Aagonia das religiões - J. Herculano Pires - pág. 58, 103
(..) O Espírito a que a
Bíblia se refere em numerosos tópicos e que nos Evangelhos toma o nome de
Espírito Santo é o Espírito de Deus em sua manifestação universal. A Criação
tem dois aspectos, o material e o espiritual. O sopro de Deus é o espírito criado
no fiat e o homem de barro, o Adão terreno, o ápice da criação nos mundos em
desenvolvimento, como a Terra. O sopro de Deus nas ventas do homem de barro,
para infundir-lhe o princípio da vida e da inteligência, é a ligação do
espírito com a matéria na formação da mônada.
No pensamento divino todo o
quadro da criação estava presente desde o princípio. E tudo era perfeito. A
perfeição do ideal constituía o modelo da realidade (o mundo da rés, das
coisas) que devia projetar-se no Infinito. Por isso, as mônadas diferenciadas,
com características específicas, seriam semeadas no espaço para a germinação
lenta, mas segura e contínua, dos conteúdos essenciais de cada uma delas. A
mônada é a semente do ser, da criatura humana e divina que dela surgirá nas
dimensões da temporalidade.
Não se pode conceber, em
nossa relatividade humana, mais grandiosa e perfeita concepção do ato criador.
Podemos perguntar porque Deus, que é o supremo poder, precisa do tempo para
realizar essa obra gigantesca. Mas o Espiritismo ensina que a nossa
relatividade decorre de necessidades nossas e não de Deus. O que para nós são
séculos e milênios, para Deus pode ser apenas aquele instante que, para
Kierkegaard, era o encontro do tempo com a eternidade. Um instante de
profundidade e extensão imensas, que resume para o homem todas as suas
existências nas duas dimensões do Universo que hoje nos são acessíveis: a
espiritual e a material.
É, sem dúvida, espantoso
pensar, como Gustave Geley, que tudo quanto consideramos inconsciente, desde o
grão de areia aos mundos que geram em torno dos sóis, possui a potencialidade
da consciência em desenvolvimento no seu interior. Mas quando compreendemos que
a mônada, síntese de espírito e matéria é uma unidade infinitesimal, sobre a
qual se apoia toda a realidade — o que corresponde à concepção atómica da
Ciência em nossos dias — nossa mente começa a abrir-se para um entendimento
superior. Se o poder do átomo nos espanta, a potencialidade da mônada nos
aturdiria. E ambos esses poderes nada mais são do que fragmentos do poder de
Deus. Quando pensamos nisso, a teoria do princípio inteligente começa a
revelar-nos a grandeza da doutrina espírita.
E no entanto os seus
fundamentos estão nos princípios evangélicos, sobre os quais milhares de
teólogos, filósofos, místicos e pregadores escreveram e falaram sem cessar,
numa catadupa de páginas e palavrórios ao longo de dois mil anos! Essa
opacidade da inteligência humana, esse embotamento da capacidade de compreensão
poderia fazer-nos descrer das potencialidades do princípio inteligente se não
soubéssemos que o instinto gregário do homem o leva a imitação e à repetição
dos papagaios. Quando Kardec se atreveu, utilizando-se de todos os recursos de
sensatez e equilíbrio, apoiando-se na cultura do Século XIX — para não provocar
reações precipitadas que lhe prejudicariam a obra - a publicar "O Livro
dos Espíritos", todos os anátemas da Religião, da Ciência e da Filosofia
caíram sobre ele como as bombas norte-americanas sobre o Vietnã. (...)
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A Gênese - Allan Kardec - cap.XI, 38 - cap.
XII, 13
RAÇA ADÂMICA
38. - Segundo o ensino dosEspíritos, foi uma dessas grandes imigrações, ou, querendo-se, uma dessas
colônias de Espíritos, vindos de uma outra esfera, que deram nascimento à raça
simbolizada na pessoa de Adão, e, por esta razão, chamada raça adâmica. Quando
ela chegou, a Terra estava povoada desde tempos imemoriais, como a América,
quando chegaram os Europeus.
