sexta-feira, 31 de julho de 2015

OBJETIVO DA MEDIUNIDADE

Qual ocorre com qualquer faculdade orgânica ou intelecto-moral, a mediunidade, desvestida de mitos e tabus, exige cuidados especiais e competente educação. Possivelmente, requer maior soma de zelos e atenções – por proceder do espírito - portadora de requisitos especiais e cuja finalidade elevada impõe providências específicas.

Possuidora de um campo de ação muito vasto, expande-se na razão direta em que é exercitada com disciplina, quão se apequena e desaparece quando deixada ao abandono, podendo, não raro, transformar-se em veículo de perturbação e prejuízo.

Instrumento programado para o serviço de amor e do esclarecimento da criatura humana, e, pois, consequentemente, da Humanidade, faculta o intercâmbio com os seres espirituais que comprovam a sua sobrevivência à morte, fazendo identificar-se, sem margem a dúvidas, propiciando uma revolução ético-comportamental relevante e demonstrando a legitimidade de todas as crenças religiosas no que tange ao futuro espiritual das criaturas.

Por essa mesma razão, a fim de que possa atingir os objetivos nobres para os quais existe, necessita de atenções contínuas, desde a conduta moral do homem que a possui até aos recursos que lhe devem ser aplicados, no que diz respeito ao estudo do seu mecanismo, tanto quanto da sua educação e flexibilidade.

Certamente, pode apresentar-se espontânea e generalizada em pessoas boas e más, cultas ou ignorantes, por ser, também, de natureza orgânica, todavia, para tornar-se digna de crédito e respeito, faz-se credora de compreensível educação, graças à qual se lhe desdobram as possibilidades que dormem inatas aguardando ensejo para manifestar-se.

A mediunidade é um compromisso grave para o indivíduo, que responderá à consciência pelo uso que lhe conferir, como sucede com as qualidades morais que o credenciam à felicidade ou à desdita, como decorrência da aplicação dos seus valores.

Despida de atavios e de crendices, a faculdade mediúnica propicia imensa área de serviço iluminativo, conclamando pessoas sérias e interessadas à conscientização dos objetivos da vida.

A proliferação de médiuns e a multiplicação de células dedicadas ao exercício das forças mediúnicas têm tornado comuns a aceitação da faculdade, e uma certa faixa de simpatia ora a envolve, permitindo, por outro lado, que a vacuidade e a vulgarização trabalhem em prejuízo dos fins e meios de aplicação de que se reveste.

Lentamente, a modéstia e a humildade, a discrição e a simplicidade dos médiuns, o recolhimento e o trabalho incessante vão cedendo lugar ao estrelismo e às disputas estéreis por promoção de nomes pessoais e de Entidades, num campeonato de insensatez lamentável sob todos os aspectos considerados.

A pressa pela divulgação pessoal, em detrimento do zelo pelo conteúdo das mensagens, vem transformando núcleos de atividades mediúnicas em palco de exibição, em veículos para atendimento de interesses escusos, de simonia, de frivolidade...

Os Espíritos Nobres não se submetem aos caprichos dos médiuns e pessoas frívolas, interessadas nos jogos vazios de personalismo perturbador, cedendo estes lugar aos vulgares e irresponsáveis quais eles mesmos, realizando fenômenos de sintonia que os candidatam a obsessões sutis, a princípio, a caminho de lamentáveis processos irreversíveis e dolorosos...

Nenhum médium é, em consequência, perfeito e irretocável, isento de influenciação dos maus espíritos como dos perturbadores que povoam a Erraticidade e lhes constituem provas ao orgulho e à vaidade, demonstrando a fragilidade humana que é inerente à qualidade de ser falível em processo de evolução na Terra.

exercício consciente e cuidadoso, enobrecido e dirigido para o bem proporciona ao médium os tesouros da alegria interior que decorrem da convivência salutar com os Guias Espirituais interessados no seu progresso e realização.

Da mesma forma, experimenta crescer o círculo de afetividade além das fronteiras físicas, pelo fato de os Espíritos que com ele se comunicam envolverem-no em carinhosa proteção, aumentando o número de Entidades que se lhe tornam simpáticas e agradecidas pelo ministério desenvolvido.

educação das forças mediúnicas é de demorado curso, porquanto, à medida que a sensibilidade se apura mais se amplia a capacidade de registro e de percepção extrafísica.
O médium, desse modo, responsável, no desdobramento das atividades a que se dedica, no setor em que se especializa, vai-se despojando dos grilhões terrenos e projetando-se na direção da Vida Imortal, superando os limites orgânicos e vendo crescer os horizontes iluminados do Mundo Maior que o fascina e enternece.

A mediunidade, portanto, em breve, na Terra, facultará aos homens a visão segura da sua imortalidade, proporcionando-lhe encarar a morte e o seu destino com naturalidade e paz.

Queira Deus, próximos estejam esses dias e saibamos, Espíritos e homens, utilizar-nos corretamente da divina concessão, mediante cujo uso, nos tornaremos uma só família, que já o somos, embora aparentemente separados pela cortina vibratória do corpo físico.

                                                                                                         Vianna de Carvalho

(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, em 21 Mar 1988, no Centro Espírita “Caminho da Redenção”, em Salvador-BA).

quinta-feira, 30 de julho de 2015

ECLOSÃO DA MEDIUNIDADE

A mediunidade, sendo uma faculdade natural, eclode ou surge na época apropriada, definida noplanejamento reencarnatório do indivíduo.

Natural, aparece espontaneamente, mediante constrição segura, na qual os desencarnados de tal ou qual estágio evolutivo convocam à necessária observância de suas leis, conduzindo o instrumento mediúnico a precioso labor por cujos serviços adquire vasto patrimônio de equilíbrio e iluminação, resgatando, simultaneamente, os compromissos negativos a que se encontre enleado desde vidas anteriores.

Outras vezes surge como impositivo provacional mediante o qual é possível mais ampla libertação do próprio médium, que, em dilatando o exercício da nobilitação a que se dedica, granjeia consideração e títulos de benemerência que lhe conferem paz.

Sem dúvida, poderoso instrumento pode converter-se em lamentável fator de perturbação, tendo em vista o nível espiritual e moral daquele que se encontra investido de tal recurso.

A eclosão mediúnica pode, então,  ocorrer sob duas formas:

·Espontânea – não gerando maiores desconfortos, quer físicos quer emocionais, ao médium iniciante;
·Provacional – o médium apresenta descompassos emocionais que atingem a sua organização física. Podem ocorrer perturbações espirituais.

Essa última é a forma mais comum do surgimento da mediunidade no estado evolutivo em que ainda nos encontramos.

 O surgimento da faculdade mediúnica não depende de lugar, idade, condição social ou sexo. Pode surgir na infância, adolescência ou juventude, na idade madura ou na velhice. Pode revelar-se no Centro Espírita, em casa, em templos de quaisquer denominações religiosas, no materialista. Os sinais ou sintomas que anunciam a mediunidade variam ao infinito. Reações emocionais insólitas, sensação de enfermidade, só aparente, calafrios e mal-estar, irritações estranhas.

