sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Fidelidade a Kardec

Autor: Deolindo Amorin

Uma observação muito criteriosa de Allan Kardec, feita na Introdução de "O Livro dos Espíritos", portanto, vamos dizer assim, no frontispício da própria Doutrina, diz bem da seriedade com que devem os estudos espíritas ser realizados; refiro-me à assertiva de que, se para adquirir, um sábio, o conhecimento de uma ciência particular, precisa ele de, pelo menos, três quartos da vida, quanto não mais se carecerá para que se aprenda o Espiritismo, que diz respeito ao conhecimento da ciência da vida. Outra declaração de Kardec que não deve ser esquecida diz respeito à importância da revelação do mundo espiritual, cujas conseqüências são por si mesmas maiores e mais revolucionárias do que a descoberta dos microrganismos. Evidentemente, não se pode abeirar da Doutrina e procurar compreendê-la, num abrir e fechar de olhos, como se tratasse de um magazine, de história em quadrinhos, ou se se pudesse aprender seus princípios e deduzir suas conseqüências através de leitura dinâmica. Não pode ser assim. O universo que o Espiritismo toca, o conjunto de interesses que ele desperta, as dificuldades naturais provenientes da extensão dos conhecimentos e as relações que mantém com as ciências, tudo isto demonstra o vasto campo de observações que ele oferece ao estudioso, devendo, assim, despertar o interesse mesmo daqueles que não são espíritas, ou porque adotam outros princípios filosóficos e religiosos, ou porque ainda não se inclinaram definitivamente por nenhum deles.

Afinal de contas, a revelação espírita é bem uma revolução no campo das idéias, porque representa uma total mudança de perspectiva da própria vida, a descoberta de um mundo mais invisível do que o dos microrganismos, a afetar diretamente não só a compreensão do humano, que agora se torna também o espiritual, mas as próprias relações humanas que se revelam influenciadas, de um modo concreto, por um mundo novo até então considerado abstrato. Não há como negar. Sem dúvida a descoberta do Mundo Invisível impõe uma revolução integral das idéias, o que permite compreender a resistência que certos cientistas demonstraram na aceitação dos fenômenos espíritas, pois esta lhes custaria a derrubada do edifício materialista em que se acomodam: a história nos revela que se chegou ao cúmulo de sugerir-se a formação de um complô para negar a verdade, ainda que os fenômenos pesquisados viessem a mostrar-se autênticos durante as investigações.

Realmente, temos aí um mundo muito mais importante, mais revelador, mais revolucionário do que a descoberta das Américas em seu tempo ou as conquistas espaciais de hoje. Afinal, as viagens interplanetárias revelar-nos-ão outros mundos de matéria idêntica à nossa, ainda que de constituições diversas, enquanto o chamado Mundo Invisível leva-nos o pensamento e as pesquisas para dimensões insuspeitadas, abrindo um leque infinito, à nossa frente, de possibilidades de vida, das quais só paulatinamente o homem poderá ir tomando conhecimento.

É ou não é verdade que as conseqüências são muito maiores do que a descoberta dos microrganismos, apesar da importância que representou esta para a compreensão da vida e dos processos patológicos que se desenvolvem nos corpos físicos? Em face disto, somos levados evidentemente a admirar-nos de certo dogmatismo que, vez por outra, corre nas veias do movimento espírita como sangue estranho a envenenar-lhe a vida. Neófitos e mesmo companheiros que há muito tempo perlustram as avenidas da Doutrina, recolhem-se e encolhem-se em posições fechadas como se já se tivessem tornado senhores de todo o saber espírita e pudessem dizer a última palavra. À força de defenderem Kardec, acabam por ir de encontro à sua obra, porque se constitui em uma verdade indiscutível, que não pode ser negada, o horror do mestre lionês a todas as formas de dogmatismo. Ele não só colocava seu trabalho ao julgamento da crítica, ao lado de outros sistemas existentes ou que pudessem advir, mas destacava que a ortodoxia espírita jamais poderia formar-se em torno de um nome, e muito menos do seu que rejeitava o papel de fundador do Espiritismo, indicando o caminho certo da universalidade do ensino, sempre submetido ao controle da razão, e a possível modificação da Doutrina todas as vezes que a ciência demonstrasse o erro de quaisquer dos seus pontos. Deseja-se algo mais livre, mais aberto, mais isento de dogmatismo e de fanatismo?

Infelizmente, em muitas oportunidades, vemos adeptos da Doutrina, à custa de forcejarem na criação de uma ortodoxia, violentarem o próprio ensino do mestre, apesar de se apresentarem como seus defensores. Ora, nisto separam-se, em realidade, até das perspectivas do próprio movimento espírita que é coletivo desde sua origem; ou seja, Kardec não aceitou a mensagem de um só Espírito, por mais alta fosse sua gradação, para constituir a base doutrinária; preferiu um caminho mais difícil, porém mais seguro, interrogando Espíritos de variadas categorias, fazendo um trabalho de campo digno de um sociólogo. Não se limitou ele a saber o que pensavam os Espíritos mais esclarecidos, nem o que sentiam ou percebiam; investigou também junto, vamos dizer assim, às classes mais baixas da sociedade espiritual, para que pudesse obter um conhecimento de primeira mão acerca de particularidades a elas atinentes. Espíritos já bastante desmaterializados, que, pela sua elevação espiritual, não tinham contato diário com a Terra ou, para melhor dizer, com estas esferas mais próximas da Terra, não poderiam fornecer as informações por não sofrerem na pele, como se costuma dizer, as dificuldades; falariam de algo, de uma situação que não mais viviam, e, por isso, Kardec optou pelo conhecimento direto. Tal procedimento constitui-se em um fato muito importante, embora desconhecido ou ao menos descuidado da maioria dos espíritas, que o olvidam no estudo da Doutrina, embora Kardec o tivesse levado em conta na própria formulação de "O Livro dos Espíritos" que registra respostas das mais diversas procedências. Kardec não era pois um dogmático, e não podemos, em seu nome, ou em defesa do patrimônio espiritual que nos legou, tornarmo-nos dogmáticos, qualquer que seja a esfera de atuação em que estejamos, enfaixados ou desenfaixados do corpo físico.

Um ponto muito esquecido é o da relatividade dos Espíritos que geralmente se comunicam e o fato de possuírem muitas vezes opiniões contrárias umas ás outras; são opiniões pessoais que não desdoiram o Espiritismo, pois isto nos mostra que eles continuam pensando livremente e que, do lado de cá, também se respeitam as idéias ainda quando se mostrem errôneas - é o direito de livre opinião e de livre investigação. Não registrou Kardec divergências entre os espíritos que afirmavam a ligação da alma ao corpo no momento do nascimento e no momento da concepção, daqueles que defendiam as idéias fixistas ao contrário de outros francamente evoluvionistas, e também não registrou a existência de Espíritos que defendiam a teoria da incrustação planetária na formação da terra e a teoria da lua ovóide, etc., mostrando as diferenças existentes no mundo dos Espíritos? Não se mostrou ele contrário às teorias aceitas por Roustaing, resistindo mesmo às críticas acerbas que este lhe fez? Aí está como agiu realmente o mestre. Mas, apesar de tudo, não colocava a sua opinião acima das dos demais. Como esquecer estas coisas e criar uma ortodoxia que, a despeito de utilizar o nome de Kardec, é feita em torno do pensamento de um indivíduo ou de um grupo? Estarão estas pessoas recebendo as únicas comunicações realmente aceitáveis?

