quarta-feira, 30 de abril de 2014

CONTATO COM OS GUIAS ESPIRITUAIS

Afliges-te, porque ainda não lograste o contato psíquico com os teus guias espirituais.
Reflexionas que buscaste a fé religiosa, abraçando a mediunidade, e, não obstante, tens a impressão que navegas sem rumo, padecendo conflitos e experimentando desânimo.
Momentos surgem nos quais receias pela legitimidade do intercâmbio espiritual de que te fazes objeto.
Anseias por informações precisas sobre o teu papel nas tarefas da mediunidade.
Relacionas pessoas que te parecem menos equipadas, e, apesar disso, apresentam-se superprotegidas pelos Espíritos Nobres, assessoradas por Benfeitores Venerandos e Entidades outras, que na Terra deixaram nomes respeitáveis, famosos...
Planejas desistir, acreditando que as tuas são faculdades atormentadas, sem credencial ou recurso capaz de registrar a proteção dos guias espirituais.
*
Tem, porém, cuidado e medita sem queixa.
A mediunidade é instrumento de serviço em nome do amor de Deus, para apressar o progresso dos homens e facultar o intercâmbio com os Espíritos, deles recebendo a ajuda.
Candidatas-te ao labor socorrista, como recurso saudável para te recuperares moralmente do passado delituoso, mediante cuja contribuição terias, também, as dores lenidas ou alteradas no seu organograma para a evolução.
Honrado pelo trabalho de iluminação de consciência, estás colocado como veículo de bênçãos.
Buscam-te os sofredores, porque são trazidos a ti pelos teus guias espirituais, que confiam na tua ductibilidade, no teu sentimento de amor.
Porque não ouves os teus Benfeitores, não te creias abandonado, sem apoio.
Tem paciência.
Faze silêncio íntimo e entrega-te mais.
Quando desdobrado parcialmente pelo sono, eles te confortam e instruem, fortalecem-te e programam as atividades para as quais renasceste.
Se não o recordas conscientemente, ficam impressos nos teus registros psíquicos, esses salutares conúbios edificantes.
Se aprofundares reflexão, perceberás quantas vezes eles já te falaram, socorreram e apoiaram nos momentos rudes das provações e dos testemunhos.
Eles são discretos e agem sem alarde, não brindando recursos que induzam à vaidade, ao exibicionismo.
Amparam em silêncio, instruem em calma, conduzem com afabilidade.
*
Quando vejas, na mediunidade, o campeonato das disputas humanas e o calafrio que provoca a presença de seres nobres do passado, aureolando com pompa terrestre a memória, que pretendem manter rutilante, acautela-te e desconfia.
Importante não é o nome que firma ou enuncia uma mensagem, mas, sim, o seu conteúdo de qualidade e penetração benéfica.
Desse modo, trabalha no anonimato e, consciente das responsabilidades que te dizem respeito, deixa que os teus guias espirituais zelosamente te guardem e conduzam, não te expondo no palco da insensatez, onde brilha por um dia e se apaga de imediato a vaidade humana.
Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Momentos de Felicidade. Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis. 2 edição. Salvador, BA: LEAL. 1990.

terça-feira, 29 de abril de 2014

A RECOMENDAÇÃO DETESTADA

Em plena sessão de assistência fraterna, uma senhora mirrada e pálida dirigiu-se ao Espírito de Irmão Calimério, incorporado à médium do grupo, e expôs o seu caso, comovedoramente:
- Meu benfeitor, venho suplicar-lhe proteção!... Salve-me, por piedade!...
- Diga, irmã, em que lhe posso ser útil – respondeu, afável, o interpelado -; reconheço a minha deficiência, mas estou pronto a cooperar com você nas orações.
A sofredora criatura, como se tocada no imo das próprias chagas, prorrompeu em pranto e acentuou:
- Tenho meu lar em extrema luta. Meu esposo e eu debalde procuramos trabalho. Tenho quase certeza de que pesada falange de Espíritos malignos e conturbados nos segue de perto... Certo vidente já me afiançou que retenho forças mediúnicas, em franco desabrochar. Além disso, comumente me vejo em sonhos que são verdadeiros avisos. Ouço vozes noturnas, ao deitar-me, chamando-me em surdina ou implorando socorro que não sei como dispensar. De outras vezes, não somente durante a noite, mas também no curso do dia, vejo-me na posição de peça vibrátil, alimentada por pilhas elétricas, tais os incessantes choques de que sou vítima, qual se vivesse rodeada por diversas pessoas invisíveis a zombarem de minha fragilidade... Tenho procurado o patrocínio de médicos especializados, sem a mínima vantagem. Respiro entre injeções e comprimidos, castigada por regimes cruéis. Acredito que a intervenção espiritual me colocaria a salvo de semelhantes inquietações...
E elevando o tom de voz, acrescentava:
- Por quem é, meu amigo, estenda-me braços protetores! Diga-me! Como devo proceder para sanar os óbices que me impedem o acesso às fontes da paz? Como livrar-me das determinações dos psiquiatras que me receitaram o internamento com aplicações de insulina?
Ante as lágrimas a inundarem o rosto da consulente, o respeitável mensageiro considerou:
- Noto a extenção de seus obstáculos. Não chore, porém. Reanime-se e viva. Há milhares de pessoas na mesma situação. O seu caso, efetivamente, resume-se em desarmonia vibratória no campo mental. Entidades desencarnadas, sedentas de emoção terrestre, se lhe aproximam da organização psíquica provocando pesadelos e outras complicações. Os médicos do mundo encontrarão sempre reais dificuldades para solucionar-lhe o enigma, porque os sedativos amolecem os nervos, mas não trazem a equação desejável. Você agora defronta com os imperativos da transposição de plano e de renovação da vida. É imprescindível, assim, o seu preparo interno, habilitando-se à sintonia com os mensageiros da esfera superior. E creia que a porta de acesso à posição devida é o trabalho infatigável no bem. Nossa casa é um templo de consolação e serviço. Venha, pois, minha amiga, e inicie o seu ministério de amor cristão. No estudo das realidades eternas e no serviço aos irmãos necessitados, acenderá a sua lâmpada para o caminho. À medida que seu esforço se faça mais dilatado, nas aquisições de sabedoria e de amor, maior brilho adquirirá sua luz. Não convém, entretanto, a sua vinda, até nós, entre hesitação e o cansaço prévio. Apareça, metodicamente, com o espírito de perseverança e fé vigorosa, convencida quanto às montanhas de imperfeições que nos cabe remover, no país de nossa alma, para que a bênção do Senhor resplandeça em nós mesmos. Não pense que nós, os desencarnados, estejamos livres da cadeia benéfica do dever. Não somos emissários infalíveis e, sim, trabalhadores do bem, com o vivo desejo de acertar. Venha e auxiliemos, juntos, aqueles que se encontram mais necessitados que nós mesmos...
A visitante, menos entusiasta, indagou, com desapontamento:
- Então, quer dizer que aqui não me podem curar de vez?
- Sim – esclareceu Calimério, com segurança -, podemos ajudá-la a restaurar-se. Cada Espírito é médico de si mesmo, sob a orientação de Jesus. Ninguém pode antepor-se à Lei. A árvore não cresce num minuto, o sábio não se forma num dia e não podemos criar um anjo à maneira dum pinto na chocadeira. Quem pretender melhoria e perfeição, trabalhará sem desânimo. Assim, pois, minha amiga, sigamos servindo com o mestre, para frente.
A senhora enferma e necessitada nada mais respondeu e, por ter ouvido a recomendação de serviço, ao invés de frases veludosas que a embalassem no colchão de ociosidade espiritual, enxugou os olhos, sob escura revolta, e foi a primeira a varar a saída, empertigada e solene, sem olhar para trás.

Livro Relatos da Vida - Psicografia Francisco C. Xavier - Espírito Irmão X


segunda-feira, 28 de abril de 2014

ALIMENTAÇÃO DOS DESENCARNADOS

Como se verifica a alimentação dos Espíritos desencarnados?

