A
compreensão do sofrimento está associada à evolução espiritual da própria
humanidade assim como da concepção que a mesma tem sobre
Deus.
Na
época de Moisés e mesmo naquelas que o precederam, o sofrimento era considerado
como um castigo dos deuses, para os pagãos e, para os hebreus, que concebiam e
cultivavam a crença no Deus único, o sofrimento também era considerado como uma
punição, mesmo porque, para eles, Deus, embora protetor e criador, era um juiz
implacável. O sofrimento era a maneira pela qual Ele se expressava para dizer às
suas criaturas que elas estavam vivendo em desobediência às suas leis e a dor
viria como um meio de castigo, até que retornassem à obediência. Deus era mais
temido do que amado. Durante esse período, a humanidade ainda se encontrava numa
fase de infância espiritual em relação às profundas questões de natureza
espiritual, incluindo a concepção sobre o próprio
Criador.
Séculos
e séculos depois, mais amadurecida espiritualmente, vem Jesus nos trazer os
ensinamentos divinos com uma nova visão. Mostrou à humanidade de então, que Deus
era justo mas igualmente e infinitamente misericordioso e o tratava por “Pai”.
Jesus também ensinou que o sofrimento, quando aceito e suportado com resignação,
coragem e submissão a Deus, seria a garantia da felicidade futura. Ensinou e
exemplificou a necessidade de suportarmos, com paciência, as decepções e as
vicissitudes da vida, pois esse é o caminho que nos concederá o direito da vida
eterna.
Por
esse motivo, o Sermão do Monte é um convite ao encorajamento diante da dor.
Jesus expõe as consolações reservadas aos que sofrem, mas suas promessas se
dirigem ao tempo futuro. Se considerarmos que viveremos “para sempre”, que nunca
deixaremos de existir, que a vida é eterna, compreenderemos melhor as promessas
de Jesus, garantindo novas existências com menos sofrimento, se confiarmos nEle
e em Seus ensinamentos. Jesus mostrou que o sofrimento faz parte da vida como um
meio de atingirmos a felicidade e a glória espiritual. Jesus falou ao nosso
coração.
No
entanto, nem nos tempos de Moisés e nem nos tempos de Jesus ficou claro o por
que do sofrimento, isto é, por que sofremos, por que a dor é necessária, por que
ela faz parte da vida? Era preciso que a humanidade amadurecesse mais ainda e,
somente 1800 anos depois da vinda de Jesus é que ela estava preparada para
receber novas lições. Com o advento da Doutrina Espírita, marcada pelo
lançamento de “O Livro dos Espíritos”, em 1857 por Allan Kardec, chegava à
humanidade o Consolador prometido por Jesus, falando diretamente à nossa razão,
respondendo aos “por quês” da vida, sobretudo quando
sofremos.
O
Espiritismo nos esclarece que o sofrimento representa a forma pela qual nos
reequilibramos perante a harmonia divina, baseada totalmente na lei do amor.
Toda vez que cometemos uma infração à essa lei, encontraremos, como conseqüência
inevitável, a necessidade de nos equilibrarmos e isso se dá através da dor,
único instrumento, por enquanto, capaz de nos reajustar às leis divinas, que
insistimos em subestimar.
O
Espiritismo nos ensina que existe uma causa justa e um objetivo útil para todas
as dores. Ou seja, a causa é justa porque Deus é justo, e o objetivo é útil pois
auxilia nosso progresso espiritual. Segundo o Benfeitor Emmanuel, “a dor é aviso
santificante”, informando-nos de que algo está errado conosco, seja essa dor de
natureza física ou moral.
No
capítulo V de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, Allan Kardec dedicou muitas
orientações sobre a questão do sofrimento, suas causas – atuais e anteriores –
como também disponibilizou várias instruções dos Espíritos sobre o assunto. Toda
vez que estivermos enfrentando momentos difíceis, façamos uma releitura desse
Capítulo pois certamente encontraremos muitas respostas, acalmando nossa razão e
consolando nosso coração. Destacamos a lição: “Bem sofrer e mal sofrer”, do
Espírito Lacordaire. Diz o Benfeitor Espiritual: “O desânimo é uma falta. Deus
vos nega consolações se não tiverdes coragem. A prece é um sustentáculo da alma,
mas não é suficiente por si só: é necessário que se apóie numa fé ardente na
bondade de Deus. Tendes ouvido frequentemente que Ele não põe um fardo pesado em
ombros frágeis. O fardo é proporcional às forças, como a recompensa será
proporcional à resignação e à coragem”.
Em
nosso atual estágio evolutivo, infelizmente, ainda temos necessidade do
sofrimento e da dor para progredirmos espiritualmente. Não há outro recurso
educativo para nossa alma.
Lentamente,
no entanto, tomamos consciência de um ensinamento que Jesus nos deixou e que a
Doutrina Espírita tomou como bandeira: “Fora da caridade não há salvação”, ou
seja, Jesus nos ensinou que se quiséssemos alcançar a vida eterna, era preciso
amar a Deus e ao próximo, fazendo a ele tudo o que gostaríamos que ele nos
fizesse. Essa é prática da caridade que encontramos nos ensinamentos espíritas,
como sendo uma forma de amenizarmos nossas dívidas perante a vida e acelerarmos,
ao mesmo tempo, nosso progresso espiritual.
Nosso sofrimento diminui quando diminuímos o
sofrimento do nosso irmão. Conquistamos momentos de alegria em nossa vida quando
promovemos a alegria para os que sofrem. Foi o que Jesus nos ensinou, mas ao
longo de tantos séculos, esquecemos e por isso, ainda hoje,
sofremos...
Grupo Espírita Allan Kardec –
Limeira
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