A terra é o
lugar onde se experimentam os elementos e aspectos da condição humana - que não
podem ser vivenciados em nenhum outro lugar.
É um lugar
de crescimento - e crescer não é fácil. A maioria das pessoas vivas hoje está
constantemente pressionada por desafios de sobrevivência.
Somos
bombardeados com preocupações de ordem financeira, profissional, emocional, por
problemas de saúde. Muitas dessas preocupações estão associadas com sentimentos
de autodestruição.
A certa
altura, acreditamos: "Não posso suportar isso!" ou "É melhor
morrer!".
A maioria
das pessoas tem impulsos suicidas, pelo menos uma vez na vida. No entanto, esse
tipo de impulso vem e vai embora, de acordo com a situação.
O tipo de
personalidade obcecada com a ideia de autodestruição - pessoas que fazem várias
tentativas de por fim à vida - pertence, geralmente, a uma das seguintes
categorias :
1. Uma
pessoa com uma personalidade controladora e que de repente perde o controle dos
acontecimentos.
2. Uma
pessoa abalada por uma autoimagem excessivamente negativa. Essa pessoa acha que
não tem valor algum, nem contribui em nada para a sociedade. Ela chega a
acreditar que planeta estaria melhor sem ela.
3. Aqueles
que sofrem de uma enfermidade em estado terminal e não querem suportar mais
sofrimento e dor, até a morte.
4. Aqueles
que estão mentalmente doentes ou que sofrem algum desequilíbrio bioquímico.
É
compreensível que, por conta de determinados sentimentos, circunstâncias e
crenças, alguém encontre uma forte razão para se matar. Entretanto, do ponto de
vista espiritual, isso não está certo.
Cada um de
nós tem um destino para o qual nascemos. Nosso destino cármico pode durar um
mês, apenas, ou trinta e cinco, ou mesmo oitenta anos.
Antes de
retornarmos ao plano terreno, nos imbuímos de um fortíssimo desejo de nascer,
de usufruir da experiência física, e entramos neste mundo com uma espécie de
mecanismo de tempo instalado em nosso complexo psíquico.
Quando a
vida é cortada, nosso corpo deixa de existir, mas restam sempre laços
magnéticos, ainda ativos, de tudo o que deixamos no plano terreno.
Esses laços
completam sua missão apenas quando percorremos integralmente o tempo
predeterminado para nós no plano terreno. Como está escrito: Cada estação tem
seu tempo.
Quando
alguém se mata, uma das primeiras coisas de que se conta é que, na verdade, não
está morto. Persiste na pessoa uma sensação pesada; porque os laços com o plano
terreno continuam, como parte de sua natureza.
De certo
modo, podemos dizer que essa alma não está totalmente livre. A personalidade
mortal se vai, mas não a alma.
A alma
imortal continua existindo, estacionada entre o mundo físico e o espiritual -
viva, mas incapaz de comunicar-se com seus entes queridos ou com qualquer um.
A alma
sente-se culpada, sofre, fica angustiada, depois de pôr fim à vida. Descobre
que seu destino poderia ter sido significativo, que teria muito a dar ao mundo,
se tivesse permanecido viva.
No estado
espiritual, torna-se consciente de que deveria ter passado justamente por
aquelas experiências que acabaram levando-a ao suicídio. E, ainda, pressente a
dor e a raiva que deixou naqueles que ficaram.
O pior de
tudo é que se encontra numa espécie de região do limbo. Não está apta a avançar
para o reino eterno, nem pode retornar para o mundo físico.
Está parada,
imobilizada numa espécie de terra-de-ninguém, atormentada incessantemente pela
lembrança do terrível ato que cometeu. Revê sua morte, vezes sem conta, como se
fosse um filme velho, um filme muito ruim. Está presa numa armadilha, não há
como sair.
Alguns
espíritos de suicidas têm consciência do que fizeram. Mas muitos outros podem
não estar cientes do que ocorreu.
Por isso,
revivem ininterruptamente seu momento de morte, como se fosse um círculo vicioso
- que pode acabar tornando-se um tormento horrível.
Eventualmente,
o espírito acaba por convencer-se de que não pertence mais ao plano terreno.
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PREVENÇÃO DO SUICÍDIO
PREFÁCIO
O
suicídio é um fenómeno complexo que, através dos séculos, tem atraído a atenção
de filósofos, teólogos, médicos, sociólogos e artistas; de acordo com o
filósofo francês Albert Camus, no ensaio O Mito de Sísifo, é o único problema
filosófico sério.
Como um
problema grave de saúde pública, requer a nossa atenção, mas, infelizmente, a
sua prevenção e controle não são tarefas fáceis. Investigação actual indica que
a prevenção do suicídio, embora possível, envolve toda uma série de
actividades, que vão desde o proporcionar as melhores condições possíveis para
criar as nossas crianças e adolescentes, passando pelo tratamento eficaz de
perturbações mentais, até ao controle ambiental de factores de risco. A
apropriada disseminação de informação e a consciencialização são elementos
essenciais para o sucesso dos programas de prevenção do suicídio.
Em 1999,
a OMS lançou o SUPRE, a sua iniciativa a nível mundial para a prevenção do
suicídio. Este guia faz parte de uma série de recursos preparados como parte do
SUPRE e dirigidos a grupos sociais e profissionais específicos, que são de
particular relevância para a prevenção do suicídio. O guia representa um elo
numa longa e diversificada cadeia que envolve uma variedade de pessoas e
grupos, incluindo profissionais de saúde, educadores, serviços sociais,
governos, legisladores, membros da comunicação social, magistrados, famílias e
comunidades.
Estamos
particularmente gratos ao Doutor Scott Hinkle, Coordenador da Formação Clínica,
NBCC-Internacional, Greensboro, EUA, que produziu uma versão anterior deste
guia.
O texto
foi posteriormente revisto pelos seguintes membros da Rede Internacional da OMS
para a Prevenção do Suicídio, aos quais estamos agradecidos:
Dra.
Annette Beautrais, Escola de Medicina Christchurch,
Christchurch,
Nova Zelândia
Professor
Jean Pierre Soubrier, Presidente da Secção de
Suicidologia
da Associação Mundial de Psiquiatria, Paris, França
Dra.
Lakshmi Vijayakumar, SNEHA, Chennai, Índia
Professora
Danuta Wasserman, Centro Nacional Sueco para a
Investigação
do Suicídio & Prevenção da Doença Mental e
Departamento
de Saúde Pública, Estocolmo, Suécia.
Os
recursos estão agora a ser amplamente distribuídos, na esperança de que serão
traduzidos e adaptados às condições locais – um pré-requisito para a sua
eficácia. Comentários e pedidos de autorização para tradução e adaptação serão
bem-vindos.
