quinta-feira, 23 de junho de 2016

A Evolução da Mediunidade Através dos Tempos

1. INTRODUÇÃO
A faculdade mediúnica,tanto natural como de prova, acompanha a vida humana, pois desde que o homemexiste, os Espíritos estão prontos a se comunicar com ele. Um estudo damediunidade através dos tempos exige uma ampla pesquisa no sentido de RESGATARas contribuições dadas pelo homem da caverna, pelas pitonisas, pelas bruxas epelos médiuns em cada etapa do desenvolvimento da sociedade.
2. DEFININDO OS TERMOS DO TÍTULO
Evolução – etimologicamente, otermo evolução, significa desenvolvimento, volver para fora o que já estácontido em algo. Nessesentido, evolução seria o desenvolvimento pela atualização das possibilidades,das potências já inclusas virtualmente em algo. Assim, o germeevolui até alcançar o indivíduo acabado. (Santos, 1965)
A essência dosignificado do termo evolução é a de desenvolver, desenrolar, oudesdobrar, designando assim movimento de natureza metódica que gera novasespécies de mudanças. Mais especificamente designa o processo de mudançaatravés do qual algo novo é produzido de tal modo contínuo, que a identidade ouindividualidade do objeto original não seja violada. (FGV, 1986)
Evolução – é impositivo da Leide Deus, incessante, inquestionável. Nessa Lei não existe o repouso, o letargode forças, a inércia. Por toda parte e sempre o impositivo da evolução, oimperativo do progresso. (FEB, 1995)
Mediunidade é a faculdade humana,natural, pela qual se estabelecem as relações entre homens e Espíritos. (Pires,1984) —–
Mediunidade é sintonia efiltragem. Cada Espírito vive entre as forças com as quais combina,transmitindo-as segundo as concepções que lhe caracterizam o modo de ser. (FEB,1995)
Tempo – é a sucessão dascoisas transitórias. Está ligado à eternidade, do mesmo modo que as coisasestão ligadas ao infinito. (FEB, 1995)
3. HISTÓRICO
O Espírito André Luiz,em Evolução em Dois Mundos, diz-nos que quando a criatura humana se iniciouna produção do pensamento contínuo, o sonho foi a mola propulsora da mediunidade,porque durante os momentos de desprendimento do corpo físico, ela entrava emcontato com entidades espirituais, cujos ensinamentos lhe serviam para ampliara sua visão de mundo.
Tomando como base osregistros históricos, podemos anotar:
1.º) A Bíbliaestá repleta de manifestações mediúnicas, tanto no Velho quanto no NovoTestamento.
Velho Testamento
  • Samuel, no livro I, cap. 9, v. 9, escreve: “Dantes, quando se ia consultar a Deus, dizia-se vamos ao vidente; porque os que hoje se chamam profetas chamavam-se videntes”.
    É já de rigor citativo a consulta feita por Saul ao Espírito Samuel, na gruta do Endor.
    O próprio Moisés proíbe a evocação dos mortos.
  • Novo Testamento
  • Maria de Nazaré não viu o Espírito anunciador? Jesus não foi gerado com a intervenção do Espírito Santo? E os milagres de Jesus e dos seus apóstolos?
    Que foi o dia do Pentecostes senão a outorga de faculdades mediúnicas aos apóstolos e discípulos?
    São João falava: “Caríssimos, não creiais em todos os Espíritos, mas provai que os Espíritos são de Deus”.
  • 2.º) os horizontesculturais, retratados por J. H. Pires em O Espírito eo Tempo.
    Situando a mediunidadeem termos dos horizontes alcançados pela humanidade – em cada etapa de seudesenvolvimento – Herculano Pires, valendo-se das pesquisas científicas deBozzano, John Murphy e outros, oferece-nos valiosas informações que são úteisde serem lembradas. Assim:
    No horizonte tribalimperava o mediunismo primitivo. O mediunismo, na expressão de Emmanuel,designa a mediunidade em sua expressão natural. São as relações naturais entreo clã e o Totem dentro do Totemismo. Falam de uma força misteriosa que impregnaou imanta objetos e coisas, podendo atuar sobre as criaturas humanas. São as forçasconhecidas pelos nomes polinésicos de “mana” e “orenda”.”Essa força primitiva corresponde ao ectoplasma de Richet, a força ousubstância mediúnica das experiências metapsíquicas, cuja ação foi estudadacientificamente por Crawford, professor de mecânica da Universidade Real deBelfast, na Irlanda”. (Pires, 1979, p. 19)
    No horizonteagrícola, o animismo e culto aos ancestrais. Nessas primeiras formassedentárias de vida social, o animismo tribal desenvolve-se no nível daracionalização, principalmente através da concepção fetichista da Terra-mãe eCéu-Pai, que mais tarde dá origem à mitologia egípcia: Osíris, Deus pai, quefecunda Ísis, deusa terra, gerando o filho Hórus.
    No horizontecivilizado, o mediunismo oracular. O oráculo é às vezes a própria divindade,outras vezes a resposta dada às consultas, o santuário ou templo, o médium queatende aos consulentes, ou o local de consultas. Embora haja o médium, ooráculo, ou pitonisa, as mensagens são dadas de forma impessoal.
    No horizonteprofético, o mediunismo bíblico. Esse horizonte caracteriza-se pelomundo da individualização. O profeta apresenta-se como indivíduo social,mediúnico e espiritual. Assim, dado o avanço de sua liberdade, surgem também osexcessos e abusos que caracterizam o indivíduo grego-romano e o profetahebraico.
    No horizonte espiritual, a mediunidade positiva. É nessa fase que se observa umatranscendência humana. A mediunidade torna-se um fato de observação e de estudode todos os que se interessarem pelo problema. Observe que na Idade Média, ofenômeno mediúnico de possessão é sempre tomado como manifestação demoníaca ousagrada. O homem, não tendo atingido o horizonte espiritual, não pode conceberque o Espírito comunicante seja da sua mesma natureza.

