sexta-feira, 31 de março de 2017

A Auto­Obsessão

Por: Osvaldo Shimoda

“O homem não raramente é obsessor de si mesmo. Alguns estados doentios e certas aberrações que se lançam à conta de uma causa oculta, derivam do Espírito do próprio individuo. São doentes de alma”. ­Segundo Allan Kardec, no livro “A gênese”, item 45, “Chama-­se obsessão a ação persistente que um espírito mau exerce sobre um individuo. Apresenta caracteres muito diferentes, que vão desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais”. O leitor assíduo de meus artigos no Somos Todos Um deve ter percebido que venho abordando com freqüência o assunto obsessão espiritual. Mas por quê? Esclareci nos artigos anteriores que existem três fatores geradores dos problemas de meus pacientes: 1) Interno: Psicológico – criado pelo próprio paciente, resultado de experiências traumáticas oriundas da vida atual (infância, nascimento, útero materno) ou de vidas passadas. 2) Externo: Influenciação espiritual, ou seja, espíritos desencarnados obsessores – desafetos desta ou de vidas passadas ­ que provocam inúmeros problemas na vida do paciente com intuito de prejudicá-­lo – movidos pelo ódio e vingança. 3) Misto: Interno + Externo: provocado pelo próprio paciente e agravado por uma influenciação espiritual obsessora. Esclareci ainda que em minha estatística, 95% desses pacientes são assediados por espíritos obsessores – inimigos ocultos de seu passado – e que apenas 5% não apresentam nenhuma influência espiritual externa como causa de seus problemas. Portanto, neste caso, a causa é puramente de ordem psicológica. O índice de 95% dos pacientes acometidos por uma influência espiritual obsessora explica o motivo de eu estar abordando esse assunto com mais freqüência, pois requer um maior aprofundamento para uma melhor compreensão. Desta forma, a obsessão espiritual é algo muito sério e merece atenção, pois esse mal aflige muitas pessoas, gerando inúmeros problemas psíquicos, psicossomáticos, orgânicos – são aquelas doenças cuja causa não é diagnosticada pela medicina oficial – e de relacionamento interpessoal (os espíritos obsessores tumultuam a vida do obsediado, gerando conflitos com seus familiares, cônjuges, amigos, colegas de trabalho, etc.). Mas, o pior de tudo, é que muitos dos pacientes obsediados não percebem que estão sendo prejudicados por essas influências espirituais, pois eles se aproveitam de sua invisibilidade enquanto espíritos desencarnados. Não obstante, é fundamental esclarecer no estudo das obsessões que o fenômeno não se reduz apenas à perturbação de desencarnados sobre os encarnados como muitos crêem. Vai muito mais além. Existem também as ações de desencarnados sobre desencarnados; de encarnados sobre desencarnados; de encarnados sobre encarnados, e a auto-­obsessão. É comum nas sessões de regressão o paciente recordar que numa vida passada, após sua morte física, precisou fugir de seu obsessor, mesmo na condição de espírito desencarnado. Uma outra paciente veio a recordar na regressão que, ao dormir, em sono, à noite, em espírito, ia atrás de seu desafeto do passado – um espírito desencarnado que estava nas trevas ­ para prejudicá-­lo (queria ajustar contas, se vingar do mal que este lhe causou numa vida passada). Já a obsessão de encarnado para encarnado é muito mais comum do que muitos imaginam. Brigas constantes entre cônjuges, pais e filhos, entre irmãos, sócios, colegas de trabalho e chefia, entre outros, podem caracterizar uma obsessão recíproca, ou seja, ambos os envolvidos são obsessores um do outro. Certa ocasião, ao passar por algumas sessões de regressão, uma paciente descobriu o porquê de seu ódio pela sua sogra. Ambas, em várias encarnações, alternavam os papéis de obsessor e obsediado e agora, na vida atual, as duas vieram como encarnadas. Sugeri que a paciente fizesse a oração do perdão para sua sogra a fim de se reconciliar com ela. Caiu em prantos. Após se recompor, perguntei-­lhe o porquê do choro.Ela me respondeu dizendo que o seu ódio pela sogra a impedia de fazer essa oração. Disse­-me também que percebia no olhar dela o mesmo ódio que ela nutria. Portanto, a obsessão é sempre causada pelas imperfeições humanas e, a maior das causas, é a falta do perdão, que pode gerar até séculos de sofrimento, como é o caso dessa paciente mencionada. No entanto, tão grave quanto a obsessão provocada por influências espirituais externas, é a auto-obsessão. A grande maioria dos pacientes que sofrem de auto-­obsessão,­ obsessores de si mesmos, portanto, doentes da alma ­, preferem jogar toda a culpa de seus problemas e aflições aos Espíritos, não assumindo a responsabilidade que são eles próprios a causar seus problemas. A auto-­obsessão é um distúrbio psíquico desencadeado pela mente doentia do próprio enfermo que gera um estado permanente de desequilíbrio emocional, tal como: constante impaciência, irritação freqüente, mágoa prolongada, inveja, ciúme patológico, egocentrismo acentuado, medos excessivos, aberrações sexuais, comportamentos obsessivo-­compulsivo, e outros comportamentos desajustados. Entretanto, é importante salientar que a auto-­obsessão pode abrir uma brecha para que os espíritos obsessores inimigos se aproveitem dessas imperfeições do paciente para então obsediá-­lo gerando, por exemplo, a síndrome do pânico e outros transtornos psíquicos, como a depressão, doenças orgânicas e diversos comportamentos patológicos. Tais pacientes percorrem os consultório médicos em busca de um diagnóstico nem sempre identificado corretamente pelos médicos pelo fato da auto-­obsessão ser uma doença da alma, portanto, mais difícil de ser detectada. Nas doenças da alma, as terapias medicamentosas não são eficazes, pois são resultados da própria imaturidade psicológica e espiritual do enfermo, que cultiva com freqüência a inveja, ciúme, inferioridade, egoísmo, orgulho, ira, medos, insegurança, desconfiança, etc.. São