Dr. J. M.
Bertolote
Coordenador,
Gestão de Perturbações Mentais e de Doenças do Sistema Nervoso
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO
UM RECURSO PARA CONSELHEIROS
Um maior
número de pessoas comete suicídio anualmente do que as que morrem em todos os
conflitos mundiais combinados. A assistência de conselheiros profissionais na
prevenção do suicídio, a uma escala mundial, é importantíssima e claramente
necessária. Os suicídios resultam de uma complexa interacção de factores
biológicos, genéticos, psicológicos, sociológicos, culturais, e ambientais. Uma
melhor detecção na comunidade, o encaminhamento para especialistas e a gestão
do comportamento suicida são passos importantes na prevenção do suicídio. O
desafio chave de tal prevenção consiste em identificar as pessoas que estão em
risco e que a ele são vulneráveis; entender as circunstâncias que influenciam o
seu comportamento auto-destrutivo; e estruturar intervenções eficazes.
Consequentemente, os conselheiros necessitam de desenvolver, na comunidade,
iniciativas para prevenir, assim como para lidar com o comportamento suicida.1
A prática
do aconselhamento profissionalé definida como a aplicação de princípios de
saúde mental, psicológicos, ou do desenvolvimento humano, através de
estratégias cognitivas, afectivas, comportamentais ou de intervenção sistémica.
Usando estas estratégias, os conselheiros profissionais lidam com questões de
bem-estar, de crescimento pessoal e de desenvolvimento da carreira, assim como
com a patologia da saúde mental.
Os
conselheiros têm formação e educação ao nível superior e, frequentemente,
trabalham em escolas, institutos superiores e universidades, serviços de
orientação da carreira, centros de tratamento da toxicodependência, e clínicas
e hospitais.
Por
conseguinte, a prevenção do suicídio envolve uma variedade de actividades,
incluindo a boa educação das crianças, aconselhamento familiar, tratamento das
perturbações mentais, controle ambiental de factores de risco, e educação da
comunidade. A educação eficaz da comunidade, uma intervenção vital e básica,
inclui o entendimento das causas do suicídio, assim como a sua prevenção e
tratamento.
Os
conselheiros podem ajudar os indivíduos a entender melhor a relação entre abuso
de substâncias e as perturbações do humor, e pensamentos e comportamentos
suicidas. Os conselheiros também podem ajudar com o planeamento da prevenção da
recaída, a construção da rede de apoio social e,
quando
necessário, com o encaminhamento para centros de tratamento intensivo
psiquiátrico ou do álcool e das drogas.
É
evidente a necessidade de um conjunto claro de parâmetros que sejam práticos,
acessíveis e informativos para os conselheiros que lidam com crises de
suicídio, especialmente nos países em vias de desenvolvimento.2
Infelizmente,
formação abrangente a respeito da gestão do suicídio raramente faz parte dos
programas de formação em saúde mental.3
O
suicídio de um cliente é considerado “um risco profissional” para os
conselheiros. Estima-se que cerca de 25% dos conselheiros já tenha tido um
cliente que cometeu suicídio.4
O
suicídio pode ter um efeito potencialmente negativo quer nos conselheiros já
profissionalizados quer nos que ainda estão em formação. Os conselheiros que
passam por tal experiência referem sentir perda de auto-estima, experimentar
pensamentos intrusivos e sonhos vívidos, e sentir, ao mesmo tempo, raiva e
culpa em resposta à morte do seu cliente.
Esta
brochura foi preparada como um guia informativo para a educação de conselheiros
a respeito do risco e da prevenção do suicídio
O PESO DO SUICÍDIO
Estima-se
que aproximadamente um milhão de pessoas tenha cometido suicídio em 2000,
colocando o suicídio entre as dez causas de morte mais frequentes em muitos
países do mundo. Dez a vinte milhões de pessoas terão tentado suicidar-se.
Mas presume-se
que os números reais sejam ainda mais elevados. Embora as taxas de suicídio
variem de acordo com categorias demográficas, elas aumentaram aproximadamente
60% nos últimos 50 anos. A redução da perda de vidas devida a suicídios
tornou-se um objectivo internacional essencial em saúde
mental.
Os conselheiros podem ter um papel chave na prevenção do suicídio.
FACTORES DE PROTECÇÃO
Os
factores de protecção reduzem o risco de suicídio; são considerados isoladores
contra o suicídio e incluem:
•Apoio da família, de amigos e de
outros relacionamentos significativos;
•Crenças religiosas, culturais, e
étnicas;
•Envolvimento na comunidade;
•Uma vida social satisfatória;
•Integração social como, por
exemplo, através do trabalho e do uso construtivo do tempo de lazer;
•Acesso a serviços e cuidados de
saúde mental.
Embora
tais factores de protecção não eliminem o risco de suicídio, podem
contrabalançar o peso imposto por circunstâncias difíceis da vida.
depois de
um período de depressão; e promiscuidade súbita ou aumentada.
FACTORES DE RISCO E SITUAÇÕES DE
RISCO
Os
comportamentos suicidas são mais comuns em certas circunstâncias devido a
factores culturais, genéticos, psicossociais e ambientais. Os factores de risco
gerais incluem:
•Estatuto sócio-económico e nível
de educação baixos; perda de emprego;
•Stress social;
•Problemas com o funcionamento da
família, relações sociais, e sistemas de apoio;
•Trauma, tal como abuso físico e
sexual;
•Perdas pessoais;
•Perturbações mentais tais como
depressão, perturbações da personalidade, esquizofrenia, e abuso de álcool e de
substâncias;
•Sentimentos de baixa auto-estima
ou de desesperança;
•Questões de orientação sexual
(tais como homossexualidade);
•Comportamentos idiossincráticos
(tais como estilo cognitivo e estrutura de personalidade);
•Pouco discernimento, falta de
controle da impulsividade, e comportamentos auto-destrutivos;
•Poucas competências para
enfrentar problemas;
•Doença física e dor crónica;
•Exposição ao suicídio de outras
pessoas;
•Acesso a meios para conseguir
fazer-se mal;
•Acontecimentos destrutivos e
violentos (tais como guerra ou desastres catastróficos).
Estima-se
que cerca de 90% dos indivíduos que puseram fim às suas vidas cometendo
suicídio tinham alguma perturbação mental e que, na altura, 60% deles estavam
deprimidos. Na verdade, todos os tipos de perturbações do humor têm sido
claramente associados aos comportamentos suicidas. A depressão e os seus
sintomas (como, por exemplo, tristeza, letargia, ansiedade, irritabilidade,
perturbações do sono e da alimentação) devem alertar todos os conselheiros para
o potencial risco de suicídio.