    Kardec explica, em A Gênese,capítulo primeiro, porque o Espiritismo só poderia surgir em meados do séculodezenove, depois de longa fermentação dos princípios cristãos da Idade Média edo desenvolvimento das ciências na Renascença. Escreveu: “O Espiritismo,tendo por objeto o estudo de um dos elementos constitutivos do Universo, tocaforçosamente na maioria das ciências. Só poderia, pois, aparecer, depois daelaboração delas. Nasceu pela força mesma das coisas, pela impossibilidade detudo explicar-se apenas pelas leis da matéria.”

    3.º) a invasãoorganizada, descrita por Arthur Conan Doyle.
    Em História doEspiritismo, Conan Doyle documenta boa parte da evolução da mediunidade,lembrando que embora se considere a data de 31/03/1848 como o marco inicial, osfatos espíritas existiram desde todos os tempos. A sua narrativa começa, assim,por volta de 1740, quando Swedenborg tornou-se famoso pela vidência adistância.

    A seguir,escreve sobre Edward Irving, Andrew Jackson Davis (o profeta da novarevelação), o episódio de Hydesville, a carreira das Irmãs Fox, as primeirasmanifestações na América, a aurora na Inglaterra, as pesquisas de Sir WilliamCrookes etc.

    4. DOIS GRANDES MARCOS DO ESPIRITISMO4.1. Episódio de Hydesville (31/03/1848)
    Em termos de destaque,no cenário público internacional, este fenômeno (raps) foi o que maischamou a atenção. Observe que uma família metodista havia se mudado para umacasa, onde se falava muito de acontecimentos sobrenaturais. Realmente, poralgum tempo eles presenciavam muito barulho, sem causa aparente. Tudo caminhavanesse ritmo quando, num certo dia, as filhas do casal, Kate e Margaret Fox,resolveram responder às pancadas.

    Sua mãerelata o ocorrido nestes termos:


    “Minhafilha menor, Kate, disse, batendo palmas: “Sr. Pé-Rachado, faça o queeu faço”. Imediatamente seguiu-se o som, com o mesmo número depalmadas. Quando ela parou, o som logo parou. Então Margaret disse brincando:”Agora faça exatamente como eu. Conte um, dois, três, quatro”e bateu palmas. Então os ruídos se produziram como antes. Ela teve medo derepetir o ensaio. Então Kate disse, na sua simplicidade infantil: “Oh!Mamãe! eu já seio o que é. Amanhã é primeiro de abril e alguém quer nos pregaruma mentira”.