pacientes muito voltados para si mesmos, preocupados excessivamente com doenças (hipocondríacos), que sofrem por antecipação (preocupados excessivamente), dramatizam os fatos do cotidiano, cultivando o coitadismo (sentimentos de autopiedade); são vitimas de si próprios, atormentados por si mesmos. Na qualidade de enfermos da alma, facilmente se descontrolam, com explosões de ira no trabalho, em casa ou no trânsito. Na auto-­obsessão, somos prisioneiros dos nossos pensamentos negativistas e pessimistas, que nos sufocam e nos aprisionam. Caso Clinico: Crises constantes de tosse Homem de 40 anos, casado. Veio ao meu consultório querendo saber por que não consegue se curar das crises de tosse constantes e recorrentes (era acometido por essas crises pelo menos três vezes ao ano). São tosses secas, desencadeadas sempre após um resfriado; as crises de tosse já chegaram a durar até três meses. Fez todos os exames médicos necessários para saber sua causa, porém, não acusou nada. Queria também entender o porquê de sua vida profissional não fluir, não ter sucesso, embora tivesse tudo para dar certo. Ao regredir me relatou: “Vejo uma mulher bonita, cabelos presos de uma época antiga. Deve ter uns 35 anos, usa um vestido azulado (pausa). Agora vem a imagem de um homem cavalgando. O cavalo usa uma máscara com abertura nos olhos. O homem carrega uma bandeira (flâmula) azul com inscrições em latim. Essa mulher está correndo desse homem”. ­ Quem é esse homem? ­ Pergunto ao paciente. “Sou eu. Essa mulher cai e estou agora em cima dela, e ela se debate no chão... Eu bato nela, a espanco e, em seguida, a estupro. Eu bato muito nela para ficar quieta. Eu termino e saio dando risada. Eu me vejo com cabelos compridos, sou soldado de um exército medieval. Meus dentes são horríveis, podres, meu rosto é desprezível! Estou feliz, satisfeito pelo estupro. Dou as costas, largo ela ali, subo no cavalo, e vou embora. Sigo pelo campo. Vejo agora uma casa, um homem está sentado numa poltrona, escrevendo numa mesa. Eu o vejo por trás da poltrona onde ele está sentado. Eu o enforco e, em seguida, quebro o pescoço dele”. ­ Por que você fez isso? ­ Pergunto ao paciente. “Mandaram matá-­lo. Ele não fez nada para mim, foi alguém importante do governo, que tinha poder de mandar matar e comandava vários soldados.Eu obedecia as ordens dele. Matei com muita frieza. Peguei o pescoço dele por trás e quebrei, virando-o (pausa). Agora estou escutando alguém me dizer que eu não devia ter feito isso. Vejo aqui no consultório, em espírito, esse homem ao qual quebrei o pescoço e aquela mulher que estuprei. Eu acho que aquele homem que matei era o esposo dessa mulher. Em pensamento (intuo) eles me dizem que eu não devia ter feito aquilo, mas que preciso me perdoar pelo que fiz naquela vida passada. Tenho a impressão que eles eram muito evoluídos espiritualmente para me obsediarem, não guardaram rancor, me perdoaram. Na verdade, eles vieram para me ajudar. ­ Pergunte­-lhes de onde vêm essas crises constantes de tosse? ­ Peço ao paciente. “Eles dizem que essas tosses são como uma chaga que nem o tempo tira. A chaga sufoca, é o peso de minha angústia. A minha alma sabe que eu errei. A gente pode esquecer a história do passado, mas a marca do que a alma fez fica registrada no nosso perispírito (corpo espiritual). Por mais que esqueça a história do passado pelo “véu do esquecimento”, o que fiz fica registrado na minha alma e não basta reencarnar para apagar essa marca. Eu sofro como se eu mesmo me obsediasse. Eles dizem que não existe um obsessor externo, mas eu que me auto­-obsedio (pausa). Agora estou vendo junto deles uma outra mulher. Ela tem um rosto branco e lábios vermelhos. Sinto que ela tem um respeito e amor muito grande por mim... É como se ela soubesse tudo o que vai acontecer na minha vida. Sinto que ela é a minha mentora espiritual (entidade desencarnada responsável pela nossa evolução espiritual). Ela sorri para mim e explica que eu sou alérgico e, portanto, suscetível às crises de tosse. A minha alma por conta daqueles erros cometidos naquela vida passada se auto-pune aproveitando­-se das crises alérgicas de tosse, agravando esse mal-­estar físico (tosses constantes). É um “chicote” para me auto-punir. É como se essa autopunição baixasse a minha imunidade e me deixasse mais suscetível a algo que já tenho facilidade para adquirir. Ser alérgico é a porta que o meu corpo abriu em função do que fiz naquela vida passada. A minha mentora me diz que preciso me fortalecer espiritual e emocionalmente, orando e me perdoando. Que a cura de minha alma irá fortalecer meu sistema imunológico. Ressalta a necessidade de me comunicar mais com o mundo espiritual. Diz, portanto, que a minha busca deve ser menos racional (ego) e mais com o coração (alma). Mas que ela estará sempre ao meu lado e que aqui nesse tratamento – a T.R.E. (Terapia Regressiva Evolutiva) ­ abordagem psicológica e espiritual breve, canalizada por mim pelos espíritos evoluídos do astral superior ­ dei um bom passo, fechando-­se um ciclo, e que vou ser vitorioso na busca de minha cura. A minha mentora agradece ao senhor (referindo-­se a mim como terapeuta) por ter aberto o canal de comunicação entre nós e diz que preciso primeiro organizar a minha alma, o meu espírito, para que eu não atrapalhe a eficiência da cura médica, que o meu auto-perdão é necessário e deve ser praticado diariamente. Fala ainda que me saboto por conta dessa culpa que carrego, e que o sucesso não pode vir para quem não se perdoa, pois me sinto indigno do reconhecimento profissional por conta dos erros cometidos. Diz que sou amado e amparado, e pede para não esquecer que sou assessorado por ela nesse processo de cura. Fala ainda que se achar que irei sozinho apagar essa chaga, vou me desesperar. Reafirma, finalizando, que serei ajudado a apagar essa chaga de meu passado e me perdoar.