Há um outro ponto também muito esquecido. A Doutrina Espírita resultou dos estudos de Kardec, mas os ensinos coletados por ele sofreram inicialmente a verificação com o auxílio de mais de dez médiuns, em núcleos diferentes, foi ele quem o disse. Este cuidado do mestre visou evitar influências a que os médiuns estão submetidos pelo contato com os Espíritos que os dirigem - são as "colunas espirituais" de que nos falou ele em "O Livro dos Médiuns", capazes de, com sua influência, alterar, uma resposta dada, por um Espírito alheio à mesma; é que, como ensina André Luiz, a capacidade conceptual do médium resulta, também, do contato mais ou menos íntimo que possa ter com o seu mentor ou responsável pela tarefa mediúnica. Mas, como dizia, Kardec teve esse cuidado, e depois, no desenvolvimento da Doutrina, esteve em contato com um milhar de médiuns espalhados por todo o globo, recolhendo notícias do mundo espiritual provenientes das mais diversas partes, como nos dá ampla notícia nas páginas da Revista Espírita. São fatos que fazem parte da história do Espiritismo, mas cujo ensinamento não está ultrapassado, mesmo porque Kardec erigiu este controle através da universalidade do ensino como um dos métodos de investigação da ciência espírita. Apesar disto, no entanto, muitos companheiros atêm-se simplesmente ao que é produzido em seus centros, ou através de determinados médiuns, ou com aval de certas instituições, e geralmente só ao que se produz no território brasileiro. Tudo isto não contraria na prática o discurso teórico da universalidade que geralmente se ouve, bem como as lições de Kardec? Não é dele a advertência de que o Espiritismo subsistiria a todas as perseguições, porque não se poderia obstar a marcha do ensino dos Espíritos, que se manifestariam em outros pontos da face da Terra? Assim sendo, não é possível colocar de lado as comunicações mediúnicas que se obtém em diversas regiões do globo - nos Estados Unidos, na França, na Alemanha, na Itália, etc., sem que devamos esquecer o nosso vizinho, a Argentina, que sempre deu mostras de alta visão espiritual com pensadores de escol. O caráter universalista da Doutrina exige que ela se conserve universalista em seus fundamentos, pois, como assinalava Kardec, a formação de uma ortodoxia espírita só poderá provir da universalidade do ensino dos espíritos, e este critério foi erigido, na Introdução de "O Evangelho segundo o Espiritismo", em uma das garantias da própria Doutrina.

Livro: Espiritismo em Movimento, cap. XVII, psicografia de Elzio Ferreira de Souza

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Do maravilhoso ao sobrenatural

Autor: Suely Caldas Schubert

Para os que consideram a matéria a única potência da Natureza, tudo o que não pode ser explicado pelas leis da matéria é maravilhoso, ou sobrenatural, e, para eles, maravilhoso é sinônimo de superstição".

"A explicação dos fatos que o espiritismo admite, de suas causas e conseqüências morais, forma toda uma ciência e toda uma filosofia, que reclamam estudo sério, perseverante e aprofundado". Allan Kardec. ( "O Livro dos Médiuns", Primeira Parte. Cap.II, Itens 10 e 14, n.º 7º)

Os fenômenos mediúnicos são de todos os tempos e estão em todas as raças. Ao longo da história dos povos a intervenção dos Espíritos é como um sopro forte, agitando, sacudindo, alterando o clima psíquico dos homens.

Essas presenças imateriais, constantes, vivas e atuantes entrevistas por muitos, pressentidas por outros, transformam-se, ao sabor das fantasias de mentes imaturas, em fatos maravilhosos e sobrenaturais coloridos com as tintas fortes da imaginação.

E à medida que o tempo avança a tradição oral se encarrega de transmitir os fatos maravilhosos de geração em geração, naturalmente acrescidos dos matizes regionais, o que depois veio a constituir-se no folclore característico de cada região. Muita coisa hoje considerada folclórica teve a sua origem em fatos mediúnicos, destes decorrendo superstições as mais diversas, profundamente enraizadas na alma do povo. Desde o feiticeiro, na mais antiga, remota e primitiva das aldeias indígenas, que pratica a sua medicina numa tentativa de esconjurar os maus Espíritos e atrair os bons, até o nosso sertanejo, o homem simples do povo, que e apega às simpatias e sortilégios para garantir a sua defesa contra os mesmos maus Espíritos e granjear a proteção dos bons, vemos o conhecimento espontâneo, intuitivo e natural que o ser humano tem da imortalidade da alma e da comunicabilidade entre os "mortos"e os vivos. Desta certeza originam-se, evidentemente, os cultos afros, tão difundidos em nosso país, mas herança de uma pátria distante, numa amálgama muito bem elaborada de religião e folclore.

Muitas lendas - algumas bem antigas - são até hoje bastante propaganadas em nosso sertão. É o caso, por exemplo, da "mula-sem-cabeça"que ainda prossegue apavorando, pois vez que outra a lenda se vitaliza com a notícia de novas aparições da monstruosa criatura. A lógica nos faz deduzir que tal lenda nasceu da aparição de algum Espírito zombeteiro e maldoso que se deixava ver nesta forma para aterrorizar as pessoas, com que se diverte e compraz. igualmente as aparições de lobisomens, sacis, boitatás, etc.

Allan kardec elucida a respeito, em "O Livro dos Médiuns".

"(...) Mas, também já temos dito que o Espírito, sob seu envoltório semimaterial, pode tomar todas as espécies de formas, para se manifestar. Pode, pois, um Espírito Zombeteiro aparecer com chifre e garras, se assim lhe aprouver, para divertir-se à custa da credulidade daquele que o vê, do mesmo modo que um Espírito bom pode mostrar-se com asas e com uma figura radiosa."(Cap. VI, Item 113-ª)

Embora muitas crendices tenham-se originado de fatos mediúnicos, há ainda uma enorme variedade de superstições que nada têm a ver com eles e são conseqüência da ignorância e do temor ante o desconhecido.

Em decorrência surgiram as fórmulas mágicas, as simpatias, os talismãs como recursos de defesa.

Assevera kardec:

"Assim, o Espiritismo não aceita todos os fatos considerados maravilhosos, ou sobrenaturais. Longe disso, demonstra a impossibilidade de grande número deles e o ridículo de certas crenças, que constituem a superstição propriamente dita". (Cap. II da Primeira Parte, Item 13. Ob. Cit.)

A Doutrina Espírita tem explicação lógica e racional para todas as coisas e situações da vida. lançando luz sobre problemas considerados inextricáveis, esclarece com raciocínio claro e insofismável tudo o que está ao alcance da mente humana. Essas explicações são simples e objetivas, despojadas de misticismo e quaisquer crendices. Não se justifica, portanto, que entre os espíritas sejam cultivadas certas crenças , sejam adotadas atitudes que constituem um misto de ritualismo superstições. É exatamente na prática mediúnica que mais se encontram estes resquícios.

A fé, sob o domínio do pensamento mágico, é novamente envolvida nos véus dos mistérios e, não sendo raciocinada, deixa de esclarecer e libertar.

Concessões vão sendo feitas, gradativamente, até que ao final já não exista quase nada que lembre a Doutrina Espírita qual a deturpação e práticas estranhas enxertadas.

Não se justifica que a mediunidade seja encarada em nosso meio como alguma coisa sobrenatural e os médiuns como pessoas portadoras de um dom maravilhoso que as torna seres da parte, diferentes dos demais. Tudo isto é fruto, unicamente da falta de estudo doutrinário. E quando a Codificação jaz esquecida e os postulados básicos da Doutrina Espírita sequer são conhecidos, restará apenas o mediunismo ou o sincretismo religioso. Neste campo o maravilhoso e o sobrenatural imperam.

A Doutrina Espírita não é isto. Não podemos contemporizar quanto ao nosso testemunho de fidelidade doutrinária. E este testemunho deve ser prestado, sobretudo, dentro da Casa Espírita, no seu dia-a-dia. Por essa razão não se pode postergar o estudo da obra de kardec, estudo este que deve ser metódico e constante.