A
raça adâmica, mais
avançada do que aquelas que a precederam sobre a Terra, era, com efeito,
mais
inteligente; foi ela que levou todas as outras ao progresso. A Gênese
no-la
mostra, desde seus princípios, industriosa, apta para as artes e para
asciências, sem passar pela infância intelectual, o que não é o próprio
das raças
primitivas, mas o que concorda com a opinião de que se compunha de
Espíritos
que já progrediram. Tudo prova que ela não era antiga sobre a Terra, e
nada se
opõe a que não esteja aqui senão há alguns milhares de anos, o que não
estaria
em contradição nem com os fatos geológicos, nem com as observações
antropológicas, e, ao contrario, tenderia a confirmá-las.
39. - A doutrina que fez
todo o gênero humano proceder de uma única individualidade, ha seis mil anos,
não é mais admissível no estado atual dos conhecimentos. As principais
considerações que a contradizem, tiradas da ordem física e da ordem moral, se
resumem nos seguintes pontos:
Do ponto de vista
psicológico, certas raças apresentam tipos particulares característicos, que
não permitem assinalar-lhes uma origem comum. Há diferenças que, evidentemente,
não são o efeito do clima, uma vez que os brancos que se reproduzem no país dos
negros não se tornam negros, e reciprocamente. O ardor do Sol tosta e amorena a
epiderme, mas nunca transformou um branco em negro, achatou o nariz, mudou a
forma dos traços da fisionomia, nem tornou encarapinhados e lanudos os cabelos
longos e macios. Sabe-se hoje que a cor do negro provém de um tecido
particular, subcutâneo, que se liga a espécie.
É necessário, pois,
considerar as raças negras, mongólicas, caucásicas, como tendo a sua origem
própria e nascidas simultaneamente, ou sucessivamente, sobre diferentes partes
do globo; seu cruzamento produziu as raças mistas secundárias. Os caracteres
fisiológicos das raças primitivas são o indício evidente de que elas provieram
de tipos especiais. As mesmas considerações existem, pois, tanto para os homens
como para os animais, quanto à pluralidade de estirpes. (Cap. X, ns 2 e
seguintes).
40.-Adão e seus descendentes
são representados na Gênese como homens essencialmente inteligentes, uma vez
que, desde a segunda geração, edificam as suas casas, cultivam a terra,
trabalham os metais. Seus progressos nas artes e nas ciências foram rápidos e
constantemente sustentados. Não se conceberia, pois, que essa estirpe tivesse,
por descendentes, povos numerosos tão atrasados, de uma inteligência tão
rudimentar, que costeiam, ainda em nossos dias, a animalidade; que perdessem
todo o traço e até a menor lembrança tradicional do que faziam seus pais. Uma
diferença tão radical nas aptidões intelectuais, e no desenvolvimento moral,
atesta, com não menos evidência, uma diferença de origem.
41.-Independentemente dos
fatos geológicos, a prova da existência do homem sobre a Terra antes da época
fixada pela Gênese é tirada da população do globo. Sem falar da cronologia
chinesa, que remonta, diz-se, a trinta mil anos, documentos mais autênticos
atestam que o Egito, a índia e outros países, estavam povoados e florescentes
pelo menos três mil anos antes da era cristã, mil anos, conseqüentemente, depois
da criação do primeiro homem, segundo a cronologia bíblica. Documentos e
observações recentes não deixam nenhuma dúvida, hoje, sobre as relações que
existiram entre a América e os antigos Egípcios; de onde é necessário concluir
que esse continente já era povoado nessa época. Seria, pois, preciso admitir
que, em mil anos, a posteridade de um único homem pôde cobrir a maior parte da
Terra; ora, uma tal fecundidade seria contrária a todas as leis antropológicas
(1).
42.-A impossibilidade se
torna ainda mais evidente se se admite, com a Gênese, que o dilúvio destruiu
todo o gênero humano, com excessão de Noé e sua família, que não era numerosa,
no ano de 1656, seja 2348 anos antes da era cristã. Não seria, pois, em realidade,
que de Noé dataria o povoamento do globo; ora, quando os Hebreus se
estabeleceram no Egito, 612 anos depois do dilúvio, esse já era um poderoso
império, que teria sido povoado, sem falar de outros países, em menos de seis
séculos, só pelos descendentes de Noé, o que não é admissível.
Notemos, de passagem, que os
Egípcios acolheram os Hebreus como estrangeiros; seria de espantar que tivessem
perdido a lembrança de uma comunidade de origem tão próxima, então que
conservavam religiosamente os monumentos de sua história.