 Quando ao aparecimento da mediunidade, surgem distúrbios vários, sejam na área orgânica, através de desequilíbrios e doenças, ou mediante inquietações emocionais e psiquiátricas, por ansiedade da sua (do médium)  constituição fisiopsicológica.

 Não é a mediunidade que gera o distúrbio no organismo, mas a ação fluídica dos Espíritos que favorece a distonia ou não, de acordo com a qualidade de que esta se reveste.

 Por outro lado, quando a ação espiritual é salutar, uma aura de paz e de bem-estar envolve o medianeiro, auxiliando-o na preservação das forças que o nutrem e sustentam durante a existência física.

 Ao analisar as condições de surgimento da mediunidade no ser humano, podemos afirmar que ela aparece e se desenvolve de forma cíclica, ou seja, processa-se por etapas sucessivas, em forma de espiral.

As crianças a possuem, por assim dizer, à flor da pele, mas resguardadas pela influência benéfica e controladora dos Espíritos protetores, que as religiões chamam de anjos da guarda, nessa fase infantil as manifestações mediúnica são mais de caráter anímicos; a criança projeta a sua alma nas coisas e nos serem que a rodeiam, recebe as intuições orientadoras dos seus protetores, às vezes vê e denuncia a presença de Espíritos e não raro transmite avisos e recados dos Espíritos aos familiares, de maneira positiva e direta ou de maneira simbólica e indireta. Independente da persistência do fenômeno mediúnico, a criança deve ser encaminhada à Evangelização Espírita, para ser auxiliada mais efetivamente.

Com o crescimento, a criança vai-se desligando cada vez mais do mundo espiritual, passando a se envolver com as ocorrências do plano físico e, em consequência, as manifestações mediúnicas vão-se escasseando. Fecha-se o primeiro ciclo mediúnico. Considera-se então que a criança não tem mediunidade, a fase anterior é levada à conta da imaginação e da fabulação infantis.

É geralmente na adolescência, a partir dos doze ou treze anos, que se inicia o segundo ciclo. No primeiro ciclo só se deve intervir no processo mediúnico com preces e passes, para abrandar as excitações naturais da criança, quase sempre carregadas de reminiscências estranhas do passado carnal ou espiritual. Na adolescência o seu corpo já amadureceu o suficiente para que as manifestações mediúnicas se tornem mais intensas e positivas. É tempo de encaminhá-la com informações mais precisas sobre o problema mediúnico. O passe, a prece, as reuniões de estudo doutrinário são meios de auxiliar o processo  (da eclosão da mediunidade), sem forçá-la, dando-lhe orientação necessária.

O terceiro ciclo ocorre geralmente na passagem da adolescência para a juventude, entre os dezoito e vinte e cinco anos. É tempo, nessa fase, dos estudos sérios do Espiritismo e da Mediunidade, bem como da prática mediúnica livre, nos centros e grupos espíritas.

Há ainda o quarto ciclo, correspondente a mediunidade que só aparecem após a maturidade, na velhice ou na sua aproximação. Trata-se de manifestações que se tornam possíveis devido às condições da idade: enfraquecimento físico, permitindo mais fácil expansão das energias perispiríticas; maior introversão da mente, com a diminuição de atividades da vida prática, estado de apatia neuropsíquica, provocado pelas mudanças orgânicas do envelhecimento. Esse tipo de mediunidade tardia tem pouca duração, constituindo uma espécie de preparação mediúnica para a morte. Restringe-se a fenômenos de vidência, comunicação oral, intuição, percepção extra-sensorial e psicografia.

É muito comum, nos momentos próximos à desencarnação, a ampliação das faculdades mediúnicas, sobretudo pela percepção de entidades espirituais. Podem ser momentos de grande beleza e alegria, se o Espírito cultivou o bem, ao longo da encarnação. Pode, no entanto, representar sofrimento para a criatura que não soube conquistar valores positivos,  durante a experiência terrestre.

O momento da eclosão da faculdade mediúnica no Espírito encarnado é de fundamental importância, uma vez que essa faculdade poderá proporcionar benefícios ao próprio encarnado e ao próximo, se bem orientada e amparada fraternalmente.

Deve-se considerar, no entanto, que nem sempre a pessoa é convenientemente assistida logo que desabrocham suas faculdades mediúnicas; seja por ignorância a respeito do assunto, o que é mais comum, seja por desinteresse ou desatenção dos familiares ou dos amigos. O certo é que, no inicio do seu desenvolvimento, os médiuns enfrentam muitos conflitos.
Às vezes, não têm o menor esclarecimento da doutrina e nunca sequer transpuseram as portas de um Centro Espírita. Depois de tentarem solucionar os seus problemas pelos métodos convencionais (médicos, psicólogos) eis que recorrem, em última instância,  ao Espiritismo.

Quando acontece assim, esses irmãos chegam completamente desnorteados à Casa Espírita, ainda sob o guante dos preconceitos religiosos que alimentaram por muito tempo.

Devidamente orientados para um tratamento espiritual através de passes e reuniões de estudos evangélicos, revelam-se incrédulos, exigindo que o Espiritismo lhes resolva as dificuldades de um instante para outro! Perguntam por um Centro que seja mais forte... Dizem não acreditar na influência dos Espíritos... Afirmam que não querem ser médiuns...

É natural que seja assim, porque se encontram em desequilíbrio psicológico. O dirigente espírita, ou aquele a quem couber a tarefa, necessita ter paciência e conquistar-lhe a confiança. Em outras ocasiões, os médiuns iniciantes por revelarem-se fascinados pelo entusiasmo excessivo, diante do impacto das revelações espirituais que os visitam de jato, solicitam o entendimento e o apoio dos irmãos experimentados, para que não se percam, através de engodos brilhantes.

As Casa Espíritas oferecem campo para estudo e educação da mediunidade a todos aqueles que desejam servir na seara do Cristo nessa área. Auxiliar o médium na tarefa de desenvolver a sua faculdade mediúnica em benefício do próximo e de si mesmo não é tarefa fácil. Exige do dirigente espírita não apenas devotamento a esse gênero de atividade, mas lucidez mental para auxiliar, com bondade e paciência, principalmente a criatura que apresenta mediunidade que eclodiu em bases provacionais.

Devem compreender os dirigentes espíritas, sobretudo, que, no início da mediunidade, os médiuns topam com o escolho de terem de haver-se com Espíritos inferiores e devem dar-se por felizes quando são apenas Espíritos levianos. Toda atenção precisam pôr em que tais Espíritos não assumam predomínio, porquanto, em acontecendo isso, nem sempre lhes será fácil desembaraçar-se deles. É ponto esse de tal modo capital, sobretudo em começo, que, não sendo tomadas às precauções necessárias, podem perder-se os frutos das mais belas faculdades.