Encarecendo a importância da respiração no sustento do corpo espiritual, basta lembrar a hematose do corpo físico, pela qual o intercâmbio gasoso se efetua com segurança, através dos alvéolos, nos quais os gazes se transferem do meio exterior para o meio interno, e vice-versa, atendendo à assimilação e desassimilação de variadas atividades químicas no campo orgânico.
O oxigênio que alcança os tecidos entra em combinação com determinados elementos, dando, em resultado, o anidrido carbônico e a água, com produção de energia destinada à manutenção das províncias somáticas.
Estudando a respiração celular, encontraremos, junto aos próprios arraiais da ciência humana, problemas somente equacionáveis com a ingerência automática do corpo espiritual nas funções de veículo físico, porque os fenômenos que lhe são conseqüentes se graduam em tantas fases diversas que o fisiologista, sem noções do Espírito, abordá-los-á sempre com a perplexidade de quem atinge o insolúvel.
Sabemos que para a subsistência do corpo físico é imprescindível a constante permuta de substâncias, com incessante transformação de energia.
Substância e energia se conjugam para fornecer ao carro fisiológico os recursos necessários ao crescimento ou à reparação do contínuo desgaste, produzindo a força indispensável à existência e os recursos reguladores do metabolismo.
O alimento comum ao corpo carnal experimenta, de início, a digestão, pela qual os elementos coloidais indifusíveis, convertendo-se ainda as matérias complexas em matérias mais simples, acessíveis à absorção, a que se sucede a circulação dos valores nutrientes, suscetíveis de aproveitamento pelos tecidos, seja em regime de aplicação imediata, seja no de reserva, destinando-se os resíduos à expulsão natural.
A ciência terrena não desconhece que o metabolismo guarda a tendência de manter-se em estabilidade constante, tanto assim que, reconhecidamente, a despesa de oxigênio e o teor de glicemia em jejum revelam quase nenhuma diferença de dia para dia.
É que o corpo espiritual, comandando o corpo físico, sana espontaneamente, quando harmonizado em suas próprias funções, todos os desequilíbrios acidentais nos processos metabólicos, presidindo as reações no campo nutritivo comum.
Não ignoramos, desse modo, que desde a experiência carnal o homem se alimenta muito mais pela respiração, colhendo o alimento de volume simplesmente como recurso complementar de fornecimento plástico e energético, para o setor das calorias necessárias à massa corpórea e à distribuição dos potenciais de força nos variados departamentos orgânicos.
Abandonando o envoltório físico na desencarnação, se o psicossoma está profundamente arraigado às sensações terrestres, sobrevêm ao Espírito a necessidade inquietante de prosseguir atrelado ao mundo biológico que lhe é familiar, e, quando não a supera ao preço do próprio esforço, no auto-reajustamento, provoca os fenômenos da simbiose psíquica, que o levam a conviver, temporariamente, no halo vital daqueles encarnados com os quais se afine, quando não promove a obsessão espetacular.
Na maioria das vezes, os desencarnados em crise dessa ordem são conduzidos pelos agentes da Bondade Divina aos centros de reeducação do Plano Espiritual, onde encontram alimentação semelhante à da Terra, porém fluídica, recebendo-a em porções adequadas até que adaptem aos sistemas de sustentação da Esfera Superior, em cujos círculos a tomada de substância é tanto menor e tanto mais leve quanto maior se evidencie o enobrecimento da alma, porquanto, pela difusão cutânea, o corpo espiritual, através de sua extrema porosidade, nutre-se de produtos sutilizados ou sínteses quimioeletromagnéticas, hauridas no reservatório da Natureza e no intercâmbio de raios vitalizantes e reconstituintes do amor com que os seres se sustentam entre si.
Essa alimentação psíquica, por intermédio das projeções magnéticas trocadas entre aqueles que se amam, é muito mais importante que o nutricionista do mundo possa imaginar, de vez que, por ela, se origina a ideal euforia orgânica e mental da personalidade. Daí porque toda a criatura tem necessidade de amar e receber amor para que se lhe mantenha o equilíbrio geral.
De qualquer modo, porém, o corpo espiritual, com alguma provisão de substância específica, ou simplesmente sem ela, quando já consiga valer-se apenas da difusão cutânea para refazer seus potenciais energéticos, conta com os processos da assimilação e da desassimilação dos recursos que lhe são peculiares, não prescindindo do trabalho de exsudação dos resíduos, pela epiderme ou pelos emunctórios normais, compreendendo-se, no entanto, que pela harmonia de nível, nas operações nutritivas, e pela essencialização dos elementos absorvidos, não existem para o veículo psicossomático determinados excessos e inconveniências dos sólidos e líquidos da excreta comum.


Livro “Evolução em Dois mundos”
Psicografia: Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.
Autor Espiritual: André Luiz.

domingo, 27 de abril de 2014

JULGAMENTOS PRECIPITADOS

Havia numa aldeia um velho muito pobre, mas até reis o invejavam, pois ele tinha um lindo cavalo branco...
Reis ofereciam quantias fabulosas pelo cavalo, mas o homem dizia:
Este cavalo não é um cavalo para mim, é uma pessoa. E como se pode vender uma pessoa, um amigo?
O homem era pobre, mas jamais vendeu o cavalo. Numa manhã, descobriu que o cavalo não estava na cocheira. A aldeia inteira se reuniu, e disseram:
– Seu velho estúpido! Sabíamos que um dia o cavalo seria roubado. Teria sido melhor vendê-lo. Que desgraça!
O velho disse:
– Não cheguem a tanto. Simplesmente digam que o cavalo não está na cocheira. Este é o fato, o resto é julgamento. Se se trata de uma desgraça ou de uma benção, não sei, porque este é apenas um julgamento. Quem pode saber o que vai se seguir?
As pessoas riram do velho. Elas sempre souberam que ele era um pouco louco. Mas, quinze dias depois, de repente, numa noite, o cavalo voltou. Ele não havia sido roubado, ele havia fugido para a floresta. E não apenas isso, ele trouxera uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente, as pessoas se reuniram e disseram:
– Velho, você estava certo. Não se trata de uma desgraça, na verdade provou ser uma benção.
O velho disse:
– Vocês estão se adiantando mais uma vez. Apenas digam que o cavalo está de volta... Quem poderá saber se é uma benção ou não? Este é apenas um fragmento. Se você lê uma única palavra de uma sentença, como poderá julgar todo o livro?
Desta vez, as pessoas não podiam dizer muito, mas interiormente sabiam que ele estava errado. Doze lindos cavalos tinham vindo...
O velho tinha um único filho, que começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas uma semana mais tarde, ele caiu de um cavalo e fraturou as pernas. As pessoas se reuniram e, mais uma vez, julgaram. Elas disseram:
– Você tinha razão novamente. Foi uma desgraça. Seu único filho perdeu o uso das pernas, e na sua velhice ele era seu único amparo. Agora você está mais pobre do que nunca.
O velho disse:
– Vocês estão obcecados por julgamento. Não se adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma benção. A vida vem em fragmentos; mais que isso, nunca é dado.
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra, e todos os jovens da aldeia foram forçados a se alistar. Somente o filho do velho foi deixado para trás, pois recuperava-se das fraturas. A cidade inteira estava chorando, lamentando-se porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dos jovens jamais voltaria.
Elas vieram até o velho e disseram:
– Você tinha razão, velho. Aquilo se revelou uma benção. Seu filho pode estar aleijado, mas ainda está com você. Nossos filhos foram-se para sempre.
O velho disse:
– Vocês continuam julgando. Ninguém sabe! Digam apenas que seus filhos foram forçados a entrar para o exército e que meu filho não foi. Mas somente Deus sabe se isso é uma benção ou uma desgraça. Não julgue, porque dessa maneira jamais se tornará uno com a totalidade. Na verdade, a jornada nunca chega ao fim. Um caminho termina e outro começa: uma porta se fecha, outra se abre. Aqueles que não julgam estão satisfeitos simplesmente em viver o momento presente e nele crescer... Somente eles são capazes de caminhar com Deus.
Na próxima vez que você for tirar alguma conclusão apressada sobre um assunto ou sobre uma pessoa, lembre-se desta mensagem!

sábado, 26 de abril de 2014

DESAJUSTES NA FAMÍLIA

775 . Qual seria, para a sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de família?
"Uma recrudescência do egoísmo." (*)

