quarta-feira, 8 de julho de 2015

NOSSOS IRMÃOS MENORES E HERCULANO PIRES


Herculano Pires foi um dos maiores Espíritas deste país . Divulgou e vivenciou a Doutrina em sua plenitude . Enfrentou muitos em nome da verdade e estudou o Kardecismo durante toda sua vida , pois dizia que o Espiritismo não era para ser lido uma única vez , pois poderíamos encontrar novas verdades que não havíamos percebido na leitura anterior . 

Herculano compreendeu a Doutrina como um todo , sem preconceito, entendendo o processo de evolução do Espírito , do Átomo ao arcanjo “ .

Era também um amante dos animais . Os tratava como nossos irmãos menores . Muitos foram socorridos por ele em situações difíceis . Em seus programas de rádio na década de 70 , denominado “ No limiar do amanhã “, muitas vezes foi questionado sobre a alma dos animais . Sempre afirmava que tinham sim alma , espírito , sentimentos . Que evoluíam como nós , e que um dia se tornariam humanos .

Era vegetariano por eles . Em um de seus programas disse que só quem nunca foi ao matadouro continua comendo carne . Mas também alertava , que junto com a alimentação deveria haver uma mudança no Espírito , caso contrário , não evoluiríamos .

Herculano tratava os animais com amor e respeito , entendendo suas limitações e dando a eles todos os benefícios que nós Humanos temos , como por exemplo o Passe . Dizia que poderíamos oferecer a eles o benefício da mediunidade , os tratando com o passe , e a água fluidificada . Um exemplo disso foi o tratamento que deu a sua própria cachorrinha , uma pequinês chamada Ming desenganada pelo veterinário , que com o passe se restabeleceu . Vivenciou inclusive materializações de animais , caso contado em seu livro Mediunidade com detalhes .

Herculano entendeu que estagiamos na fase animal , assim como em outras fases da Natureza , e respeitava todas elas .

Chamado de “Apóstolo de Kardec” amava todas as criaturas de Deus , como nos ensinou Jesus . 

Ivany Lima 

Uma das apresentadoras do Programa Nossos Irmãos Animais da Radio Boa Nova e membro do Grupo Irmãos Animais



SONETO DE JOSÉ HERCULANO PIRES

“ Eu gosto muito desses cães vadios ,
Magros e tristes , de olhos embaçados ,
Que vão nas ruas , pobres e erradios ,
Aqui e ali , por todos açoitados
Eu gosto desses cães . Aos ventos frios
Das noites de luar , uivam , coitados!
Lançando ao céu olhares luzidios
E enrodilhando os membros nus pesteados
Eu gosto desses cães . Magros , famintos ,
Como esqueletos de outros cães extintos , 
Ironias da vida e da matéria ,
Arrastam pela vida , humildemente ,
Resignados como pouca gente ,
Sua vida de fome e de miséria . “

Esse Soneto foi escrito por Herculano quando tinha apenas 15 anos . Era um livrinho que continha apenas 5 contos . Um deles essa belíssima visão sobre os animais de rua . Seu livro tinha o nome de “ Sonhos Azuis “ e foi publicado em 1930 antes mesmo de se tornar Espírita , o que ocorreria pouco tempo depois , aos 20 anos . Trouxe em seu Espírito as marcas da evolução . Seu amor aos irmãos menores era evidente e relatou isso em seu Soneto . Dizia que somos irmãos dos animais em corpo e espírito . Sua visão diante dos animais abandonados nas ruas era profunda . Enxergou neles a humildade e a resignação , o que nos é uma lição a aprender . Essa passagem faz parte do livro “ Herculano Pires , O Apóstolo de Kardec “ de Jorge Rizzini . onde o autor conta a vida e a obra de Herculano como Homem e como Espírita .


JOSÉ HERCULANO PIRES

Letes , o Filósofo

Um cãozinho inquieto pode modificar a vida de um homem.

Foi o que verifiquei, na experiência que começou com a entrada de Letes em nossa casa. Meu amigo Rumi dissera-me que eu não devia viver tão solitário. Convenceu-me da necessidade de uma companhia e ofereceu-me Letes. Era um cãozinho de poucos meses e já vinha batizado. Alojei-o numa casinha de madeira, no canto da cozinha, pois achei-o “muito criança” para ficar sozinho no quintal.

Letes cresceu bem educado e muito meu amigo. De onde tiram os cães esse misterioso poder da fidelidade, que os torna as criaturas mais adoráveis do mundo? Ninguém transpunha a soleira da minha porta sem que Letes o enfrentasse, a menos que o fizesse em minha companhia. Se um amigo chegava de surpresa e fingia estar zangado comigo, Letes saltava sobre ele com uma coragem leonina. Essa fidelidade me fazia perdoar as suas estripulias, que eram numerosas.