É fundamental que os orientadores espíritas, empenhados no trabalho de estudo e educação mediúnica, tenham consciência do que representa essa prática para saber auxiliar acertadamente. O orientador espírita necessita conhecer com segurança a Doutrina Espírita e as sutilezas da prática mediúnica; deve ser alguém que busca vivenciar os ensinos evangélicos, para poder transmitir ao médium iniciante respostas esclarecedoras às dúvidas e conforto moral às suas alterações emocionais ou efetivas.

A criatura, cuja faculdade mediúnica eclodiu, e que se dispõe a iniciar o seu exercício, deve ter consciência da importância e da significação dessa faculdade. Por isso mesmo, os amigos desencarnados, sempre que responsáveis e conscientes dos próprios deveres diante das Leis Divinas, estarão entre os homens exortando-os à bondade e ao serviço, ao estudo e ao discernimento, porquanto a força mediúnica, em verdade, não ajuda e nem edifica quando esteja distante da caridade e ausente da educação.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

CONVIVÊNCIA NO CENTRO ESPÍRITA

por Cezar Braga Said 

No capítulo XV de O Evangelho segundo o Espiritismo, intitulado “Fora da caridade não há salvação”, itens 8 e 9, Allan Kardec analisa a questão de não haver salvação fora da Igreja ou fora da verdade.

Em momento algum o Codificador sugere ou insinua que fora do Espiritismo as criaturas humanas estariam fadadas a sofrer e a serem infelizes.

Na nota à questão 982 de O Livro dos Espíritos, ele afirma: “[...] O Espiritismo ensina o homem a suportar as provas com paciência e resignação; afasta-o dos atos que possam retardar-lhe a felicidade, mas ninguém diz que, sem ele, não possa ela ser conseguida”.
Admitir o Espiritismo como caminho único e exclusivo para a conquista da paz interior é assumir uma postura nitidamente fundamentalista e contrária à opinião dos Espíritos Superiores.

O teólogo Leonardo Boff(1) afirma que o “fundamentalismo representa a atitude daquele que confere caráter absoluto ao seu ponto de vista”. E salienta: “[...] quem se sente portador de uma verdade absoluta não pode tolerar outra verdade, e seu destino é a intolerância”.
É preciso distinguir a visão que o Espiritismo nos dá e a aplicação que fazemos dos seus princípios em nossa vida prática. Foi por isso que o educador Pedro de Camargo (Vinícius),(2) afirmou: “[...] A consciência religiosa importa em um modo de ser, e não em um modo de crer”.

Mas há momentos em que a nossa intolerância e incompreensão não se voltam apenas para os profitentes de outras religiões. Às vezes se apresentam nas nossas relações cotidianas, na intimidade dos centros espíritas que freqüentamos.

Se um companheiro se afasta das atividades que desenvolve num determinado Centro, julgamos, apressadamente, que possa estar sendo vítima de um problema obsessivo, ou que de alguma forma não se encontra no seu melhor juízo.

Nem sempre cogitamos das suas necessidades materiais na condução da sua família; não ponderamos sua idade ou o imperativo de estudar, a fim de poder realizar-se profissionalmente; muitas vezes não nos perguntamos sobre a sua saúde e a necessidade de tratamento médico, terreno e especializado, como, aliás, sempre fizeram médiuns como Chico Xavier. Não entendemos que o companheiro que trabalhou e reuniu recursos tem direito ao lazer, a tirar férias junto de sua família e que o repouso está consagrado nas leis civis e na lei divina do trabalho. Ignoramos ou esquecemos a atenção que os filhos pequenos reclamam e nem sempre cogitamos das insatisfações que alguém possa estar sentindo com a condução das atividades da instituição; afinal, estamos tão satisfeitos e concentrados no que fazemos que não percebemos que isso possa ocorrer com alguém.

O fato é que tendemos a avaliar o outro pelas nossas medidas. Se estamos tantos dias e tantas horas envolvidos com as atividades espíritas, por que o outro não se envolve com a mesma intensidade?

Esquecemos que cada um se encontra em determinado estágio evolutivo, com noção diferenciada de tempo perdido ou bem aproveitado.

Alguém que tenha sérios compromissos na área mediúnica, por exemplo, na medida em que não dá continuidade à educação das forças que vibram em si, tanto no Centro quanto fora dele, pode, naturalmente, desequilibrar-se, mas não como castigo da Espiritualidade ou punição divina. É natural que toda ferramenta não utilizada ou usada de forma indevida, sem manutenção, contraia ferrugem. E isso vale para qualquer situação na vida, inclusive para a relação que estabelecemos com nossos compromissos espirituais.

Quando Allan Kardec e a Espiritualidade enfatizam a necessidade do bem, estão dilatando o nosso conceito de salvação e felicidade, estão nos dizendo que a máxima não é fora do centro espírita não há salvação, e, sim, fora da caridade não há salvação.

Portanto, se um companheiro se afasta momentânea ou definitivamente de um Centro Espírita, isto não quer dizer que esteja se afastando da prática da caridade que poderá se dar em qualquer lugar. Precisamos atentar para os reais motivos que determinaram este afastamento,interessar-nos pelo encarnado como nos interessamos pelos desencarnadosentendendo o que se passa com ele, auxiliando-o naquilo que estiver precisando.

Ao mesmo tempo é válido nos questionarmos se somente os espíritas freqüentadores de Centro possuem Espíritos protetores. E os que não são espíritas? Não possuem amigos espirituais auxiliando-os nas pesquisas, nas assembleias legislativas, no poder executivo, no magistério, na empresa onde atuam, nas atividades que realizam como autônomos, nas forças armadas, etc.?

Externar nossa atenção, carinho e preocupação com os amigos é atitude cristã. Sentir a falta e desejar a presença deles no ambiente onde atuamos é testemunhar o amor que nutrimos por eles. Porém, julgar e pressagiar terríveis males em função de seu afastamento é assumir uma posição radical com os próprios companheiros de ideal.

Não queremos, contudo, fazer apologia da deserção, nem incentivar ninguém a relaxar nos seus compromissos espirituais.Mas entendemos que esta relação precisa ser saudável, consciente, reflexiva e não baseada em temores ou caracterizada por um ativismo, onde a preocupação maior é realizar quantitativamente, produzir apenas.

A religiosidade que o Espiritismo nos propõe não é a do tipo devocional e contemplativo, mas relacional e operativa, isto é, melhorando nossas relações interpessoais, estamos crescendo de dentro para fora, dando de nós mesmos aos que nos cercam.

O Centro Espírita facilita-nos esse processo, na medida em que se constitui num campo propício para esse exercício de convivência fraterna. Nele estimulamos e somos estimulados, criamos laços de amizade verdadeira, temos um campo imenso de trabalho, mas ninguém afirma que fora dele alguém não possa se realizar, melhorar-se e contribuir para uma sociedade mais justa e feliz.