Uma lógica rigorosa,
corroborada pelos fatos, demonstra, pois, da maneira mais peremptória, que o
homem está sobre a Terra há um tempo indeterminado, bem anterior à época
assinalada pela Gênese. Ocorre o mesmo com a diversidade de estirpes
primitivas; porque demonstrar a impossibilidade de uma proposição é demonstrar
a proposição contrária. Se a geologia descobre traços autênticos da presença do
homem antes do grande período diluviano, a demonstração será ainda mais
absoluta.
(1) A Exposição universal de
1867 apresentou antiguidades do México, que não deixam nenhuma dúvida sobre as
relações que os povos desse continente tiveram com os antigos Egípcios. O Sr.
Léon Méchedin, numa nota afixada no templo mexicano da Exposição, assim se expressou:
"É conveniente não
publicar antes do tempo as descobertas feitas do ponto de vista da história do
homem, pela recente expedição científica do México; entretanto, nada se opõe a
que o público saiba, desde hoje, que a exploração constatou a existência de um
grande número de cidades encobertas pelo tempo, mas que a picareta e o incêndio
podem tirar de sua mortalha.
As escavações puseram a
descoberto, por toda a parte, três berços de civilizações que parecem dar, ao
mundo americano, uma antiguidade fabulosa."
É assim que, cada dia, a
ciência vem dar o desmentido dos fatos à doutrina que limita em 6000 anos a
aparição do homem sobre a Terra, ao pretender fazê-lo sair de uma estirpe
única.
A
reencarnação na bíblia - Herminio C. Miranda - pág. 60
PRELIMINARES A UMA
INTERPRETAÇÃO
Vamos, pois, ordenar as
idéias expostas nesse longo trecho. Antes, um pouco de preparação que nos
garanta o entendimento de certas referências a partir de definição de algumas
preliminares. Para os antigos, viver era o supremo bem, enquanto morrer,
especialmente em pecado, a tragédia irreparável e definitiva. A seita dos
saduceus, mais tarde, nem mesmo acreditaria na sobrevivência da alma; para
eles, a morte era o fim.
Como já vimos, o prêmio que
o Decálogo promete àquele que honra pai e mãe não é um paraíso póstumo, mas uma
"longa vida sobre a terra que o Senhor teu Deus te dará". De certa
forma, o conceito de que o pecado acarreta a morte do pecador preservou-se da
dogmática cristã, dado que o pecado afasta o homem de Deus. Ê necessário
entender bem que ninguém poderá desligar-se de Deus, simplesmente porque nada
existe senão nele, criado e sustentado por ele.
"Vivemos e nos movemos
em Deus e nele temos o nosso ser", disse Paulo de Tarso. A linguagem
bíblica, porém, é rica em simbolismos, que outra coisa não são senão maneiras
de expressar verdades ainda transcendentais, de forma que o maior número
possível de pessoas possa entendê-las. Como dizer, por exemplo, que o erro nos
aliena de Deus, senão dizendo que Deus nos vira o rosto, ou que se aparta de
nós e nos deixa entregues à nossa sorte, ou nos castiga, ou nos priva daqueles
bens que mais desejamos?
Quando
se quer, por exemplo,
caracterizar a gravidade do erro cometido por Adão e Eva — uma evidente
alegoria — o autor do Penta-teuco declara que a primeira providência de
Deus
foi expulsá-los do Éden, onde viviam na maior felicidade e inocência. A
"morte da alma" era, pois, a pena máxima. Não que na concepçãodaqueles
povos a alma fosse perecível, porque os justos iam para o "seio
de Abraão" e os pecadores para a região de agonias e trevas, o
"sheol". Cada povo ou seita tem a sua maneira de figurar esses dois
pólos opostos da destinação: os bons, de um lado e os maus de outro.
A Doutrina dos Espíritos
veio, finalmente, esclarecer que tanto "céu" como "inferno"
são estados d'alma, porque o ser humano leva para onde for, aqui ou no mundo
espiritual, o seu próprio "céu" ou o seu "inferno"
interior. Outro ponto a destacar, ainda nestas preliminares, é o conceito de
justiça. Era considerado justo aquele que cumprisse rigorosamente os preceitos
morais contidos na lei divina e nas prescrições posteriores elaboradas
principalmente por Moisés. Justo era, portanto, o homem de bem, cumpridor de
seus deveres religiosos e sociais; justa a mulher honesta, fiel, de
procedimento correto. O prêmio do justo era o mesmo de sempre: viver.