A família é instituição social e humana comprometida com a realidade do Espírito, por constituir-se elemento primacial na construção do grupo que a compõe.
Organizada para o ministério de intercâmbio dos valores afetivos, é educandário e oficina onde se desenvolvem os valores éticos e espirituais do ser humano com vistas ao futuro eterno dos membros que a constituem.
Iniciada mediante a união dos sentimentos que vinculam os cônjuges um ao outro, abre-se enriquecedora para a prole, que passa a representar um investimento-luz de relevante significado em prol da felicidade dos pais e dos seus descendentes.
A sua preservação é de vital importância para o desenvolvimento moral da sociedade, que nela se apoia e a transforma em alicerce para a preservação das suas conquistas com o crescimento de outros valores.
Mesmo entre os animais selvagens o grupo familiar é de significativa importância, cabendo aos pais, por instinto, o sustento da prole e sua preservação até quando essa se encontra em condições de sobreviver utilizando os próprios recursos.
Na família, caldeiam-se os elementos constitutivos do Espírito em processo de crescimento moral, ampliando-lhe a capacidade de evolução ao tempo que lhe retifica equívocos e lhe aprimora sentimentos.
Todos aqueles que formam o clã estão, de alguma forma, vinculados entre si pelos fortes laços de experiências transatas.
Acontece, às vezes, iniciarem-se experiências novas com vistas ao programa da fraternidade universal.
No entanto, conforme o comportamento durante a vivência, estabelecem-se futuros programas de intercâmbio iluminativo e de capacitação para os desafios do processo de sublimação.
Por isso, nem sempre os membros que conformam a família são harmônicos, apresentando desalinhos de conduta, agressividade, animosidade, insegurança, rebeldia, ódio acirrado...
Nesses casos, identificamos adversários que se enfrentam mediante nova e abençoada oportunidade, nos tecidos biológicos do mesmo grupo, a fim de retificarem os erros, aprenderem compreensão e tolerância, reformularem conceitos sobre a vida.
Igualmente, quando o afeto esplende em todos os membros e a legítima amizade os irmana, acompanhamos o desdobramento de bases afetivas anteriormente estabelecidas, ampliando o campo de realizações para o futuro.
A sociedade é resultado do grupo familiar que se lhe torna célula essencial para a formação do conjunto, produzindo o coletivo conforme as estruturas individuais.
Por isso mesmo, quando a família se desestrutura sociedade soçobra.
Sem homens de boa formação moral e de caráter diamantino não é possível a existência de cidadãos equilibrados e dignos.
É, portanto, no lar, que se corrigem as arestas morais do pretérito, despertam-se sentimentos elevados que se encontram adormecidos, criam-se hábitos saudáveis e dignificantes.
Sem um lar bem estruturado o conjunto social dissolve-se, formando grupelhos de atormentados e prepotentes ou desleixados e destituídos de ideais que fomentam o desar da Humanidade.
A imaturidade psicológica de homens e mulheres que procriam sem responsabilidade é fator causal que prepondera no desequilíbrio que assusta a sociedade dos dias atuais.
Mais preocupados em fruir prazer do que assumir responsabilidades, os indivíduos, não equipados de compreensão dos deveres, transitam pelos conúbios sexuais sem identificar-lhes a relevante significação de mero reprodutor da espécie com altas responsabilidades para os seus promotores.
Unem-se, uns aos outros, mais atraídos pela ilusão da carne sedutora do que pelos sentimentos que sustentam a afetividade e trabalham pela alegria de participar de uma existência saudável ao lado de outrem.
Quando os filhos nascem, ultrapassados os momentos de encanto e de promessas emocionais, consideram-nos impedimento para mais prazeres e gozos, ou têm-nos na conta de pesados ônus financeiro, enquanto que, por outro lado, se permitem o esbanjamento nos jogos da alucinação em que se comprazem.
Noutras vezes, a simples constatação da gravidez desencadeia reações asselvajadas que os levam ao aborto criminoso, em tentativa infeliz de fugir à responsabilidade e ao compromisso espontaneamente estabelecido.
Como educandário, no entanto, o lar representa um verdadeiro núcleo de formação da personalidade mediante os hábitos que se implantam no comportamento daqueles que aí se encontram.
Pais agressivos ou negligentes, vulgares ou indisciplinados, emocionalmente inseguros ou rebeldes, tornam-se modelos nos quais os filhos formulam conceitos equivocados sobre a sociedade.
Nesse clima de irresponsabilidade e conflitos, desenvolvem-se nos educandos os sentimentos de animosidade e suspeita contra todos os demais indivíduos, que passam a refletir as imagens domésticas, ameaçadoras ou punitivas, atormentadas ou insensíveis, de que foram vítimas.
Quando, porém, os hábitos salutares são vivenciados pelos genitores, criam-se raízes de respeito e admiração entre todos, transferindo-se esses comportamentos para a sociedade na qual deverão viver.
Na sua feição de oficina, as ações são mais valiosas do que os discursos de efeito aparente, quando são propostos conselhos e orientações em momentos emocionais inoportunos, porque somente por meio do trabalho bem direcionado em relação ao caráter e aos sentimentos é que se fundem os significados psicológicos e morais de profundidade.
O mais eficiente método, portanto, de educação, é aquele que se associa ao exemplo, que demonstra a sua eficácia e significação na conduta do preceptor.
Os pais, em conseqüência, não se poderão evadir da responsabilidade para com a prole, sendo os esteios de sustentação da família ou a areia movediça sobre a qual erguem os frágeis ideais de convivência.
O ser humano é animal biopsicossocial que não se pode desenvolver de maneira eficiente sem a convivência com outrem da sua e de outras espécies.
Os relacionamentos emocionais e espirituais constituem-lhe fonte de inspiração e de equilíbrio para uma existência feliz.
A família é-lhe o primeiro contato com o mundo, que passará a significar o que aprende entre os seus, exteriorizando o resultado da convivência. A sua desagregação leva o indivíduo a uma recrudescência do egoísmo.
Célula fecunda de desenvolvimento dos valores eternos, os desajustes, por acaso existentes no lar, resultado de sementeiras de sombras no passado, devem ser superados pelas lições poderosas do amor e da solidariedade, construindo laços de verdadeira união que estruturarão os grupos sociais de maneira equilibrada para a convivência ditosa entre todos os irmãos em humanidade.
(* Questão de O Livro dos Espíritos)
Joanna de Ângelis 
Livro:Lições para a Felicidade
Psicografia:Divaldo Franco


