Não se prenda às suas tristezas, contudo não
deixe de vivê-las. Nem lá, nem cá. Observe calmamente e saboreie estes momentos,
pois se encerra neles, justamente, a oportunidade de crescer e evoluir quanto ao
desenvolvimento humano e ascender a condições melhores de sabedoria e amor.
Todos queremos o céu, mas esquecemo-nos da trajetória, procurando adiar a
caminhada. Dor e sofrimento fazem parte da natureza que habita em nós. São elas
as formas pelas quais nos incomodamos e reagimos, e assim damos novos passos. E,
mesmo sem perceber, modificamos o que fomos há pouco ou muito. É uma tentativa
vã fugir das mudanças.
Vivenciar
a dor e o sofrimento com menor receio nos aproxima de nós mesmos, levando-nos ao
autoconhecimento, elemento crucial para que vivamos em maior plenitude. Quanto
mais nos conhecemos e nos aceitamos, tanto melhor crescemos. Enxergando-nos com
honestidade, abre-se a chance de modificar o que entendemos que deva ser
modificado. Enganar-se, retarda qualquer modificação de nossa parte. É tarefa
difícil compreender que o sofrimento existencial é um componente de nossa
dinâmica de se viver, ao contrário, o enxergamos como um castigo, ou uma punição
apenas.
Por
outro lado, é justo almejar a alegria e o contentamento. Entretanto, é a eles
que pretendemos nos apegar, procurando desconsiderar o seu oposto: as aflições.
Vivemos a época da busca incontrolável pelo prazer. Busca-se o extremo nesta
direção, e isso faz clara oposição a qualquer dissabor. Cria-se muita
dificuldade em aceitar o que não faz parte do mundo prazeroso. É claro que se
trata apenas de uma ilusão, mas ela tem poderosa força e ganha adeptos em
crescente velocidade. São idéias que nos chegam de fora e as incorporamos.
Crescemos aprendendo desta forma, e com isso nos tornamos presas fáceis da
própria falta de conhecimento acerca de si mesmos, por não permitir o acesso que
leva ao conhecimento do mundo de dentro.
Cuidado,
não maldiga os momentos em que as aflições estão presentes, e tampouco tente
fugir. A recusa implica em atraso, em lentas passadas nas viagens que temos pela
frente. Mude aos poucos a percepção a respeito destas condições. Perceba as
vantagens que podem ser aproveitadas, ainda mais se aceitarmos a inevitabilidade
de ter que passar por estes momentos. Conquiste a calma necessária para lidar
melhor mediante os sofrimentos da vida. Conhecer a este respeito já nos oferece
uma posição privilegiada.
Com
o sofrimento, o choro chega também, e ele traz alívio. É um amigo que conforta,
deixando clara a sua missão: expressar o que vem do âmago, e ao mesmo tempo
consolar. Se precisarmos reduzir o sofrimento, temos o recurso natural: o
chorar. Chore, e lembre-se da sábia frase de Jesus: "Bem-aventurados os que
choram, porque eles serão consolados".
Confie
em si mesmo, nas suas sensações e reflexões. Creia mais nas coisas que emanam de
seu interior, elas são legítimas. As alegrias e aflições formam-se dentro de
nós, e por esta razão, dizem respeito ao destino que lhes daremos. De que
maneira nós as trataremos? É uma decisão particular, que pode até ser dividida e
receber apoio, todavia é único o encaminhamento a ser dado.
Os
momentos em que nos recolhemos e ficamos introspectivos e mais reservados devem
ser aproveitados para uma bela e frutífera viagem interior. Nela, nos permitimos
acessar sentimentos e situações diversificadas, como um relacionamento rompido e
ainda aberto, um medo mediante certa decisão a ser tomada, mágoa, frustração,
etc.
Temer
menos a dor e o sofrimento aumenta a capacidade de se superar e aceitar, cada
vez melhor, os reveses da vida. Amplia as chances de evolução. Há uma frase que
descreve com propriedade as razões da aflição: "Quanto mais numerosos os
espinhos, mais belas serão as rosas". Permitamo-nos ao convívio mais abrangente
de tantas coisas que ainda não ocupam o espaço necessário e enriquecedor de
nossas vidas.
Armando
Correa de Siqueira Neto.
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