O destino do pecador, a
morte. No contexto da linguagem moderna, o conceito bíblico de justiça
tornou-se um tanto obscuro para a mentalidade atual. Praticar, fazer, exercer
justiça hoje é diferente de ser justo tal como o entendiam os antigos judeus.
No contexto da Bíblia, o ser humano é justo quando age com justeza e não
necessariamente com justiça. Não é nada justo, por exemplo, aquele que resolve
"fazer justiça por suas próprias mãos" e matar um inimigo.
Somente assim poderemos
entender frases como esta: ele viverá por causa da justiça que praticou. Ou
seja: aquele foi um homem justo — bom, caridoso, pacífico, correto — e por isso
será premiado por suas virtudes. Tanto é assim que não se emprega jamais a
forma negativa em frases como esta: o injusto será castigado, ou morrerá pela
sua injustiça.
Resta um terceiro e
importante aspecto: a conceituação do que era considerado bom procedimento e,
reversamente, mau procedimento. Era considerado bom (justo) aquele que cumpria
os preceitos da lei. Quais eram ? Não ser idólatra, não trair a sua mulher com outra,
nem o seu amigo, ou irmão, seduzindo-lhes a esposa; não emprestar dinheiro a
juros; não ser violento; ser caridoso na ajuda ao pobre; evitar, enfim, o mal e
procurar praticar o bem, ainda que certas regrinhas, hoje inexpressivas, também
fossem incluídas nas proibições, como "comer nos montes". Era
considerado ímpio (em oposição ao justo) aquele que praticasse os erros
codificados na lei.
O
Livro dos Espíritos - Allan Kardec - questões. 50 a 59
III - POVOAMENTO DA TERRA,
ADÃO
Perg. 50 - A espécie humana
começou por um só homem?
- Não; aquele que chamais
Adão não foi o primeiro nem o único a povoar a Terra.
Perg. 51 - Podemos saber em
que época viveu Adão?
- Mais ou menos naquela que
lhe assinalais: cerca de quatro mil anos antes de Cristo.
O homem cuja tradição se
conservou sob o nome de Adão foi um dos que sobreviveram, em alguma região, a
um dos grandes cataclismos que em diversas épocas modificaram a superfície do
globo, e tornou-se o tronco de uma das raças que hoje o povoam. As leis da Natureza
contradizem a opinião de que os progressos da Humanidade, constatados muito
tempo antes de Cristo, se tenham realizado em alguns séculos, como o teria de
ser, se o homem não tivesse aparecido senão a partir da época assinalada para a
existência de Adão. Alguns, e com muita razão, consideram Adão como um mito ou
uma alegoria, personificando as primeiras idades do mundo.
IV - DIVERSIDADE DAS RAÇAS
HUMANAS
Perg. 52 - De onde vêm as
diferenças físicas e morais que distinguem as variedades de raças humanas na
Terra?
- Do clima, da vida e dos
hábitos. Dá-se o mesmo que se daria com duas crianças da mesma mãe, que,
educadas uma longe da outra e de maneira diferente, não se assemelham em nada
quanto ao moral.
Perg. 53 - O homem apareceu
em muitos pontos do globo?
- Sim, e em diversas épocas,
e é essa uma das causas da diversidade das raças; depois, o homem se dispersou
pelos diferentes climas, e aliando-se os de uma raça aos de outras, formaram-se
novos tipos.
Perg. 53a - Essas diferenças
representam espécies distintas?
- Certamente não, pois todos
pertencem à mesma família. As variedades do mesmo fruto acaso não pertencem à
mesma espécie.
Perg. 54 - Se a espécie
humana não procede de um só tronco, não devem os homens deixar de considerar-se
irmãos?
- Todos os homens são irmãos
em Deus, porque são animados pelo espírito e tendem para o mesmo alvo. Quereis
sempre tomar as palavras ao pé da letra.
V - PLURALIDADE DOS MUNDOS
Perg. 55 - Todos os globos
que circulam no espaço são habitados?