sexta-feira, 25 de abril de 2014

CORPO E ALMA

CUIDAR do corpo e da alma, eis o dever de todo Espírito reencarnado, perante as leis divinas.
O corpo físico, instrumento de extraordinária valia, indispensável à atuação permanente do Espírito nos mundos materiais como o nosso, de que forma deve ser encarado, sob a luz da Doutrina dos Espíritos?
Na sua ignorância manifesta a respeito da lei natural ou divina, o homem tem negligenciado, sob muitos aspectos, as obrigações que lhe cabem no uso desse instrumento precioso, ”o filtro vivo de nossa alma”, na expressão de Emmanuel.
Nele e com ele, o Espírito experimenta as provações, passa pelos resgates, vive alegrias e tristezas, aprende a aceitar doenças e mutilações, e com elas conviver. Aperfeiçoa-se, reeduca-se, cresce em sentimentos nobres, ou se compromete na negação e no mal.
Trata-o ora com desprezo, abusando de suas potencialidades, ora com excesso de zelo, como se fosse simples objeto de adorno.
No entanto, quando compreendida em seu sentido transcendente, a vida do homem na Terra, seu instrumento corporal participa mais da natureza de m empréstimo divino que propriamente de uma propriedade individual, da qual se possa dispor sem presta contas.
Não deveria apegar-se desvairadamente a ele, compreendendo seu desgaste, seu envelhecimento e submissão às leis da vida física, como ocorre com todos os seres vivos.
A incompreensão das finalidades da vida material e o excesso de vaidade têm levado milhões de homens e mulheres, em gerações que se sucedem, ao narcisismo corporal, em detrimento do equilíbrio que deve existir no liame copo-alma.
De outra parte, por ignorância das leis que presidem à evolução dos seres, numeroso contingente de criaturas humanas, visando a alcançar a felicidade futura, em outra vida, entrega-se a toda sorte de macerações, sacrifícios corporais voluntários e privações, retirando-se do convívio do mundo, evitando as lutas redentoras e isolando-se das dificuldades naturais da vida na procura da salvação egoística da alma, através de meios inadequados.
Excessos de alimentação, desregramentos lamentáveis da sexualidade, viciações transformadas em hábitos degradantes e prejudiciais à saúde física e mental, tais o uso do fumo, do álcool e das drogas, são flagelos corporais com reflexos no Espírito, venenos agindo lentamente, consentidos ou impostos, inadvertida ou conscientemente.
Muitos esquecem ou se descuidam dos deveres elementares de higiene pessoal e da limpeza do corpo, dos banhos de água e de sol e do ar puro que equilibram a saúde.
A natureza traçou ao homem os limites do necessário na manutenção do equilíbrio em tudo o que se relaciona com seu corpo. O instinto, aliado à observação e à inteligência de cada um estabelece as lindes além das quais o indivíduo torna-se responsável pelo excesso, supérfluo e prejudicial.
Ultrapassando os limites impostos pela natureza, com a preocupação dos gozos exagerados, muitas vezes o homem se coloca em situação inferior à dos irracionais, cujos instintos servem para guiá-los nas necessidades da vida.
Ocorre ainda, nos mundos moralmente atrasados, como a Terra, um fenômeno que põe à mostra a falta de senso de justiça e solidariedade, ao lado de profundo egoísmo de seus habitantes: a desigualdade de bens, de meios e de oportunidades.
Enquanto muitos se entregam aos excessos e ao supérfluo, no gozo dos bens destinados à sustentação da vida material, inúmeras coletividades, milhões de indivíduos estão em estado de carência, sujeitos à fome, à falta de água, de medicamentos, de habitação, de transporte, numa triste situação de miséria.
Esse terrível quadro social espalhado por todas as nações do Globo, m maior ou menor escala, dir-se-ia, foge ao controle individual, para situar-se no plano dos problemas sociais coletivos. Assim é, realmente. O problema ultrapassa o terreno individual para tornar-se responsabilidade de todos.
Nele vemos claramente a necessidade de solidariedade, da compreensão humana, da caridade, do amor, partindo de cada ser para compor a vontade coletiva.
Só haverá soluções justas e adequadas quando as sociedades humanas tornarem-se menos egoístas e indiferentes, quando os bem-aquinhoados interessarem-se pelo auxílio aos mais necessitados, proporcionando-lhes os meios de trabalho, de produção e de reeducação capazes de soerguê-los da situação deprimente.
“Nem só de pão vive o homem.”Nesse ensino de Jesus distingue-se perfeitamente os cuidados devidos ao corpo, que não podem ser postergados, mas que não devem ser elevados à condição de sacrificar os deveres perante o Espírito.
A sabedoria da vida está em conciliar os reclamos de um e de outro, dentro do necessário equilíbrio, não se perdendo de vista que um, transitório, é o instrumento do outro, na sua trajetória eterna.
*
A ATIVIDADE do Espírito é incessante e eterna.
Criado por Deus simples e ignorante, seu destino é agir, obrar, progredir sempre, no estado livre ou ligado à matéria, nos mundos materiais. Toda sua atividade conjuga-se à harmonia da vida e ao progresso universal, de acordo com o estágio evolutivo que ocupe na hierarquia espiritual.
Quando encarnado, liga-se estreitamente à matéria, adquirindo experiências múltiplas necessárias ao seu progresso.
A Doutrina Espírita, por convenção, reserva a denominação de alma ao Espírito encarnado.
O homem é, portanto, um ser dual, composto de corpo e alma. Servindo de intermediário entre o corpo e a alma está o perispírito, invólucro semimaterial do Espírito que o acompanha ao desligar-se do corpo físico.
Essas são noções básicas elementares da Doutrina dos Espíritos, imprescindíveis ao estudo e a compreensão dos deveres e obrigações das criaturas humanas perante a lei divina.
Certo é que as revelações dos Espíritos chegaram ao mundo no tempo apropriado a que grande número de seus habitantes pudesse delas tomar conhecimento. Todavia, como advertem os Instrutores espirituais, nem todos estão aptos a compreendê-las integralmente, podendo certas revelações perturbá-los e confundi-los.
É compreensível que assim seja, já que não é o mesmo o estágio evolutivo moral e intelectual dos seres que habitam nosso Orbe.
Essa circunstância mostra a sabedoria divina determinando a progressividade das revelações, para que, à medida que o homem evolua, adquira conhecimentos novos, trilhando os mesmos caminhos palmilhados por outros, em épocas diferentes.
A Doutrina Espírita, resumindo as revelações anteriores, especialmente os ensinos do Cristo interpretados em espírito e conjugando-os a novos conhecimentos, dá ao homem outra dimensão da vida, indicando o verdadeiro alvo a ser atingido. Nem todos estão despertos para renunciar às satisfações puramente materiais, substituindo-as por objetivos mais elevados e de mais difícil conquista.
É muito grande o número dos espiritualistas, nas diferentes denominações religiosas, incapazes de aceitar a verdade reencarnacionista e, sem ela, fica prejudicado todo o entendimento sobre a necessidade das aquisições morais e sobre as desigualdades individuais, comprometendo a própria noção de justiça, de eqüidade e de misericórdia nas leis de Deus.
No entanto, à luz dessa velhíssima doutrina das existências múltiplas, ensinada veladamente nos Evangelhos e de forma clara em antigas religiões orientais, as obscuridades desaparecem dando lugar à compreensão de que o progresso é contínuo e que os avanços morais e intelectuais são permanentes, em sucessivas vidas, indicando que os mais adiantados e bem dotados são os que mais viveram, mais trabalharam e mais aproveitaram.
Mostrando o fatalismo da lei divina, regendo a tudo, no campo material e no espiritual, depara-se a alma, ao mesmo tempo, com a liberdade de ação espiritual. Daí surge o admirável equilíbrio dos termos da lei natural, na coexistência do determinismo divino com a contingência do livre-arbítrio, de que resulta a responsabilidade individual.
Usando a liberdade, nem todas as criaturas avançam no mesmo ritmo e assim fica explicada a desigualdade entre os homens. Mas a todos será sempre possível transpor as diferenças existentes, desde que haja aplicação, trabalho, esforço, responsabilidade, contando com muitas oportunidades para tanto, em sucessivas vidas.
Que de mais justo e consolador poder-se-ia aspirar?
Filhos do mesmo Pai generoso, percorrendo idênticos caminhos de obstáculos e dificuldades, na busca da perfeição e da felicidade, todos são livres na escolha, mas responsáveis pela opção. Ninguém privilegiado nem esquecido. Cada um conquistando seus próprios méritos.
Cuidar da alma, a eterna caminhante, é conseqüência natural decorrente da aceitação da abençoada Doutrina dos Espíritos.
Sabedores de que nos rege sempre uma lei imutável, soberana e justa, nossa conclusão lógica é a de que as injustiças que nos atingem são apenas aparentes e provisórias, uma vez que todo efeito tem uma causa, sendo nossa vida atual, com os dissabores, sofrimentos e constrangimentos, a resultante de nossas próprias ações e omissões.
Nosso corpo, instrumento para a travessia da vida de reencarnado, o meio e a posição social, os recursos materiais e intelectuais, tudo é resultante do que fizemos ou deixamos de fazer no passado próximo ou remoto.
Preparamos o futuro construindo nosso ser moral, muitas vezes escolhendo o ambiente do renascimento na carne.
Nossa alma é um universo de sombras e claridades. Seu destino é a perfeição. Enquanto imperfeita jaz inquieta, errado e acertando.Abraçando uma diretriz luminosa, sua busca transforma-se em luta para suplantar as sombras.
O espírita consciente e sincero torna-se um lutador tenaz contra sua próprias sombras, que se projetam além de sua personalidade, sob as formas de egoísmo, vaidade, inveja, ciúme, ambições desmedidas.
Reverter esse quadro é obra para muitas existências. A prática da caridade, a conquista da humildade, a compreensão ampla de nossos semelhantes, a aceitação das situações irreversíveis, o serviço constante no bem, eis a programação da reforma e do renascimento interior, através da qual são resgatadas as culpas e desfeitas as cadeias que prendem o ser às imperfeições morais.
O desenvolvimento e a duração dessa transformação é variável.Depende da aplicação de cada um, da capacidade para a renúncia e o sacrifício.
A dor, física ou moral, funciona como poderoso agente retificador.
As provações são meios utilizados pela Lei no despertamento das criaturas para o amor, substituindo as paixões.
O conhecimento espírita auxilia extraordinariamente a identificação das causas dos sofrimentos, levando a alma a aceitá-los com paciência e resignação, sem a revolta e a rebeldia própria dos que renegam a justiça das leis de Deus, por ignorância.
Para avaliar a felicidade, mesmo relativa, é necessário saber seu custo. Assim como o alívio de uma dor física pode custar a cirurgia de um órgão doente, a cessação de um mal moral depende do sacrifício capaz de erradicar do nosso organismo psíquico sua causa de natureza espiritual.
Se não somos capazes de seguir a estrada certa do bem, preferindo opções erradas, a Providência deixa-nos colher as conseqüentes decepções, correspondendo a experiências válidas em novas oportunidades que se apresentarem.
Felizes aqueles que aproveitam seus reveses, fazendo deles alavancas para novas arrancadas.
Não devemos nos impacientar diante das inúmeras dificuldades que muitas vezes se opõem ao nosso desejo de progredir rapidamente. Somos ainda criaturas imperfeitas, incapazes de avaliar toda a extensão das leis divinas que nos regem. Precisamos de paciência para nós mesmos, evitando o engano de aspirar aos resultados imediatos espetaculares. Para que as aquisições morais sejam consideradas definitivas, a criatura é submetida pela Providência a repetidos testes de comprovação, em circunstâncias diversas.
Não basta a aceitação do bem em teoria.É necessário sua realização na experiência vivida.
Juvanir Borges de Souza.
Revista “Reformador” - setembro 1987-Editorial