quarta-feira, 15 de março de 2017

CASAMENTO E SEPARAÇÕES – VISÃO ESPÍRITA

COMO É O CASAMENTO ESPÍRITA?

Em um casamento espírita não há cerimônia religiosa, há somente o casamento civil, pois o Espiritismo, seguindo o evangélico preceito “dai a César o que é de César”, recomenda obediência às leis humanas que visam a ordem social. E nenhum centro espírita ou sociedade verdadeiramente espírita deveria realizar casamentos, pois o Espiritismo não instituiu sacramentos, rituais ou dogmas.
No local escolhido para realizar a cerimônia civil, uma prece poderá ser feita por um familiar dos noivos (não é preciso convidar um presidente de centro, um orador espírita, um médium, nem é preciso que um espírito se comunique para “DAR A BÊNÇÃO”. De preferência, que seja tudo simples, sem exageros, excessos e desperdícios. Deve haver intensa participação espiritual dos noivos, dos familiares e convidados, assim como há dos amigos desencarnados.
Os noivos que forem verdadeiramente espíritas devem saber como se casar perante a sociedade e a espiritualidade, respeitando as convicções dos familiares “não espíritas”, mas tentando fazer prevalecer as suas. Porque o espírita precisa ajudar a renovação das idéias religiosas e não conseguirá isso, se ocultar sempre o que já conhece e se ceder sempre aos costumes religiosos tradicionais. Além do que, o espírita tem o direito de não ficar preso às fórmulas religiosas que nada mais lhe significam.
Vejamos como foi o casamento de Mário e Antonina, que encontra-se no livro Entre o Céu e a Terra, narrado por André Luiz e psicografado por Chico Xavier: “Mário e a viúva esperavam efetuar o matrimônio em breves dias. Visitamos o futuro casal, diversas vezes, antes do enlace que todos nós aguardávamos, contentes.
Amaro e Zulmira, reconhecidos aos gestos de amizade e carinho que recebiam constantemente dos noivos, ofereceram o lar para a cerimônia que, no dia marcado, se realizou com o ato civil, na mais acentuada simplicidade.
Muitos companheiros de nosso plano acorreram à residência do ferroviário, inclusive as freiras desencarnadas que consagravam ao enfermeiro particular estima. A casa de Zulmira, enfeitada de rosas, regurgitava de gente amiga.
A felicidade transparecia de todos os semblantes. À noite, na casinha singela de Antonina, reuniram-se quase todos os convidados novamente.
Os recém-casados queriam orar, em companhia dos laços afetivos, agradecendo ao Senhor a ventura daquele dia inolvidável. O telheiro humilde jazia repleto de entidades afetuosas e iluminadas, inspirando entusiasmo e esperança, júbilo e paz. Quem pudesse ver o pequeno lar, em toda a sua expressão de espiritualidade superior, afirmaria estar contemplando um risonho pombal de alegria e de luz.
Na salinha estreita e lotada, um velho tio da noiva levantou-se e dispôs-se à oração. Clarêncio abeirou-se dele e afagou-lhe a cabeça que os anos haviam encanecido, e seus engelhados lábios, no abençoado calor da inspiração com que o nosso orientador lhe envolvia a alma, pronunciaram comovente rogativa a Jesus, suplicando-lhe que os auxiliasse a todos na obediência aos seus divinos desígnios.”
Então, o espírita, que estuda e busca entender a doutrina dos espíritos, sabe que a orientação é começarmos a nos desvencilhar da materialidade. O empenho maior não deve ser com a cerimônia, mas sim com os compromissos conjugais do dia-a-dia, que envolve a responsabilidade de ambos com a educação dos filhos que Deus os confiar.
Quando entendermos que Deus abençoa toda união, com ou sem cerimônia religiosa, nossa preocupação será convidar Jesus para viver em nosso lar. Não em quadros, crucifixos ou imagens, mas aplicando SEUS ensinamentos todos os dias, como: “FAZER AO OUTRO O QUE GOSTARÍAMOS QUE ESTE OUTRO NOS FIZÉSSE.” Exemplo: Se não gostamos de ser traídos, não trairemos; se queremos tolerância com nossas falhas, seremos tolerantes com a falha do outro, etc. Só assim, a união será duradoura e passará pela riqueza e pobreza, saúde e doença, alegria e tristeza até que a morte (do corpo) nos separe “TEMPORARIAMENTE”.
Compilação de Rudymara

Amor – Casamento – Divórcio

O amor a tudo resiste:
Treva, espinho, pedra e lama.
O divórcio não existe.
No coração de quem ama.
Lívio Barreto


Felicidade no amor?
Não me perguntes qual é.
Quando fiel a si mesmo
Todo amor merece fé.
Casimiro Cunha


Casamento é um céu a dois
Por entre sombras contrárias.
Laços, que venham depois,
São provações voluntárias.
Irene de Souza Pinto


Bendita a mão que escreveu
Essa sentença que dou:
“Quem amou nunca esqueceu,
Quem esqueceu nunca amou”.
Augusto Coelho


O amor aos outros, no fundo,
É a luz que encontro por fim,
Com que me livre no mundo
Da sombra que trago em mim.
Eugênio Rubião


Divórcio não tem censura,
Mas se o fazes… Desde agora,
Atrasas conta madura
Pagando juros de mora.
Deraldo Neville


Casamento, muitas vezes,
É um rol de penas sofridas
Em que os cônjuges se pagam
Por débitos de outras vidas.
Ulysses Bezerra


O divórcio nunca erra
No par em distância inglória,
Certas dívidas na Terra
Precisam de moratória.
José Albano


Amor que vive no lar
Nunca lida ou sofre em vão.
Todo amor de sacrifício
É luz de sublimação
Antônio de Castro


Caridade lembra um mar,
Imenso, renovador,
Que acolhe sem transbordar
Todas as fontes do amor.

Auta de Souza

XAVIER, Francisco Cândido; PIRES, José Herculano.
Chico Xavier Pede Licença. Espíritos Diversos. GEEM. Capítulo 36.

Ante o Divórcio

Toda perturbação no lar, frustando-lhe a viagem no tempo, tem causa específica. Qual acontece ao comboio, quando estaca indebitamente ou descarrila, é imperioso angariar a proteção devida para que o carro doméstico prossiga adiante.
No transporte caseiro, aparentemente ancorado na estação do cotidiano (e dizemos aparentemente, porque a máquina familiar está em movimento e transformação incessantes), quase todos os acidentes se verificam pela evidência de falhas diminutas que, em se repetindo indefinidamente, estabelecem, por fim, o desastre espetacular.
Essas falhas, no entanto, nascem do comportamento dos mais interessados na sustentação do veículo ou, propriamente, do marido e da mulher, chamados pela ação da vida a regenerar o passado ou a construir o futuro pelas possibilidades da reencarnação no presente, falhas essas que se manifestam de pequeno desequilíbrio, até que se desencadeie o desequilíbrio maior.
Nesse sentido, vemos cônjuges que transfiguram conforto em pletora de luxo e dinheiro, desfazendo o matrimônio em facilidades loucas, como se afoga uma planta por excesso de adubo, e observamos aqueles outros que o sufocam por abuso de sovinice; notamos os que arrasam a união conjugal em festas sociais permanentes e assinalamos os que a destroem por demasia de solidão; encontramos os campeões da teimosia que acabam com a paz em família, manejando atitudes do contra sistemático, diante de tudo e de todos, e identificamos os que a exterminam pelo silêncio culposo, à frente do mal; surpreendemos os fanáticos da limpeza, principalmente muitas de nossas irmãs, as mulheres, quando se fazem mártires de vassoura e enceradeira, dispostas a arruinar o acordo geral em razão de leve cisco nos móveis, e somos defrontados pelos que primam no vício de enlamear a casa, desprezando a higiene.
Equilíbrio e respeito mútuo são as bases do trabalho de quantos se propõem garantir a felicidade conjugal, de vez que, repitamos, o lar é semelhante ao comboio em que filhos, parentes, tutores e afeiçoados são passageiros.
Alguém perguntará como situaremos o divórcio nestas comparações. Divorciar, a nosso ver, é deixar a locomotiva e seus anexos. Quem responde pela iniciativa da separação decerto que larga todo esse instrumental de serviço à própria sorte e cada consciência é responsável por si.
Não ignoramos que o trem caseiro corre nos trilhos da existência terrestre, com autorização e administração das Leis Orgânicas da Providência Divina e, sendo assim, o divórcio, expressando desistência ou abandono de compromisso, é decisão lastimável, conquanto às vezes necessária, com raízes na responsabilidade do esposo ou da esposa que, a rigor, no caso, exercem as funções de chefe e maquinista.
XAVIER, Francisco Cândido. Encontro Marcado. Pelo Espírito Emmanuel. FEB.