- Sim, e o homem terreno
está bem longe de ser, como acredita, o primeiro em inteligência, bondade e
perfeição. Há, entretanto, homens que se julgam espíritos fortes e imaginam que
só este pequeno globo tem o privilégio de ser habitado por seres racionais.
Orgulho e vaidade! Crê em que Deus criou o Universo somente para eles.
Deus
povoou os mundos de
seres vivos, e todos concorrem para o objetivo final da providência.
Acreditar
que os seres vivos estejam limitados apenas ao ponto que habitam no
Universo,
seria pôr em dúvida a sabedoria de Deus, que nada fez de inútil e deve
ter
destinado esses mundos para um fim mais sério do que o de alegrar os
nossos
olhos. Nada, aliás, nem na posição, no volume ou na constituição física
daTerra, pode razoavelmente levar-nos à suposição de que ela detenha o
privilégio
de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de mundos semelhantes.
Perg. 56 - A constituição
física dos mundos é a mesma?
- Não; eles absolutamente
não se assemalham.
Perg. 57 - A constituição
física dos mundos não sendo a mesma para todos, os seres que os habitam terão
organização diferente?
- Sem dúvida, como entre vós
os peixes são feitos para viver na água e os pássaros no ar.
Perg. 58 - Os mundos maisdistanciados do Sol são privados de luz e calor, de vez que o Sol aparece
apenas como uma estrela?
- Acreditais que não há
outras fontes de luz e de calor, além do Sol? Não tendes em conta a
eletricidade, que em certos mundos desempenha um papel desconhecido para vós,
bem mais importante que o que lhe cabe na Terra? Aliás, não dissemos que todos
os seres vivem da mesma maneira que vós, com órgãos semelhantes aos vossos.
VI - CONSIDERAÇÕES E
CONCORDÂNCIAS BÍBLICAS REFERENTES À CRIAÇÃO
59. Os povos fizeram idéias
bastante divergentes sobre a Criação, segundo o grau de seus conhecimentos. A
razão apoiada na Ciência reconheceu a inverossimilhança de algumas teorias. A
que os Espíritos nos oferecem confirma a opinião há muito admitida pelos homens
mais esclarecidos.
A objeção que se pode fazer
a essa teoria é a de estar em contradição com os textos dos livros sagrados.
Mas um exame sério nos leva a reconhecer que essa contradição é mais aparente
que real, resultante da interpretação dada a passagens que, em geral, só
possuíam sentido alegórico.
A questão do primeiro homem,
na pessoa de Adão, como único tronco da Humanidade, não é a única sobre a qual
as crenças religiosas têm de modificar-se. O movimento da Terra parecia, em
determinada época, tão contrário aos textos sagrados, que não há formas de
perseguição a que essa teoria não tenha dado pretexto. Não obstante, a Terra gira,
malgrado os anátemas, e ninguém hoje em dia poderia contestar isto, sem ofender
a sua própria razão.
A Bíblia diz igualmente que
o inundo foi criado em seis dias e fixa a época da Criação em cerca de quatro
mil anos antes da Era Cristã. Antes disso, a Terra não existia; ela foi tirada
do nada. O texto é formal. E eis que a Ciência positiva, a Ciência inexorável,
vem provar o contrário. A formação do globo está gravada em caracteres
indeléveis no mundo fóssil, e está provado que os seis dias da Criação representam
outros tantos períodos, cada um deles, talvez, de muitas centenas de milhares
de anos. E não se trata de um sistema, uma doutrina, uma opinião isolada, mas
de um fato tão constante como o do movimento da Terra, e que a Teologia não
pode deixar de admitir, prova evidente do erro em que se pode cair, quando se
tomam ao pé da letra as expressões de uma linguagem frequentemente figurada.(1)
Devemos concluir, então, que a Bíblia é um erro? Não; mas que os homens se
enganaram na sua interpretação. (2)
(1) As declarações do Papa
Pio XII, admitindo os cálculos da Ciência para a formação da Terra, confirmam o
acerto de Kardec nesta nota. (N. do T)
(2) Advertência aos que
condenam a Bíblia sem levar em conta os fatores históricos e a linguagem
figurada do texto. (N. do T.)