Estimulemosa participação dos companheiros, auxiliemo-nos uns aos outros, todavia, evitemos julgar, não apenas os que se afastam, mas também os que permanecem. O julgamento adequado compete a Deus e este, até onde compreendemos, é uma fonte perene de estímulos e não de censuras.

(1) BOFF, Leonardo. Fundamentalismo. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. p. 25. 

(2) CAMARGO, Pedro de (Vinícius). O mestre na educação. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 12, p. 64. 

terça-feira, 28 de julho de 2015

MELINDRE: A SÍNDROME DO ORGULHO FERIDO

por Francisco Aranda Gabilan 

Melindre - Originariamente, um simples e comum substantivo masculino, com o sutil significado de ser a delicadeza no trato, cuidado extremo em não magoar ou ofender por palavras ou obras.

É o que dizem os dicionários...

Mas, curiosamente, no dia a dia de relação entre as pessoas, há mais significados, dependendo da ótica de quem o analisa. Se a visão é de quem provocou o melindre em alguém, fala mais alto seu sentido menor: suscetibilidade exagerada, escrúpulo, com profunda significação como agente das crises da sociedade humana. Se a visão é de quem se melindrou, o "paciente" liga tal sentimento a uma "justa" in­dignação, à injustiça e à ingratidão alheias, com uma acentuada pitada de sentimento melodramático de auto-piedade, de vítima.
Entretanto, sem rebuscamentos, sem volteios, sem rodeios e sem metáforas, melindre quer dizer mesmo orgulho ferido, egoísmo contrariado, vez que não há um autor sequer consultado e que se propõe analisar a questão - fora os dicionários - que não afirme peremptoriamente que o melindre não seja um sentimento filho direto do orgulho, usando da síntese de um ilustre espírito-espírita.1

Tenhamos presente que uma célula da sociedade humana das mais representativas é a Casa Espírita, onde, lastimavelmente, também grassaminteresses pessoais, desejos de destaque, arroubos de sabedoria, vaidades e tantos outros sentimentos iguais. Daí porque, quando menos se espera, surge o melindre...

É o médium que não se conforma com a análise direta feita por companheiros estudiosos, quando ele, ao receber os Espíritos, bate os pés, as mãos, fala alto demais, repetitivamente, com linguagem às vezes inadequada, etc. Melindra-se e não aceita as observações e conselhos, retirando-se do trabalho ou isolando-se na crítica à Casa e seus dirigentes. É o expositor que não cumpre os horários, nem o programa, que desvia sempre do assunto da palestra ou da aula, descambando para análises outras, não raro pessoais ou sem importância doutrinária, e que não aceita as recomendações da direção de manter-se fiel ao programa ou à conduta em classe ou na tribuna, melindrando-se com facilidade, afirmando que "nessa etapa da vida" não está mais para ouvir críticas "especialmente de quem sabe menos e é muito mais moço..." É o dirigente de área na Casa que se julga auto-suficiente em tudo e não aceita conselhos e recomendações para melhoria do setor, ameaçando retirar-se, entregar o cargo, exigindo se promova reunião de Diretoria para ouvir suas reclamações. É o diretor que tem sua proposição refugada e se sente desprestigiado, desaparecendo das reuniões e das assembléias. É até mesmo o doador de donativos, cujo nome foi omitido nos agradecimentos, magoando-se e fugindo a novas colaborações.

E assim por diante...

O que se ouve, em todos os exemplos citados, é mais ou menos o seguinte: "Não entendo o porquê de tanta injustiça comigo, tanta ingratidão..., logo eu, que tanto fiz, que tanto dei de mim, que tanto ajudei...", seguido de lamentações e, não raro, até de choro, entremeado de rasgos de vítima do mundo e de todos.

O erro está, neste caso, em o me­lindrado esperar (e até exigir) gratidão de todos pelo trabalho que ele desenvolveu na Casa, confundindo obrigações com favores. Ora, obrigações não implicam de modo algum em gratidão, muito especialmente se levando em conta que quem as assume, o faz livremente. Daí, quando contrariado, ferido em seu orgulho pessoal, julga-se vítima de ingratidão, de in­justiça... e ameaça retirar-se, quando não se esquiva definitivamente.

Um lembrete rápido para reflexão: Jesus houvera curado dez leprosos numa única tarde; mas, quantos deles se detiveram para agradecer-lhe? Apenas um! Quando o Cristo voltou-se para seus discípulos e perguntou-lhes onde estariam os outros nove curados, todos já tinham desaparecido, sem sequer um agradecimento. E daí: Jesus se melindrou, desistiu da tarefa, julgou-os ingratos?2 Para pensar!

Há mais uma agravante no fato que envolve o trabalhador descuidado: o melindre "propele a criatura a situar-se acima do bem de todos. É avaidade que se contrapõe ao interesse geral. Assim, quando o espírita se melindra, julga-se mais importante que o Espiritismo e pretende-se melhor que a própria tarefa libertadora em que se consola e esclarece." (...) "Ninguém vai a um templo doutrinário para dar, primeiramente. Todos nós aí comparecemos para receber, antes de mais nada, sejam quais forem as circunstâncias."3

Assiste razão integral ao preclaro Irmão X4 , a afirmar que "os melindres pessoais são parasitos destruidores das melhores organizações do espírito.

Quando o disse-me-disse invade uma instituição, o demônio da intriga se incumbe de toldar a água viva do entendimento e da harmonia, aniquilando todas as sementes divinas do trabalho digno e do aperfeiçoamento espiritual."

Ouçamos, afinal, todos nós, trabalhadores da seara espírita, os simplíssimos - mas altamente judiciosos e adequadíssimos - conselhos de André Luiz, na cartilha de boa condução moral chamada Sinal Verde5, assim vazados:

"Não permita que suscetibilidades lhe conturbem o coração.
Dê aos outros a liberdade de pensar, tanto quanto você é livre para pensar como deseja.
Cada pessoa vê os problemas da vida em ângulo diferente.
Muita vez, uma opinião diversa da sua pode ser de grande auxílio em sua experiência ou negócio, se você se dispuser a estudá-la.
Melindres arrasam as melhores plantações de amizades.
Quem reclama, agrava as dificuldades.
Não cultive ressentimentos. Melindrar-se, é um modo de perder as melhores situações.
Não se aborreça, coopere.
Quem vive de se ferir, acaba na condição de espinheiro".

Contra os vermes corrosivos do egoísmo, da vaidade e do orgulho (ferido ou não!), recomenda-se o uso do anti-séptico da Boa Nova, distribuído altruisticamente por Jesus, quando nos exorta: “Se alguém quiser alcançar comigo a luz divina da ressurreição, negue a si mesmo, tome a cruz dos próprios deveres, cada dia, e siga os meus passos.”6

BIBLIOGRAFIA
1 - Cairbar Schutel, in O Espírito de Verdade, cap. 36, psic. F. C. Xavier.
2 – Lucas, 17:12-19.
3 – Cairbar, idem.
4 – Cartas e Crônicas, cap. 29, psic. F. C. Xavier.
5 – Sinal Verde, André Luiz, cap. 23- Melindres, psic. F. C. Xavier.