quinta-feira, 24 de abril de 2014

LETIL

Este industrial, que residiu nos arredores de Paris, morreu em abril de 1864, de modo horroroso. Incendiando-se uma caldeira de verniz fervente, foi num abrir e fechar de olhos que o seu corpo se cobriu de matéria candente, pelo que logo compreendeu ele que estava perdido.
Achando-se na oficina apenas com um rapaz aprendiz, ainda teve ânimo de dirigir-se ao seu domicílio, a distância de mais de 200 metros.
Quando se lhe pôde prestar os primeiros socorros, já as carnes dilaceradas caíam aos pedaços, desnudos os ossos de uma parte do corpo e da face. Ainda assim, sobreviveu doze horas a cruciantes sofrimentos, mas conservando toda a presença de espírito até ao último momento, predispondo os seus negócios com perfeita lucidez.
Em toda esta cruel agonia não se lhe ouviu um só gemido, um só queixume, e morreu orando a Deus. Era um homem honradíssimo, de caráter meigo e afetuoso, amado, prezado de quantos o conheciam. Também acatara com entusiasmo, porém pouco refletidamente, as idéias espíritas, e assim foi que, médium, não lhe faltaram inúmeras mistificações, as quais, seja dito, em nada lhe abalaram a crença.
A confiança no que os Espíritos lhe diziam, em certas circunstâncias, ia até à ingenuidade.
Evocado na Sociedade de Paris, a 29 de abril de 1864, poucos dias após a morte e ainda sob a impressão da cena terrível que o vitimou, deu a seguinte comunicação:
"Profunda tristeza me acabrunha! Aterrado ainda pela minha trágica morte, julgo-me sob os ferros de um algoz.
"Quanto sofri!... oh! quanto sofri! Estou trêmulo, como que sentindo o cheiro nauseante de carnes queimadas. Agonia de 12 horas, essa que padeceste, ó Espírito culpado! Mas ele a sofreu sem murmurações e por isso vai receber de Deus o seu perdão. Ó minha bem-amada, não chores, que em breve estas dores se acalmarão. Eu não mais sofro na realidade, porém a lembrança neste caso vale pela realidade. Auxilia-me muito a noção do Espiritismo, e agora vejo que, sem essa consoladora crença, teria permanecido no delírio da morte horrível que padeci. Há, porém, um Espírito consolador que me não deixa, desde que exalei o último suspiro. Eu ainda falava, e já o tinha a meu lado... Parecia-me ser um reflexo das minhas dores a produzir em mim vertigens, que me fizessem ver fantasmas... Mas não; era o meu anjo de guarda que, silencioso e mudamente, me consolava pelo coração. Logo que me despedi da Terra, disse-me ele: "Vem, meu filho, torna a ver o dia." Então respirei mais livremente, julgando-me livre de medonho pesadelo; perguntei pela esposa amada, pelo filho corajoso que por mim se sacrificara, e ele me disse: "Estão todos na Terra, e tu, filho, estás entre nós." Eu procurava o lar, onde, sempre em companhia do anjo, vi todos banhados de pranto. A tristeza e o luto haviam invadido aquela habitação outrora pacífica. Não pude por mais tempo tolerar o espetáculo, e, comovidíssimo, disse ao meu gula: Ó meu bom anjo, saiamos daqui.
Sim, saiamos, respondeu-me, e procuremos repouso. Daí para cá tenho sofrido menos, e, se não houvera visto inconsoláveis a esposa e os filhos e tristes os amigos, seria quase feliz.
"O meu bom guia fez-me ver a causa da morte horrível que tive, e eu, a fim de vos instruir, vou confessá-la:
"Vai para dois séculos, mandei queimar uma rapariga, inocente como se pode ser na sua idade - 12 a 14 anos. Qual a acusação que lhe pesava? A cumplicidade em uma conspiração contra a política clerical. Eu era então italiano e juiz inquisidor; como os algozes não ousassem tocar o corpo da pobre criança, fui eu mesmo o juiz e o carrasco.
"Oh! quanto és grande, justiça divina! A ti submetido, prometi a mim mesmo não vacilar no dia do combate, e ainda bem que tive força para manter o compromisso.
Não murmurei, e vós me perdoastes, oh! Deus! Quando, porém, se me apagará da memória a lembrança da pobre vítima inocente? Essa lembrança é que me faz sofrer! É mister, portanto, que ela me perdoe.
"Oh! vós, adeptos da nova doutrina, que freqüentemente dizeis não poder evitar os males pela insciência do passado! Oh! irmãos meus! bendizei antes o Pai, por que se tal lembrança vos acompanhasse à Terra, não mais haveria aí repouso em vossos corações. Como poderíeis vós, constantemente assediados pela vergonha, pelo remorso, fruir um só momento de paz? O esquecimento aí é um benefício, porque a lembrança aqui é uma tortura. Mais alguns dias, e, como recompensa à resignação com que suportei as minhas dores, Deus me concederá o esquecimento da falta. Eis a promessa que acaba de fazer-me o meu bom anjo."
Nota - O caráter do Sr. Letil, na última encarnação, prova quanto o seu Espírito se aperfeiçoou. A conduta que teve seria o resultado do arrependimento como das boas resoluções previamente tomadas, mas isso por si só não bastava: - era preciso coroar essas resoluções com uma grande expiação; era mister que suportasse como homem o suplício a outrem infligido e mais ainda: a resignação que, felizmente, não o abandonou nessa terrível contingência. Certo, o conhecimento do Espiritismo contribuiu grandemente para sustentar-lhe a fé, a coragem oriunda da esperança de um futuro. Ciente de que as dores físicas são provas e expiações, submeteu-se a elas resignado, dizendo: Deus é justo; logo, é que eu as mereci.
Do livro O Céu e o Inferno

Allan Kardec

quarta-feira, 23 de abril de 2014

ROSTO, ESPELHO DA ALMA

Os traços da feição alheia denunciam o que vai pelo espírito, deixando, por vezes, marcas indeléveis no observador, de modo a aproveitar a serenidade do justo e tomar providências para não herdar os sofrimentos do mau. Eis uma prova da força do pensamento tendo supremacia em todo o corpo físico.
Quando uma pessoa se encontra aborrecida, alimentando problemas, envolvida em apreensões, nota-se rapidamente no seu semblante a realidade interna. A mente plasma os sentimentos com o magnetismo em reversão, e exterioriza-os por sentir-se mal com a sua própria criação, de modo a expelir, por todos os recursos encontrados, um fluido deletério; também os semelhantes, ao encontrarem o irmão em estado depressivo, chamam-lhe logo a atenção, por não suportarem igualmente as chamas negativas que os atingem frente a frente. Caso nos silenciemos, o mal se propaga, criando sérios embaraços por onde transita, e somos responsáveis por todos os estragos feitos em mentes invigilantes. É bom que tomemos todas as precauções, para não cairmos nessas tentações: nem influenciarmos pessoas com tristezas, nem sermos influenciados por companheiros tristes.
Semblante amargurado é alma triste. Compete ao homem de bem doar porque pode e tem para dar, em forma de ânimo, esperança, alegria e fé para os que sofrem dessa enfermidade psicológica.
O exercício da alegria constitui um dos esportes mais eficazes do espírito. Ele levanta as forças do coração, estende o raciocínio além do concebível, faz verdadeiros milagres, porque trabalha como remédio, sem ser classificado como tal, cura corpos danificados, levanta espíritos caídos e desaloja o medo, purificando a atmosfera para que possamos respirar com maior confiança.
Sejamos partícipes do movimento da alegria pura.
É bom que sejamos dados à análise das pessoas, sem alardes, para melhor ajudá-las. A configuração delas nos fala alto do que se passa por dentro. E, se a psicologia for bem aplicada, notaremos que há aspectos que nos parecem pedir socorro, sem o poder do verbo. E o estudante da verdade, com a discrição sempre lembrada, as auxilia, sem que os sofredores notem de onde parte a ajuda.
Há muito trabalho no mundo a realizar nesse sentido. As escolas espiritualistas estão, cada vez mais, se dividindo na Terra. À primeira vista, parece enfraquecimento. No entanto, é atendimento a milhares de almas em posições diversas na escala evolutiva, e como Deus é bom e ama a todos na mais alta expressão da justiça, abençoa todos os movimentos da educação, para que em futuro próximo se unifiquem, tendo um só pastor e um só rebanho.
O rosto expressa, de certo modo, o caráter da alma, assim as mãos, assim as palavras, confirmando a proposição da psicologia bem endereçada. Todavia, quando se decide a reforma das emoções, dos pensamentos, das ideias e das ações, tudo o mais muda igualmente, levando a mensagem que a mente preparar.
Cenho carregado é apreensão profunda, que desfila dúvidas, das quais a inteligência reclama mudança imediata de clima, e um pouco de esforço nos colocará na faixa da alegria que favorece a disposição para o trabalho e a fé.
Não gasteis combustível mental com pensamentos negativos, mesmo que eles surjam no campo espontaneamente. Dal de mão, à luta. A área é vossa, com todos os direitos e deveres de defesa da propriedade que vos pertence por agrado divino. Harmonizai vossa mente com o dever, com a caridade bem dirigida, com o amor sem fanatismo, com o trabalho sem usura, com a fé sem a cegueira, com a fraternidade sem o desequilíbrio, e com o perdão sem alarde, para que o rosto possa mostrar, com dignidade, o sol que se esconde temporariamente no faro da carne.
espírito Miramez

