REDENÇÃO
O
mergulho de Jesus nos fluidos grosseiros do orbe terráqueo é a história
da redenção da própria humanidade, que sai das furnas do “eu” para os
altos píncaros da liberdade.
Vivendo
nos reinados de Augusto e Tibério, cujas vidas assinalaram com vigor
inusitado a História, o Seu berço e o Seu túmulo marcaram indelevelmente
o tempo, constituindo sinal divisório da Civilização, acontecimento
predominante nos fastos da vida humana.
Aceitando
como berço o reduto humílimo de uma estrebaria, no momento
significativo de um censo, elaborou, desde o primeiro momento, a
profunda lição da humildade para inaugurar um reinado diferente entre as
criaturas, no justo momento em que a supremacia da força entronizava o
gládio e a púrpura atapetava o solo, alcatifando o piso por onde
passavam os triunfadores.
E não se afastou, jamais, da diretriz inicial assumida: o de servo de todos.
Acompanhando
a marcha tresloucada do espírito humano que se encontra atado aos
sucessivos ciclos dos renascimentos inferiores, na roda das paixões
escravizantes, fez que pioneiros e embaixadores da Sua Morada O
precedessem cantando as glórias superiores da vida e do belo, para
propiciar os sonhos de elevação e as ânsias sublimantes...
Alexandre
Magno conquistou o Mundo sem conseguir, no entanto, intimidar os
filósofos que habitavam as margens do Indo. Apaixonado por Homero, dizia
encontrar na Ilíada inspiração ao amor e à guerra que lhe dava
glórias... Logo passou, e aos 33 anos sucumbiu, depois de ter vivido o
correspondente a várias vidas...
Os direitos dos povos pertenciam aos dominadores e o homem não passava de animal de carga, nas garras da força.
Depois
dEle, Marco Aurélio registra os pensamentos que fluem da mente
privilegiada, sob elevada inspiração de Emissários Sábios enquanto
peleja nos campos juncados de cadáveres...; as hostes selvagens, em nome
da hegemonia política de vândalos elevados ao poder, irrompem
voluptuosas, quais labaredas humanas crepitantes e carbonizantes, e
atrás de suas legiões ficam os destroços, as cinzas, as dores
agudíssimas das cidades vencidas e enlutadas.
Os
triunfadores de um dia erigem monumentos à própria insânia, que a
soberba qualifica de glória, mas que ruem quando os construtores se
consomem...
... Tudo passa! A Grande Esfinge tudo devora...
Tronos
refulgentes, sólios esplêndidos, coortes brilhantes ao Sol, conquistas
grandiosas, civilizações douradas e impiedosas, os tempos vencem...
Ele chega silencioso, pulcro, e fica.
Reúne a malta dos aflitos e os agasalha ao próprio peito.
Nada solicita, coisa alguma exige.
Libertador
por excelência, canta o hino da verdadeira liberdade, ensinando a
destruição dos elos da inferioridade que junge o homem às mais cruéis
cadeias...
Embosca-se na carne, mas é Sol de incomparável luz, clareando o fulcro dos milênios.
Ao suave balido da Sua mansa voz, acordam as esperanças e se levantam os ideais esquecidos.
Ao
forte clamor do seu verbo, erguem-se os dias, e as horas do futuro
vibram, aprofundando no cerne do mundo os alicerces da Humanidade Feliz
do porvir.
Admoesta e ajuda.
Verbera, rigoroso, e socorre.
Aceita a oferenda do amor mas não enclausura a verdade nas paredes do suborno.
Rei Celeste, comparte das necessidades dos pecadores e vive entre eles.
Permuta
o contato dos anjos pela comunhão do populacho da verdejante e calma
Cafarnaum, trocando os esplendores da Via-Láctea pelas madrugadas rubras
do lago piscoso.
Prefere os entardeceres ardentes de Jericó à epopéia célica dos astros em infinito meio-dia.
Aceita
o pó das estradas ermas e calcinadas de Caná, Magdala, Dalmanuta, e as
suas fronteiras que se perdem no Sistema Solar, Ele as estreita entre o
Mar e o Hebron, entre a Síria e o país de Moab...
Deixa
a gleba paradisíaca para tomar de um grão de mostarda e elaborar com
ele uma cantata, sofrendo calor asfixiante; esfaimado, pede a uma
figueira frutos que, fora de época, não os pode dar...
Senhor
do Mundo, Causa anterior existente, deixa-se confundir na turba, na
multidão esfarrapada, que em fúria busca o amor sem saber identificá-lo;
na multidão, sim, na qual, sofrendo, encontra a razão do Seu glorioso
martírio.
Entre os sofredores, canta as mais eloqüentes expressões que o homem jamais ouviu.
As
Suas Boas Novas são orquestradas pela musicalidade espontânea da
Natureza, no cenário das primaveras e dos verões, entre as aldeias e o
lago, no coração exuberante da Terra em crescimento...
E
traído, magoado, encarcerado, vencido numa Cruz, elege uma tranqüila e
luminosa manhã para ressurgir, buscando uma antiga obsediada para
dizer-lhe que a vida não cessa, e que o Reino de Deus está dentro do
coração, reafirmando, insofismável, ficar “conosco todos os dias até o
fim do Mundo”, retornando, assim, ao Pai, onde nos espera vencidas as
refregas libertadoras da ascese em que hoje nos empenhamos com
sofreguidão.
Pelo Espírito Amélia Rodrigues
Do livro: Primícias do Reino
Médium: Divaldo P. Franco
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