6 – Mateus, 16:24; Marcos, 8:34; Lucas, 9:23.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

POR QUE A REUNIÃO MEDIÚNICA DEVE SER PRIVATIVA?


 "E perguntou-lhe Jesus dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse:
         Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios". (Lc; 8:30)
             
      Na apresentação do livro Desobsessão, Emmanuel, ao explicar a passagem acima citada, nos esclarece que Jesus, ao conversar fraternalmente com o obsesso, pergunta-lhe o nome; o médium, consciente da pressão que sofria por parte das Inteligências conturbadas e errantes, informa chamar-se "Legião" porque eles eram muitos. 

Acerca disso, Emmanuel esclarece que o Cristo entendia-se de forma simultânea com o médium e com as entidades comunicantes e, através desse processo, nos mostra que "desobsessão não é caça a fenômeno e sim trabalho paciente do amor conjugado ao conhecimento e do raciocínio associado à fé". E continua Emmanuel a explicação quanto à necessidade de "vulgarizar a assistência sistemática aos desencarnados (...) por intermédio das equipes de companheiros consagrados aos serviços dessa ordem ". 

André Luiz, ainda nesta obra, também reforça a colocação acima. Ao afirmar que "cada templo espírita deve e precisa possuir a sua equipe de servidores de desobsessão, quando não seja destinada a socorrer as vítimas da desorientação espiritual que lhe rondam as portas, para defesa e conservação de si mesma".


     Allan Kardec, no Projeto 1868, nos diz que "um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação da Doutrina seria a falta de unidade". Em se tratando de "prover a Sociedade de um local convenientemente situado e disposto para as reuniões e recepções", ressalta dentre outros itens, o terceiro, no qual temos o seguinte "um compartimento destinado às evocações íntimas, espécie de santuário, que não seria profanado por nenhuma ocupação estranha  ".

     Kardec também esclarece no artigo 17 de O Livro dos Médiuns, intitulado "Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas", que "as sessões serão particulares ou gerais; nunca serão públicas". Ele assinala que as reuniões particulares possibilitam "(...) os assuntos de estudo que mais tranqüilidade e concentração reclamem, ou que ela julgue conveniente aprofundar, antes de tratá-lo em presença de pessoas estranhas".


     Dentro deste raciocínio, André Luiz, na obra Conduta Espírita, nos informa:
Abster-se da realização de sessões públicas para assistência a desencarnados sofredores, de vez que semelhante procedimento é falta de caridade para com os próprios espíritos socorridos, que sentem torturados, o comentário crescente e malsão em torno de seu próprio infortúnio .



     Ainda segundo André Luiz, agora no livro Desobsessão, temos:

     A desobsessão abrange em si obra hospitalar das mais sérias.



     Compreenda-se que o espaço a ela destinado, entre quatro paredes, guarda a importância de uma enfermaria, com recursos adjacentes da Espiritualidade Maior para tratamento e socorro das mentes desencarnadas, ainda conturbadas ou infelizes.

     Arrede-se da desobsessão qualquer sentido de curiosidade intempestiva ou de formação espetaculosa.


     Coloquemo-nos no lugar dos desencarnados em desequilíbrio e entenderemos, de pronto, a inoportunidade da presença de qualquer pessoa estranha a obra assistencial dessa natureza. (...) Daí nasce o impositivo de absoluto isolamento hospitalar para o recinto dedicado a semelhantes serviços de socorro e esclarecimento, entendendo-se, desse modo, que a desobsessão, tanto quanto possível, deve ser praticada de preferência no templo espírita, ao invés de ambientes outros, de caráter particular.


     Vejamos outras considerações acerca do tema no capítulo 21 do mesmo livro:
     O serviço da desobsessão não é um departamento de trabalho para cortesias sociais que, embora respeitáveis, não se compadecem com a enfermagem espiritual a ser desenvolvida, a benefício de irmãos desencarnados que amargas dificuldades atormentam.

     Ainda assim, há casos em que companheiros da construção espírita-cristã, quando solicitem permissão para isso, podem ter acesso ao serviço, em caráter de observação construtiva; entretanto, é forçoso preservar o cuidado de não acolhê-los em grande número para que o clima vibratório da reunião não venha a sofrer mudanças inoportunas.


     Quanto à chegada inesperada de doentes, temos as seguintes considerações: Quando ocorrer (...) a chegada de enfermos ou de obsidiados sem aviso prévio, sejam adultos ou crianças, necessário que o discernimento do conjunto funcione, ativo. (...) O doente e os acompanhantes podem ser admitidos por momentos rápidos, na fase preparatória dos serviços programados, recebendo passes e orientação para que se dirijam a órgãos de assistência ou doutrinação competentes (...) Findo o socorro breve, retirar-se-ão do recinto.

     Ainda a respeito da privatividade da reunião mediúnica, retiramos de O Livro dos Médiuns o seguinte trecho: "Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este feixe tanto mais força terá, quanto mais homogêneo for" .

      Já no capítulo 4 da obra Obsessão-Desobsessão, temos:
     O ministério da desobsessão só deve ser realizado em equipe. (...) o bom êxito dos trabalhos de desobsessão depende muito da equipe de encarnados, que precisa estar ciente de suas responsabilidades.

     A equipe de encarnados tem assim funções específicas e de grande responsabilidade, mas, ela se submete, a seu turno, àquela outra equipe – a espiritual – que é em verdade a que dirige e orienta os trabalhos em todo o seu desenrolar.

     Quando o grupo de encarnados é harmônico, isto é, quando já está afeiçoado aos trabalhos de mediunidade socorrista e coloca-se como dócil instrumento a serviço dos Amigos Espirituais, a reunião cresce em produtividade, porque então as duas equipes trabalharão em consonância e a programação será executada de comum acordo (...).

     No capítulo 2 da mesma obra, temos a seguinte colocação: "O aposento destinado à reunião de desobsessão é, dentro do Templo Espírita, o local onde são medicadas, mais diretamente, as almas".

     A respeito do livro Os Mensageiros, de André Luiz, quando, no capítulo 4, o autor espiritual nos fala sobre os desencarnados inconformados com o desencarne, Suely explica que:
     (...) A sala onde se realizam os trabalhos mediúnicos representa para tais seres a possibilidade de entrarem em contato com os que ainda estão na Terra e de receber destes as vibrações magnéticas que carecem.(...) Motivo pelo qual ele não é um trabalho para principiantes, visto que exige dos participantes a exata noção da gravidade dos momentos que ali serão vividos (...) Por isto é que jamais devem ser abertos ao público.

     A sala reservada para tais atividades foi comparada por André Luiz a uma sala cirúrgica, que requer isolamento, respeito, silêncio e assepsia, onde só entram os que se prepararam antecipadamente. Como também é isolada de olhares indiscretos e curiosos.