O risco
elevado de suicídio também tem sido associado com esquizofrenia, abuso de
substâncias, perturbações da personalidade, perturbações da ansiedade,
incluindo perturbação de stress pós-traumático, e co-morbilidade destes
diagnosticos.
Aproximadamente
10 a 15% dos indivíduos com esquizofrenia cometem suicídio, que assim é
consistentemente a causa de morte mais comum entre os indivíduos que sofrem de
psicose.
Uma maior
compreensão pessoal sobre a própria perturbação mental, poucos anos em
tratamento, e sintomas severos de depressão estão associados com um risco maior
de suicídio em indivíduos da população psicótica. Os efeitos do uso do álcool
na presença de desafios significativos e de situações stressantes da vida podem
levar a uma visão mais estreita da realidade e potencialmente a infligir-se
mal. O alcoolismo, particularmente na presença da depressão e de perturbações
da personalidade, também pode aumentar o risco de suicídio.
Em 90%
dos casos de morte de crianças e adolescentes por suicídio, foi identificado
como causa algum tipo de perturbação mental,7sendo os
diagnósticos mais comuns as perturbações do humor, perturbações da ansiedade,
abuso de
substâncias,
e perturbações comportamentais do funcionamento social.
Os indivíduos suicidas sofrem frequentemente com
maiores problemas ambientais do que os seus colegas não-suicidas, incluindo
histórias de abuso, problemas familiares, questões culturais, dificuldades de
relação interpessoal, e exposição a stress extremo ou crónico. Em conjunto com
o humor depressivo, esta carga ambiental aumenta a probabilidade de suicídio.
Na verdade, o sentimento de desesperança decorrente de circunstâncias difíceis
da vida constitui um indicador ainda mais potente do risco de suicídio do que a
depressão por si mesma.
Tentativas
de suicídio anteriores aumentam o risco de suicídio.
Além
disso, os factores de risco mais importantes incluem a ideação persistente
sobre fazer-se mal e planos definidos e preparações para cometer suicídio. Portanto,
os maiores riscos apresentam-se quando um indivíduo tem os meios, a
oportunidade, um plano específico para consumar o suicídio, e a falta de algo
ou alguém que o detenha.
Identificar
os factores de risco associados com o comportamento suicida é um passo
indispensável para a tomada de decisão clínica pelo conselheiro. O conhecimento
de tais factores de risco pode orientar a prevenção bem como a intervenção, ao
ajudar os conselheiros a identificar os indivíduos em maior risco. Assim, a
formação de conselheiros para que possam avaliar os riscos é de suprema
importância para a redução dos suicídios.
Embora
não haja um “estilo geral” para comunicar intenções suicidas, os sinais de
alerta do comportamento suicida incluem: falta de interesse pelo próprio bem-estar;
mudanças em padrões de comportamento social, declínio da produtividade no
trabalho ou do sucesso escolar; alterações nos padrões de sono e de
alimentação; tentativas de pôr os assuntos pessoais em ordem ou de fazer as
pazes com outros; interesse fora do comum em como os outros se sentem;
preocupação com temas de morte e violência; súbita melhoria no humor depois de
um período de depressão; e promiscuidade súbita ou aumentada.
POPULAÇÕES ESPECIAIS E SUICÍDIO
Crianças
e adolescentes
Os conselheiros
podem ter um papel vital na prevenção do suicídio da criança e do adolescente.
Quando uma criança ou um adolescente se torna suicida, está a comunicar
dificuldades em resolver problemas, lidar com o stress e em expressar emoções e
sentimentos. Em alguns casos, a pressão negativa por parte dos colegas pode
estar por detrás do comportamento auto-destrutivo.
Os
comportamentos suicidas entre crianças e adolescentes muitas vezes envolvem
motivações complexas, incluindo humor depressivo, problemas emocionais,
comportamentais e sociais, e abuso de substâncias. Outros factores de suicídio
entre os jovens incluem a perda de relações românticas, a incapacidade de lidar
com desafios académicos e outras situações stressantes
da vida,
e questões associadas com poucas competências para resolver problemas, baixa
auto-estima, e conflitos em torno da identidade sexual.
As
crianças suicidas frequentemente experimentam uma vida em família disfuncional
e conflituosa onde mudanças, tais como o divórcio, podem resultar em
sentimentos de desamparo e de perda de controle. Entre os adolescentes, uma
história familiar com doenças psiquiátricas, a par de níveis elevados de
disfunção familiar, rejeição pela família, e negligência e abuso na infância
aumentam o potencial para o suicídio. Os suicídios consumados de jovens estão
associados a taxas mais elevadas de perturbações psiquiátricas na família,
menor apoio familiar,
ideação
ou comportamento suicida anterior, problemas disciplinares ou legais, e armas
de fogo prontas a disparar em casa. A ideação suicida e a tentativa de suicídio
aparecem mais frequentemente entre crianças e adolescentes que foram vitimas de
abuso por parte de colegas e/ou por parte de adultos.
Um factor
de risco adicional para o suicídio de adolescentes é o suicídio de figuras
proeminentes ou de indivíduos que o adolescente conheça pessoalmente.
Particularmente
entre os jovens, existe também o fenómeno dos suicídios em grupos. Uma
tentativa de suicídio ou um suicídio consumado, se forem publicitados, podem
levar a comportamentos de autodestruição em grupos de colegas ou em outras
comunidades semelhantes que imitem o estilo de vida ou os atributos de
personalidade do indivíduo suicida. Existem alguns indícios que justificam a
implementação de medidas preventivas quando acontece um suicídio de criança ou
adolescente, particularmente em contextos escolares.
Entre os
adolescentes de 16 anos e mais velhos, o álcool e o abuso de substâncias
aumentam significativamente o risco de suicídio em tempos de sofrimento.
Perturbações do humor e da ansiedade, fugir de casa, e o sentimento de
desespero também aumentam o risco de tentativas de suicídio. As tentativas de
suicídio
de adolescentes estão muitas vezes associadas a experiências de vida
humilhantes, tais como fracasso na escola ou no trabalho ou conflitos
interpessoais com um parceiro romântico. O diagnóstico de perturbação da
personalidade está associado com 10 vezes mais suicídios do que entre aqueles
que não apresentam diagnóstico,8 enquanto
que, tantos quanto 80% dos adolescentes que se matam poderiam ter sido
diagnosticados com perturbações do comportamento, perturbação de
stresspós-traumático, ou sintomas violentos e agressivos.
