sábado, 2 de janeiro de 2016

Reciclagem Mediúnica Leda Marques Bighetti III - A prática mediúnica

1 - Porque não improvisar:
A - O mundo espiritual - característica
O mundo espiritual é povoado por seres que quando encarnados exteriorizaram-se através de corpos masculinos ou femininos, homens, mulheres nos diferentes estágios evolutivos. A vida além da morte, em nada lhes alterou a posição moral. Continuam tal qual eram, circunscritos ou abertos à onda de pensamentos que lhes é própria, ligados às suas criações e interesses. O homem deseducado, prossegue em seus hábitos menos sutis; o vicioso continua a exigir satisfação dos apetites; a mente desvairada estaciona em desequilíbrios enquanto a alma de boa vontade descobre mil recursos para adiantar-se, ocupando-se em trabalhos, auxiliando, amparando, descobrindo no bem estar do outro a própria felicidade.
Ali como aqui, encontram-se Espíritos nobres, dotados de perfil moral refinado, como também massa imensa, daqueles que se posicionam da média para baixo, atingindo extremos do aviltamento moral, da revolta, da angústia, rancor, vingança, ódios que os mantém, em estados de perturbação e dor apresentadas em inquietantes patologias.
B - Por que refletir sobre isso?
Exatamente para recordar que todo intercâmbio entre desencarnados e encarnados repousa na mente. Pensamentos são forças, criações visíveis e tangíveis no campo espiritual. Com eles atraímos, mantemos ou realimentamos atuação de companhias e recursos conforme a natureza de novas idéias, desejos, sonhos e aspirações. Por representar, ser, energia viva, continuamente, criamos centros magnéticos ou ondas que nos mantém em comunicação com entidades ou núcleos de pensamento sintonizados na mesma freqüência, na mesma faixa vibratória.
A base do fenômeno mediúnico é exatamente essa sintonia, essa ligação mente a mente gerada a partir do pensamento. "Mentes enfermiças ou perturbadas assinalam correntes desordenadas de desequilíbrios, enquanto que a boa vontade e a boa intenção acumulam os valores do bem".
Desse modo, cada criatura recebe de acordo com o que emite, busca, permite, vivendo no clima espiritual que elege.
Pouco desperto para a mecânica desta realidade, por permanecer ainda em estágios inferiores da evolução, afina-se, sintoniza o homem com maior facilidade, junto àqueles que permanecem em desequilíbrios de maior ou menor gravidade.
Assim, entregar-se à prática mediúnica na improvisação, sem conhecimento e preparo é expor-se a riscos imprevisíveis para o equilíbrio emocional e orgânico, Pode significar comprometimento moral, pelo teor dos encaminhamentos que possa fazer, além de demonstrar alto desrespeito ao atendido, pelo fato de atirar-se a tão delicado trabalho sem conhecimento das leis que regem o intercâmbio, o compromisso, o trabalho, a responsabilidade para com o outro.
No trato com os desencarnados há todo um mundo a ser explorado. Situações das mais complexas clamam por ajuda, compreensão, caridade. Os desvios de orientação cometidos pelo atendente, prejudicam sempre a mais alguém, uma vez que o drama apresentado nunca é apenas de um só. Espíritos com problemas semelhantes estão ali, trazidos para participar do clima, das reflexões. Vem, por exemplo, um Espírito que odeia: se quem o atende insistir nas atitudes de prece, necessidade do perdão, bondade de Deus, urgência do esquecimento, etc., etc. certamente irritará ainda mais, levando a inconformação e desespero maior. Através do saber ouvir, da conversa serena, do gesto compreensivo, do sentimento em atendimento franco, a confiança que se estabelece, repercutirá nele (necessariamente não agora) como lembrança de um respeito ou tratamento que desconhece ou deseja.
Recorde-se que este Espírito está acostumado ou espera ser recriminado, acusado, combatido, incentivado a, sob qualquer aspecto deixar de odiar. Deve amar a Deus. Deus que para ele é sobremodo injusto: "protege" seu agressor e o impede de exercer justiça. O diálogo acontecendo informal, a troca de idéias, o teor de respeito e terna firmeza das reflexões, sem pregação, cobrança ou lição de moral, despertá-lo-á para futura análise. Não só servirá a esse Espírito atormentado mas também àqueles que lhes sofre as investidas provocadas pelas antigas mágoas. Aos que desejam vingar-se, no mesmo cuidado, sem pretensão de demover ninguém de nada, reflitamos com carinho sobre a criação das novas situações que estão sendo alimentadas comprometendo-lhes o futuro.
Aos que se prendem em teologias, sem querer provar o engano da fé, respeitando-lhes o pensamento ajude-se a que visualizem a realidade em que vivem. A todos que se mantém decepcionados pelos enganos cometidos, consolação com a certeza da própria recuperação.
