Na transição da vida corporal para a espiritual, produz-se um fenômeno de importância capital: a perturbação.
Nesse instante a alma experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as sensações, de modo que quase nunca testemunha conscientemente o derradeiro momento. Apenas em poucas situações pode a alma contemplar conscientemente o desprendimento.
A perturbação pode, pois, ser considerada o estado normal no instante da morte e perdurar por tempo indeterminado, variando de algumas horas a alguns anos.
Em algumas pessoas ela é de curtíssima duração, quase imperceptível, e nada tem de dolorosa, poderia ser comparada como um leve despertar.
Em outras pessoas, o estado de perturbação pode durar muitos anos, até séculos, e pode configurar um quadro de sofrimento severo, com angústia e temores acerbos.
Lembra Allan Kardec que no momento da morte tudo à princípio é confuso:
A alma necessita de algum tempo para se reconhecer; sente-se como atordoada, no mesmo estado de um homem que saísse de um sono profundo e procurasse compreender a situação.
A lucidez das ideias e a memória do passado voltam, lentamente, à medida que se extingue a influência da matéria e que se dissipa essa espécie de nevoeiro que lhe turva os pensamentos.
Essa perturbação pode apresentar características particulares, dependendo do caráter do indivíduo.
Muitos indivíduos não se identificam como desencarnados e continuam frequentando os ambientes tradicionais, sem se aperceberem da morte.
Outros, entram em quadro de loucura psíquica, perdendo a completa noção de tempo e de esforço com a desagregação de sua personalidade.
Alguns Espíritos mergulham em sono profundo e nesse estado ficam durante um tempo muito variável.
Um fenômeno que parece ser geral, e que ocorre neste período, é aquilo que os autores chamam de "Balanço existencial".
Os principais fatos da vida do desencarnante deslizam diante de sua mente, numa velocidade espantosa, e ele revê a si mesmo em quase todos os grandes lances de sua encarnação.
André Luiz afirma que tal mecanismo automático, é de importância no processo evolutivo do Espírito, pois vai imprimir magneticamente nas células do corpo espiritual as diretrizes a que estarão sujeitas, dentro do novo ciclo de evolução em que ingressam.
O estado de perturbação varia, imensamente, de pessoa para pessoa. Os fatores que vão influenciar na duração e na profundidade desse estado são:
Conhecimento do Mundo Espiritual:
Os Benfeitores Espirituais informam que o conhecimento do Espiritismo exerce uma grande influência sobre a duração maior ou menor da perturbação, pois o Espírito que tem informação precisa a respeito do mundo espiritual compreende antecipadamente a sua situação.
"O conhecimento que nos tiver sido possível adquirir das condições da vida futura exerce grande influência em nossos últimos momentos; dá-nos mais segurança; abrevia a separação da alma." Léon Denis.
Os extremos da vida são os períodos da existência em que o desencarne se processa, geralmente com maior facilidade.
Na criancinha, o processo encarnatório ainda não completou-se definitivamente, e no idoso, os laços que mantêm unidos o corpo espiritual ao corpo físico, estão mais frágeis, débeis, fáceis de serem rompidos.
A respeito do desencarne na infância Richard Simonetti diz:
"O desencarne na infância, mesmo em circunstâncias trágicas, é bem mais tranqüilo, porquanto nessa fase o Espírito permanece em estado de dormência e desperta lentamente para a existência espiritual.
Alheio às contingências humanas ele se exime de envolvimento com vícios e paixões que tanto comprometem a experiência física e dificultam um retorno equilibrado."
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