    Entãopensei em fazer um teste de que ninguém seria capaz de responder. Pedi quefossem indicadas as idades de meus filhos, sucessivamente. “Instantaneamentefoi dada a idade exata de cada um, fazendo pausa de um para o outro, a fim desepará-los até o sétimo, depois do que fez uma pausa maior e três batidas maisforam dadas, correspondendo à idade do menor, que havia morrido”. (Doyle,s.d.p., p. 77 e 78)


    Depoisdisso, continuou o diálogo até descobrir que o Espírito comunicante era CharlesB. Rosma, um caixeiro viajante morto e enterrado na adega.

    4.2. Lançamento de O Livro dos Espíritos(18/04/1857)
    O fato mediúnicomarcante, após o episódio de Hydesville, é o fenômeno das mesas girantes,que assolou os Estados Unidos e a Europa, servindo de brincadeiras de salão,quando as mesas dançavam, escreviam, batiam o pé e até falavam. É dentro dessecontexto que surge a Doutrina Espírita.
    Das brincadeiras desalão, surge Hypollyte Leon Denizard Rivail – Allan Kardec-, um estudioso domagnetismo e do método teórico experimental em ciência. O magnetismojá vinha sendo estudado há algum tempo. Historicamente, Mesmer descobre, em1779, o magnetismo animal, Puysegur, em 1787, o sonambulismo e Braid, em 1841,o hipnotismo.
    Havendo umadisseminação muito grande dos fenômenos das mesas girantes, Kardec, aindaHipollyte, foi convidado para assistir a uma dessas sessões, pois o seu amigoFortier, magnetizador, dissera que além da mesa mover-se ela também falava. Éaí que entra o gênio inquiridor do pesquisador teórico experimental. Assim,retruca: só se a mesa tiver cérebro para pensar e nervos para sentir e quepossa tornar-se sonâmbula. A partir daí, começa a freqüentar essas sessões,culminando, mais tarde, com a publicação de O Livro dos Espíritos, em 18/04/1857.
    Por que a mediunidadese positivou com Allan Kardec?
    A palavra positivoadvém da ciência, que se baseia em fatos. Kardec sendo um cientista deu-lhe umcaráter científico, formulando hipóteses tal qual a ciência o fazia, tomando ocuidado apenas de testá-las com a ferramenta da mediunidade, ou seja,utilizando-se da percepção extra-sensorial.
    5. QUESTÃO DE TERMINOLOGIA
    A evolução damediunidade através dos tempos deve alcançar uma melhor compreensão não só da mediunidade,mas também dos vários conceitos a ela ligados.
    Assim, convémdistinguir:
    a) Fenômeno anímico efenômeno mediúnico
  • O fenômeno anímico é aquele que diz respeito à comunicação – exclusiva ao âmbito do Espírito encarnado (alma) -, por isso anímico. Não há interferência de Espíritos desencarnados. A telepatia, por exemplo, é um fenômeno anímico, porque as transmissões de pensamentos são feitas de alma para alma, ou seja, de encarnado para encarnado. O fenômeno mediúnico é aquele que diz respeito às comunicações entre os Espíritos desencarnados e os Espíritos encarnados, em que os Espíritos encarnados são intermediários (médiuns) dos desencarnados.
  • Fenômeno anímico eanimismo
  • No fenômeno anímico não há influência do Espírito desencarnado. No animismo, que é a influência do médium na comunicação mediúnica, procura-se medir o grau dessa influência. Se, numa comunicação mediúnica, a influência do médium é de 100%, ela se transforma em fenômeno anímico; o oposto, 0% de influência, não é possível, pois, nos dizeres de Allan Kardec, o médium nunca é totalmente passivo. Assim, podemos afirmar que sempre que houver mediunidade, haverá animismo.
  • Fenômeno Mediúnico eMediunidade
  • O fenômeno mediúnico pode ser comparado ao mediunismo, definido como a mediunidade na sua expressão natural, ou seja, sem estudo. A Mediunidade, por outro lado, exige estudo e pesquisas sobre os fatos mediúnicos.
  • Mediunidade eEspiritismo
  • A Mediunidade, como dissemos anteriormente, é a relação entre os Espíritos desencarnados e os Espíritos encarnados, acrescidos da comprovação científica dos fatos observados. É apenas uma relação entre homens e Espíritos. Ela existe entre os vários segmentos das diversas religiões, podendo-se dizer que há médiuns católicos, médiuns protestantes, médiuns budistas e, também, médiuns espíritas. O Espiritismo, por outro lado, vale-se da mediunidade, mas é um corpo doutrinário que se fundamenta na ciência, na filosofia e na religião.
  • Mediunidade Natural eMediunidade de Prova.
  • Além da divisão fenomênica (fenômenos físicos e fenômenos inteligentes), a Doutrina Espírita oferece-nos a divisão funcional, ou seja, possuímos duas áreas de função mediúnica, designadas como mediunidade generalizadamediunato (tarefa). A primeira corresponde à mediunidade que todos os seres humanos possuem, e a segunda corresponde à mediunidade de compromisso, ou seja, de médiuns investidos espiritualmente de poderes mediúnicos para finalidades específicas na encarnação. (natural) e
  • 6. O MÉDIUM ESPÍRITA
    De acordo com oEspírito Emmanuel, “Os médiuns, em sua generalidade, não são missionáriosna acepção comum do termo; são almas que fracassaram desastradamente, quecontrariaram, sobremaneira, o curso das leis divinas, e que resgatam, sob opeso de severos compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado obscuroe delituoso. O seu pretérito, muitas vezes, se encontra enodoado de gravesdeslizes e de erros clamorosos. Quase sempre são Espíritos que tombaram doscumes sociais, pelos abusos do poder, da autoridade, da fortuna e dainteligência, e que regressam ao orbe terráqueo para se sacrificarem em favordo grande número de almas que desviaram das sendas luminosas da fé, da caridadee da virtude. São almas arrependidas que procuram arrebanhar todas asfelicidades que perderam, reorganizando, com sacrifícios, tudo quantoesfacelaram nos seus instantes de criminosas arbitrariedades e de condenávelinsânia”. (Xavier, 1981, p. 66 e 67).