livro Horizonte da Mente

terça-feira, 22 de abril de 2014

PARENTES MORTOS

Não olvides que além da morte continua vivendo e lutando o espírito amado que partiu...
Tuas lágrimas são gotas de fel em sua taça de esperança.
Tuas aflições são espinhos a se lhe implantarem no coração.
Tua mágoa destrutiva é como neve de angústia a congelar-lhe os sonhos.
Tua tristeza é sombra a escurecer-lhe a nova senda.
Por mais que a separação te lacere a alma sensível , levanta-te e segue para a frente, honrando-lhe a confiança com a fiel execução das tarefas que o mundo te reservou.
Não vale a deserção do sofrimento, porque a fuga é sempre a dilatação do labirinto que nos arroja à invigilância, compelindo-nos a despender longo tempo na recuperação do rumo certo.
Recorda que a lei de renovação atinge a todos e auxilia quem te antecedeu na grande viagem com o valor de tua renuncia e com a fortaleza de tua fé, sem esmorecer no trabalho – nosso invariável caminho para o triunfo.
Converte a dor em lição e a saudade em consolo porque, de outros domínios vibratórios, as afeições inesquecíveis te acompanham os passos, regozijando-se com as outras tuas vitórias solitárias, portas adentro de teu mundo interior.
Todas as provas objetivam o aperfeiçoamento do aprendiz e, por enquanto, não passamos de meros aprendizes na Terra, amealhando o conhecimento e a virtude, em gradativa e laboriosa ascensão para a Vida Eterna.
Deus, a Suprema Sabedoria e a Suprema Bondade, não criaria a inteligência e o amor, a beleza e a vida, para arremessá-la às trevas.
Repara em torno dos teus próprios passos. A cada noite no mundo, segue-se o esplendor do alvorecer.
O inverno áspero é sucedido pela primavera estuante de renascimento e floração.
A lagarta, que hoje se arrasta no solo, amanhã librará em pleno espaço com asas multicores de borboleta.
Nada perece.
Tudo se transforma na direção do Infinito Bem.
Compreendendo, desta forma, a Verdade, entesourando-lhe as bênçãos, aprendamos a encontrar na morte o grande portal da vida e estaremos incorporando, em nosso próprio espírito, a luz inextinguível da Gloriosa Imortalidade.

Emmanuel - Francisco Cândido Xavier Livro: Paz e Libertação.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

ADULTÉRIO E PROSTITUIÇÃO

Atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado, disse Jesus.
Esta sentença faz da indulgência um dever para nós outros porque ninguém há que não necessite, para si próprio, de indulgência.
Ela nos ensina que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem aquilo de que nos absolvemos.
Antes de profligarmos a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita.
Do item 13, do Cap. X, de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

É curioso notar que Jesus, em se tratando de faltas e quedas, nos domínios do espírito, haja escolhido aquela da mulher, em falhas do sexo, para pronunciar a sua inolvidável sentença: "aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra".
Dir-se-ia que no rol das defecções, deserções, fraquezas e delitos do mundo, os problemas afetivos se mostram de tal modo encravados no ser humano que pessoa alguma da Terra haja escapado, no cardume das existências consecutivas, aos chamados "erros do amor".
Penetre cada um de nós os recessos da própria alma, e, se consegue apresentar comportamento irrepreensível, no imediatismo da vida prática, ante os dias que correm, indague-se, com sinceridade, quanto às próprias tendências.
Quem não haja varado transes difíceis, nas áreas do coração, no período da reencarnação em que se encontre, investigue as próprias inclinações e anseios no campo íntimo, e, em sã consciência, verificará que não se acha ausente do emaranhado de conflitos, que remanescem do acervo de lutas sexuais da Humanidade.
Desses embates multimilenares, restam, ainda, por feridas sangrentas no organismo da coletividade, o adultério que, de futuro, será classificado na patologia das doenças da alma, extinguindo-se, por fim, com remédio adequado, e a prostituição que reúne em si homens e mulheres que se entregam às relações sexuais, mediante paga, estabelecendo mercados afetivos.
Qual ocorre aos flagelos da guerra, da pirataria, da violência homicida e da escravidão que acompanham a comunidade terrestre, há milênios, diluindo-se, muito pouco a pouco, o adultério e a prostituição ainda permanecem, na Terra, por instrumentos de prova e expiação, destinados naturalmente a desaparecer, na equação dos direitos do homem e da mulher, que se harmonizarão pelo mesmo peso, na balança do progresso e da vida.
Note-se que o lenocínio de hoje, conquanto situado fora da lei, é o herdeiro dos bordéis autorizados por regulamentação oficial, em muitas regiões, como sucedia notadamente na Grécia e na Roma antigas, em que os estabelecimentos dessa natureza eram constantemente nutridos por levas de jovens mulheres orientais, direta ou indiretamente adquiridas, à feição de alimárias, para misteres de aluguel.
Tantos foram os desvarios dos Espíritos em evolução no Planeta – Espíritos entre os quais muito raros de nós, os companheiros da Terra, não nos achamos incluídos - que decerto Jesus, personalizando na mulher sofredora a família humana, pronunciou a inesquecível sentença, convocando os homens, supostamente puros em matéria de sexualidade, a lançarem sobre a companheira infeliz a primeira pedra.
Evidentemente, o mundo avança para mais elevadas condições de existência.
Fenômenos de transição explodem aqui e ali, comunicando renovação.
E, com semelhantes ocorrências, surge para as nações o problema da educação espiritual, para que a educação do sexo não se faça irrisão com palavras brilhantes mascarando a licenciosidade.
Quando cada criatura for respeitada em seu foro íntimo, para que o amor se consagre por vínculo divino, muito mais de alma para alma que de corpo para corpo, com a dignidade do trabalho e do aperfeiçoamento pessoal luzindo na presença de cada uma, então os conceitos de adultério e prostituição se farão distanciados do cotidiano, de vez que a compreensão apaziguará o coração humano e a chamada desventura afetiva não terá razão de ser.
Emmanuel
Psicografia : Francisco Cândido Xavier Livro : Vida e Sexo

domingo, 20 de abril de 2014

RELAÇÕES HOMOAFETIVAS

Este artigo propõe-se a esboçar, sob a ótica espírita, alguns pontos básicos da intrigante questão, pertinente à Lei de Reprodução: a homossexualidade, ou homoafetividade, como se tem convencionado chamá-la no meio jurídico.1 Não há a vã pretensão de esgotar o assunto nem de dar respostas prontas a todas as perguntas. O objetivo é despertar a reflexão e estimular o leitor a buscá-las por si mesmo.

Este tema ainda é um tabu em todo o mundo, porquanto a homossexualidade, embora seja tão antiga quanto o homem e exista inclusive no reino animal, é vista como um comportamento social contrário à natureza, talvez por ser algo fora dos padrões do que é considerado “normal”. Mas será que é isso mesmo? A pessoa, invariavelmente, é homossexual porque o deseja? Porque assim o escolheu? A homossexualidade, desde o final do século XX, deixou de ser considerada doença por organismos internacionais e pelo Conselho Federal de Psicologia, no Brasil.2 De acordo com a legislação brasileira, o casamento – vínculo conjugal entre duas pessoas – só é possível entre homem e mulher. Entretanto, aumenta cada vez mais o número de pessoas do mesmo sexo que sustentam vida em comum e que ficam à margem da proteção legal. Em vista disso, o Poder Judiciário tem sido constantemente instado a resolver conflitos desse jaez, tais como os relativos a pedidos de adoção de crianças, questões sucessórias, alimentares, previdenciárias, entre outras.

À míngua de norma explícita que autorize tais uniões, os intérpretes buscam respaldo na Constituição Federal, por analogia à união estável entre homem e mulher e à família monoparental, que foram equiparadas, pelo constituinte, a entidades familiares. Tomam por base princípios constitucionais muito caros às democracias, entre eles o da dignidade da pessoa humana, o da liberdade e o da igualdade, para concluir que é possível a união estável entre pessoas de sexo idêntico, com todas as consequências jurídicas próprias dos institutos referidos.3 O que há, ainda, é muita ignorância e preconceito no tocante à homossexualidade, cujas causas reais são praticamente desconhecidas dos especialistas encarnados.

Em virtude da visão fragmentária e reducionista que as ciências acadêmicas nutrem a respeito do ser humano, considerando como ente finito, e que, sob essa ótica, desapareceria para sempre da realidade após a morte física, muitos fenômenos psicológicos, sociais e biológicos, entre eles a homossexualidade, têm sido precariamente estudados e interpretados pelos estudiosos encarnados. A seu turno, a Doutrina Espírita oferece subsídios valiosos para auxiliar a compreensão de tais incógnitas, uma vez que analisa o ser humano sob o prisma holístico.4 Isto é, investiga as causas do enigma, pois não se detém apenas no exame dos fatores físicos e psicológicos inerentes ao ser humano.

O seu estudo, por si só, constitui uma excelente terapêutica, visto que auxilia a libertação de muitos conflitos e encaminha as pessoas para a tomada de atitudes mais coerentes e seguras diante da vida. Os benfeitores do Alto, nas questões 200 e 201 de O Livro dos Espíritos (Ed. FEB), deixam claro que os Espíritos não têm sexo, como o entendemos, e que podem encarnar ora como homem, ora como mulher. E complementam – “há entre eles amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos”.

Portanto, as preferências sentimentais de pessoas por outras do mesmo gênero nem sempre implicam a existência de conúbio carnal ou o desvirtuamento e o abuso das faculdades genésicas, abuso esse que também ocorre, expressivamente, entre os indivíduos heterossexuais. Qualquer pessoa, independentemente de sua orientação sexual, jamais logrará realização, se se entregar aos excessos no campo da sexualidade. Nesses casos, o indivíduo sujeita-se a adquirir hábitos nocivos e a viciar-se nas aberrações da luxúria, essas, sim, contrárias às leis naturais, as quais convidarão o Espírito imortal a corrigi-las nas futuras encarnações.