      Hermínio C. Miranda, no livro Diálogo com as Sombras, nos diz que:
     (...) somente em casos excepcionais se justifica a presença de pessoas estranhas ao grupo, nos trabalhos de desobsessão. Sob condições normais, ela não é necessária à tarefa que nos incumbe junto aos obsidiados que buscam o socorro de um grupo mediúnico. (...) a presença de pessoas perturbadas, no ambiente onde se desenrola o trabalho mediúnico, pode provocar incidentes e dificuldades insuperáveis (...) como regra geral, deve ser preservada a intimidade do trabalho mediúnico. (...) o grupo pode perfeitamente assistir os companheiros encarnados sob a provação da obsessão, sem introduzi-los no seu ambiente de trabalho.(...) Os benfeitores espirituais dispõem de recursos mais seguros e eficazes para isso, não havendo necessidade de correr riscos indevidos.


     O Livro Série Evangelho e Espiritismo: Mediunidade, da UEM, esclarece quanto à seguinte pergunta: "As reuniões mediúnicas devem ou podem ser públicas?" E, sobre ela, tem-se a seguinte resposta: "De acordo com a Codificação, não devem ser públicas e também por uma questão de segurança e de caridade para com os necessitados".

     No livro Recordações da Mediunidade, Yvonne Pereira diz, com muita propriedade, que:
     (...) Não convirá ao obsidiado assistir às sessões realizadas a seu benefício durante o estado agudo do mal, nem o obsessor deverá ser doutrinado por seu intermédio.(...) O obsidiado, afeito às vibrações dominantes de seu opositor, não estará em condições de se prestar à comunicação normal necessária, é antes um enfermo necessitado de tratamento e não um médium, propriamente .


     O relato encontrado no capítulo "O Psicoscópio" do livro Nos Domínios da Mediunidade, também nos esclarece quanto à privacidade necessária a uma reunião mediúnica:

      – Esta é a casa espírita onde encontraremos nosso ponto básico de experiências e observações.


Entramos. Atravessamos largo recinto, em que estacionavam numerosas entidades menos felizes de nosso plano; o orientador esclareceu:

 – Vemos aqui o salão consagrado aos ensinamentos públicos. Todavia, o núcleo que buscamos jaz situado em reduto íntimo, assim como o coração dentro do corpo. (grifos nossos)

Escoados alguns instantes, penetramos acanhado aposento, onde se congregava reduzida assembléia, em silenciosa concentração mental.(...) Sabem que não devem abordar o mundo espiritual sem a atitude nobre e digna que lhes outorgará a possibilidade de atrair companhias edificantes....

     Ainda sobre o tema proposto, temos os seguintes trechos:

     (...) a desobsessão deve ser praticada no templo espírita, ao invés de ambientes outros, de caráter particular. No templo espírita, os instrutores desencarnados conseguem localizar recursos avançados do plano espiritual para o socorro a obsidiados e obsessores.

     Uma reunião mediúnica de caráter público é um risco desnecessário, porque vêm pessoas portadoras de sentimentos os mais diversos, que irão perturbar, invariavelmente, a operação da mediunidade.

     A reunião mediúnica não deve ser de caráter público, porque teria feição especulativa, exibicionista, destituída de finalidade superior, atitudes tais que vão de encontro negativamente aos postulados morais da doutrina.

     Obreiros devotados, sob a direção de técnicos e diretores (...) preparavam o recinto reservado à pratica dos fenômenos (...). Enquanto isso, foi solicitada ao diretor espiritual do Centro em questão a fineza de recomendar ao diretor espiritual terreno, por via mediúnica, absolutamente não permitir assistência leiga ou desatenciosa aos trabalhos daquela noite, os quais seriam importantes e delicados...

     Considerando todo material aqui reunido, podemos concluir que um grupo harmonizado com o trabalho mediúnico está preparado para compreender a angústia e a desarmonia dos espíritos comunicantes, não comprometendo, dessa forma, o equilíbrio e o andamento da tarefa. Todavia, se uma pessoa leiga participar de uma reunião mediúnica que não seja privada, com certeza, esse ato exigirá do plano espiritual cuidados adicionais para que a sessão possa se realizar de maneira harmônica, uma vez que muitas pessoas não estão preparadas para possíveis revelações que possam surgir, muitas vezes muito íntimas ou pessoais. O trabalho mediúnico, principalmente a reunião de desobsessão, como diz Hermínio Miranda, "não é para ser divulgado, nem exibido como espetáculo público".

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ANDRÉ LUIZ (Espírito). Desobsessão. [ditado pelo espírito André Luiz;  psicografado por  Francisco  Cândido  Xavier  e  Waldo  Vieira] – Rio de Janeiro: FEB, 1987, 9. ed., p.13, 77, 89, 95.
–––––––. Conduta Espírita. [ditado pelo espírito André Luiz; psicografado por Waldo Vieira] – Rio de Janeiro: FEB,1987, 13.ed., cap.24, p. 90.
–––––––. Nos Domínios da Mediunidade.  [ditado pelo espírito André Luiz; psicografado por Francisco Cândido Xavier] – Rio de Janeiro: FEB, 1985. 14.ed., cap. 2 , p. 21.
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 2005, 37. ed., p.339.
–––––––. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 2005, 75. ed., cap. XXX – art. 17-21, p. 448-9; cap. XIX, p. 427, item 331.
SCHUBERT, Suely C. Obsessão-Desobsessão. Rio de Janeiro:FEB,1995, 10.ed., cap. 4, p.134 – 3. parte.
MIRANDA, Hermínio. Diálogo com as Sombras. Rio de Janeiro: FEB, 1995, 9.ed., p.86.
UEM – União Espírita mineira. Série: Evangelho e Espiritismo - Mediunidade. Belo Horizonte: 1986.
PEREIRA, Yvonne A. Recordações da Mediunidade. Rio de Janeiro: FEB, 2002, 10. ed., item 6, p. 211.
–––––––. Memórias de um Suicida. Rio de Janeiro: FEB, 1987, 14. ed., cap.6, p.143.
FEB – Conselho Federativo. Orientação ao Centro Espírita. Brasília: FEB, 1988, 3.ed.  "Reunião de Desobsessão", cap. 6,  item 7 d.
FRANCO, Divaldo e TEIXEIRA, Raul. Diretrizes de Segurança. Niterói: Ed. Frater, 5.ed., p. 62, questão 42.

Ver também Livro Dimensões Espirituais do Centro Espírita, de Suely Caldas Schubert, Pg. 185, 186

domingo, 26 de julho de 2015

OS ASSISTENTES

Dificilmente um grupo mediúnico deixará de ser procurado por pessoas que desejam assistir aos seus trabalhos. Uns por mera curiosidade, outros na esperança de se deixarem convencer, ou de se manterem na sua vaidosa e tola descrença, outros na expecta­tiva de uma cura, seja de males orgânicos, seja de desarmoniza­ções espirituais, como a obsessão, estados de angústia ou de desespero, ante a partida de pessoas queridas.