Pode ser que assim, penetrando no sentido cada vez mais profundo do que seja o Espiritismo no seu todo global, abrangente, consigamos um pouco do bom senso, da lógica e da firmeza que eram apanágio do Codificador.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Caos momentâneo

Autor: Orson Peter Carrara

O Espírito Erasto, na mensagem Os conflitos1, cita palavras do Espírito São Luiz, um dos responsáveis pela Codificação Espírita, referindo-se a uma verdadeira Torre de Babel no que diz respeito aos prejuízos do orgulho e da exaltação do amor-próprio nos médiuns. Citando espíritos pseudo-sábios, falsos grandes homens, falsos religiosos e falsos irmãos da erraticidade, em meio a essa multidão de médiuns por eles fanatizados, aos quais ditam teses mentirosas e perigosas, na construção de autênticos andaimes erigidos pela ambição e a inveja, solicita aos espíritas sinceros que não se amedrontem com o caos momentâneo.
Embora a mensagem seja de 1863, verifica-se sua atualidade nas lutas do movimento espírita diante de tantas insinuações, tentativas de novidades dispensáveis e disputas próprias da exaltação do orgulho ou do amor-próprio ainda vigentes em nossa condição humana.
Por isso, indica o nobre Erasto:

“(...) Assim, pois, meus amigos, tendes que vos defender, não só contra os ataques e calúnias dos adversários vivos, mas, também, contras as manobras, ainda mais perigosas, dos adversários da erraticidade. Fortificai-vos, pois, em estudos sadios e, sobretudo, pela prática do amor e da caridade, e retemperai-vos na prece. Deus sempre ilumina os que se consagram à propagação da verdade, quando estão de boa fé e desprovidos de toda ambição pessoal. (...)”.

Pela grandeza da mensagem que ora estamos nos referindo, elaboramos também outra abordagem com o título "Que vos importam os médiuns?", que o leitor encontrará fácil pela internet, de vez que ambas foram elaboradas e liberadas simultaneamente para divulgação. Optamos por duas abordagens ao invés de uma matéria mais longa. Naquela abordagem, baseada na pergunta do próprio Erasto, ele mesmo nos dá a óbvia resposta: os médiuns não passam de instrumentos.
Por isso, nomes pomposos ou famosos nada significam. Como indica o espírito “(...) O que deveis considerar é o valor, é o alcance dos ensinamentos que vos são dados; é a pureza da moral que vos é ensinada; é a clareza, é a precisão das verdades que vos são reveladas; é, enfim, ver se as instruções que vos dão correspondem às legítimas aspirações das almas de escol e se são conformes às leis gerais e imutáveis da lógica e da harmonia universal. (...)”.

Uma vez mais, a precisa orientação de não nos impressionarmos pelos nomes que assinam as psicografias. O que vale e deve ser analisado é o conteúdo antes que o entusiasmo fácil nos encante pelo nome assinado. Por isso continua Erasto:

“(...) Os Espíritos imperfeitos, que representam um papel de apóstolo junto a seus obsedados, bem sabeis, não têm o menor escrúpulo em enfeitar-se com os mais venerados nomes (...); Assim, repetirei incessantemente o que dizia a meu médium, há dois anos: ´Jamais julgueis uma comunicação mediúnica pelo nome que a assina, mas apenas por seu conteúdo intrínseco´(...)”.
E a advertência vital: “(...) É urgente que vos ponhais em guarda contra todas publicações de origem suspeita, que parecem, ou vão parecer contrárias a todas as que não tivessem uma atitude franca e clara, e tende por certo que muitas são elaboradas nos campos inimigos do mundo visível ou invisível, visando a lançar entre vós os fachos da discórdia (...)”. Afinal, “(...) tende igualmente como certo que todo Espírito que a si mesmo se anuncia como um ser superior e, sobretudo, como de uma infalibilidade a toda a prova, ao contrário, é o oposto do que se anuncia tão pomposamente. (...)”.

Valiosas considerações, não é mesmo, leitores?
Estamos convidados ao uso do raciocínio, do bom senso, da lógica, mas também da bondade. Não estamos convidados à crueldade da discriminação, mas à lucidez da orientação correta e coerente com o que ensina o Espiritismo. Melhor a firmeza do conhecimento do que a ingenuidade da distorção...




1 –Recebida em 25/02/1863 e constante do livro A Obsessão, páginas 209 a 215 da 6ª. edição Editora O Clarim.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A Difusão do Espírito


Autor: Caíber Schutel

As mensagens do Alto revivendo as palavras do Mestre estão se produzindo na letra.

O Espírito sopra onde quer, e o sopro de vida se grava nos corações.

No nosso País a difusão do Espírito é um fato constatado mesmo pelos nossos mais encarniçados inimigos.

Em todos os Estados, em todas as cidades, em todos os recantos brasileiros se faz ouvir a voz do Espírito.

Já não é mais a letra que mata, que domina as almas; é o Espírito que vivifica, que convida os homens à Fé, que lhes dá esperança e lhes garante a verdade da sobrevivência.

Dos palácios às choupanas, dos redutos materialistas às Academias, às Igrejas a Voz clama sem cessar, o Espírito anuncia a Vida para que a Luz resplandeça das trevas e Deus seja por todo louvado.

Homens, mulheres, crianças; ignorantes, sábios, nobres, plebeus, doutores, padres, todos estão recebendo o Espírito e do Espírito, porque está escrito que - “o Espírito será difundido sobre toda a carne".

A profecia de Joel, repetida por Pedro no Cenáculo de Jerusalém, se completa nos nossos tempos.

Quem poderá embargar a vontade de Deus?

Qual o grande, o forte, o sábio, o poderoso que anteporá barreiras à força incoercível da Verdade?

Que catolicismo, que teosofia, que monismo, que materialismo, que filosofia, que ciência; que governo, que imperador, que rei conseguirá deter o Espírito, encerrá-lo nas dobras de um manto ou nas páginas de um livro; prendê-lo num cárcere, submete-lo a um código, torturá-lo a vergasta, feri-lo à espada?

A inumerável falange da Verdade paira sobre nós! Bem-vindos sejam os mensageiros do Senhor! Só a Verdade poderá nos tornar livres.

Bem-vindos sejam os nossos libertadores!

Cerremos fileiras, nós que buscamos o Reino de Deus e sua Justiça. Que a nossa casa varrida e adornada se encha de cátedras onde o Espírito da Verdade tenha repouso; que as nossas candeias bem abastecidas de óleo sagrado possam ser acesas pelo Espírito da Luz, e cheios de gratidão ao ANJO DA PAZ, N. S. Jesus Cristo, pela sua incomparável Doutrina, dediquemos-lhe os melhores momentos da nossa existência terrena.

A profecia de Joel se cumpre!

A Verdade paira sobre nós!

Salve! Benditos aqueles que vêm em nome do Senhor!

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O Ponto de Referência

Autor: Orson Peter Carrara

Por que muitos espíritas se fecham no próprio Centro em que atuam e não participam de eventos espíritas de outras casas ou cidades? Medo, insegurança, acomodação, indiferença?

Não sabemos! E nem nos cabe saber ou julgar, pois um dos pontos marcantes da Doutrina é a liberdade que se faculta ao espírita.

Porém, há algo a pensar. Os eventos, sejam encontros ou congressos, simples palestras ou até mesmo reuniões, são verdadeiros referencias de comparação e análise do que fazemos e do que fazem nossos companheiros de outras casas e cidades. 

Não comparação no sentido de menosprezo pelo que fazem os outros, mas comparação no sentido de encontrar-se referências para crescimento próprio e do Movimento. Sim, pois o intercâmbio, a troca de idéias, as experiências diferentes fortalecem a todos os envolvidos. 