– Por que sou assim? – frequentemente perguntam crianças e jovens de ambos os sexos, atormentados com a descoberta de suas tendências homossexuais, sem que tenham, conscientemente, escolhido esse caminho. Já os pais de homossexuais, alguns deles chocados com a orientação sexual de seus filhos, geralmente têm como primeira reação buscar uma explicação racional para a origem da homossexualidade. De acordo com o ensino dos Espíritos superiores, o sexo reside na mente, expressa-se no corpo espiritual (perispírito)5 e, consequentemente, no corpo físico: [...] o instinto sexual não é apenas agente de reprodução entre as formas superiores, mas, acima de tudo, é o reconstituinte das forças espirituais, pelo qual as criaturas encarnadas ou desencarnadas se alimentam mutuamente na permuta de raios psíquico-magnéticos, que lhes são necessários ao progresso. [...] ninguém escarnecerá dele, desarmonizando-lhe as forças, sem escarnecer e desarmonizar a si mesmo.6

Kardec também enfrentou esse assunto na Revista Espírita, onde esclareceu que as “anomalias aparentes” do caráter de certas pessoas se devem aos atavismos que o ser reencarnado traz de outras vidas. 7 Entretanto, essas características que as pessoas apresentam não as transformam, automaticamente, num homossexual. Outros Espíritos, com a finalidade de expiarem erros do passado ou exercerem tarefas de auxílio e/ou aprendizado, renascem em corpos incompatíveis com o seu psiquismo, pelo que, não raro, enfrentam severas rejeições de seus próprios familiares e são marginalizados pela sociedade, circunstâncias em que podem ser induzidos ao desvirtuamento e à viciação de suas sublimes faculdades reprodutoras.

O Espírito Emmanuel explica que muito dos enigmas da sexualidade se deve ao desconhecimento de nossa origem espiritual e biológica, está radicada nos seres inferiores da criação, de cujos instintos ainda não nos libertamos totalmente, bem assim ao desconhecimento da reencarnação e dos reflexos das experiências pretéritas.8 Não nascemos prontos, e nosso processo evolutivo prossegue sem detença, ainda muito distante da almejada perfeição. Por isso, é apropriada a comparação simbólica do ser humano personalizado na figura do Centauro, monstro da mitologia, cujo corpo da cintura para cima se apresenta como homem e a outra metade como animal. Esmagadora maioria dos pais não tem condições psicológicas nem experiência para tratar de um assunto dessa envergadura, quando ele surge no seio familiar.

Além disso, os pais nem sempre encontram uma orientação psicológica segura para enfrentar a situação, em virtude da diretriz materialista de muitos especialistas, como já visto. Há casos de homossexuais que, devido ao desconhecimento espiritual de si mesmo e muitas vezes da própria orientação sexual, associado à cobrança sociocultural, experimentam momentos de intensos sofrimentos psíquicos, em virtude de suas emoções estarem nesse instante em processo de desequilíbrio. Dessa maneira, tornam-se solitários, com muitas dificuldades de relacionamento. É quando, diante das pressões sociais, principalmente da família, percebem-se em conflito oriundo da própria sexualidade, oportunidade em que podem vivenciar um quadro de ambivalência ou ambiguidade afetiva de ordem existencial, encapsulando-se em seus dramas. Nessas condições perturbadoras, é possível que desenvolvam ideações suicidas, com predomínio de tentativas de autocídio.

Para as famílias de homossexuais e para esses próprios, recomenda-se, entre outros, o livro de autoria da educadora e professora paulistana Edith Modesto.9 Trata-se de obra utilíssima, uma vez que traz a experiência pessoal de uma mãe que arrostou o desafio de trabalhar seus sentimentos e os de seus familiares ante o desabrochamento da homossexualidade em um de seus sete filhos.10

As teorias humanas reducionistas, que visualizam a criatura apenas como a expressão da matéria, têm que ser revistas urgentemente, para que semeemos um futuro melhor para a Humanidade, em consonância com as leis naturais ou divinas. A exclusão social é produto do egoísmo,que deve ser superada com os recursos modernos à disposição da sociedade.Falo não só da modernidade da revolução tecnológica proporcionada pelo conhecimento humano, em seus múltiplos aspectos, mas, sobretudo, do legado dos ensinos cristãos de amor ao próximo, que jamais será ultrapassado, pois está acima dos critérios transitórios do mundo.

Reformador Dez.2010

sábado, 19 de abril de 2014

O Espiritismo e o Racismo


A destruição dos preconceitos de casta e de cor é um dos objetivos do Espiritismo. Isso é bem claro na kardequiana.

O progresso da civilização passa, necessariamente, pela abolição de toda e qualquer forma de preconceito. O Espiritismo, “destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor, ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir como irmãos”.

Nesse aspecto, do progresso da Humanidade, o Espiritismo pode ter uma influência muito importante, devido à ampla visão que oferece, do homem, da sociedade e do cosmos. Antes de se achar sujeito à determinada cultura, nacionalidade, etnia ou religião, o homem é um ser cósmico, um cidadão do universo. Esse princípio, se bem compreendido, faz ver a realidade sob uma outra ótica, sem os preconceitos generalizados que se encontram ainda arraigados na alma humana. Para os Espíritos elevados, “a pátria é o Universo; na Terra, é aquela em que possui maior número de pessoas simpáticas”.

Pelo entendimento dos mecanismos que regem a lei da reencarnação, a superioridade que certos grupos étnicos atribuem a si torna-se insustentável e até ridícula. Esse tipo de postura discriminatória, existente nas relações entre os diferentes grupos étnicos, ao lado de diversos fatores de ordem política e econômica, tem gerado as desigualdades sociais no nosso planeta, constituindo-se num enorme obstáculo para a construção de uma sociedade mais fraterna e igualitária. Afirmaram os Espíritos a Allan Kardec que essas desigualdades um dia desaparecerão,“juntamente com a predominância do orgulho e do egoísmo, restando tão somente a desigualdade de mérito. Chegará um dia em que os membros da grande família dos filhos de Deus não mais se olharão como de sangue mais ou menos puro, pois somente o Espírito é mais puro ou menos puro, e isso não depende da posição social”.

Segundo Kardec, todos os homens “são submetidos às mesmas leis naturais, todos nascem com a mesma fragilidade, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Deus não concedeu, portanto, superioridade natural a nenhum homem, nem pelo nascimento, nem pela morte, todos são iguais diante d’Ele”.

A mentalidade racista produziu, na história da humanidade, situações extremadas de discriminação racial, como a escravidão dos negros africanos, considerada pelo Espiritismo como sendo contrária à Natureza, “pois assemelha o homem ao bruto e o degrada moral e fisicamente”.

“Os homens têm considerado, há muito, certas raças humanas como animais domesticáveis, munidos de braços e de mãos, e se julgam no direito de vender os seus membros como bestas de carga. Consideram-se de sangue mais puro. Insensatos, que não enxergam além da matéria! Não é o sangue que deve ser mais ou menos puro, mas o Espírito.”

A idéia de que o homem possa encarnar como branco, negro, mulato ou índio, estabelece uma ruptura com o preconceito e a discriminação raciais. Tanto que até hoje, na Inglaterra, muitos adeptos do Neo-espiritualismo rejeitam a tese da reencarnação, por não admitirem a possibilidade de terem tido encarnações em posições inferiores quanto à raça e à condição social. Afinal, como se sentiria um indivíduo de mentalidade racista encarnado em uma raça que considere inferior? Nesse sentido, as questões que reproduzimos abaixo são bem elucidativas.

“205. Segundo certas pessoas, a doutrina da reencarnação parece destruir os laços de família, fazendo-os remontar às existências anteriores.

Ela os amplia, em vez de destruí-los. Baseando-se o parentesco em afeições anteriores, os laços que unem os membros de uma mesma família são menos precários. A reencarnação amplia os deveres de fraternidade, pois no vosso vizinho ou no vosso criado pode encontrar-se um Espírito que foi de vosso sangue.

205-a. Ela diminui, entretanto, a importância que alguns atribuem à filiação, porque se pode ter tido como pai um Espírito que pertencia a uma outra raça, ou que tivesse vivido em condição bem diversa?

É verdade, mas essa importância se baseia no orgulho. O que a maioria honra nos antepassados são os títulos, a classe, a fortuna. Este coraria de haver tido como avô um sapateiro honesto, e se vangloria de descender de um gentil-homem debochado. Mas digam ou façam o que quiserem, não impedirão que as coisas sejam como são, porque Deus não regulou as leis da Natureza pela vossa vaidade.”

A diversidade das raças, condição natural do aparecimento do homem na Terra, resultado “do clima, da vida e dos hábitos”, não significa, de modo algum, que os homens estabeleçam juízos de valor discriminatório, quanto à origem étnica de determinados grupos sociais. Para o Espiritismo, todos os homens “são irmãos em Deus, porque são animados pelo mesmo espírito e tendem para o mesmo alvo”.

