimento importante, aproveitável para nos aproximarmo-nos na fase dos primeiros contatos com uma pessoa, ou com um grupo, com alguma instituição ou situação que servirão como instrumentos para o desenvolvimento do principal, que são as virtudes, sendo o amor a maior de todas. Todavia, quando quedamos fixados no sentimento transitório que é a paixão, estamos programando para nós, no exato momento, frustrações futuras ou imediatas. Corremos riscos desnecessários, portanto, todas as vezes que deixamos de olhar para nós mesmos e não nos empenhamos por fortalecer o amor em nossa intimidade.

Também não somos poucos os que, quando assistimos a alguns filmes, romances, comédias românticas, ficamos deliciando as cenas e nos colocando no lugar dos atores, os homens se vendo como os mocinhos, as mulheres se projetando como a bela atriz. E a história é, geralmente, a mesma. Possivelmente se trate de personagens de mundos diferentes, econômica ou socialmente. Ficam juntos, como que por coincidência... aquela paixão arrebatadora, uma mistura de atração e repulsa. Por um motivo qualquer, eles se afastam. E a história se desenrola de tal modo que, com muitas peripécias, no fim da película eles se reencontram e decidem que vale a pena viverem juntos, porque pensam que se amam, quando, em verdade, estão apenas se conhecendo, estão apaixonados, porque o amor é construído desafiadoramente pela convivência. Enfim, esses filmes nos fazem crer que os personagens “serão feliiiiizes para sempre”, porém, não passa para o expectador o restante dessa história. Não sabemos, por exemplo, como foi a vida da Cinderela com o príncipe. Conhecemos um belo princípio de história, quando o sapatinho de cristal coube em seu pé e o príncipe com ela decidiu se consorciar. Mas, e o dia-a-dia? E os momentos de rabugice dele? E as TPMs dela? E as dores das diferenças de personalidade que surgem em qualquer relacionamento interpessoal? E as doenças, às quais todos estamos suscetíveis? E o fim da beleza física? E eventuais crises financeiras? Vale a pena refletir.

Se pensarmos bem, aquele casal que admiramos, pois vivem como “pombinhos”, inobstante já serem casados há décadas, e que continuam gerando admiração em todos, este casal também passa por desafios constantes, muitos deles não expressados publicamente, pois são duas pessoas com qualidades já trabalhadas e outras tantas más inclinações por serem transmutadas, dois seres humanos com desejos individuais de cada um, porquanto o mito “alma gêmea” é muito bonito na letra da música do cantor que, por sinal, já se casou inúmeras vezes. Ora, somos convidados pela vida a desenvolver o amor verdadeiro por meio da convivência, pelos contatos, pelas discordâncias, concordâncias, consensos (quando cada um cede em seus posicionamentos mais rígidos), porque ninguém faz o amor acontecer de uma hora para outra. O amor é doce, o amor é sede, o amor é água, como diz Plínio de Oliveira.

Enfim, todas as vezes que ficamos idealizando o marido ideal, a namorada perfeita, deixaremos experimentar passar as oportunidades concedidas pela de sermos felizes da forma como é possível, nos aceitamos como somos, procurando ser pessoas melhores, mas também, conseguintemente, empenhados em aceitar o outro da forma como se apresenta, sem impor condição alguma, sem esperar reconhecimento de nossas atitudes, sem expectativa alguma, porque, se a busca de querer somente receber e ser amado revela um estado de infantilidade espiritual, a maturidade emocional surge quando usamos nosso tempo e nossas energias para amar, sem aguardar recompensa, amar pelo prazer de se entregar totalmente nas relações, fazendo uso da oração nos momentos das experiências desagradáveis, e sempre.


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