Sendo uma Doutrina de liberdade, o Espiritismo é interpretado conforme o amadurecimento e estágio evolutivo de quem o estuda. E como vivemos num planeta onde se misturam diversos estágios de conhecimento, amadurecimento e experiências, todos tem algo a oferecer. O que sobra em nós, falta em outro. Do mesmo modo, o que falta em nós, podemos aprender com os outros.

Só por este motivo temos que valorizar o intercâmbio entre grupos, pois sempre há o que aprender e experiências a trazer e levar. Mas existem outros motivos também importantes:

a) O que dizer sobre a fraternidade que Jesus busca espalhar sobre o planeta? E nos negaremos a também sermos instrumentos desse trabalho?

b) Nossa experiência, nossos dons e habilidades ficarão trancados onde atuamos, sem beneficiar outros que podem ser beneficiados com aquilo que fazemos de bom? Não seria egoísmo, que tanto falamos combater?

c) A Doutrina nos faz tanto bem. Vamos querê-la só para o nosso grupo. O objetivo não é espalhar a semente espírita por toda parte, beneficiando a humanidade? Pois isto começa da união entre os próprios espíritas que, unidos, abrirão novos caminhos...

d) Quantas habilidades são desconhecidas pela falta de intercâmbio, de união?

e) Procuremos não esquecer que os espíritos se manifestam por toda parte, sem preferências de qualquer espécie, objetivando despertar as mentes para a realidade que já é do nosso conhecimento. E nós vamos querer segurar, trancar, controlar, como pretensos donos de uma exclusividade irreal?

Por isso, sempre pensamos na utilidade dos eventos espíritas, de oportunidades que reunam os espíritas. Eles estimulam a fraternidade, abrem caminhos. E melhor, se tornam verdadeiros pontos de referência para muitos que ali encontram o desabrochar de suas habilidades e potencialidades.

domingo, 26 de outubro de 2014

Jesus e a Inteligência Emocional

Autor: Suely Caldas Schubert

Afirma Daniel Goleman em seu livro “Inteligência Emocional” que os grandes mestres espirituais como Jesus e Buda “tocaram o coração dos seus discípulos falando na linguagem da emoção, ensinando por parábolas, fábulas e contos”. Segundo o escritor estes mestres espirituais falam no “vernáculo do coração”, o que do ponto de vista racional tem pouco sentido.

Goleman explica ainda que segundo Freud, em seu “conceito primário” de pensamento, essa lógica da mente emocional é a “lógica da religião e da poesia, da psicose e das crianças, do sonho e do mito”. Isto engloba também as metáforas e imagens como as artes, romances, filmes, novelas, música, teatro, ópera, etc., pois tocam de forma direta a mente emocional.

Isto nos leva a entender por que as expressões religiosas e artísticas agradam tanto: é que a imensa maioria das pessoas é dominada pela emoção. Também explica o motivo dessa preferência das multidões a essas crenças novas, rotuladas de evangélicas, que manipulam as emoções como fator de atração e direcionamento de seus adeptos.

Mas, o que é a EMOÇÃO? O dicionário registra: qualquer agitação ou perturbação da mente; sentimento; paixão; qualquer sentimento veemente ou excitado.

Segundo Goleman: “EMOÇÃO se refere a um sentimento e seus pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos, e a uma gama de tendências para agir.”

Não podemos perder de vista as sutilezas em que as emoções se manifestam, para melhor entendimento do assunto e encaminhamento do nosso raciocínio.

Os estudiosos do tema propõem famílias básicas (assim co­mo as cores básicas); mencionaremos algumas:

IRA: fúria, revolta, ressentimento, raiva, exasperação, indignação vexame, animosidade, aborrecimento, irritabilidade, hostilidade e, no extremo, ódio e violência patológicos.

TRISTEZA: sofrimento, mágoa, desânimo, desalento, melancolia, autopiedade, solidão, desamparo, desespero e, quando patológica, severa depressão.

MEDO: ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, cautela, escrúpulo, inquietação, pavor, susto, terror e, como psicopatologia, fobia e pânico.

PRAZER: felicidade, alegria, alívio, contentamento, deleite, diversão, orgulho, prazer sensual, emoção, arrebatamento, gratificação, satisfação, bom humor, euforia, êxtase e, no extremo, mania.

AMOR: aceitação, amizade, confiança, afinidade, dedicação, adoração, paixão, ágape (caridade).

E as virtudes e vícios que vão desde a fé, compaixão, esperança, coragem, altruísmo, perdão, equanimidade até dúvida, preguiça, tédio, etc. Há um debate científico sobre como classificar as emoções, já que podem ser igualmente um estado de espírito, temperamento ou se transformarem em distúrbios emocionais como depressão, angústia, ansiedade, fobias, etc.

Depreende-se, portanto, que em várias circunstâncias de nossa vida as emoções prevalecem e nos dominam. Quantas vezes nos surpreendemos diante de nossas alternâncias de estado de espírito, pois podemos ser muito racionais num momento e irracionais no seguinte quando o calor da emoção passa a comandar nossas atitudes.

É exatamente nos estados extremos das emoções que as pessoas cometem ações das quais se arrependem amargamente no minuto seguinte, quando a mente racional começa a reagir. É este o caminho dos crimes passionais, quando se diz que houve “privação dos sentidos”.

Portanto, emoções são sentimentos a se expressarem em impulsos e numa vasta gama de intensidade, gerando idéias, condutas, ações e reações. Quando burilados, equilibrados e bem conduzidos transformam-se em sentimentos elevados, sublimados, tomando-se, aí sim — virtudes.

O livro de Daniel Goleman traz-nos preciosas contribuições que devem ser analisadas à luz da Doutrina Espirita. Observemos, em princípio, o que consideramos a contribuição fundamental de sua obra: a distinção entre inteligência emocional e racional, em que “linguagem” a primeira se manifesta e todas as conseqüências que daí advêm. Mas, iremos analisar, especificamente, o discurso de Jesus, sob esta ótica.

Segundo o autor e conforme mencionamos linhas atrás, Jesus utilizou-se do “vernáculo do coração”, falava, portanto, a linguagem da emoção, e acrescentamos: do sentimento sublimado — por isto se diz que Ele trouxe a Lei de Amor.

Todavia, para a mentalidade racional que impera no Ocidente, nas elites intelectuais, sobretudo, essa mensagem passou a ser vista como sinônimo de psicose, infantilidade, poesia e utopia. Por outro lado, os principais fatores que geraram esse tipo de leitura foram as distorções, as interpolações e mutilações que o Evangelho sofreu e que o transformaram nesse cristianismo dos tempos atuais, muito distante da verdadeira Boa-Nova.

É exatamente no momento crucial em que a Europa, liderada pela França, entroniza a “deusa Razão”, zombando dos valores espirituais cultivados pela religião dominante, que a Terceira Revelação chega à Terra. O Espiritismo veio fazer uma leitura do Evangelho através da razão. Tendo em suas bases a moral cristã em sua pureza primitiva, interpretada, todavia, na linha do raciocínio a fim de que o seu aspecto emocional passe agora pela mente racional e possa ser aceita, assimilada pela mentalidade que prevalece em nossa época.

Cremos que a resistência na aceitação da Doutrina Espírita por parte dos países europeus (e mesmo norte-americanos), deve-se ao fato de não terem conseguido ainda assimilar essa nova mentalidade, pois destacam, de forma predominante, os valores intelectuais, a linha racional, não admitindo a prevalência da emoção ou a sua equiparação com a razão.

A Doutrina Espírita vem colocar o Evangelho do Cristo na linguagem da razão, com explicações racionais, filosóficas e científicas, mas, vejamos bem, sem abandonar, sem deixar de lado o aspecto emocional que é colocado na sua expressão mais alta, tal como o pretendeu Jesus, ou seja o sentimento sublimado, demonstrando assim que o SENTIMENTO E A RAZÃO podem e devem caminhar pela mesma via, pois constituem as duas asas de libertação definitiva do ser humano: O AMOR E A SABEDORIA.