Casamento e Divórcio

Divórcio, edificação adiada, resto a pagar no balanço do espírito devedor. Isso geralmente porque um dos cônjuges, sócio na firma do casamento, veio a esquecer que os direitos na instituição doméstica somam deveres iguais.
A Doutrina Espírita elucida claramente o problema do lar, definindo responsabilidades e entremostrando os remanescentes do trabalho a fazer, segundo os compromissos anteriores em que marido e mulher assinaram contrato de serviço, antes da reencarnação.
Dois espíritos sob o aguilhão do remorso ou tangidos pelas exigências da evolução, ambos portando necessidades e débitos, combinam encontro ou reencontro no matrimônio, convencidos de que união esponsalícia é, sobretudo, programa de obrigações regenerativas.
Reincorporados, porém, na veste física, se deixam embair pelas ilusões de antigos preconceitos da convenção social humana ou pelas hipnoses do desejo e passam ao território da responsabilidade matrimonial, quais sonâmbulos sorridentes, acreditando em felicidade de fantasia como as crianças admitem a solidez dos pequeninos castelos de papelão.
Surgem, no entanto, as realidades que sacodem a consciência.
Esposo e esposa reconhecem para logo que não são os donos exclusivos da empresa.
Sogro e sogra, cunhados e tutores consanguíneos são também sócios comanditários, cobrando os juros do capital afetivo que emprestaram, e os filhos vão aparecendo na feição de interessados no ajuste, reclamando cotas de sacrifício.
O tempo que durante o noivado era todo empregado no montante dos sonhos, passa a ser rigorosamente dividido entre deveres e pagamentos, previsões e apreensões, lutas e disciplinas e os cônjuges desprevenidos de conhecimento elevado, começam a experimentar fadiga e desânimo, quanto mais se lhes torna necessária a confiança recíproca para que o estabelecimento doméstico produza rendimento de valores substanciais em favor do mundo e da vida do espírito.
Descobrem, por fim, que amar não é apenas fantasiar, mas acima de tudo, construir. E construir pede não somente plano e esperança, mas também suor e por vezes aflição e lágrimas.
Auxiliemos, na Terra, a compreensão do casamento como sendo um consórcio de realizações e concessões mútuas, cuja falência é preciso evitar.
Divulguemos o princípio da reencarnação e da responsabilidade individual para que os lares formados atendam à missão a que se destinam.
Compreendamos os irmãos que não puderem evitar o divórcio porquanto ignoramos qual seria a nossa conduta em lugar deles, nos obstáculos e sofrimentos com que foram defrontados, mas interpretemos o matrimônio por sociedade venerável de interesses da alma perante Deus.
VIEIRA, Waldo. Sol nas Almas. Pelo Espírito André Luiz. CEC. Capítulo 10.

terça-feira, 14 de março de 2017

PENSAMENTOS DE CHICO XAVIER SOBRE ANIMAIS


Um amigo perguntou ao Chico qual o animal mais evoluído espiritualmente e dele anotou a resposta:

– É o cão. O cão desperta muito amor e é modelo de fidelidade. As pessoas que amam e cultivam a convivência com os animais, especialmente os cães, se observarem com atenção, verificarão que os vários espécimes são portadores de qualidades que consideramos quase humanas, raiando pela prudência, paciência, disciplina, obediência, sensibilidade, inteligência, improvisação, espírito de serviço, vigilância e sede de carinho, infundindo-nos a idéia de que, quanto mais perto se encontram das criaturas humanas, mais se lhes assemelham, preparando-se para o estágio mais próximo da hierarquia espiritual.
Segundo o iluminado Espírito Emmanuel os animais são nossos parentes próximos, com sua linguagem, seus afetos e sua inteligência rudimentar.
Chico Xavier respondendo a uma pergunta sobre os animais, disse:
– Nossos benfeitores espirituais nos esclarecem que é preciso que todos nós consideremos que os animais diversos, a nos rodearem a existência de seres humanos em evolução no planeta Terra, são nossos irmãos menores, desenvolvendo em si mesmos o próprio princípio inteligente.
Se nós, seres humanos já alcançamos os domínios da inteligência desenvolvendo agora as potências intuitivas, eles, os animais, estão aperfeiçoando paulatinamente seus instintos na busca da inteligência da mesma maneira que nós humanos aspiramos alcançar algum dia a angelitude na Vida Maior, personificada em nosso mestre o Senhor Jesus, eles, os animais aspiram ser num futuro distante homens e mulheres inteligentes e livres. Assim sendo, nós podemos nos considerar como irmãos mais velhos e mais experimentados dos animais.
Deus outorgou aos homens a condição e proteção de nossos irmãos mais novos, os animais.
E o que é que esta humanidade tem agido em relação aos animais nos inúmeros séculos de nossa história?
Porventura nós, os homens, não temos nos transformado em algozes dos animais ao invés de seus protetores fiéis? Quem ignora que a vaca sofre imensamente a caminho do matadouro? Quem duvida que minutos antes do golpe fatal os bovinos derramam lágrimas de angústia? Não temos treinado determinadas raças de cães exaustivamente para o morticínio e os ataques? Que dizermos das caçadas impiedosas de aves e animais silvestres unicamente por prazer esportivo? Que dizermos das devastações inconsequentes do meio ambiente?
Tudo isto se resume em graves responsabilidades para os seres humanos. A angústia, o medo e o ódio que provocamos nos animais lhes alteram o equilíbrio natural de seus princípios espirituais.
A responsabilidade maior recairá sempre nos desvios de nós mesmos, que não soubemos guiar os animais no caminho do Amor e do Progresso, seguindo a Verdade de Deus.

Muita paz.