Os idosos
A depressão é amplamente reconhecida como
sendo o principal factor associado com o comportamento suicida na idade
avançada. Entre os idosos, surge frequentemente a questão do uso indevido de
medicamentos como um meio para o suicídio. No entanto, o benefício que se obtém
com o tratamento da depressão contrabalança largamente qualquer impacto
negativo da medicação anti-depressiva.
O número
de suicídios entre os idosos pode ser diminuído se os conselheiros estiverem
atentos às mensagens suicidas.
Cerca de
70% dos idosos que cometem suicídio são conhecidos por partilhar as suas
ideações suicidas com um membro da família ou com outros indivíduos antes de
cometerem o seu acto fatal. Portanto, entrevistas com pessoas que lhes são
próximas, que sempre constituem um instrumento vital, são imprescindíveis com
esta população, sempre que membros da família e amigos possam ser questionados.
MITOS COMUNS SOBRE COMPORTAMENTOS
SUICIDAS
Há
diversos mitos a respeito do comportamento suicida.
Alguns
dos mais comuns são:
Mito 1: As pessoas que falam sobre o
suicídio não farão mal a si próprias, pois querem apenas chamar a atenção. Isto
é FALSO.
Um
conselheiro deve tomar todas as precauções necessárias sempre que confrontado
com um indivíduo que fale de ideação, de intenção ou de um plano suicida.
Todas as
ameaças de se fazer mal devem ser levadas muito a sério.
Mito 2:O suicídio é sempre impulsivo e
acontece sem aviso. FALSO
. Morrer
pelas suas próprias mãos pode parecer ter sido impulsivo, mas o suicídio pode
ter sido ponderado durante algum tempo. Muitos indivíduos suicidas comunicam
algum tipo de mensagem verbal ou comportamental sobre as suas ideações da
intenção de se fazerem mal.
Mito 3: Os indivíduos suicidas querem
mesmo morrer ou estão
decididos
a matar-se. FALSO.
A maioria
das pessoas que se sentem suicidas partilham os seus pensamentos com pelo menos
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uma outra
pessoa, ou ligam para uma linha telefónica de emergência ou para um médico, o
que constitui prova de ambivalência, e não de empenhamento em se matar.
Mito 4: Quando um indivíduo mostra sinais
de melhoria ou sobrevive a uma tentativa de suicídio, está fora de perigo.
FALSO
. Na
verdade, um dos períodos mais perigosos é imediatamente depois da crise, ou
quando a pessoa está no hospital, na sequência de uma tentativa. A semana que
se segue à alta do hospital é um período durante o qual a pessoa está particularmente
fragilizada e em perigo de se fazer mal. Como um preditor do comportamento
futuro é o comportamento passado, a pessoa suicida muitas vezes continua em
risco.
Mito 5: O suicídio é sempre
hereditário. FALSO
. Nem
todos os suicídios podem ser associados à hereditariedade e estudos conclusivos
são limitados. Uma história familiar de suicídio, no entanto, é um factor de
risco importante para o comportamento suicida, particularmente em famílias onde
a depressão é comum.
Mito 6: Os indivíduos que tentam ou
cometem suicídio têm
sempre
alguma perturbação mental. FALSO.
Os
comportamentos suicidas têm sido associados à depressão, abuso de substâncias,
esquizofrenia e outras perturbações mentais, além de aos comportamentos
destrutivos e agressivos. No entanto, esta associação não deve ser
sobrestimada. A proporção relativa destas perturbações varia de lugar para
lugar e há casos em que nenhuma perturbação mental foi detectada.
Mito 7: Se um conselheiro falar com um cliente
sobre suicídio, o conselheiro está a dar a ideia de suicídio à pessoa. FALSO
. Um
conselheiro obviamente não causa comportamento suicida simplesmente por
perguntar aos clientes se estão a considerar fazer-se mal. Na verdade,
reconhecer que o estado emocional do indivíduo é real, e tentar normalizar a
situação induzida pelo stress são componentes necessários para a redução da
ideação suicida.
Mito 8: O suicídio só acontece “àqueles
outros tipos de pessoas,”
não a
nós. FALSO
. O
suicídio acontece a todos os tipos de pessoas e encontra-se em todos os tipos
de sistemas sociais e de famílias.
Mito 9: Após uma pessoa tentar cometer
suicídio uma vez, nunca voltará a tentar novamente. FALSO.
Na
verdade, as tentativas de suicídiosão um preditor crucial do suicídio.
Mito 10: As crianças não cometem suicídio
dado que não entendem que a morte é final e são cognitivamente incapazes de se
empenhar num acto suicida. FALSO
. Embora
seja raro, as crianças cometem suicídio e, qualquer gesto, em qualquer
idade,
deve ser levado muito seriamente.
Dadas
estas concepções erróneas acerca do suicídio, alguns conselheiros podem
sentir-se ansiosos ou mal preparados para trabalhar com indivíduos suicidas e
devem desenvolver competências de aconselhamento eficazes para lidar com esta
população.
A informação, a formação, e a experiência de intervenção em crises contribuem
para aumentar a competência do conselheiro. A formação deve incluir o reforço
da capacidade para tolerar os sentimentos intensos de outros, a redução das
reacções de defesa e da passividade do conselheiro, e a superação de questões
de sofrimento ainda por resolver. Para além disto, estar consciente dos
factores de risco e compreender situações de risco também são actividades
essenciais para o conselheiro.
AVALIAÇÃO DOS COMPORTAMENTOS
SUICIDAS
Uma
avaliação abrangente dos comportamentos suicidas é fundamental para a
intervenção terapêutica eficaz e para as actividades de prevenção. O principal
objectivo da avaliação do suicídio é facultar informação para a prevenção e
aconselhamento. A avaliação, subsequentemente, guia o diagnóstico e decisões
clínicas, a intervenção terapêutica, a prevenção e os cuidados posteriores
prestados por um conselheiro. Todas as avaliações do suicídio devem incluir:
•Um levantamento dos factores de
risco relevantes;
•História anterior de
comportamentos suicidas;
•Condições biológicas,
psicossociais, mentais, situacionais, ou médicas imutáveis;
•A magnitude dos sintomas suicidas
actuais, incluindo o grau de desesperança;
•Factores destressque precipitem o
suicídio;
•Nível de impulsividade e de
controle pessoal;
•Outra informação atenuante;
•Factores de protecção contra o
suicídio.
A
avaliação do suicídio requer uma avaliação dos factores de comportamento e de
risco, o diagnóstico subjacente de perturbações mentais, e uma determinação do
risco de morte.
Uma vez
que a avaliação esteja completa, é importante classificar o risco total de
suicídio em termos da sua severidade. A escala apresentada abaixo, baseada numa
escala de 5 pontos, que vai desde risco inexistente ao risco extremo
de
suicídio, pode servir como uma orientação geral para tal avaliação:
1. Inexistente: Essencialmente, nenhum risco de
se fazer mal.