Os motivos são muitos, certamente relevantes, e a nós, espí­ritas, custa recusar pedidos de ajuda a pessoas que, muitas vezes, nos são muito caras. O certo, porém, é que não estaremos recusando ajuda simplesmente por não concordarmos com o eventual comparecimento de alguém aos trabalhos do grupo.

Sabemos que esta reserva é quebrada, com frequência, em muitos grupos, enquanto outros adotam a prática de abrir suas portas, em caráter permanente, seja a um público reduzido e selecionado, seja a qualquer pessoa que se apresente.

Na minha opinião, somente em casos excepcionais se justifica a presença de pessoas estranhas ao grupo, nos trabalhos de desob­sessão. Sob condições normais, ela não é necessária à tarefa que nos incumbe junto aos obsidiados que buscam o socorro de um grupo mediúnico. Mais do que desnecessária, a presença de pessoas perturbadas, no ambiente onde se desenrola o trabalho me diúnico, pode provocar incidentes e dificuldades insuperáveis. Sei que alguns dirigentes de grupo objetarão a esse radicalismo; julgo, porém, que, como regra geral, deve ser preservada a intimidade do trabalho mediúnico. É preferível pecar por excesso de rigor, do que arriscar-se a pôr em xeque a harmonia e a segurança da tarefas. Em casos excepcionais, grupos que contem com excelente cobertura espiritual poderão admitir essa prática, mas, é bom repetir, não como norma de procedimento O grupo pode perfeita­mente assistir os companheiros encarnados sob as provações da obsessão, sem introduzi-los no seu ambiente de trabalho. Não é a presença física deles, junto ao grupo, que vai facultar ou fácilitar a tarefa, ao contrário, essa presença pode causar consideráveis trans­tornos. Os benfeitores espirituais dispõem de recursos mais seguros e eficazes para isso, não havendo necessidade de correr riscos inde­vidos. Assim, a não ser que os responsáveis espirituais pelo trabalho recomendem taxativamente a presença da pessoa, no ambiente em que se realisam as sessões, isso deve ser tormalmente evitado.

Ainda que aqueles que solicitam nossa ajuda interpretem a recusa como falta de caridade, ou ausência de espírito de colabo­ração, sabemos que assim não é. Também não se torna necessário descer a pormenores explicativos e justificativos dessa atitude. Basta dizer ao interessado que não é necessária a sua presença física, para que o trabalho seja feito. E não é mesmo, na imensa maioria dos casos. Pelo menos é essa a experiência que tenho tido, em vários anos de prática.

O que acontece é que pessoas sob o domínio de obsessores implacáveis e vingativos, rancorosos e violentos, apresentam inva­riavelmente um componente mediúnico, ou seja, são também mé­diuns, embora desgovernados, desajustados e ignorantes de suas fa­culdades e Possibilidades.

No livro “Nos Domínios da Mediunidade”, narra André Luiz o tratamento de um caso de possessão. Hilário pergunta ao Instrutor se deve considerar o doente, por nome Pedro, como médium:
— “Pela passividade com que reflete o inimigo desencarnado, será justo tê-lo nessa conta, contudo, precisamos considerar que, antes de ser um médium na acepção comum do termo, é um Espírito endívidado a redimir-se.”
E mais adiante, na página seguinte (76, da 6ª edição da FEB):
“... Por esse motivo (compromissos do passado), Pedro traz consigo aflitiva mediunidade de provação.” (Destaques meus.)

Assim, na condição de médium desgovernado, e não integrado na equipe que constitui o grupo que se incumbe de socorrê-lo, o obsidiado, ou possesso, facilmente introduzirá nele um fator de perturbação e desequilíbrio, que poderá trazer sérias complica­ções, se o grupo não estiver muito bem preparado para essa res­ponsabilidade.

Em suma: a meu ver, como regra geral, o grupo mediúnico não deve permitir a presença de pessoas estranhas às suas tarefas. Somente em condições muito especiais, excepcionais mesmo, deverá fazê-lo, se dispuser de cobertura e consentimento expresso dos ben­feitores espirituais. Esses casos serão previamente selecionados pelos mentores do grupo, e nem sempre conhecemos as razões pelas quais assim decidem. Pode ser que o tratamento exija certos tipos conjugados de mediunidade, ou de recursos outros, de que o grupo não disponha no momento, como, por exemplo, número maior de médiuns, ou um doutrinador especial. Pode ser, também, que seja necessária a presença de determinada pessoa encarnada, com a qual desejam pôr o Espírito manifestante em contacto direto. Pode ser, ainda, que não desejem, com um caso especial, interferir no fluxo normal do trabalho. Ou então, estaria havendo dificuldade em atrair o Espírito a ser tratado, até ó local onde habitualmente se realiza a sessão. Enfim, há sempre razões respeitáveis, quando um dirigente espiritual de nossa confiança propõe que o trabalho seja feito à parte. Evidentemente, nessa hipótese, a sessão exige tais cuidados que, obviamente, não poderia ser realizada sob as condições normais. Nestes casos, os Espíritos orientadores solicita­rão uma sessão especial, em dia e hora previamente combinados, designando, ainda, quem dela deve participar.

Isso, no que diz respeito a pessoas perturbadas, sob o domínio de rancorosos obsessores ou possessores; mas, e aqueles que apenas desejam “assistir” aos trabalhos? Devem ser admitidos? Na minha opinião, não. Não que o grupo mediúnico seja uma sociedade se­creta, hermética, esotérica e misteriosa, mas, porque é da sua essência uma atitude de recato, de sigilo, de discrição. O trabalho mediúnico, especialmente o de desobsessão, não é para ser divul­gado, nem exibido, como espetáculo público.

sábado, 25 de julho de 2015

Seleção e privacidade

 Privacidade, não se admitindo no local e horário para o intercâmbio mediúnico senão a equipe responsável, exceção feita para algum convidado em condições de assisti-lo, a critério do dirigente.

No item 330 de O Livro dos Médiuns, Allan Kardec chama a atenção que não apenas a qualidade dos médiuns determina a qualidade de uma reunião, esclarecendo que as influências de todos os assistentes repercutem nela, conforme estudara anteriormente, quando tratou da influência do meio.

Não seria, portanto, de estranhar-se o seu empenho, quando da composição do Estatuto da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, no sentido de dotá-la de normas seguras e capazes de proteger as suas reuniões experimentais contra a infiltração de elementos desinformados, curiosos ou antagônicos, conforme se nota nos artigos 3°, 4° e 17°, este último sumariamente proibindo as sessões mediúnicas públicas.