O Livro dos Espíritos

por ALLAN KARDEC – tradução de José Herculano Pires

II – Os Animais e o Homem

592. Se comparamos o homem e os animais em relação à inteligência, parece difícil estabelecer a linha de demarcação, porque certos animais têm, nesse terreno, notória superioridade sobre certos homens. Essa linha de demarcação pode ser estabelecida de maneira precisa?
— Sobre esses assuntos os vossos filósofos não estão muito de acordo. Uns querem que o homem seja um animal, e outros que o animal seja um homem. Estão todos errados. O homem é um ser à parte, que desce, às vezes, muito baixo ou que pode elevar-se muito alto. No físico, o homem é como os animais e menos bem provido que muitos dentre eles; a Natureza lhes deu tudo aquilo que o homem é obrigado a inventar com a sua inteligência para prover às suas necessidades e à sua conservação. Seu corpo se destrói como o dos animais, isto é certo, mas o seu Espírito tem um destino que só ele pode compreender, porque só ele é completamente livre. Pobres homens, que vos rebaixais mais do que os brutos! Não sabeis distinguir-vos deles? Reconhecei o homem pelo pensamento de Deus.
593. Podemos dizer que os animais só agem por instinto?
—Ainda nisso há um sistema. É bem verdade que o instinto domina na maioria dos animais; mas não vês que há os que agem por uma vontade determinada? E que têm inteligência, mas ela é limitada.
Comentário de Kardec: Além do instinto, não se poderia negar a certos animais a prática de atos combinados que denotam a vontade de agir num sentido determinado e de acordo com as circunstâncias. Há neles, portanto, uma espécie de inteligência mas cujo exercício é mais precisamente concentrado sobre os meios de satisfazer às suas necessidades físicas e proverá sua conservação. Não há entre eles nenhuma criação nenhum melhoramento; qualquer que seja a arte que admiramos em seus trabalhos, aquilo que faziam antigamente é o mesmo que fazem hoje, nem melhor nem pior segundo formas e proposições constantes e invariáveis. Os filhotes separados de sua espécie não deixam de construir o seu ninho de acordo com o mesmo modelo sem terem sido ensinados. Se alguns são suscetíveis de uma certa educação, esse desenvolvimento intelectual, sempre fechado em estreitos limites, é devido à ação do homem sobre uma natureza flexível, pois não fazem nenhum progresso por si mesmos, e esse progresso é efêmero, puramente individual, porque o animal, abandonado a si próprio, não tarda a voltar aos limites traçados pela Natureza.
594. Os animais têm linguagem?
— Se pensais numa linguagem formada de palavras e de sílabas, não; mas num meio de se comunicarem entre si, então, sim. Eles se dizem muito mais coisas do que supondes, mas a sua linguagem é limitada, como as próprias idéias, às suas necessidades.
594 – a) Há animais que não possuem voz; esses não parecem destituídos de linguagem?
— Compreendem-se por outros meios. Vós, homens, não tendes mais do que a palavra para vos comunicardes? E dos mudos, que dizeis? Os animais, sendo dotados da vida de relação, têm meios de se prevenir e de exprimir as sensações que experimentam. Pensas que os peixes não se entendem? O homem não tem o privilégio da linguagem, mas a dos animais é instintiva e limitada pelo círculo exclusivo das suas necessidades e das suas idéias, enquanto a do homem é perfectível e se presta a todas as concepções da sua inteligência.
Comentário de Kardec: Realmente, os peixes que emigram em massa, bem como as andorinhas, que obedecem ao guia, devem ter meios de se advertir de se entender e de se combinar. Talvez o façam entre si, ou talvez a água seja um veículo que lhes transmita certas vibrações. Seja o que for, é incontestável que eles dispõem de meios para se entenderem, da mesma maneira que todos os animais privados de voz e que realizam trabalhos em comum. Deve-se admirar, diante disso, que os Espíritos possam comunicar-se entre eles sem o recurso da palavra articulada? (Ver item 282.)
595. Os animais têm livre-arbítrio?
— Não são simples máquinas, como supondes (1)mas sua liberdade de ação é limitada pelas suas necessidades, e não pode ser comparada à do homem. Sendo muito inferiores a este, não têm os mesmos deveres. Sua liberdade é restrita aos atos da vida material.
596. De onde vem a aptidão de certos animais para imitar a linguagem do homem, e por que essa aptidão se encontra mais entre as aves do que entre os símios, por exemplo, cuja conformação tem mais analogia com a humana?
— Conformação particular dos órgãos vocais, secundada pelo instinto da imitação. O símio imita os gestos; certos pássaros imitam a voz.
597. Pois se os animais têm uma inteligência que lhes dá uma certa liberdade de ação, há neles um princípio independente da matéria?
— Sim, e que sobrevive ao corpo.
597 – a) Esse princípio é uma alma semelhante à do homem?
— É também uma alma, se o quiserdes: isso depende do sentido em que se tome a palavra; mas é inferior à do homem. Há, entre a alma dos animais e a do homem, tanta distância quanto entre a alma do homem e Deus.
598. A alma dos animais conserva após a morte sua individualidade e a consciência de si mesma?
— Sua individualidade, sim, mas não a consciência de si mesma. A vida inteligente permanece em estado latente.
599. A alma dos animais pode escolher a espécie em que prefira encarnar-se?
— Não; ela não tem o livre-arbítrio.
600. A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, fica num estado errante como a do homem após a morte?
— Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo.
Mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espírito. O Espírito do animal é classificado, após a morte, pelos Espíritos incumbidos disso e utilizado quase imediatamente; não dispõe de tempo para se pôr em relação com outras criaturas.
601. Os animais seguem uma lei progressiva como os homens?
— Sim, e é por isso que nos mundos superiores onde os homens são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios de comunicação mais desenvolvidos. São, porém, sempre inferiores e submetidos aos homens, sendo, para estes, servidores inteligentes.
Nada há nisso de extraordinário. Suponhamos os nossos animais de maior inteligência, como o cão, o elefante, o cavalo, dotados de uma conformação apropriada aos trabalhos manuais. O que não poderiam fazer sob a direção do homem?
602. Os animais progridem, como o homem, por sua própria vontade, ou pela força das coisas?
— Pela força das coisas; e é por isso que, para eles, não existe expiação.
603. Nos mundos superiores, os animais conhecem a Deus?
— Não. O homem é um deus para eles, como antigamente os Espíritos foram deuses para os homens.
604. Os animais, mesmo aperfeiçoados nos mundos superiores, sendo sempre interiores aos homens, disso resultaria que Deus tivesse criado seres intelectuais perpetuamente votados à inferioridade, o que parece em desacordo com a unidade de vistas e de progresso que se assinalam em todas as suas obras?
— Tudo se encadeia na Natureza por liames que não podeis ainda perceber, e as coisas aparentemente mais disparatadas têm pontos de contato que o homem jamais chegará a compreender no seu estado atual. Pode entrevê-los por um esforço de sua inteligência, mas somente quando essa inteligência tiver atingido todo o seu desenvolvimento e se libertado dos prejuízos do orgulho e da ignorância poderá ver claramente na obra de Deus. Até lá suas idéias limitadas lhe faraó ver as coisas de um ponto de vista mesquinho. Sabei que Deus não pode contradizer-se e que tudo, na Natureza, se harmoniza através de leis gerais que jamais se afastam da sublime sabedoria do Criador.