2. Leve: A ideação suicida é limitada,
não há nenhum plano ou preparação definidos para se fazer mal, e há poucos
factores de risco conhecidos. A intenção de cometer suicídio não é aparente,
mas a ideação suicida está presente; o indivíduo não tem um plano concreto e
não tentou suicidar-se no passado.
3. Moderado: São evidentes planos definidos
e preparação, com visível ideação suicida, há possivelmente história de
tentativas anteriores, e pelo menos dois factores de risco adicionais. Ou, mais
do que um factor de risco para o suicídio está presente, a ideação suicida assim
como a intenção estão presentes, mas é negado que haja um plano claro; o
indivíduo está motivado para melhorar o seu estado emocional e psicológico
actual se houver ocasião para tal.
4. Severo: Os planos e a preparação para se
infligir mal foram claramente definidos ou a pessoa é reconhecida como alguém
que já tentou múltiplas vezes o suicídio com dois ou mais factores de risco. A
ideação e a intenção suicida são verbalizadas em
conjunto
com um plano bem estudado e com os meios de o levar a cabo. Este indivíduo
demonstra inflexibilidade cognitiva e desesperança quanto ao futuro e nega o
apoio social disponível; houve tentativas de suicídio anteriores.
5. Extremo: Um indivíduo que tentou o
suicídio múltiplas vezes com diversos factores de risco significativos. Atenção
e acção imediata são imprescindíveis.
Em última
análise, a responsabilidade do conselheiro consiste em ajuizar e localizar um
ponto na escala de letalidade do suicídio que ajude a descrever o potencial do
indivíduo para se auto-destruir. Muitas vezes, é melhor cometer um erro de
julgamento de falso-positivo do que de falso-negativo. A avaliação do nível de
funcionamento de um indivíduo antes e depois do aconselhamento também pode ser
útil para fins de intervenção e prevenção.
A avaliação para o risco de suicídio inclui uma
entrevista clínica, informação proveniente de processos de avaliação sistemática,
e a recolha de valiosos dados corroborantes junto de terceiros. As razões para
viver, ou para continuar a vida são
factores
cognitivos importantes na avaliação do suicida e devem ser incorporados num
plano de diagnóstico e tratamento.
Finalmente,
a avaliação do suicídio necessita ser multidimensional e ser colocada no
contexto do desenvolvimento humano normal e das diferenças dos sexos, história
familiar, abuso de substâncias, nível de isolamento, diagnóstico psiquiátrico,
nível de desamparo/desesperança, e padrões demográficos.3
Em geral,
a avaliação de crianças e adolescentes deve incluir, no mínimo:
•Entrevista clínica;
•Observação de comportamentos;
•Informação corroborante por parte
dos pais, professores, parentes e amigos;
•Avaliação de factores de risco e
de factores situacionais;
•Avaliação da ideação, dos planos
e da intenção e razões para viver;
•Disponibilidade e qualidade do
apoio da família e dos amigos;
GESTÃO DE COMPORTAMENTOS SUICIDAS
Infelizmente,
não há nenhum conjunto de procedimentos universalmente aceite para como se deve
lidar com um indivíduo suicida ou potencialmente suicida. No entanto, os
serviços de aconselhamento devem responder às necessidades do indivíduo
suicida. A identificação, avaliação, e tratamento de indivíduos suicidas exigem
a consideração de muitas variáveis importantes.
Os
indivíduos suicidas têm uma variedade de necessidades que vão desde informação
até ao aconselhamento e à medicação.
Várias combinações de intervenções breves de
aconselhamento e medicação para tratar a depressão e outras perturbações
comportamentais são frequentemente indicadas.
Quando
uma pessoa está a experimentar pensamentos suicidas (ideação) é importante
iniciar imediatamente procedimentos de gestão. Estes incluirão uma avaliação
(por exemplo, do nível de ambivalência, impulsividade, rigidez, e meios de
letalidade), alistamento de apoios, com vários níveis de contrato pessoal e de
envolvimento familiar, bem como aconselhamento. A gestão da pessoa suicida pode
também incluir tratamento farmacológico ou internamento clínico.
A gestão
de uma crise suicida não deve ser um acontecimento solitário. É muitas vezes
essencial que outros serviços de saúde estejam envolvidos e, em alguns casos,
até as autoridades devem ser notificadas. Os conselheiros com muitos clientes
devem estar particularmente atentos à sua capacidade para lidar eficazmente com
uma crise suicida. Além disso, é importante o conhecimento de códigos éticos e
das leis locais relativas ao envolvimento de terceiros.
A
colaboração entre conselheiros e profissionais da saúde na prevenção do
suicídio é de importância fundamental.
Conselheiros,
psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros psiquiátricos, psiquiatras e
outros médicos necessitam de trabalhar em conjunto, colaborando e cooperando
uns com os outros para prestar informação à comunidade sobre a natureza do
suicídio e para estabelecer ligação entre os centros de serviço de
aconselhamento e de serviço social e de saúde mental e os planos de tratamento
médico.
Durante
uma crise suicida, é importante que o conselheiro:9
•Esteja calmo e dê apoio;
•Não faça juízos; à medicação.
•Encoraje o cliente abrir-se
consigo quanto aos seus problemas e sentimentos;
•Reconheça o suicídio como uma
escolha, mas não a aceite como uma escolha “normal”;
•Escute atentamente o que tem para
dizer o cliente, intervindo sempre que necessário, e reforce positivamente a
necessidade do cliente se tratar bem a si mesmo;
•Mantenha o processo de
aconselhamento focado no momento e na situação actual;
•Evite aconselhar o seu cliente
sobre problemas mais profundos até que a crise diminua;
•Convide outro profissional para
ajudá-lo a avaliar o potencial de autodestruição;
•Faça perguntas sobre a letalidade
dos planos do cliente;
•Remova meios letais;
•Tome decisões eficazes para
gestão da crise.
Para
pormenorizar este último ponto, a tomada de decisão eficaz durante uma crise
suicida é uma função de um plano preestabelecido para vários tipos de
indivíduos, de factores de risco, e de níveis potenciais de dano. Os
conselheiros que trabalham com populações ou em ambientes específicos podem
desenvolver planos de gestão do suicídio para os seus respectivos grupos,
situações ou contextos. Por exemplo, conselheiros que gerem uma crise com uma
criança que não esteja internada, devem ter um plano claro de acção que, muito
provavelmente, será diferente de uma intervenção junto de um adulto que esteja
internado, e para o qual uma equipa de emergência com enfermeiros ou médicos
esteja permanentemente disponível. Planos de gestão do suicídio que foram
claramente definidos não só garantem cuidados de qualidade, como também incluem
possíveis encaminhamentos e garantem que ninguém se perde no sistema de
prestação de cuidados.