A questão 627 de “O Livro dos Espíritos” traz-nos primorosa síntese das finalidades do Espiritismo e, a certa altura da resposta transmitida pelos Espíritos Superiores afirma: “O ensino dos Espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão. Estamos incumbidos de preparar o reino do bem que Jesus anunciou. Daí a necessidade de que a ninguém seja possível interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei toda de amor e de caridade.”

sábado, 25 de outubro de 2014

Mediunidade Mental

Autor: Orson Carrara

Recolhimento interior facilita intercâmbio

Allan Kardec publicou em sua Revista Espírita (1), de março de 1866, com o título que igualmente utilizamos na presente abordagem, uma correspondência recebida da Argélia, à qual ele acrescenta seus sempre ponderados e bem fundamentados comentários. O assunto, inclusive, foi levado para debate na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e ensejou que os espíritos transmitissem algumas instruções que ele igualmente publicou na mesma edição acima referida.

Escreve o correspondente: "(...)Fico alguns instantes à espera, como depois de uma evocação. Então sinto a presença do espírito por uma impressão física e logo surge em meu pensamento uma imagem que me faz reconhecê-lo. Estabelece-se a conversa mental, como na comunicação intuitiva, e esse gênero de palestra tem algo de adoravelmente íntimo. Muitas vezes meu irmão e minha irmã encarnados me visitam, às vezes acompanhados por meu pai e minha mãe, do mundo dos Espíritos.(...)"

E comenta o Codificador, com toda sua clareza: "Esta mediunidade, à qual damos o nome de mediunidade mental, certo não é adequada para convencer os incrédulos, porque nada tem de ostensivo, nem desses fatos que ferem os sentidos. É toda para a satisfação íntima de quem a possui. Mas também é preciso reconhecer que se presta muito à ilusão e que é o caso de desconfiar das aparências. Quanto à existência da faculdade, não se poderia pô-la em dúvida. Pensamos mesmo que deve ser a mais freqüente, porque é considerável o número das pessoas que, em vigília, sofrem a influência dos Espíritos e recebem a inspiração de um pensamento, que sentem não ser seu. A impressão agradável ou penosa que por vezes se sente à vista de alguém que se encontra pela primeira vez; o pressentimento da aproximação de uma pessoa; a penetração e a transmissão do pensamento são outros tantos efeitos devidos à mesma causa e que constituem uma espécie de mediunidade, que pode dizer-se universal, pois cada um lhe possui, ao menos, os rudimentos. Mas para experimentar seus efeitos marcantes é necessária uma aptidão especial, ou melhor, um grau de sensibilidade mais ou menos desenvolvido, conforme os indivíduos.(...)"

Das instruções sobre o assunto, recebidas dos espíritos, encontramos quatro publicadas na Revista Espírita. A primeira delas está assinada pelo espírito H. Dozon (médium: Sr. Delanne) e apresenta os seguintes comentários: "É possível desenvolver o sentido espiritual, como diariamente se vê desenvolver-se uma aptidão por um trabalho constante. Ora, sabei que a comunicação do mundo incorpóreo com os vossos sentidos é constante; ela se dá a cada hora, a cada minuto, pela lei das relações espirituais. (...) Constantemente estão ao vosso lado; eles vos vigiam; vossos familiares vos inspiram, vos suscitam pensamentos, vos guiam; falam-vos e vos exortam; protegem os vossos trabalhos, ajudam-vos a elaborar os vossos desígnios, formados pela metade e os vossos sonhos ainda indecisos; anotam vossas boas resoluções, lutam quando lutais. (...) Oh! Não, jamais negueis vossa assistência diária; jamais negueis vossa mediunidade espiritual (...)" 

Já a segunda mensagem, assinada por um Espírito Protetor (Médium: Sra. Causse), traz o seguinte ensinamento: " Sim, esse gênero de comunicação espiritual é mesmo uma mediunidade, como, aliás, tendes ainda outros a constatar, no curso de vossos estudos espíritas. É uma espécie de estado cataléptico, muito agradável para quem o experimenta. Proporciona todas as alegrias da vida espiritual à alma prisioneira, que aí encontra um encanto indefinível, que gostaria de experimentar sempre. Mas é preciso voltar de qualquer modo. E semelhante ao prisioneiro ao qual permitem tomar ar num prado, a alma entra constrangida na célula humana. (...) Esta mediunidade existe no estado inconsciente em muitas pessoas. Sabeis que há sempre perto de vós um amigo sincero, sempre pronto a sustentar e a encorajar aquele cuja direção lhe é confiada pelo Todo-Poderoso. Não, meus amigos, esse apoio não vos faltará jamais; cabe-vos saber distinguir as boas inspirações entre todas as que se chocam no labirinto de vossas consciências. (...)"

A terceira mensagem está assinada por São Luís (Médium: Sra. Delanne) e esclarece: "Já vos foi dito que a mediunidade se revelava por diferentes formas. A que vosso Presidente qualificou de mental está bem chamada. É o primeiro degrau da mediunidade vidente e falante. (...) enquanto que o médium mental pode, se for bem formado, dirigir perguntas e receber respostas, sem o intermediário da pena ou do lápis, mais facilmente que o médium intuitivo. Porque aqui o Espírito do médium, estando mais desprendido, é um intérprete mais fiel. Mas para isto é necessário um ardente desejo de ser útil, trabalhar em vista do bem com um sentimento puro, isento de todo pensamento de amor-próprio e de interesse. De todas as faculdades mediúnicas é mais sutil e a mais delicada: o menor sopro impuro basta para a manchar. Só nessas condições é que o médium mental obterá provas da realidade das comunicações. (...)"

E, finalmente, a última mensagem, assinada por Luís de França (Médium: Sra. Breul), traz o seguinte ensinamento: "Seguramente, meus amigos, a mediunidade, que consiste em conversar com os Espíritos, como com pessoas que vivem a vida material, desenvolver-se-á mais, à medida que o desprendimento do Espírito se efetuar com mais facilidade, pelo hábito do recolhimento. Quanto mais avançados moralmente forem os Espíritos encarnados, maior será esta facilidade de comunicações.(...)"

Ora, toda essa transcrição, com sua beleza textual e, ao mesmo tempo, fonte de tão amplos esclarecimentos, não tem outro objetivo senão destacar que estamos sempre amparados pela Bondade Divina através da presença carinhosa dos bons espíritos. E, igualmente, que podemos sim buscar a inspiração, a orientação superior, por nós mesmos, através do recolhimento mental e do aprimoramento moral que nos aproxima dos bons espíritos.

Ninguém está desamparado, sozinho, abandonado. Estamos todos envoltos em vibrações de amor daqueles que nos acompanham e orientam do Plano Espiritual. Todavia, por nossa vez, temos o dever de nos aprimorarmos moral e intelectualmente, para que possamos, com mais clareza, captar as suaves e consoladoras instruções que sempre nos são transmitidas.

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Nota do autor: todas as transcrições são parciais; recomendamos consulta à íntegra do texto, diretamente na Revista Espírita, na edição referida.
(1) edição Edicel, tradução de Julio Abreu Filho.
Matéria publicada originariamente na RIE - Revista Internacional de Espiritismo, edição de junho de 2005.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Vibrações do Pensamento

Autor: Léon Denis

O Espiritismo, por uns considerado perigoso, por outros vulgar e pueril, quase só é conhecido pelo povo sob seus aspectos inferiores. São os fenômenos mais materiais que atraem de preferência a atenção e provocam apreciações desfavoráveis. Esse estado de coisas é devido aos teoristas e vulgarizadores que, vendo no Espiritismo uma ciência puramente experimental, descuram ou repelem por sistema, algumas vezes com desdém, os meios de cultivo e elevação mental indispensáveis para se produzirem manifestações verdadeiramente imponentes entre o estado físico vibratório dos experimentadores e o dos Espíritos suscetíveis de produzir fenômenos de grande alcance, e nada se faz no sentido de atenuar essas diferenças. Daí a penúria de altas manifestações comparadas à abundância dos fenômenos vulgares.