A Ciência, escavando
os arquivos da Terra, descobriu a ordem em que os diferentes seres vivos
apareceram na sua superfície, e essa ordem concorda com a indicada no Gênesis,
com a diferença de que essa obra, em vez de ter saído miraculosamente das mãos
de Deus, em apenas algumas horas, realizou-se sempre pela sua vontade, mas
segundo a lei das forças naturais, em alguns milhões de anos. Deus seria, por
isso, menor e menos poderoso? Sua obra se tornaria menos sublime, por não ter o
prestígio da instantaneidade.
Evidentemente, não. Ê
preciso fazer da Divindade uma idéia bem mesquinha, para não reconhecer a sua
onipotência nas leis eternas que ela estabeleceu para reger os mundos. A
Ciência, longe de diminuir a obra divina, no-la mostra sob um aspecto mais
grandioso e mais conforme com as noções que temos de poder e da majestade de
Deus, pelo fato mesmo de ter ela se realizado sem derrogar as leis da Natureza.
A Ciência, de acordo neste
ponto com Moisés, coloca o homem por último na ordem da criação dos seres
vivos. Moisés, porém, coloca o dilúvio universal no ano 1654 da formação do
mundo, enquanto a Geologia nos mostra o grande cataclismo como anterior à
aparição do homem, tendo em vista que, até agora, não se encontra nas camadas
primitivas nenhum traço da sua presença, nem da presença dos animais que, sob o
ponto de vista físico, são da sua mesma categoria. Mas nada prova que isso seja
impossível; várias descobertas já lançaram dúvidas a respeito, podendo
acontecer, portanto, que de um momento para outro se adquira a certeza material
da anterioridade da raça humana. E então se reconhecerá que, nesse ponto, como
em outros, o texto bíblico é figurado.
A
questão está em saber se o
cataclismo é o mesmo de Noé, Ora, a duração necessária à formação das
camadasfósseis não dá lugar a confusões, e no momento em que se
encontrarem os traços
da existência do homem, anteriores à grande catástrofe, ficará provado
que Adão
não foi o primeiro homem, ou que a sua criação se perde na noite dos
tempos.
Contra a evidência não há raciocínios possíveis, e será necessário
aceitar o
fato, como se aceitou o do movimento da Terra e o dos seis períodos da
Criação.
A existência do homem antes
do dilívio geológico é, não há dúvida ainda hipotética, mas eis como nos parece
menos. Admitindo-se que homem tenha aparecido pela primeira vez na Terra há
quatro mil anos antes de Cristo, se 1650 anos mais tarde toda a raça humana foi
destruída, com exceção apenas de uma família, conclui-se que o povoamento da
Terra data de Noé, ou seja, de 2.350 anos antes da nossa era. Ora, quando os
hebreus emigraram para o Egito, no décimo oitavo século, encontraram esse país
bastante povoado e já bem avançado em civilização.
A
História prova, que nessa
época, a Índia e outros países eram igualmente florescentes, mesmo sem
levarmos
em conta a cronologia de certos povos, que remonta a uma época mais
recuada.
Teria sido então necessário que do vigésimo quarto ao décimo oitavo
século,
quer dizer, num espaço de seiscentos anos, não somente a posteridade de
um
único homem tivesse podido povoar todas as imensas regiões então
conhecidas,
supondo-se que as outras não estivessem povoadas, mas também que, nesse
curtointervalo, a espécie humana tivesse podido elevar-se da ignorância
absoluta do
estado primitivo ao mais alto grau de desenvolvimento intelectual, o que
é
contrário a todas as leis antropológicas.
A
diversidade das raças
humanas vem, ainda, em apoio desta opinião. O clima e os hábitos
produzem, sem
dúvida, modificações das características físicas, mas sabe-se até onde
podechegar a influência dessas causas, e o exame fisiológico prova a
existência,
entre algumas raças, de diferenças constitucionais mais profunda que as
produzidas pelo clima. O cruzamento de raças produz os tipos
intermediários;
tende a surar os caracteres extremos, mas não cria estes, produzindo
apenas as
variedades.
Ora, para que tivesse havido
cruzamento de raças, era necessário que houvesse raças distintas, e como
explicarmos a sua existência, dando-lhes um tronco comum, e sobretudo tão
próximo? Como admitir-se que, em alguns séculos, certos descendentes de Noé se
tivessem transformado, a ponto de produzirem a raça etíope, por exemplo? Uma
tal metamorfose não é mais admissível que a hipótese de um tronco comum para o
lobo e a ovelha, o elefante e o pulgão, a ave e o peixe. Ainda uma vez, nada
poderia prevalecer contra a evidência dos fatos.