Mas sempre pensei que Letes não era um cão normal. Devia ser esquizofrênico. Nas noites de lua cheia ficava com os olhos brilhantes, uivava a ponto de me enlouquecer, e isso dentro da casa, sem ver a lua. Nos dias de vento enrodilhava-se num canto e gania como se lhe estivessem batendo. Nos dias comuns, e particularmente nos alegres dias de sol da primavera, corria de um lado para outro, saltava-me ao colo e latia para que eu o agradasse, derrubava minhas pilhas de livros e quebrava minhas estatuetas mais caras.

Andei indagando se havia pela redondeza um psiquiatra veterinário. Sêo Joaquim, o farmacêutico da esquina, aconselhou-me a resolver a vida sexual de Letes. Aceitei sua sugestão e encaminhei-o ao matrimônio. Letes se portou-se como um indivíduo normal, mas continuou fazendo as suas loucuras. A cachorrinha não dera resultado como remédio. Por fim, levei um veterinário comum a examiná-lo. O homem declarou que Letes era um cão extraordinário, dotado de viva inteligência e boa saúde, de uma vitalidade exuberante. Embora não fosse psicólogo, mas veterinário, afirmou que o Q.I. de Letes era superior ao normal.

Enchi-me de orgulho com as excepcionais condições de meu companheiro. Nunca apreciei indivíduos destituídos de inteligência. Nem humanos, nem animais, e nem mesmo vegetais. Certa vez joguei pela janela uma folhagem que insistia em voltar-se para a luz elétrica, em vez de voltar-se para o sol que entrava a jorros do outro lado. Suas folhas empalideciam e sua vitalidade se esgotava dia a dia, mas a “burra” da folhagem não percebia a razão disso. Tentei empurrá-la para o sol, mas ela teimou em procurar a luz da minha pobre lâmpada, por sinal que uma miserável lâmpada do tempo do racionamento. Não pude suportá-la. Era burrice demais para uma planta de alta linhagem. Despejei-a.

Letes, pelo contrário, fazia tudo com inteligência. Até mesmo os seus desiquilíbrios revelavam sensibilidade apurada. Por isso, afeiçoei-me a ele. Uma noite acordei com terrível estardalhaço na sala. Meu amigo Letes latia desesperadamente. Fui ver do que se tratava. Ele já havia derrubado dois vasos de flores e quebrado três bibelôs japoneses de minha estimação. Estava de pelos eriçados e olhos esgazeados. Cheguei a supor que ficara louco. Tudo se reduzia, aparentemente, a um dos seus caprichos. Letes saltava contra a parede, tentando arromba-la, a ponto de machucar-se. Tive de segurá-lo, mas ele escapava de minhas mãos e continuava avançando na mesma direção.

Na manhã seguinte, estremunhado, acordei com o tumulto dos vizinhos na calçada. Letes só havia serenado depois de esbaforido. E então se enrodilhara e chorara pela madrugada fora. O tumulto dos vizinhos me deu a chave do mistério. Na casa pegada à minha, parede-meia, o contador havia estrangulado a mulher, por suspeita de adultério. Claro que Letes subiu na minha admiração. Enterneci-me com a sua prova de acuidade e de humanidade. Se Letes falasse, talvez tivesse impedido a estupidez daquele idiota, animal inferior aos de quatro patas e rabo, que sacrificava uma criatura humana por ciúme, egoísmo e simples suspeita. Se Letes tivesse conseguido arrombar a parede, o cretino não teria de sofrer a vida inteira, por ter sacrificado a sua companheira, aliás uma doce mulher, de quem só ele suspeitava.

Mas uma coisa me preocupou dali por diante. Como Letes havia percebido o que se passava do outro lado da parede? Explicaram-me que os cachorros têm um sexto sentido. Resolvi aceitar a explicação, para não continuar a matutar sobre o caso. Quem viu Letes no estado em que eu o vi, não podia admitir uma explicação tão simples. Mas não havia outra, e o caso me perturbava. O jeito que se tem, diante de certos mistérios, é esse. Aceitei a hipótese do sexto sentido, mas fiquei de sobreaviso com Letes. O diabo do cachorrinho parecia enxergar através das paredes. Isso nunca deixou de remexer dentro da minha cachola, como uma serpente negra por baixo do lodo de um brejo.

Correram meses, sem que acontecesse nada mais de espantoso, embora Letes continuasse na sua inquietação permanente. Até que um dia, ao entrar em casa com o meu amigo Felipe, Letes avançou contra ele, e conseguiu botá-lo porta fora. De nada valeram as minhas zangas. Quando Felipe quis bancar o valentão, Letes pregou-lhe os dentinhos afiados na canela, fazendo-o recuar apavorado e sangrando. “Mate esse cão!” disse-me ele. “É um perigo! Deve estar raivoso!” Embora me aborrecesse com a desobediência de Letes e a sua brutalidade, é claro que já o amava bastante para nem sequer lhe bater.