O resultado é que inúmeros críticos, só conhecendo da questão a sua face terra-a-terra, constantemente nos acusam de edificar sobre fatos mesquinhos uma doutrina demasiado ampla. Mais familiarizados com o aspecto transcendental do Espiritismo, reconheceriam que nada exageramos; ao contrário, nos temos conservado abaixo da verdade.

Quaisquer que sejam as relutâncias dos teóricos positivistas e “antimísticos”, forçoso será ter em conta as indicações dos homens competentes, sem o que viria a fazer-se do Espiritismo mísera ciência, cheia de obscuridades e perigosa para os investigadores.

O amor da ciência não basta, disse o professor Falcomer; é indispensável a ciência do amor. Nos fenômenos não temos que nos haver unicamente com elementos físicos, mas com agentes espirituais, com entidades morais, que, como nós, pensam, amam, sofrem. Nas profundezas invisíveis, a imensa hierarquia das almas se desdobra, das mais obscuras às mais radiosas. De nós depende atrair umas e afastar as outras. 

O único meio consiste em criarmos em nós, por nossos pensamentos e atos, um foco irradiador de luz e de pureza. Toda comunhão é obra do pensamento. O pensamento é a própria essência da vida espiritual. É força que vibra com intensidade crescente, à medida que a alma se eleva, do ser inferior ao Espírito puro e do Espírito puro até Deus. 

As vibrações do pensamento se propagam através do espaço e sobre nós atraem pensamentos e vibrações similares. Se compreendêssemos a natureza e a extensão dessa força, não alimentaríamos senão altos e nobres pensamentos. Mas o homem se ignora ainda, como ignora as imensas capacidades desse pensamento criador e fecundo que nele dormita e com o qual poderia renovar o mundo.

Em nossa fraqueza e inconsciência, atraímos na maior parte das vezes Espíritos maus, cujas sugestões nos perturbam. É assim que a comunicação espiritual, em conseqüência de nossa inferioridade, se obscurece e desvirtua; fluidos corrompidos se espalham pela Terra, e a luta entre o bem e o mal se empenha no mundo oculto como no mundo material.

Na atração dos pensamentos e das almas consiste integralmente a lei das manifestações psíquicas. Tudo é afinidade e analogia no Invisível. Investigadores que sondais o segredo das trevas, elevai bem alto, pois, os pensamentos, a fim de atrairdes os gênios inspiradores, as forças do bem e do belo. Elevai-os, não somente nas horas de estudo e experiências, mas freqüentemente, a todas as horas do dia, como um exercício regenerador e salutar. Não esqueçais que são esses pensamentos que vão lentamente eterizando e purificando o nosso ser, engrandecendo as nossas faculdades e tornando-nos aptos a experimentar as mais delicadas sensações, fonte de nossas felicidades futuras.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A Mente que não mente

Autor: Hermínio C. Miranda

A ortodoxia religiosa sempre andou preocupada com a eclosão de doutrinas reformistas e renovadoras que classifica sumariamente de heréticas. Essa vigilância tem levado a muita perseguição injusta e a não poucos arrependimentos e recuos. Alguns heréticos chegaram mesmo a passar da condição de réprobos à canonização, como Joana D’ Arc, quando foi revisto o seu processo. Outros, como Giodarno Bruno e Galileu, constituem até hoje pontos sensíveis na história eclesiástica, como pecados da juventude que não relembramos sem angústia.

O problema, porém, tornou-se muito mais sério nestes últimos tempos, nos quais o arcabouço teológico começa a estalar ao peso insuportável da modernização do pensamento. Ainda que a ciência também tenha seus dogmas e seus hereges, muito do que ela vai revelando adquire foros de conquista irreversível, geralmente em sacrifício de velhos conceitos superados.

Qualquer menino de ginásio sabe hoje que um corpo humano não pode subir ao céu como querem os dogmas da ascensão do Cristo e de Maria.

Mesmo admitindo-se a atuação de uma força propulsora que os projetasse para além da gravidade terrestre, os corpos assim deslocados, ficariam suspensos no espaço a circular na órbita da terra ou de seu satélite.

Esse tipo de conhecimento leva o homem moderno às trilhas da descrença por não saber como conciliar razão e fé. Os grandes filósofos do cristianismo ortodoxo conseguiram, com enorme sucesso e por largo espaço de tempo, convencer fiéis de que a fé era uma coisa e razão outra, e que aquela não poderia ser subordinada a esta.

Ainda há quem admita esse conceito absurdo; outros, porém, preferem pensar por sua própria cabeça e submeter à crítica da razão aquilo que lhes chega envolvido pela atmosfera abafada da teologia escolástica. Estes derivam para descrença e desanimam na busca da verdade ou partem para o estudo sistemático de qualquer sistema que ofereça alguma luz ao entendimento do universo.

O Espiritismo é a doutrina que conseguiu, pela primeira vez, conciliar fé e razão, não admitindo aquilo que não puder passar no teste do racionalismo inteligente e esclarecido.

Por isso vai se impondo metodicamente, seguramente, ampliando cada vez mais sua área de influência, pois atrai a todos aqueles que, sem poderem mais aceitar a velha crença divorciada da razão, estão prontos para acatar uma verdade superior que não exige o sacrifício do raciocínio. Mas ainda: o Espiritismo expõe uma doutrina do mais profundo sentido humanista. A sua racionalidade não a levou à frieza dos símbolos matemáticos ou dos meros conceitos filosóficos – é, antes, uma norma de vida, um roteiro para compreensão do universo e posicionamento do homem na escala cósmica.

Por isso, muitos nos procuram, o que preocupa, como é natural, os responsáveis pela perpetuação do superado sistema dogmático. Através dos séculos, chegou a ser desenvolvida uma verdadeira técnica de combate às novas idéias que ameaçam a estabilidade da ortodoxia. Essa técnica se aperfeiçoa com o passar do tempo, mas continua basicamente a mesma.

O Espiritismo é uma das doutrinas que muito vem incomodando a igreja especialmente a brasileira, ou seja, a porção brasileira do catolicismo romano. Para combatê-los, vários e ilustres sacerdotes têm sido investidos dos necessários poderes e dos competentes “Imprimatur” e “Nihil Obstat”. Essa é a técnica básica.

Há algum tempo, entretanto, a dominante do plano de ataque era a velha doutrina de interferência do diabo nas manifestações mediúnicas. Hoje isto seria inadmissível, pois até mesmo os sacerdotes já descobriram que essa história de demônio é fantasia pura. A prova está nas declarações de alguns eminentes teólogos perante o Concílio Vaticano-II. Impedidos assim de invocar o demônio de atacar a ciência nas suas conquistas mais legítimas, buscam qualquer princípio científico que ofereça a mínima possibilidade de apoio. Esse é o ponto em que variou a técnica.

Um dos recursos de que estão se socorrendo os nossos queridos irmãos sacerdotes é a Parapsicologia, na qual vêm depositando grandes e infundadas esperanças.