Ao contemplar a possibilidade de ouvintes, o referido Estatuto estabelece, no artigo 22, que esses seriam aceitos somente quando simpatizassem com os trabalhos da Sociedade e já estivessem suficientemente iniciados na ciência espírita para compreendê-los.
Os critérios de Allan Kardec podem ser percebidos melhor na prática, através dos diálogos que simula em O Que é o Espiritismo. No primeiro, ele enfrenta um crítico sistemático, de má vontade, empenhado a mais não poder na tentativa de obter permissão para assistir a algu­mas reuniões. Obviamente que o Codificador não se dobra, negando aquilo que seria uma concessão indébita, para, no final, expor sua tese, enfeixada na seguinte recomendação: - Instrua-se primeiro pela teoria.

No segundo diálogo, Allan Kardec se depara com um céptico, apenas desinformado, embora portador de honestas dúvidas e objeções para as quais buscava respostas convincentes. De saída, o Codificador adverte-o de que não tinha pretensão de poder responder a todas as questões - o que, aliás, seria impossível no espaço de uma entrevista - colocando-se à disposição para os esclarecimentos ao seu alcance.

Salta aos olhos a profunda diferença de traços psicológicos entre os dois interlocutores de Allan Kardec. O primeiro - o crítico - é o que o Codificador chama de incrédulo por sistema, materialista de má-vontade e por interesses escusos; não está maduro para o ensino espiritual. O segundo - o céptico - é o incrédulo por ignorância que só precisa que lhe retirem a venda dos olhos. O seu caráter habilita-o para o ensino. Tanto assim o é que Allan Kardec acolhe-o com interesse de irmão e mestre. O diálogo começa ameno e termina com uma pessoa convencida e entusiasmada conquanto não convertida. Mesmo assim o professor Rivail mantém a sua tese sustentando a necessidade de preparação. Acena-lhe, todavia, com a possibilidade alvissareira de vir a ser um ouvinte (não necessariamente de imediato) propondo-lhe o estudo da Doutrina que, em verdade, ali mesmo inicia com as 37 questões basilares de Doutrina Espírita de que se compõe a entrevista. É nesse diálogo que está a tão repetida expressão do mestre lionês:
As comunicações de além-túmulo cercam-se de maiores dificuldades do que geralmente se crê: não estão isentas de inconvenientes e perigos para os que não têm a necessária experiência. Sucede o mesmo a quem se mete a fazer manipulações químicas, sem conhecer a química: corre o riscode queimar os dedos... (grifos nossos).
O pensamento de Allan Kardec em O Método (O Livro dos Médiuns, 1ª Parte, cap. III) encerra a questão:

O melhor método de ensino espírita consiste em se dirigir antes à razão do que aos olhos...
Os que crêem antes de haver visto, apenas porque leram e compreenderam, longe de se conservarem superficiais, são, ao contrário, os que mais refletem.

A inteligência prévia dos fatos não só as coloca (as pessoas) em condições de se aperceberem de todas as anomalias, mas, também, de apreenderem um sem-número de particularidades, de matizes, às vezes muito delicados, que escapam ao observador ignorante. Tais os motivos que nos forçam a não admitir, em nossas sessões experimentais, senão quem possua suficientes noções preparatórias para compreender...

Comungam com o pensamento do Codificador, León Denis (No Invisível, Primeira Parte, cap. IX), Manoel Philomeno de Miranda, (Nas Fronteiras da Loucura, cap. 16) e a totalidade dos Espíritos nobres vinculados à divulgação espírita em nossa terra, além da maioria dos experimentadores encarnados comprometidos com o ideal da Doutrina Espírita.
Esses critérios se aplicam ao exercício mediúnico de responsabilidade grupal e solidária. Naturalmente que, médiuns há, e sempre os houve, comprometidos por força de um programa reencarnatório a trabalharem a mediunidade dentro de um enfoque de maior liberdade, para fins exclusivos de provarem a sobrevivência, justificando, destarte, uma atuação mais voltada para o público.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Uma pessoa com problemas mediúnicos deve ser encaminhada, sem risco, para uma reunião mediúnica?

DIVALDO - A colocação já demonstra que a pessoa tendo problemas deve primeiro equacioná-los, para depois estudar e aprimorar a faculdadeque gera aqueles problemas. Como na mediunidade, os problemas são do Espírito e não da faculdade mediúnica, é necessário que primeiro se moralize o médium.
Abandonando as paixões, mudando a direção mental, criando hábitos salutares para sua vivência, reflexionando no Evangelho de Jesus, aprendendo a orar, ele equaciona, na base, os problemas que inquietam o efeito, que é a faculdade mediúnica. Somente após o quê, é-lhe lícito educar a mediunidade.

No capítulo I de O Livro dos Médiuns o Codificador examina o assunto, na epígrafe: Há Espíritos? Explica Allan Kardec que ninguém deve levar a uma sala de química, por exemplo, alguém que não entenda das fórmulas e das composições químicas. Explico-me: um leigo chega numa sala e vê vários vidros, com água branca e uma anotação que lhe parece cabalística: HN03+ 3HCI (* Água Régia, substância altamente corrosiva). Para ele a anotação não diz nada. Mas, se misturar aqueles líquidos corre perigo. Assim também é necessário primeiro que o indivíduo conheça no laboratório do mundo invisível as soluções que vai manipular, para depois partir para as experiências.

E de bom alvitre, portanto, que alguém, que tenha problemas de mediunidade, seja encaminhado às sessões doutrinárias de estudos, para primeiro evangelizar-se, conhecendo a Doutrina a fim de que, mais tarde, canalize as suas forças mediúnicas num bom direcionamento.

Há uma praxe entre as pessoas pouco esclarecidas a respeito da Codificação Espírita, que induz se leve o indivíduo a uma sala mediúnica para poder equacionar problemas, como quem tira uma coisa incômoda de cima da pessoa.

O problema de que a criatura se vê objeto pode ser o chamamento para mudança de rota moral. A mediunidade que aturde é um apelo para retificação das falhas. E é necessário ir-se às bases para modificar aqueles efeitos perniciosos.

Daí, diante de uma pessoa com problemas mediúnicos, a primeira atitude nossa será encaminhar o necessitado à aprendizagem da Doutrina Espírita, que é a terapêutica para seus problemas. A mediunidade será educada a posteriori como instrumento de exercício para o bem, mediante o qual granjeará títulos para curar o mal de que se é portador. 

Na terapia da desobsessão, é bom que o obsidiado frequente trabalhos mediúnicos?
DIVALDO - O ideal será que ele não participe dos trabalhos mediúnicos. Se estiver no estado em que registra as idéias sadias e as perturbadoras, o trabalho mediúnico pode ser-lhe seriamente pernicioso. Porque, se o obsessor incorporar, poderá ameaçá-la diretamente, criando nele condicionamento que depois vai explorar de Espírito a Espírito. Como a necessidade não é do corpo físico do enfermo, ele pode estar em qualquer lugar e os Mentores trarão as Entidades perturbadoras.

Ao que ele não deve faltar, sim, é às sessões de esclarecimento doutrinário, para que aprenda a libertar-se das agressões dos Espíritos maus e, ao mesmo tempo, crie condições para agir com equilíbrio por si mesmo.