Embora
haja poucas provas a respeito da utilidade de contratos, muitos conselheiros
preferem estabelecer um contrato com indivíduos potencialmente suicidas já que
aquele pode trazer alguns benefícios. No entanto, se ocorre uma tentativa de
suicídio, todos os canais de comunicação entre os conselheiros, profissionais
da saúde, a família, e a vítima têm de ser abertos e de funcionar de forma
eficiente. A prática de exercícios de resposta a tentativas de suicídio pode
aumentar a confiança de todos os conselheiros que lidam com uma crise suicida.
É
essencial que o conselheiro estabeleça uma relação com o indivíduo
potencialmente suicida que inclua crença e confiança no conselheiro. O
indivíduo potencialmente suicida deve sentir-se livre para partilhar informação
e deve estar
confiante
que o conselheiro está disposto a lidar com a crise.
Essencialmente,
o conselheiro necessita garantir a segurança do indivíduo, ao mesmo tempo que
tenta gerir e reduzir a crise.
Na gestão
do suicídio, o conselheiro tem de perguntar se o indivíduo tem intenções de se
ferir ou de se matar. Por exemplo, o conselheiro pode perguntar:
•“Tem pensado em fazer-se mal?”
•“Tem pensado acabar com a sua
vida?”
•“Tem estado a pensar em
suicídio?”
•“Já alguma vez pensou ou está a
pensar agora em fazer-se mal?”
•“Tem-se sentido tão mal que pensa
em infligir-se mal?”
•"Tem planos para pôr fim à
sua vida?"
•"Tem um plano para como vai
consegui-lo?"
Obviamente,
estas perguntas devem ser feitas da maneira mais apropriada para cada
indivíduo, num contexto sócio-cultural específico.
Indivíduos
com leve risco de suicídio geralmente requerem reavaliações e seguimento
periódicos do seu potencial suicida, pois deve ter-se presente que a categoria
leve pode elevar-se para risco moderado ou maior. Indivíduos de risco Moderado necessitarão
de avaliação recorrente para hospitalização, de envolvimento activo dos
sistemas de suporte, de serviços de emergência disponíveis 24 horas por dia, de
avaliação para medicação, e aconselhamento de seguimento se necessário. Se os
riscos do indivíduo se elevarem a severo ou extremo, intervenções restritivas
são tipicamente inevitáveis e pode requerer-se um internamento involuntário.
Frequentemente, é melhor que o tratamento seja facultado no ambiente menos
restritivo que ainda seja seguro e eficaz. Garantir a continuidade dos cuidados
bem como considerar as perturbações psiquiátricas incluídas na CID ou no DSM pode
ajudar no planeamento do tratamento e com a necessidade potencial de uma
avaliação para uso de medicação psicotrópica.
Durante a
gestão do suicídio, é importante que o conselheiro não expresse perspectivas
morais, religiosas, ou filosóficas pessoais, pois as mesmas poderiam contribuir
para bloquear a comunicação e alienar o indivíduo suicida. Recursos potencialmente
úteis, tanto pessoais como da comunidade, necessitam de ser processados com o
indivíduo. Isto pode incluir a família, amigos, sacerdotes, curandeiros, ou
outras fontes de apoio. Também é importante não fazer promessas a respeito de
confidencialidade acerca das intenções suicidas do indivíduo.
O risco
de tentativas repetidas de suicídio é maior durante o primeiro ano que se segue
a uma tentativa.
Portanto, o conselheiro necessita de prever a
continuação do acompanhamento intensivo e da reabilitação, incluindo a gestão
do caso, contactos telefónicos e apoio continuado e, em alguns casos, visitas
ao domicílio. Em consequência, os conselheiros necessitam de definir com que
frequência um indivíduo necessitará ser contactado, quais os conselheiros
disponíveis para oferecer seguimento, e por quanto tempo. A ruptura prematura
do aconselhamento e uma resposta inadequada ao tratamento podem constituir um
prognóstico desfavorável de eventual suicídio.
O
aconselhamento deverá ser específico para as necessidades do indivíduo e,
frequentemente, inclui o uso de terapias cognitivo-comportamentais, terapia
comportamental dialéctica, terapia psicodinâmica, e aconselhamento familiar.
Elementos
úteis do processo terapêutico com indivíduos suicidas incluem o apoio para
enfrentar emoções intensas e confrontar comportamentos auto-destrutivos, ao
mesmo tempo que se encoraja a autonomia pessoal. Reconhecer e superar
sentimentos de desamparo, de falta de esperança e de desespero, bem como
desenvolver o auto-conhecimento e construir uma identidade pessoal positiva também
são elementos essenciais para o processo de aconselhamento de indivíduos
suicidas.
A
identificação da mensagem que o indivíduo está a tentar comunicar e/ou do
problema que o indivíduo está a tentar resolver através do comportamento
suicida, também é uma intervenção útil. Dar ao indivíduo suicida a oportunidade
de expressar-se pode ajudar a esvaziar a situação de crise. Os conselheiros
devem, no entanto, ser cautelosos e não depender apenas da comunicação verbal,
pois a falta de referência ou a negação da ideação suicida podem mascarar a
verdadeira intenção suicida. Apoio imparcial, ouvir atentamente, e perguntar
questões relevantes e reveladoras, podem ajudar a identificar quais as
mensagens que o indivíduo suicida está a tentar transmitir.
ACONSELHAMENTO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
SUICIDAS
O
aconselhamento é apropriado para todas as crianças e adolescentes com
comportamentos suicidas e deve focar-se no tratamento cognitivo comportamental,
com ênfase na capacidade para enfrentar problemas. Os objectivos do
aconselhamento eficaz podem incluir uma melhor compreensão de si mesmo,
identificar sentimentos conflituosos, melhorar a auto-estima, mudar
comportamentos desadaptativos, aprender a resolver conflitos, e a interagir
mais eficazmente com os colegas.
É
provável que estudantes peçam ajuda a um amigo durante os estádios iniciais da
ideação suicida. Treinar estudantes para que identifiquem colegas em risco de
tal comportamento pode contribuir para que os estudantes recebam o auxílio de
que necessitam. Os programas de aconselhamento por colegas têm-se revelado de
grande ajuda para aumentar o conhecimento que os estudantes têm sobre factores
de risco do suicídio, e de como entrar em contacto com uma linha telefónica de
emergência ou centro de crise, e como encaminhar um amigo para um conselheiro.