A Parapsicologia ainda não está muito segura de si e sofre dum renitente mal de origem, que poderíamos chamar, recorrendo ao velho grego, de pneumofobia, ou seja, medo do espírito. A jovem ciência que nós espíritas, poderíamos classificar como autêntica reencarnação da Metapsíquica, treme à idéia de acabar descobrindo o espírito humano e foge da palavra como, segundo se dizia, o desmoralizado diabo fugia da cruz. Os modernos tratados de Parapsicologia giram todos em torno do mesmo “leit motiv”: “O Alcance da Mente”, “O Novo Mundo da Mente”, “Ciência Fronteiriça da Mente”, “Canais Ocultos da Mente”. É tudo mente e nada de espírito. Sobrevivência?! Deus nos livre! Pois se nem quererem concordar em que o espírito exista, como vão admitir que sobrevive? Nada disso; tudo se explica pela faculdade extra-sensorial da mente. Mas que faculdade é essa e que “Mente” é essa?

Vêm, então, os nossos inevitáveis sacerdotes parapsicológicos deitar sabedoria extra-sensorial, contaminados irremediavelmente pela mesmíssima pneumofobia e tudo para eles é Mente também.

Topamos, assim, como esta incongruência, difícil de se admitir em homens que devem ter estudado a sua filosofia:

1 – a mente dispõe de faculdades extra-sensoriais (postulado cientifico que aceitam e ensinam);

2 – o espírito (alma) que não pode existir sem a mente; sobrevive à morte física (postulado teológico que também aceitam e pregam);

3 – a mente (ou espírito ou alma) não está sujeita a limitação de tempo ou de espaço (também pacífico).

No entanto, qual a conclusão: A mente do espírito sobrevivente que ligada ao corpo, tinha recursos tão notáveis, não pode manifestá-los quando se separa do corpo pela morte física, a não ser através do “milagre”(!).

E os livros que contam essas coisas merecem ingênuos e inadvertidos “Imprimatur” e “Nihil Obstat”, o que vale dizer que são aprovados, confiantemente para o leitor católico; autoridades Eclesiásticas respeitáveis dão cobertura do ponto de vista teológico a obras que, do ângulo científico, estão oferecendo uma visão deformada e incompleta da realidade. A Parapsicologia não tem substância suficiente para oferecer base à teologia ortodoxa e jamais a terá, enquanto permanecer contida nos seus gabinetes atuais.

No dia em que o mecanismo do espírito (chamem de mente se quiserem) for pesquisado por cientistas corajosos e despidos de preconceitos, vão ser “revelados” os seguintes pontos que o Espiritismo conhece há mais de cem anos:

1- que espírito existe, preexiste e sobrevive;

2- que há um intercâmbio ativo entre os homens que já viveram na Terra e os espíritos dos que vivem como homens;

3- que o espírito se reencarna, evolui e é responsável pelo que faz aqui e no mundo espiritual.

Diante disso, como é que vão ficar os nossos padres parapsicólogos? Quando voltarem para o espaço, depois da chamada “crise da morte” e quiserem transmitir a realidade da sobrevivência ao companheiro encarnado, este poderá dizer muito simplesmente que não é preciso admitir a comunicação espírita; basta a pantomnésia ou a hiperestesia direta, ou indireta. E o pobre espírito, dentro duma realidade irrecusável, irá amargar alhures a repercussão de sua vaidade teológica e científica.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Que Fizeste na Vida

Autor: Léon Denis

Olhai os pássaros de nosso país durante os meses de inverno, quando o céu está sombrio, quando a terra está coberta com um branco manto de neve, agarrados uns aos outros, na borda de um telhado, eles se aquecem mutuamente, em silêncio. A necessidade os une. Contudo, nos belos dias, com o sol resplandecendo e a provisão abundante, eles piam quanto podem, perseguem-se, batem-se e se machucam. Assim é o homem. Dócil, afetuoso para com seus semelhantes nos dias de tristeza, a posse dos bens materiais muitas vezes o torna esquecido e insensível.

Uma condição modesta faz mais bem ao espírito desejoso de progredir, de adquirir as virtudes necessárias para seu progresso moral. Longe do turbilhão dos prazeres fugazes, ele julgará melhor a vida, dará à matéria o que é necessário para a conservação de seus órgãos, porém evitará cair em hábitos perniciosos, tornar-se presa das inúmeras necessidades factícias que são o flagelo da humanidade. Ele será sóbrio e laborioso, contentando-se com pouco, apegando-se aos prazeres da inteligência e às alegrias do coração.

Fortificado assim contra os assaltos da matéria, o sábio, sob a pura luz da Razão, verá resplandecer seu destino. Esclarecido quanto ao objetivo da vida e ao porquê das coisas, ficará firme e resignado diante da dor, que ele aproveitará para sua depuração e seu progresso.

Enfrentará a provação com coragem, sabendo que ela é salutar, que ela é o choque que rasga nossas almas e que só por este rasgão se derrama tudo quanto de fel e de amargura há em nós.

E se os homens se riem dele, se ele é vítima da intriga e da injustiça, ele aprenderá a suportar pacientemente seus males, lançando seus olhares para vós; oh! nossos irmãos mais velhos, para Sócrates bebendo a cicuta, para Jesus crucificado e para Joana na fogueira. Haverá consolação no pensamento que os maiores, os mais virtuosos e os mais dignos sofreram e morreram pela humanidade. 

Após uma existência bem preenchida, chegará a hora solene e é com calma, sem desgostos que virá a morte, a morte que os homens cercam com um sinistro aparato, a morte, espantalho dos poderosos e dos sensuais e que, para o pensador austero, é a libertação, a hora da transformação, a porta que se abre para o império luminoso dos espíritos.

Esse pórtico das regiões extraterrestres será penetrado com serenidade se a consciência, separada da sombra da matéria, erguer-se como um juiz, representante de Deus, perguntando: “Que fizeste da vida?” e ele responder: “Lutei, sofri, amei! Ensinei o Bem, a Verdade e a Justiça; dei a meus irmãos o exemplo do correto e da doçura; aliviei as dores dos que sofrem e consolei os que choram. Agora, que o Eterno me julgue, pois estou em suas mãos!” 

Homem, meu irmão, tem fé em teu destino, porque ele é grande. Confia nas amplas perspectivas porque ele põe em teu pensamento a energia necessária para enfrentar os ventos e as tempestades do mundo. Caminha, valente lutador, sobe a encosta que conduz a esses cimos que se chamam Virtude, Dever e Sacrifício. Não pares no caminho para colher as florezinhas do campo, para brincar com os calhaus dourados. Para frente, sempre adiante.

Olha nos esplêndidos céus esses astros brilhantes, esses sóis incontáveis que carregam em suas evoluções prodigiosas, brilhantes cortejos de planetas. Quantos séculos acumulados foram precisos para formá-los e quantos séculos serão precisos para dissolvê-los.

Pois bem, chegará um dia em que todos esses sóis serão extintos, ou esses mundos gigantescos desaparecerão para dar lugar a novos globos e a outras famílias de astros emergindo das profundezas. Nada o que vês hoje existirá. O vento dos espaços terá varrido para sempre a poeira desses mundos, porém tu viverás sempre, prosseguindo tua marcha eterna no seio de uma criação renovada incessantemente. Que serão então, para tua alma depurada e engrandecida, as sombras e os cuidados do presente? Acidentes fugazes de nossa caminhada que só deixarão, no fundo de nossa memória, lembranças tristes e doces. 

Diante dos horizontes infinitos da imortalidade, os males do passado e as provas sofridas serão qual uma nuvem fugidia no meio de um céu sereno.

Considera, portanto, no seu justo valor, as coisas da Terra. Não as desdenhes porque, sem dúvida, elas são necessárias ao teu progresso, e tua obra é contribuir para o seu aperfeiçoamento, melhorando a ti mesmo, mas que tua alma não se agarre exclusivamente a eles e que busque, antes de tudo, os ensinamentos nelas contidos.