604 – a) A inteligência é, assim, uma propriedade comum, um ponto de encontro entre a alma dos animais e a do homem?
— Sim, mas os animais não têm senão a inteligência da vida material; nos homens, a inteligência produz a vida moral.
605. Se considerarmos todos os pontos de contato existentes entre o homem e os animais, não poderíamos pensar que o homem possui duas almas: a alma animal e a alma espírita e que, se ele não tivesse esta última, poderia viver só como os animais? Dizendo de outra maneira: o animal é um ser semelhante ao homem, menos a alma espírita? Disso resultaria que os bons e os maus instintos do homem seriam o efeito da predominância de uma ou outra dessas duas almas?
— Não, o homem não tem duas almas, mas o corpo tem os seus instintos, que resultam da sensação dos órgãos. Não há no homem senão uma dupla natureza: a natureza animal e a espiritual. Pelo seu corpo, ele participa da natureza dos animais e dos seus instintos; pela sua alma, participa da natureza dos Espíritos.
605 – a) Assim, alem das suas próprias imperfeições, de que o Espírito deve despojar-se, deve ele lutar contra a influência da matéria?
— Sim, quanto mais inferior é ele, mais apertados são os laços entre o Espírito e a matéria. Não o vedes? Não, o homem não tem. duas almas; a alma é sempre única, um ser único. A alma do animal e a do homem são distintas entre si, de tal maneira que a de um não pode animar o corpo criado para o outro. Mas se o homem não possui uma alma animal, que por suas paixões o coloque no nível dos animais, tem o seu corpo que o rebaixa freqüentemente a esse nível, porque o seu corpo é um ser dotado de vitalidade, que tem instintos, mas ininteligentes e limitados ao interesse de sua conservação(1)
Comentário de Kardec: O Espírito, encarnando-se no corpo do homem, transmite-lhe o principio intelectual e moral que o torna superior aos animais. As duas naturezas existentes no homem oferecem ás suas paixões duas fontes diversas: umas provêm dos instintos da natureza, outras das impurezas do Espírito encarnado, que simpatiza em maior ou menor proporção com a grosseria dos apetites animais. O Espírito, ao se purificar, liberta-se pouco a pouco da influência da matéria. Sob essa influência, ele se aproxima dos brutos; liberto dessa influência, eleva-se ao seu verdadeiro destino.
606. De onde tiram os animais o princípio inteligente que constitui a espécie particular de alma de que são dotados?
— Do elemento inteligente universal.
606 – a) A inteligência do homem e a dos animais emanam, portanto, de um princípio único?
— Sem nenhuma dúvida; mas no homem ela passou por uma elaboração que a eleva sobre a dos brutos.
607. Ficou dito que a alma do homem, em sua origem, assemelha-se ao estado de infância da vida corpórea, que a sua inteligência apenas desponta e que ela ensaia para a vida. (Ver item 190.) Onde cumpre o Espírito essa primeira fase?
— Numa série de existências que precedem o período que chamais de Humanidade.
607. A) Parece, assim, que a alma teria sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação?
— Não dissemos que tudo se encadeia na Natureza e tende à unidade?
É nesses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e ensaia para a vida, como dissemos. É, de certa maneira, um trabalho preparatório, como o de germinação, em seguida ao qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. É então que começa para ele o período de humanidade, e com este a consciência do seu futuro, a distinção do berne do mal e a responsabilidade dos seus atos. Corno depois do período da infância vem o da adolescência, depois a juventude, e por fim a idade madura. Nada há de resto, nessa origem, que deva humilhar o homem. Os grandes gênios sentem-se humilhados por terem sido fetos informes no ventre materno? Se alguma coisa deve humilhá-los é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para sondar a profundeza de seus desígnios e a sabedoria das leis que regulam a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia que faz a solidariedade de todas as coisas na Natureza. Crer que Deus pudesse ter feito qualquer coisa sem objetivo e criar seres inteligentes sem futuro seria blasfemar contra a sua bondade, que se estende sobre todas as suas criaturas.
607 – b) Esse período de humanidade começa sobre a nossa Terra?
– A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanidade começa, em geral, nos mundos ainda mais inferiores. Essa, entretanto, não é uma regra absoluta e poderia acontecer que um Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Esse caso não é freqüente e seria antes uma exceção.
608.0 Espírito do homem, após a morte, tem consciência das existências que precederam, para ele, o período de humanidade?
– Não, porque não é senão desse período que começa para ele a vida de Espírito, e é mesmo difícil que se lembre de suas primeiras existências como homem, exatamente como o homem não se lembra mais dos primeiros tempos de sua infância, e ainda menos do tempo que passou no ventre materno. Eis porque os Espíritos vos dizem que não sabem como começaram. (Ver item 78.)
609. O Espírito, tendo entrado no período da humanidade, conserva os traços do que havia sido precedentemente, ou seja, do estado em que se encontrava no período que se poderia chamar anti-humano?
– Isso depende da distância que separa os dois períodos e do progresso realizado. Durante algumas gerações, ele pode conservar um reflexo mais ou menos pronunciado do estado primitivo, porque nada na Natureza se faz por transição brusca(1); há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia do seres e dos acontecimentos. Mas esses traços desaparecem com o desenvolvimento do livre-arbítrio. Os primeiros progressos se realçam lentamente, porque não são ainda secundados pela vontade, mas seguem uma progressão mais rápida à medida que o Espírito adquire consciência mais perfeita de si mesmo.
610. Os Espíritos que disseram que o homem é um ser à parte na ordem da criação enganaram-se, então?
– Não, mas a questão não havia sido desenvolvida e há coisas que não podem vir senão a seu tempo. O homem é, de fato, um ser à parte porque tem faculdades que o distinguem de todos os outros e tem outro destino A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dos seres que o podem conhecer.
(1) Descartes ensinava que os animais são máquinas, agindo segundo as leis naturais, por não terem espírito. Essa concepção, que no tempo de Kardec era ainda bastante difundida, prevalece até hoje entre a maioria dos homens. Os Espíritos a contestam, como se vê, e a sua opinião é referenciada pelas Ciências. (N. do T.)
(1) Os Espíritos levantam aqui um problema filosófico, o do “ser do corpo”, que o desenvolvimento da Filosofia Espírita tende a esclarecer. Ver obras especializadas. (N. do T.)
(1) A dialética marxista contraria aparentemente este princípio com a afirmação de que a Natureza “dá saltos”. Na realidade esses saltos são qualitativos e decorrem da acumulação de pequenas modificações quantitativas, ou seJa, de uma cadeia de ações e reações. Engels afirmou: Embora com toda a graduação, a transição de uma forma de movimento para outra sempre se apresenta como um salto, que resolve em revolução” . Esta teoria justifica a revolução social. Mas essa mesma revolução, segundo o marxismo, só pode ocorrer em condições especiais, preparadas por uma longa série de acontecimentos. Dessa maneira mesmo diante da concepção materialista revolucionária, permanece válido em sua substância o principio espírita “nada na Natureza se faz por transição brusca” Todo “salto” é o fim uma cadeia de ações e reações. (N. do T.)