Os estudantes necessitam de um foro onde possam receber informação, fazer
perguntas e aprender como ajudarem os seus amigos e a si mesmos com as suas
preocupações suicidas. Infelizmente, apenas 25% dos estudantes contarão a um
adulto se um amigo tiver ideações suicidas. No entanto, apresentações
cuidadosamente preparadas para a sala de aula, feitas por conselheiros, podem
ajudar a aumentar essa taxa.
Envolver os pais e colaborar com outros serviços de
saúde e escolas, também são processos de prevenção eficazes. Os pais de
crianças em escolas com programas de prevenção do suicídio devem estar
envolvidos nos esforços da escola para educar, identificar e ajudar jovens com
intenções suicidas. Os professores passam muito tempo com as crianças e
adolescentes e, geralmente, são também boas fontes de informação sobre questões
de saúde mental relativas aos estudantes. Além disso, quando adequadamente
treinados, os funcionários da escola podem identificar factores de risco entre
os alunos. Quando o comportamento suicida ocorre em contexto escolar, é
importante contactar os pais, garantir que o estudante receba avaliação e apoio
apropriados antes de voltar à escola e, aquando do seu regresso, que o
estudante seja recebido de maneira positiva.
Frequentemente,
os estudantes que tenham sido confrontados com o suicídio de outro aluno
necessitam de falar sobre o sucedido e tentar entender o que aconteceu.
Aconselhamento
do luto com um grupo de apoio na escola pode ser um método eficaz para ajudar
estudantes a lidar com a perda de um colega ou amigo devida ao suicídio. Este
processo pode ajudar a tornar real a perda, apoiar o reajustamento ao ambiente
escolar sem o estudante desaparecido, e preparar uma rotina positiva para
continuar com a vida. Quando as crianças experimentam uma combinação de
sentimentos de perda, dor, raiva e frustração, a atenção deve focar-se na
potencial ideação e intenção suicida. Tais intervenções de aconselhamento devem
incluir acompanhamento ou reabilitação, pois algumas crianças podem continuar a
experimentar dificuldades durante algum tempo após o suicídio de um amigo ou
colega.
A gestão do suicídio entre adolescentes torna-se
ainda mais importante na presença de abuso de substâncias, perturbações da
personalidade, impulsividade,10 e stress no relacionamento com colegas ou amigos. Em
casos mais sérios, o adolescente que considera o suicídio deve ser vigiado a
tempo inteiro. Se a família não for capaz de fornecer este nível de supervisão
e o adolescente estiver fora de controle, este necessitará ser hospitalizado
para que lhe possam ser prestados a atenção e os cuidados adequados.
Infelizmente, a hospitalização não é uma garantia; adolescentes decididos a
ferirem-se podem mesmo assim encontrar uma forma de realizar o seu objectivo
destrutivo. Depois da hospitalização, a criança ou adolescente necessita de
cuidados de seguimento por profissionais de saúde adequadamente treinados,
incluindo conselheiros. O aconselhamento durante este período deve focar-se em
reduzir fantasias mórbidas acerca da morte, rejeição, alienação, perda e
castigo, assim como em estabilizar a situação e considerar uma avaliação
psico-farmacológica.1,11
Em termos
da prevenção do suicídio, é importante considerar níveis de intervenção
primária, secundária e terciária.
O nível
primário diz respeito a pessoas que ainda não mostram sinais de tendência
suicida, ou em que os transtornos são ainda muito limitados. A prevenção deve
focar-se no apoio e melhoria do funcionamento em contextos interpessoais e
sociais, bem como em diminuir significativamente as condições de risco
emocionais, físicas e económicas.
Os
programas de educação na escola podem ajudar os professores a aprender como
identificar estudantes
potencialmente
suicidas, e a treinar os estudantes para a consciencialização de como podem ser
úteis para os seus colegas com problemas. Os programas comunitários que se
concentram na saúde mental positiva também são úteis para a prevenção do
suicídio. Embora a sua eficácia pareça ser discutível, centros de crise e
linhas telefónicas de emergência para o suicídio são centrais nos esforços de
prevenção do suicídio em muitas comunidades.
CONSELHEIROS QUE LIDAM COM O
SUICÍDIO DE UM
CLIENTE
Os comportamentos suicidas estão entre as crises de
saúde mental mais frequentemente encontradas por conselheiros. Fala com
colegas e supervisores, aceitar que o suicídio é um resultado possível no
aconselhamento, conduzir uma “autópsia psicológica” e ir ao funeral, têm sido
referidos como estratégias importantes para os conselheiros que lidam com o
suicídio de um cliente.
Os conselheiros
também necessitam de estar atentos às suas próprias dificuldades com o tópico
da morte e suicídio, e não devem permitir que tais dificuldades inibam os seus
esforços na prestação de cuidados ao indivíduo suicida.
A
ansiedade face a morte é um elemento central na capacidade do conselheiro para
trabalhar com indivíduos suicidas. Há uma relação entre as atitudes e valores
do conselheiro a respeito do suicídio e a sua eficácia ao trabalhar com
indivíduos suicidas. Se um suicídio ocorre, o conselheiro envolvido necessitará
de uma oportunidade para falar do que aconteceu e das suas reacções, incluindo
uma reconstrução dos acontecimentos que culminaram com o suicídio,
identificando os factores que conduziram à morte, avaliando a resposta da
equipa de saúde mental, e retirando consequências para melhorar futuros
esforços de prevenção. Os conselheiros envolvidos num suicídio consumado podem
experimentar sentimentos que vão desde a raiva e o ressentimento até à culpa, à
tristeza, e aos
sintomas
pós-traumáticos. O apoio de colegas, e até aconselhamento, podem ser
extremamente benéficos nesta situação.
FORNECENDO INFORMAÇÃO ÚTIL À
COMUNIDADE
Os conselheiros podem prestar esclarecimentos e
educação à comunidade para ajudar a reduzir a incidência de suicídios. Por
exemplo, é importante que os conselheiros divulguem os sinais de alarme do
comportamento suicida. Educar as pessoas sobre o suicídio pode ajudar a alertar
as comunidades para os sinais de aviso do suicídio, a dissipar os mitos do
suicídio, bem como a oferecer esperança àqueles que são potencialmente suicidas
e que necessitam de repensar as suas opções. As organizações comunitárias, profissionais
de cuidados de saúde primários e conselheiros podem ser úteis na disseminação
de informação sobre o suicídio, tais como circunstâncias específicas (como por
exemplo, perda do emprego e subsequente efeito na estabilidade familiar) e
factores de risco do suicídio (como, por exemplo, a depressão, perturbações
mentais, a dependência de droga e de álcool, a história familiar).