Dali por diante, nunca mais Felipe consegui entrar em casa, nem mesmo na minha companhia. Quando eu o convidava a visitar-me, ele sempre me respondia: “Depois de mandares o cachorrinho às favas. Enquanto aquele cachorrinho imbecil estiver por lá, não aparecerei.” Isso me deixava desolado, pois Felipe era, na ocasião, o meu melhor amigo. Além de ser melhor músico do que eu, tinha mais relações e arranjava-me serviços a todo o instante. Eu devia muito a Felipe e o estimava tanto quanto a Letes. As vezes pensava: por que o mundo há de ser assim, tão complicado? Por que Letes e Felipe não se dão? Faríamos certamente um triângulo amoroso, no bom sentido.

Mas hoje estou convencido de que Letes sempre tem razão. (Ah! Esqueci-me de contar que Letes tinha predileção pelas sonatas de Beethoven, a ponto de deitar-se, de comprido, com a cabeça estirada sobre as patas dianteiras e os olhos úmidos, para me ouvir tocá-las.) Pois bem, os dias se passaram. e até mesmo os meses. E de repente descobri esta coisa inominável: Felipe roubava minhas composições e as vendia. Foi necessário que elas começassem a aparecer editadas e gravadas, com o nome por inteiro de Felipe, para que eu pudesse acreditar nisso. Ele era e é melhor musicista que eu, mas não tem capacidade criadora. Por isso me agradava e me furtava. Letes, meu Letes, como foi que o percebeste, com tanta antecedência?

Tive de romper com Felipe e justar advogado para defender os meus direitos. A luta não foi fácil. E até hoje estou certo de que foi Letes quem levou a melhor. De tudo o que Felipe sofreu, no entrevero comigo, nada se compara à dentada que Letes lhe pregou. Ainda ontem estive sabendo que Felipe se queixa de dores na canela, toda vez que o tempo muda. Contei isso a Letes e ele sacudiu o rabo e pulou-me no colo, lambendo-me o queixo. Parecia dizer-me: “É para ele nunca se esquecer de que o amigo deve ser fiel. Sim, fiel como eu sou!” Felipe ficou marcado pela vida toda. E como não tem consciência para doer, Letes lhe faz doer a canela.

Que digo? Letes lhe fazia doer a canela. Porque Felipe, mais tarde, andou roubando composições de um polaco de dois metros de altura e musculatura de Maciste, que o mandou para os sete palmos da terra. E Letes, por sua vez, deixou este mundo numa tarde sombria, de que nunca mais me esqueci. As coisas se passaram assim. Letes passou o dia ganindo. Chamei o veterinário e ele não constatou doença alguma. Devia ser um caso psíquico, afirmou-me. Convencido que o psiquismo de Letes era superior ao humano (veja-se o caso Felipe) chamei um psicólogo famoso, que me declarou, sem mais aquela: “O senhor pode pagar-me até o tripulo da consulta, mas não posso atende-lo sem me rebaixar. Dê uma “bolinha” a esse cão e tudo se resolve.”

Fiquei de tal modo indignado que, pela primeira vez na vida, tive a coragem de quebrar um vaso na cabeça de um homem. Não que me faltasse anteriormente coragem para isso, mas porque o meu humanismo não o permitiria. Letes me ensinou uma coisa inesperada: que o humanismo deve ser temperado com, pelo menos, uma pitada de cachorrismo. Somente assim podemos lidar com certos indivíduos humanos. A dentada de Letes na canela de Felipe foi uma grande lição de filosofia-canina, que aprendi e de que até hoje me sirvo com proveito.

O psicólogo me processou, mas Letes sarou. Minha “vasada” na cabeça do homem agiu sobre Letes como um remédio eficaz. A cura, porém, foi breve. Durou das 16 às 19 horas. Porque ao chegar essa hora, começou uma trovoada e Letes caiu em estado desesperador. Gania e se atirava contra as paredes, pegava-me na barra da calça e puxava-me para fora. Chovia a cântaros, estalavam raios, e meu amigo Letes queria que eu me atirasse à rua. Pensei que desta vez não havia remédio. Meu cãozinho estava a um passo da loucura. Mas logo um raio atingiu a sala onde estávamos, matou Letes, arrombou o forro e arrebentou as paredes, deixando-me inconsciente.