Tudo se explica, pelo
contrário, admitindo-se a existência do homem antes da época que lhe é
vulgarmente assinalada; a diversidade das origem: Adão, que viveu há seis mil
anos, como tendo povoado uma região ainda inabitada; o dilúvio de Noé como uma
catástrofe parcial, que se tomou pelo cataclismo geológico;(1) e tendo-se em
conta, por fim, a forma alegórica peculiar ao estilo oriental, que se encontra
nos livros sagrados de todos os povos. Eis porque é prudente não se acusar
muito ligeiramente de falsas as doutrinas que podem, cedo ou tarde, como tantas
outras, oferecer um desmentido aos que as combatem. As idéias religiosas, longe
de perder, se engrandecem, ao marchar com a Ciência; esse é o único meio de não
apresentarem ao ceticismo um elo vulnerável.
(1) As escavações
arqueológicas por Sir Charles Leonard Wooley, em 1929, ao norte de Basora,
próximo ao Golfo Pérsico, para a descoberta de Ur, revelaram os restos de uma
catástrofe diluviana ocorrida exatamente quatro mil anos antes de Cristo. Ao
encontrar a camada de lodo que cobria as ruínas da Ur primitiva, Woolley
transmitiu a notícia ao mundo nos seguintes termos: "Encontramos os sinais
do dilúvio universal". Trabalhos posteriores comprovaram o fato, mostrando
que houve um dilúvio local no delta do Tigre e do Eufrates, exatamente na data
assinalada pela Bíblia. Este fato vem confirmar a previsão de Kardec (N.doT).
Os textos acima foram compilados
por Edivaldo Fontana
Que
Espíritos fizeram parte da chamada raça adâmica?
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
Revista O Consolador
Primeiro é preciso lembrar o
significado da palavra adâmica, forma feminina de adâmico, que nos veio do
latim Adam, 'Adão'. Trata-se de um adjetivo relativo a Adão, que seria, segundo
a tradição bíblica, o primeiro homem a povoar a Terra.
Segundo os ensinamentos
espíritas, foi uma dessas colônias de Espíritos, vindos de outra esfera, que
deu origem à raça simbolizada na pessoa de Adão e, por essa razão, chamada raça
adâmica.
Quando eles aqui chegaram,
nosso planeta já estava povoado desde tempos imemoriais, do mesmo modo que se
deu com a América, quando aí chegaram os europeus. Adão não pode ser, portanto,
considerado o pai da espécie humana.
Mais adiantada do que as que
a tinham precedido neste planeta, a raça adâmica foi, sem nenhuma dúvida, a
mais inteligente e a que impeliu ao progresso todas as outras.
O livro de Gênesis mostra-a,
desde os seus primórdios, industriosa e apta às artes e às ciências, o que
indica que os Espíritos que a integravam não passaram pela infância espiritual
em nosso globo, pois – comparando-os com os povos primitivos – tais Espíritos
já haviam progredido bastante.
De fato, segundo o Gênesis,
Adão e seus descendentes, desde a segunda geração, tinham habilidades
pertinentes à construção de cidades, ao cultivo da terra, ao trabalho com os
metais, e foram rápidos e duradouros seus progressos nas artes e nas ciências.
Apesar da inteligência
desenvolvida, a raça adâmica apresentava, contudo, todos os caracteres de uma
raça proscrita. Os Espíritos que a integravam foram exilados para a Terra, já
povoada de homens primitivos, imersos na ignorância, que os imigrantes tiveram
por missão fazer progredir, levando-lhes as luzes de uma inteligência
desenvolvida.
Segundo anotações de Kardec
no livro A Gênese, cap. XI, a superioridade intelectual dos exilados prova que
o mundo donde vieram era mais adiantado do que a Terra. Havendo esse mundo
entrado numa nova fase de progresso e não tendo tais Espíritos querido colocar-se
à altura desse progresso, foram, em consequência, desterrados de lá e
substituídos por outros que isso mereceram.
Emmanuel retomou o tema e
aditou-lhe novas informações, como o leitor pode ver no livro A Caminho da Luz,
cap. III, obra psicografada por Francisco Cândido Xavier.
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