Além do
mais, é importante que os conselheiros que trabalham nas escolas ajudem a
informar e educar professores e pais sobre como identificar alunos em risco de
suicídio. Os conselheiros escolares devem preparar os estudantes para
detectarem comportamentos suicidas e aprenderem a obter ajuda. Por exemplo,
estudantes envolvidos em programas de prevenção precisam de informação e formação
em como demonstrar empatia e como ouvir atentamente, e também como estender a
mão aos amigos que possam estar necessitados de ajuda. Informação que ajude os
estudantes a ultrapassar a crise emocional de um suicídio ou de uma tentativa
de suicídio tornados públicos, também é importante para evitar suicídios por
imitação. Os Centros Americanos para o Controle de Doenças desenvolveram
recomendações que têm sido amplamente usadas para reduzir suicídios em grupos.12
É
importante que os conselheiros tenham um plano para lidar com a comunicação
social quando ocorre um suicídio. Esse plano deve incluir pedir aos meios de
comunicação social que não glorifiquem, embelezem, ou dramatizem a morte, com o
objectivo de prevenir a possibilidade de suicídios por contágio. Para
informação específica, os conselheiros devem consultar: Prevenindo o Suicídio:
um recurso para profissionais da comunicação social13
Grupos de auto-ajuda para sobreviventes são um
método construtivo e motivador de oferta de cuidados posteriores ao suicídio,
prestados para que as pessoas se possam ajudar a si mesmas. Tais grupos de
auto-ajuda, organizados por aqueles que perderam alguém querido, podem fornecer
informação útil sobre o processo do luto, informação sobre suicídio, assim como
sobre os vários papéis dos conselheiros profissionais que ajudam os
sobreviventes.
Os
conselheiros que trabalham com grupos de sobreviventes podem dar grande
conforto aos amigos e às famílias afectadas pelo suicídio. Frequentemente, os
sobreviventes vacilam entre sentimentos de culpa, de raiva e de profunda
tristeza. Em tais casos, os conselheiros podem criar uma oportunidade para que
os sobreviventes processem os seus sentimentos. Muitas famílias têm relatado a
necessidade de aconselhamento logo após uma tentativa de suicídio. Tal
aconselhamento ajuda as famílias a lidar com o stress da tentativa e pode
esclarecer o seu papel nos cuidados a prestar ao suicida, ou a lidar com a
perda por suicídio de um amigo ou membro de família.
Sempre
que relevante, os conselheiros também podem ajudar as famílias e os amigos a
entender melhor o papel da doença mental no comportamento suicida, assim como a
reduzir o risco de suicídios por contágio ou por imitação. O aconselhamento com
grupos necessitados de cuidados posteriores ao suicídio inclui procedimentos
para aliviar o stress e o luto associados com um suicídio e promove uma
recuperação saudável para os enlutados.
Os
conselheiros podem ajudar as pessoas a aceitar o suicídio, a seguir em frente
com a sua vida de uma maneira positiva, e a desenvolver um modo de lidar com a
sua perda formando um grupo de sobreviventes. Para informação específica sobre
como começar tal grupo, os conselheiros devem consultar:
Prevenindo
o suicídio: como começar um grupo de sobreviventes.
.
WEB LINKS
Assistência
pode ser obtida on-line nos seguintes sites (acedidos mais recentemente em
Abril de 2006):
The International
Association for Suicide Prevention http://www.med.uio.no/iasp/
The Australian Network for
Promotion, Prevention and Early Intervention for Mental Health
http://auseinet.flinders.edu.au/
The International Academy
for Suicide Research http://www.uni-wuerzburg.de/IASR/
The American Association of
Suicidology http://www.suicidology.org/
The American Foundation for
Suicide Prevention http://www.afsp.org
The Suicide and Mental
Health Association International http://www.suic
ideandmentalhealthassociationinternational.org/
Befrienders International
http://www.befrienders.org/
Samaritans
http://www.samaritans.org.uk/
International Federation of
Telephone Emergency Services http://www.ifotes.org/
LifeLine International
http://www.lifeline.web.za/
The Suicide Prevention
Action Network http://www.spanusa.org http://www.infosuic
ide.org
(em Francês)
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Popenhagen MP, Qualley RM. Adolescent
suicide. Detection, intervention, and prevention.
Professional school
counseling, 1998, 1: 30-35. (Em Inglês)
2. Patel V, Thara R.
Meeting the mental health needs of developing countries: NGO innovations in
India. New Delhi: Sage, 2003. (Em Inglês)
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Rogers JR. Maples MR, Bromley JL, Alcorn J. Suicide: An overview. The
counseling psychologist, 2000, 28: 445-510. (Em Inglês)
4. Rogers, JR. Suicide risk
assessment. In: ER Welfel & RE Ingersoll (eds.).
The mental health desk
reference. New York: Wiley, 2001, 259-264. (Em Inglês)
5. Collins BG, Collins TM.
Crisis and trauma: Developmental-ecological intervention
. Boston: Houghton Mifflin,
2005. (Em Inglês)
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model for suicide assessment and intervention. Professional Psychology:
Research and Practice, 2001, 32: 351-358. (Em Inglês)
7. Shaffer D, Craft L.
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60 (Suppl. 2): 70-74. (Em Inglês)
8. Blumenthal S. Youth
suicide: Risk factors, assessment, and treatment of olescent and young adult
suicide patients. Psychiatric Clinics of North America,
1990, 12: 511-556. (Em
Inglês)
9. Capuzzi D, Gross D. “I
don’t want to live:” The adolescent at risk for suicidal behaviour. In D.
Capuzzi & D. Gross (eds.). Youth at risk: A prevention resource for
counsellors, teachers and parents. Alexandria, VA: American Counseling
Association, 2000, 3rd edition, 319-352. (Em Inglês)
10. Stoelb M, Chiriboga J.
"A process model for assessing adolescent risk of suicide". Journal
of Adolescence, 1998, 21: 359-370. (Em Inglês)
11. Pfeffer CR.
"Clinical perspectives on treatment of suicidal behavior among children
and adolescents". Psychiatric Annals,1990, 20: 143-150. (Em Inglês)
12. Centers for Disease
Control. CDC Recommendations for a community plan for prevention and
containment of suicide clustersMorbidity and mortality weekly report
, 1994, 37 (Suppl. 6):1-12.
(Em Inglês)
13. World Health
Organization. Preventing suicide: A resource for media professionals. Geneva:
World Health Organization, 2000. (Em Inglês)
14. World Health Organization.
Preventing suicide: how to start
a survivors’ group. Geneva:
World Health Organization, 2000. (Em Inglês)
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