segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O valor do trabalho

 

Por Liana D` Menezes

Japão, 1982. Homem de 30 anos morre às quatro da manhã de ataque fulminante do coração dentro da fábrica de carros que trabalhava. Motivo: excesso de trabalho. A notícia que correu mundo naquele ano, também ganhou as páginas da Revista Veja no Brasil. Kenichi Uchino que há muito não sabia o que era estar com a família, trabalhou naquele mês, nada menos que 106 horas extras (a maior parte delas, não remuneradas). Exaurido pela mais valia, terminou sua existência carnal como manchete de jornal e um número a mais nas estatísticas que denunciam o desequilíbrio entre o ter e o ser. Uchino deixou esposa e dois filhos pequenos.
Na questão 674 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta aos benfeitores amigos se a necessidade do trabalho é uma Lei da Natureza. A resposta é clara: “O trabalho é uma lei da Natureza e por isso mesmo é uma necessidade. A civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque aumenta as suas necessidades e os seus prazeres”.
Mais adiante, na questão 683 indaga aos espíritos superiores, “Qual o limite do trabalho?” E a resposta mais uma vez esclarece: “O das forças. Em suma, a esse respeito Deus deixa inteiramente livre o homem”. E nós, nos obrigamos a trabalhar cada vez mais para atendermos às necessidades criadas pelas leis do capitalismo enquanto a Lei Divina nos propõe o trabalho com equilíbrio e com harmonia. Trabalho como fonte geradora de criação, força criativa de transformação e evolução. Parece simples entender que sendo o trabalho uma Lei Natural, natural também seria o descanso justo para quem trabalha como forma de refazimento das energias para novas jornadas que se apresentem. Mas ao contrário do que deveríamos fazer, nos deixamos subjugar pela sobrecarga, e não respeitamos nossos limites internos e externos. Assim continuamos a negligenciar a oportunidade de uma evolução mais centrada no aproveitamento das nossas escolhas, das nossas ações e até mesmo das provas e expiações.
O tempo urge e precisamos parar e ouvir, para entender o pulsar da Grande Transição. Resgatarmos em nós, a certeza de que o trabalho também nos confere uma identidade espiritual – “a cada um, segundo suas obras – (Paulo, Rom 2,6) “. Que o trabalho remunerado, aquele que permite o pão,  é apenas uma parte do que somos capazes de produzir. “O trabalho é uma instituição de Deus”, lembra-nos o espírito Memei, em mensagem psicografada pelo nosso Chico Xavier, no livro O Pão Nosso.
Mentora do médium e orador espírita Divaldo Franco, Joana de Angelis também nos fala do trabalho de forma sempre positiva. Propõe que busquemos o equilíbrio, a motivação para fazê-lo bem. “(...) sem ele tudo retornaria ao caos do princípio, e os objetivos superiores naufragariam no tédio e na ociosidade doentios. Renova nele colocando os teus melhores empenhos, de modo a te enriqueceres de justa gratificação emocional em relação ao teu maravilhoso meio de ganhar com nobreza o pão diário. O trabalho é dom da vida, que dignifica e mantém o homem”.

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