segunda-feira, 13 de março de 2017

SOLIDÃO NA VISÃO ESPÍRITA

Solidão

Espectro cruel que se origina nas paisagens do medo, a solidão é, na atualidade, um dos mais graves problemas que desafiam a cultura e o homem.

A necessidade de relacionamento humano, como mecanismo de afirmação pessoal, tem gerado vários distúrbios de comportamento, nas pessoas tímidas, nos indivíduos sensíveis e em todos quantos enfrentam problemas para um intercâmbio de idéias, uma abertura emocional, uma convivência saudável.

Enxameiam, por isso mesmo, na sociedade, os solitários por livre opção e aqueloutros que se consideram marginalizados ou são deixados à distância pelas conveniências dos grupos.

A sociedade competitiva dispõe de pouco tempo para a cordialidade desinteressada, para deter-se em labores a benefício de outrem.

O atropelamento pela oportunidade do triunfo impede que o indivíduo, como unidade essencial do grupo, receba consideração e respeito ou conceda ao próximo este apoio, que gostaria de fruir.

A mídia exalta os triunfadores de agora, fazendo o panegírico dos grupos vitoriosos e esquecendo com facilidade os heróis de ontem, ao mesmo tempo que sepultam os valores do idealismo, sob a retumbante cobertura da insensatez e do oportunismo.

O homem, no entanto, sem ideal, mumifica-se. O ideal é-lhe de vital importância, como o ar que respira.

O sucesso social não exige, necessariamente, os valores intelecto-morais, nem o vitalismo das idéias superiores, antes cobra os louros das circunstâncias favoráveis e se apóia na bem urdida promoção de mercado, para vender imagens e ilusões breves, continuamente substituídas, graças à rapidez com que devora as suas estrelas.

Quem, portanto, não se vê projetado no caleidoscópio mágico do mundo fantástico, considera-se fracassado e recua para a solidão, em atitude de fuga de uma realidade mentirosa, trabalhada em estúdios artificiais.

Parece muito importante, no comportamento social, receber e ser recebido, como forma de triunfo, e o medo de não ser lembrado nas rodas bem sucedidas, leva o homem a estados de amarga solidão, de desprezo por si mesmo.

O homem faz questão de ser visto, de estar cercado de bulha, de sorrisos embora sem profundidade afetiva, sem o calor sincero das amizades, nessas áreas, sempre superficiais e interesseiras. O medo de ser deixado em plano secundário, de não ter para onde ir, com quem conversar, significaria ser desconsiderado. atirado à solidão.

Há uma terrível preocupação para ser visto, fotografado, comentado, vendendo saúde, felicidade, mesmo que fictícia.

A conquista desse triunfo e a falta dele produzem solidão.

O irreal, que esconde o caráter legítimo e as lidimas aspirações do ser, conduz à psiconeurose de auto-destruição.

A ausência do aplauso amargura, face ao conceito falso em torno do que se considera, habitualmente como triunfo. Há terrível ânsia para ser-se amado, não para conquistar o amor e amar, porém para ser objeto de prazer, mascarado de afetividade. Dessa forma, no entanto, a pessoa se desama, nao se torna amável nem amada realmente.

Campeia, assim, o “medo da solidão”, numa demonstração caótica de instabilidade emocional do homem, que parece haver perdido o rumo, o equilíbrio.

O silêncio, o isolamento espontâneo, são muito saudáveis para o indivíduo, podendo permitir-lhe reflexão, estudo, auto-aprimoramento, revisão de conceitos perante a vida e a paz interior.

O sucesso, decantado como forma de felicidade, é, talvez, um dos maiores responsáveis pela solidão profunda.

Os campeões de bilheteira, nos shows, nas rádios, televisões e cinemas, os astros invejados, os reis dos esportes, dos negócios, cercam-se de fanáticos e apaixonados, sem que se vejam livres da solidão.

Suicídios espetaculares, quedas escabrosas nos porões dos vícios e dos tóxicos comprovam quanto eles são tristes e solitários. Eles sabem que o amor, com que os cercam, traz, apenas, apelos de promoção pessoal dos mesmos que os envolvem, e receiam os novos competidores que lhes ameaçam os tronos, impondo-lhes terríveis ansiedades e inseguranças, que procuram esconder no álcool, nos estimulantes e nos derivativos que os mantém sorridentes, quando gostariam de chorar, quão inatingidos, quanto se sentem fracos e humanos.

A neurose da solidão é doença contemporânea, que ameaça o homem distraído pela conquista dos valores de pequena monta, porque transitórios.

Resolvendo-se por afeiçoar-se aos ideais de engrandecimento humano, por contribuir com a hora vazia em favor dos enfermos e idosos, das crianças em abandono e dos animais, sua vida adquiriria cor e utilidade, enriquecendo-se de um companheirismo digno, em cujo interesse alargar-se-ia a esfera dos objetivos que motivam as experiências vivenciais e inoculam coragem para enfrentar-se, aceitando os desafios naturais.

O homem solitário, todo aquele que se diz em solidão, exceto nos casos patológicos, é alguém que se receia encontrar, que evita descobrir-se, conhecer-se, assim ocultando a sua identidade na aparência de infeliz, de incompreendido e abandonado.

A velha conceituação de que todo aquele que tem amigos não passa necessidades, constitui uma forma desonesta de estimar, ocultando o utilitarismo sub-reptício, quando o prazer da afeição em si mesma deve ser a meta a alcançar-se no inter-relacionamento humano, com vista à satisfação de amar.

O medo da solidão, portanto, deve ceder lugar, à confiança nos próprios valores, mesmo que de pequenos conteúdos, porém significativos para quem os possui.

Jesus, o Psicoterapeuta Excelente, ao sugerir o “amor ao próximo como a si mesmo” após o “amor a Deus” como a mais importante conquista do homem, conclama-o a amar-se, a valorizar-se, a conhecer-se, de modo a plenificar-se com o que é e tem, multiplicando esses recursos em implementos de vida eterna, em saudável companheirismo, sem a preocupação de receber resposta equivalente.

O homem solidário, jamais se encontra solitário.

O egoísta, em contrapartida, nunca está solícito, por isto, sempre atormentado.

Possivelmente, o homem que caminha a sós se encontre mais sem solidão, do que outros que, no tumulto, inseguros, estão cercados, mimados, padecendo disputas, todavia sem paz nem fé interior.

A fé no futuro, a luta por conseguir a paz intima – eis os recursos mais valiosos para vencer-se a solidão, saindo do arcabouço egoísta e ambicioso para a realização edificante onde quer que se esteja

Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Franco. Do livro: O Home Integral


A palavra SOLIDÃO encontrada no dicionário vem com o seguinte significado: – Estado de quem está só; Lugar ermo; Isolamento.
Em SOLITÁRIO encontramos:
– Que foge da convivência; situado em lugar ermo; aquele que vive na solidão;
– Jóia com uma só pedra preciosa.

Essas denominações exprimem de forma muito generalizada um possível significado da Solidão e daquele que sente. Esse significado é o que comumente as pessoas se referem, mas existem outras faces desse tema que as pessoas também experimentam e não costumam explorar, ficando tudo misturado como se fossem meras nuances da mesma coisa.

NA VISÃO FILOSÓFICA

“O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) afirma que estar só é a condição original de todo ser humano. Que cada um de nós é só no mundo. É como se o nascimento fosse uma espécie de lançamento da pessoa à sua própria sorte. Podemos nos conformar com isso ou não. Mas nos distinguimos uns dos outros pela maneira como lidamos com a solidão e com o sentimento de liberdade ou de abandono que dela decorre, dependendo do modo como interpretamos a origem de nossa existência.