O preconceito e a discriminação raciais constituem também o grande conjunto de circunstâncias existenciais a que os Espíritos reencarnantes estão sujeitos. Um Espírito, reencarnado num corpo de origem negra, estará sujeito à discriminação e isso lhe será uma condição, uma contigência evolutiva a ser superada. “Para uns pode ser uma expiação, para outros uma missão”, uma nova oportunidade de aprendizado, já que as experiências que ele experimentará como negro, serão bem diferentes das de outro que reencarne como branco, em função das desigualdades sociais.

Essas desigualdades são um mal que precisa ser eliminado. Todavia, devido à Lei de Progresso, também são um bem. Ou seja, são utilizadas sabiamente pela Natureza, no aprimoramento intelecto-moral dos Espíritos.

Portanto, dentro da concepção espírita, não se sustentam visões fatalistas, “cármicas”, que visualizem Espíritos reencarnados em corpos de origem negra como culpados algozes do passado. A culpa se houver, será apenas uma condição psicológica, imposta pela própria consciência do Espírito reencarnante, sem relação alguma com arbitrariedades supostamente delegadas pelo “plano espiritual superior”.

São essas concepções fatalistas, baseadas na culpa e no pecado, que levam muitos espíritas e Espíritos a considerarem os escravos negros como inquisidores, cruzados e senhores feudais reencarnados, ou judeus massacrados pelos nazistas como hebreus reencarnados. Essas concepções têm mais a ver com a formação religiosa de certos espíritas e Espíritos do que com a visão evolucionista do Espiritismo. Trata-se de uma concepção distorcida da reencarnação que, ao invés de servir como um poderoso instrumento de compreensão do processo evolutivo dos seres e das coisas, funciona como fator de alienação, de ocultamento da realidade.

Com que finalidade um senhor de engenho, por exemplo, tem de reencarnar como negro e sofrer as mesmas dores que fez os escravos sob o seu poder sofrerem? Seria assim o mecanismo da reencarnação?

Os seres humanos não são coisas, objetos que, sujeitos a uma lei de causa e efeito independente de sua realidade intelecto-moral, tenham que se submeter a reações esquemáticas, cartesianas. Há uma lógica no processo palingenésico, mas ela está longe de ser uma lógica mecanicista. Ao contrário, a concepção espírita da palingenesia nos leva a pensar o processo evolutivo como um continuum caótico, dialético, contraditório. Isso não significa que inexista uma ordem, necessária e inexorável, ainda desconhecida em sua estrutura básica e no seu detalhamento. Aquele senhor de engenho, pela sua formação, pela sua inteligência, pode contribuir muito mais para si e para outros, se concretizar o seu arrependimento na reformulação do próprio processo evolutivo. Ele poderá reencarnar, por exemplo, como um negro, que sentirá a ânsia, a paixão de lutar pela libertação de sua raça, de modo que muitos benefícios poderá trazer para a eliminação do racismo. Se tiver vocação pela política, poderá lutar de modo perseverante a favor da abolição de qualquer resquício, nas leis e na cultura, de preconceitos contra a raça negra, beneficiando assim, indiretamente, aqueles que ele próprio prejudicou em outras existências. E assim por diante.

As variáveis são muitas, principalmente por que estamos lidando com seres, cuja liberdade volitiva os afasta de qualquer esquema cármico, a não ser que eles mesmos prefiram seguir, por algum processo de culpa ainda muito pouco esclarecido, um caminho onde possam vir a expiar a mesma dor que em outros eles provocaram, a fim de sentir o mal “na mesma pele”. É também um caminho possível, mas que não se constitui em lei, em regra, em um princípio que sirva a todos os seres. Foi o caminho escolhido por determinado Espírito, apenas isso.

Uma mesma causa pode gerar uma infinidade de efeitos. Isso em relação a objetos. Já em relação às pessoas, aí a situação se torna ainda mais complexa. A dificuldade de se equacionar, no caso em questão, o fenômeno palingenésico, se amplia. Ainda mais por que é ele um fenômeno pra lá de fractal. São muitos os componentes, os fatores de influenciação extremamente variáveis. Trata-se de uma equação com incógnitas.

Por aí dá para se perceber que a visão mesquinha e rasteira do negro como uma criatura supostamente inferior, apenas por que nele se encontra reencarnado um espírito “culpado”, não se coaduna com a filosofia espírita, libertária por natureza. É como se reproduzíssemos o racismo numa nova versão, numa espécie de racismo cármico, que iria justificar a segregação racial, como foi e ainda é feito em alguns países. Basta ver os conflitos étnicos que há muitos séculos existem na Índia, desde o tempo dos brâmanes, passando pela época de Gandhi até hoje. É a reencarnação a serviço do racismo.

Uma doutrina de liberdade, como a espírita, não compactua com nenhuma ideologia que vise a discriminação racial entre os grupos sociais. O sectarismo racial, segundo o Espiritismo, tende a se tornar coisa do passado. As pessoas e as nações evoluem. Segundo os Espíritos, “os mundos também se acham submetidos à lei do progresso. Todos começaram como o vosso, por um estado inferior, e a Terra mesma sofrerá uma transformação semelhante, tornando-se um paraíso terrestre, quando os homens se fizerem bons”.

À medida que a humanidade melhora em inteligência e moralidade, todas as formas de preconceito e segregação tenderão a desaparecer definitivamente. Nesse aspecto, o comentário de Kardec à questão citada é bem oportuno: “Assim, as raças que atualmente povoam a Terra desaparecerão um dia e serão substituídas por seres mais e mais perfeitos. Essas raças transformadas sucederão à atual, como esta sucedeu a outras que eram mais grosseiras”.

Portando, é dever dos espíritas, imbuídos pelo ideal renovador do Espiritismo, lutar por uma sociedade mais justa e igualitária, onde o negro e todos os grupos étnicos oprimidos tenham os seus direitos garantidos e respeitados.

Como afirmou o sociólogo Florestan Fernandes, o negro é a “pedra de toque da revolução democrática na sociedade brasileira”.

A luta pela verdadeira democracia racial, é uma luta que interessa não somente ao negro, mas a todos os setores progressistas, inclusive aos espíritas, que estejam efetivamente comprometidos com o processo de transformação intelecto-moral da sociedade.





Eugenio Lara

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Quando perceber a irritação


Meu irmão, não creia em milagre. Procure compreender que cada homem vive, sofre, o resultado de sua própria evolução. Para alcançar o equilíbrio é necessário alcançar o autoconhecimento que permite a disciplina pessoal. 
Não estrague o seu dia; coragem, o seu mau humor, a sua ira, o seu ódio, não fazem outra coisa senão destruir, criar desolação, angústia, provocando insegurança em todos os que o cercam.
Não esqueça que para vencer a dor o homem precisa conhecer os seus objetivos, saber administrar o seu interior, pois assim fará sublimação com dignidade. A provação aumenta a visão interior, abre os horizontes da alma, liberta o ser.
Mostre a sua boa vontade em qualquer situação. Revele- se, colabore, seja solidário, trabalhe em benefício de todos; guarde a calma, faça a paz, seja sensato.
Intensifique a consciência do bem, estude, pesquise, trabalhe, não reclame, não se deixe amedrontar pelo desânimo; esteja sempre preparado para não perder o sentido inteligente da vida.
O acadêmico da espiritualidade tem certeza de que o exercício do bem se traduz pela luz no espírito, na qual a visão interior amplia os horizontes, elucida, promove grandes transformações.
Na escolaridade da Terra, aquele que compreendeu o seu significado é solidário, respeitoso e justo com o seu igual; está sempre pronto à renúncia do “EU”, portanto sua vida significa dedicação ao trabalho, compreensão, serenidade, esperança, resignação, calma, perdão, amor, paz, humildade, permanente renovação, alegria constante.
O homem que faz autoconhecimento percebe que o silêncio interior é a celebração plena da vida, o encontro do ser com o SER em todo o Universo, dentro de cada um, num processo constante de aprendizado.
Quando você perceber que a irritação está tomando conta de sua pessoa, reaja, procure em seu interior os momentos de alegria vividos, revise os seus ideais, não lastime, caminhe com determinação. A prece e a vigiliatura respondem a todas as questões humanas, são responsáveis pelo equilíbrio.
O homem marca o seu lugar na Terra pela força de seu trabalho, pelo desprendimento, pela renúncia moral, pelo caráter, pela consciência de seus objetivos; a dignidade humana está sempre presente quando a intenção é boa.
Aquele que crê na justiça do Creador é paciente, benigno, aplicado ao bem, caritativo, esperançoso; sabe suportar, esperar, sofrer as provações com altruísmo; reconhece que não há efeito sem causa, tem perene juventude, é feliz sem exigências.
Amor, trabalho, evolução.
Mensagem extraído do livro "Na luta do cotidiano, A força do amor" 
pelo espírito Leocádio José Correia 
Psicografado pelo médium Maury Rodrigues da Cruz