Tais cuidados, tal sensibilidade e sentimento em ação, exige um mínimo de preparação apoiado no conhecimento.
C - Meios para envolver-se na ajuda dos amigos espirituais - o dia do trabalhador
Ninguém está inteiramente à mercê de Espíritos perturbadores. Velam companheiros de elevada categoria, dispostos a ajudar no exercício do bem. Não convém esquecer, porém, que eles não podem fazer pelo homem tarefas e providências que só a ele compete. Muito menos interferem no livre arbítrio, forçando ou impondo o que sabem ou pensam.
A proteção, a ajuda carinhosa desses amigos jamais será conseguida a guisa de oferendas, ritos mágicos ou qualquer prática externa, mas sim, através do procedimento reto no qual cada um procura desenvolver em si esforços moralizadores, aprendizado constante e dedicação desinteressada ao semelhante. Todos detemos um mínimo, quer material ou espiritualmente falando, que podemos doar. Será com essas atitudes individuais de trabalhos no bem, de interesse pelo outro, da mente atenta ao trabalho da renovação moral, que asseguraremos a ajuda e assistência dos irmãos mais experimentados. Essa ajuda jamais será entendida no sentido de nos livrar de dores, responder a compromissos ou atender exigências e súplicas pessoais. Será no sentido de que possamos oferecer condições para perceber-lhes a presença amiga a inspiração oportuna, a ajuda real, naquilo que realmente for proveitoso ao Espírito e não o que julgamos que o seja, segundo apreciação do momento.
Assim, o dia do trabalhador da sessão mediúnica, há de ser um dia em que se fará tudo quanto se faz nos outros, com a diferença que as variadas atividades serão desempenhadas com muito boa vontade, alerta para manter-se alegre, fraterno, em ligação natural com os Amigos responsáveis pelas atividades de logo mais. Renúncias pequeninas, moderações, maior cuidado no falar, equilíbrio no sentir, recolhimento íntimo, detalhes sem conta, dos quais, aos poucos vai se habituando, vivendo no cuidado pessoal, o compromisso que aguarda, no prazer de preparar-se.
Como as sessões geralmente são a noite, está implícito abrir mão do convívio familiar, passeios, cinema, visitas, novelas, etc., aspectos que num primeiro momento podem significar sacrifícios. Entendendo porém a grandiosidade da oportunidade que chega como convite ao exercício da fraternidade, esses "sacrifícios" desaparecem frente aos relacionamentos que se estabelecem e desenvolvem. Frise-se que, os Amigos Espirituais não exigem ou esperam perfeição, mas apenas o cuidado constante, quietinho, escondido, pessoal daquele que luta para vencer-se.
Dispondo do conhecimento espírita somos convidados a esse "(...) ministério exuberante da prática do bem, na ação da "mediunidade-amor", nesses dias que todos aguardamos para própria iluminação".
A mediunidade quando posta a serviço de Jesus nas tarefas da fraternidade a que se propõe é capaz de "(...) aproximar corações em nome do amor, detectar e tratar os problemas da alma para que o corpo não padeça e é apto ainda para desmanchar no imo dos seres os terrores do mal, as nódoas das frustrações ou das amarguras (...)".
Emílio Manso Vieira continua em "Ante o vigor do Espiritismo" estudo IX refletindo que (...) Os tempos futuros nos esperam. Esperam-nos em condições de nos fazerem médiuns da atenção, da amizade, da ternura, da honestidade, da fidelidade ao Cristo, aproveitando o tempo do qual cada um é administrador no mundo.
O tempo do hoje conclama-nos, moços ou não, segundo a faixa etária, para o exercício da rútila mediunidade responsável.
Quem não psicografe, escreva cartas e bilhetes de consolo aos irmãos do caminho de lutas.
Quem não "psicofonize", fale o bem e o bom onde se encontre, elucidando e confortando os corações em torno.
Quem não tem o dom da vidência, aprenda a ver a sua volta os sofredores que se agitam e se atormentam em todo lugar.
Quem não é capaz de realizar a ectoplasmia mediúnica, materialize assistência libertadora, movimente recursos de equilíbrio e saúde moral, para que tudo se faça bênção em redor dos seus dias.
É com essa prática mediúnica, desinteressada, autêntica e fulgente, ao lado da atuação psíquica engrandecida e fiel às leis de Deus, que o Cristo conta para que o novo milênio possa estar reforçado por homens e mulheres dispostos à entrega de si mesmos para a construção do mundo melhor que todos anelamos".

Livros consultados:

  • Miranda, H. Corrêa - Diálogo com as sombras - Introdução
  • Emmanuel - Roteiro - cap. 28
  • Teixeira, J. Raul - Ante o Vigor do Espiritismo - estudo IX

(Jornal Verdade e Luz Nº 170 de Março de 2000)

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