Graças a eles compreenderás que o objetivo da vida não é o gozo, nem a felicidade, porém o desenvolvimento por meio do trabalho, do estudo e do cumprimento do dever, dessa alma, dessa personalidade que encontrarás além do túmulo, tal como a tenhas feito, tu mesmo, no curso dessa existência terrestre. 



Livro: O Progresso

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Poluição e Psicosfera

Autor: Joanna de Ângelis (espírito) / psicografia de Divaldo Franco

Ecólogos de todo o mundo preocupam-se, na atualidade, com a poluição devastadora, que resulta dos detritos superlativos que são atirados nos oceanos, nos rios, lagos e "terras inúteis" circunjacentes às grandes metrópoles, como o tributo pago pelo conforto e pelas conquistas tecnológicas, desde os urgentes ingredientes e artefatos para a sobrevivência, às indústrias bélicas, às de explorações novas, às "de inutilidade" que atiram fora centenas de milhões de toneladas de lixo, óleos e resíduos em todo lugar.

Além dessas, convém recordarmos a de natureza sonora, dos centros urbanos, produzindo distonias graves e contínuas...

Os mais pessimistas, porém, prevêm a possível destruição da vida vegetal, animal e hominal como efeito dos excessivos restos produzidos pelos engenhos de que o homem se utiliza, e logo o esmagarão após transformar a Terra num caos... 

Mais grave, demonstram os técnicos no assunto importante, é a poluição atmosférica, graças às substancias venenosas que são expelidas pelas fábricas em forma de resíduos, pelos motores de explosão a se multiplicarem fantástica, insaciavelmente, e os inseticidas usados para a agricultura...

Voluptuoso e desconsertado por desvarios múltiplos do homem, as máquinas avançam, dirigidas pela inconcebível ganância, desbastando reservas florestais e influindo climatericamente com transformações penosas nas regiões, então, vencidas...

O espectro de calamidades não imaginados ronda e domina com segurança muitos departamentos ambientais ora reduzidos à aridez...

Cifras assustadoras denotam o quanto se desperdiça na inutilidade—embora a elevada estatística chocante dos que se estorcegam na mais ínfima miséria, rebocando-se na coleta dos montes de lixo, a cata de destroços de que possam retirar o mínimo para sobreviver!—comprovando que no galvanizar das paixões, o homem moderno, à semelhança de Narciso, continua a contemplar a imagem refletida nas águas perigosas da vaidade e do egoísmo em que logo poderá asfixiar-se, inerme ou desesperado. No entanto, irrefletido, impõe-se exigências dispensáveis, a que se escraviza, complicando a própria e a situação dos demais usuários dos recursos da generosa mãe-Terra.

Nesse panorama deprimente, e para sanar alguns dos males imediatos e outros do futuro, sugestões e programas hão surgido preocupando as autoridades responsáveis pelos Organismos Mundiais, no sentido de serem tomadas providências coletivas e salvadoras urgentes. Algumas já estão sendo postas em prática, embora em número reduzido, tais o reflorestamento; a ausência de tráfego com motores de explosão em algumas cidades uma vez por semana; a tentativa da industrialização do lixo, com aproveitamento de energia, adubos e outros; controle no uso de pesticidas na lavoura; técnicas não poluentes com o fim de gerar energia; as áreas verdes na cidades; a segurança por meio de controle das experiências nucleares, a fim de ser evitada a contaminação . . .

Afirma-se que por onde o homem e a civilização passam ficam os sinais danosos da sua jornada, em forma de aridez, destruição e morte.

As grandes Nações materialmente, estruturadas e guindadas ao ápice pela previsão futurológica de mentes e computadores que prometiam tudo resolver, fazendo soberbas e vãs as criaturas, foram surpreendidas, há pouco, pelas conseqüências gerais da própria impetuosidade, no resultado da guerra no Oriente Médio, fazendo-as parar e modificando, em muitas delas, as estruturas e programas, previsões e soberania pelas exigências do deus petróleo em que estabeleceram as bases do seu poderio e das suas glórias, decepcionadas, atônitas..

Algumas tiveram a economia abalada, padecendo crises que resultaram do gravame geral, modificando a política interna e externa, num atestado de nulidade quanto aos compromissos humanos assumidos, à segurança e precariedade das humanas forças.

Como resultado, apressam-se as negociações internacionais por acordos diplomáticos e conchavos político-econômicos, enquanto a fome, campeando desassombradamente, confirma a falência dos cálculos e das fantasias materialistas, visivelmente per turbadas no testemunho dos seus líderes em convulsas transações com que tentam reequilibrar o poderio avassalado, quando, não, perdido ..

O poder de um dia. qual efêmera glória, sempre muda de mão e local, fazendo oscilarem, mudarem de rumo os interesses e as supostas proteções, fruto, indubitavelmente, de uma poluição descuidada—a de natureza moral!

A força e a grandeza de alguns povos até há pouco mandatários da Terra cederam lugar aos potentados reais, que se demoravam desconsiderados e as exigências da fome ameaçadora e voraz os situou como as legitimas potências que são disputadas, após o deus negro: o arroz, o trigo, o milho e o sorgo cujos celeiros, quase vazios no mundo, deles necessitam com urgência para a sobrevivência dos seres

Todavia, o homem ingere e disparate mais terrível poluição, venenosa quão irrefreável graças ao cultivo de lamentáveis atitudes em que persevera e se compraz: referimo-nos à poluição mental que interfere na ecologia psicosférica da vida inteligente, intoxicando de dentro para fora e desarticulando de fora para dentro.

Estando a Terra vitimada pelo entrechoque de vibrações, ondas e mentes em desalinho, como decorrência do desamor, das ambições desenfreadas, dos ódios sistemáticos, as funestas conseqüências se faz em presentes não apenas nas guerras externas e destrutivas, mas também nas rudes batalhas no lar, na -família, no trabalho, nas ruas da comunidade, no comportamento. Intoxicado pela ira, vencido pelo desespero que agasalha, foge na direção dos prazeres selvagens nos quais procura relaxar tensões, adquirindo mais altas cargas de desequilíbrio em que se debate.

A poluição mental campeia livre, favorecendo o desbordar daquela de natureza moral, fator primacial para as outras que são visíveis e assustadoras

O programa, no entanto, para o saneamento de tão perigoso estado de coisas, já foi apresentado por Jesus, o Sublime Ecólogo que em a Natureza, preservando-a, abençoando-a, dela se utilizou, apresentando os métodos e técnicas da felicidade, da sobrevivência ditosa nos incomparáveis discursos e realizações de que inundou a História, estabelecendo as bases para o reino de amor e harmonia, sem fim, sem dores, sem apreensões...

Nunca reagiu o Mestre—sempre agiu com sabedoria

Jamais se permitiu ferir -- deixou-se, porém crucificar,

Nenhuma agressão de Sua parte—facultou-se, no entanto, ser agredido.

Por onde passou, deixou concessões de esperança, bálsamo de reconforto, amenidade e paz. Seus caminhos ficaram floridos pelas alegrias e abençoados pelos frutos da saúde renovada.

Rei Solar, fez-se servo humilde de todos, mantendo-se inatingido, embora o ambiente em que veio construir a Vida Nova para os tempos futuros..

Repassa-Lhe a sublime trajetória.

Busca-O!

Faze uma pausa na terrível conjuntura em que te encontras e recorda-O.

Para toda enfermidade, Ele tem a eficiente terapia; para as calamidades destes dias, Ele tem a solução.

Ama e serve, portanto, como possas, quanto possas, quando possas.

A Terra sairá do caos que a absorve e voltarão o ar puro, a água cristalina, a relva repousante, o trinar dos pássaros, o fulgor do sol e o faiscar das estrelas em nome do Pai Criador e de Jesus, o Salvador Perene de todos nós.

Texto retirado do livro Após a Tempestade,