    É poressa razão que todo o médium deve exercitar a humildade e o desprendimento,pois sendo intermediário do mundo espiritual, não pode conceber-se como umgrande missionário porque, se lhe foi dada essa ferramenta de trabalho, é paraque use em favor do próximo e não para o seu próprio benefício.

    7. CONCLUSÃO
    A mediunidade épromissora para o futuro. Contudo, deve o médium esforçar-se para ser o fielinterprete das mensagens espirituais, aprendendo a renunciar a si mesmo, tomara sua cruz e servir, isento de qualquer tipo de pagamento, moral ou material.
    8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
    Dicionário de CiênciasSociaisRio de Janeiro, FGV, 1986.
    DOYLE, A. C. Históriado Espiritismo. São Paulo, Pensamento, s.d.p.
    EQUIPE DA FEB. OEspiritismo de A a Z. Rio de Janeiro, FEB, 1995.
    PIRES, J. H. Mediunidade(Vida e Comunicação) – Conceituação, da Mediunidade e Análise Geral dos seusProblemas Atuais . 5. ed., São Paulo, Edicel, 1984.
    PIRES, J. H. OEspírito e o Tempo – Introdução Antropológica do Espiritismo. 3. Ed., SãoPaulo, Edicel, 1979.
    SANTOS, M. F. dos. Dicionáriode Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.
    XAVIER, F. C. Emmanuel(Dissertações Mediúnicas) , pelo Espírito Emmanuel. 9. ed., Rio de Janeiro,FEB, 1981.
    Autor:  Sérgio Biagi Gregório
    Site:  Luz do Espiritismo – Grupo Espírita Allan Kardec

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