Agora, tenho um retrato de Letes sobre a mesa, ao lado do retrato de Beethoven, de quem ele tanto gostava. E deixei de ser o humanista que sempre fui. Enchi minha casa de cachorros. Tornei-me decisivamente um cachorrista. E vou escrever um tratado sobre a filosofia-canina, que terminará por um manual de moral aplicada à espécie humana. Letes era um filósofo.

JOSÉ HERCULANO PIRES

“ O homem, no seu corpo material, é uma consequência da evolução das espécies animais na Terra. Nós, pelo nosso corpo, estamos incluídos na escala zoológica, somos animais no ponto de vista material.

No ponto de vista espiritual nós sabemos que o princípio inteligente do universo, que dá origem aos espíritos, às almas, às criaturas humanas, este princípio vem evoluindo desde o mineral, passando pelo vegetal, pelo animal, para depois chegar ao homem. É uma evolução contínua. Um desenvolvimento contínuo. Assim também, até no espírito, nós somos de descendência animal.

Não querendo dizer com isto que nós tenhamos sido este ou aquele animal na encarnação passada. O princípio inteligente se aprimora através de um processo que ainda nós não conhecemos bem e que não pode ser encarado assim, de maneira esquemática. Temos de ver de uma amplitude maior.

......alimentação carnal é de fato uma alimentação cruel, matar um animal para comê-lo é uma crueldade, é um ato de crueldade. Mas o espiritismo encara todas essas coisas dentro das leis de evolução.

Basta nós vermos a intensidade da alimentação carnal no mundo ainda hoje. É um espetáculo brutal, repugnante, não há dúvida nenhuma. Pessoas que nunca entraram num matadouro, que nunca assistiram a uma matança de animais para depois aparecer um prato de carne na nossa mesa, não podem fazer uma ideia da brutalidade que se passa no mundo inteiro nesse sentido. É realmente repugnante .

Então nosso empenho maior é no sentido de esclarecer as mentes, modificar as ideias, arejar as mentalidades, e então sim o homem irá se desprendendo destas coisas e não terá mais necessidade da alimentação brutal e cruel, que é a alimentação carnívora ”.

( Texto retirado do Programa “ No Limiar do Amanhã “ , exibido na década de 70 sob o comando de Herculano Pires )


JOSÉ HERCULANO PIRES

“ Todo espírita consciente de suas responsabilidades humanas e doutrinárias está no dever intransferível de lutar contra essas ondas de poluição espiritual que pesam na atmosfera terrena . Ninguém tem o direito de cruzar os braços em nome de uma falsa tolerância que os levará à cumplicidade . Para comer o pão da verdade só necessitamos dos dentes do bom senso .”

“ O maior empecilho para uma verdadeira unificação do movimento espírita é a existência de uma série de numerosas interpretações pessoais da doutrina , formando pequenos quistos que prenunciam futuros cismas . A vaidade humana e a generalizada ignorância da verdadeira estrutura filosófica da doutrina alimentam sem cessar essas dissidências em gestação . “

“ As obras de Allan Kardec são o alicerce irremovível da III Revelação. O Codificador desempenhou a sua missão terrena de maneira mais completa possível . O verdadeiro espírita deve ter , ou esforçar-se continuamente para ter , o conhecimento completo da Codificação Kardeciana , orientando-se por ela , no movimento espírita . como o marinheiro se orienta pela bússula em alto mar .” 

JOSÉ HERCULANO PIRES

Jorge Rizzini – Herculano Pires com sabedoria e estilo elegante ,
quase sonoro ( cada frase contém sua intensa vibração ) oferece ao leitor a água
cristalina da fonte Kardeciana , mas faz importantes advertências ( inclusive as instituições
doutrinárias ) de que é exemplo o texto a seguir .

“ As mistificações mais grosseiras são aceitas pelos adeptos vaidosos ,
que chegam à extrema audácia de evitar os textos da Codificação Kardeciana e ,
tentar substituí-los por obras eivadas de contradições e absurdos de toda espécie.

Ao invés de procurarem instruir-se , melhorar seus conhecimentos , pretendem 
transformar-se em novos reveladores de mistérios assombrosos . Há várias correntes
já formadas no meio espírita , contra as quais as pessoas sensatas precisam precaver-se

Todo espírita consciente de suas responsabilidades humanas e doutrinárias está no dever
intransferível de lutar contra essas ondas de poluição espiritual que pesam na atmosfera
terrena . Ninguém tem o direito de cruzar os braços em nome de uma falsa tolerância que
os levará a cumplicidade . É legítima caridade repelir todas essas fantasias em nome da
verdade , mesmo que isso magoe os companheiros iludidos “. ( Herculano )

( Texto tirado do livro “ Herculano Pires , o Apóstolo de Kardec “ do autor Jorge Rizzini )

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