O Homem pode encarar esta situação de duas formas; Pode aceitar a solidão, como forma de sua própria liberdade, ou interpretar a solidão como abandono ou castigo, ficando assim subjugado as influências externas, abrindo mão de sua própria existência, tornando-se um estranho para si mesmo, colocando-se a serviço dos outros e diluindo-se no impessoal, não assumindo a sua responsabilidade perante a espiritualidade.

Rollo May, afirma que “Não há dúvida que em todas as épocas a solidão foi temida e as pessoas dela procuram fugir.” E acrescenta mais adiante: “A diferença é que, em nossa época, o medo da solidão é muito mais intenso e as defesas contra ele – diversões, atividades sociais e amizades – são mais rígidas e compulsivas.”

Segundo May, o grande medo da solidão é o de nos sentirmos abandonados pelos outros e ficarmos sós, entregues a nós mesmos, e a partir daí sermos responsáveis por todos os nossos atos, sem ter o outro para responsabilizar ou culpar.

NA VISÃO PSICOLÓGICA

Sentir-se só, isolado, com ou sem pessoas à volta, sentir-se abandonado, desvinculado do mundo, sentir-se com medo.
O medo que advém desse estado tem lastro no ensimesmamento em que ficamos, porque estamos em um momento de estar entregue a nós mesmos, sentindo abandono e desvalia, perdidos, sem o referencial do controle de nossos pensamentos e sentimentos que muitas vezes temos quando estamos na frente dos outros.

Nesse momento estamos diante de nós mesmos e só de nós mesmos. Somos então impiedosamente críticos conosco, cobramos, revisamos nossos erros de forma cruel, o nosso vazio, o que não modificamos. É difícil aceitar as limitações e dificuldades sem lutar contra elas.

Essa solidão pode ser vivenciada junto com outra chamada pelos especialistas de Isolamento estrutural ou de Isolamento existencial. Que em síntese falam de uma condição da humanidade, em que cada um de nós somos seres lançados no mundo sozinhos, entregues a nós mesmos e só a nós cabe cuidar de nosso ser.
Segundo especialistas, define-se o isolamento em:
O Isolamento Estrutural (comum a todos os seres humanos)

A pessoa o sente porque é um indivíduo diferente dos outro, possuindo a sua originalidade, suas características peculiares e uma existência específica e singular (…) Os seus pontos extremos se encontram no nascimento e na morte: nascemos sozinhos e sozinhos morremos.”

“É quando precisamos fazer escolhas e tomar decisões, sobretudo as que são mais relevantes para a nossa vida. Nesta ocasião, os outros podem estar conosco e ajudar-nos até certo ponto. Mas há o instante nevrálgico em que todos nos deixam e não podem mesmo ficar conosco. Sentimo-nos, então, sozinhos, porque, na verdade, ninguém pode escolher e nem decidir em nosso lugar”.

Pode-se experimentar esse tipo de isolamento, de estar sozinho, de três formas:
– Não perceber que está (mergulhado em alguma tarefa);
– Perceber e gostar (afastamento voluntário para refletir);
– Perceber e não gostar (ao se ver rejeitado do convívio das pessoas)

O Isolamento Funcional (distanciamento parcial por determinada circunstância) Pode-se experimentar por:
-Motivo espacial, geográfico (uma pessoa que é responsável por farol marítimo);
-Motivo de usos e costumes (pessoa idosa em ambiente só de jovens)
-Motivo cultural (estrangeiro que vive em terra estranha);
-Motivo de preconceito (uma pessoa negra que vive em comunidade branca racista).
O Isolamento Interpessoal
Pode-se experimentar por:
-Isolamento geográfico;
-Dificuldade de socialização;
-Fatores culturais;
-Declínio de instituições promotoras de aproximação (família grande, estabilidade de residência e vizinhança, comércio local, médico de família, etc.)
O Isolamento Intrapessoal

Refere-se a experiência de se abrir mão de seus próprios desejos e sentimentos aceitando “você tem que” ou “você deve” como se fosse seu próprio desejo, não confiando em seu próprio julgamento, ocultando suas próprias possibilidades, enfim, um afastamento de si próprio.

Mas é o Isolamento Existencial (Isolamento Estrutural) que se define pelo tipo de solidão mais fundamental da existência, persistindo mesmo com os relacionamentos mais gratificantes com outras pessoas. Como nos mostra a autobiografia de Thomas Wolfe em que o protagonista refletia: “Uma solidão inescrutável e uma tristeza o invadiram: ele viu sua vida através da solene vista das veredas da floresta, e ele soube que ele seria sempre uma pessoa triste: preso naquele pequeno corpo, aprisionado num coração secreto, e pulsante, sua vida continuaria sempre passando por caminhos solitários. Perdido.

Ele compreendeu que os homens foram sempre estranhos uns aos outros, que ninguém veio, a saber, realmente quem o outro era, que aquele aprisionamento no escuro útero de nossas mães, nos trouxe a vida sem nunca ter visto seu rosto, que nós, um estranho fomos colocados em seus barcos e que, da prisão insolúvel do ser, nós nunca escaparemos não importa que barco nos segure, que boca nos beije, que coração nos aquece. Nunca, nunca, nunca, nunca, nunca”.

Como alguém se protege do pavor do isolamento máximo? Nenhum relacionamento pode eliminar o isolamento. No entanto a solidão pode ser compartilhada de tal forma que o amor compensa a dor do isolamento, ou seja, o maior apoio contra esse terror é relacional em sua natureza. Compartilhando do fato de ambos serem solitários, sensíveis a isso. Mas quando dominados pelo medo, nossos relacionamentos se tornam inadequados, fracassados, medidos pela necessidade, por funções utilitárias.

De qualquer forma estaremos sempre sós, podemos dar conta do isolamento funcional, interpessoal e até do intrapessoal, mas não temos como extirpar uma condição da humanidade, a solidão de cada ser (isolamento existencial ou estrutural), o que podemos fazer é sentir e lidar com ela, ora se desesperando, ora aproveitando o que de mais belo ela pode nos ensinar, cuidar do ser, cuidar de ser.

“A angústia provocada pela solidão é o sentimento que muitas pessoas experimentam quando se conscientizam de estarem sós no mundo. É o mal-estar que o ser humano experimenta quando descobre a possibilidade da morte em sua vida, tanto a morte física quanto à morte de cada uma das possibilidades da existência, a morte de cada desejo, de cada vontade, de cada projeto.”

“Cada vez que você se frustra, que você não se supera, que você não consegue realizar seus próprios objetivos, você sente angústia. É como se você estivesse morrendo um pouco.”

“Muitas pessoas sentem dificuldade de estarem a sós consigo mesmas. Não conseguem viver intensamente a sua própria vida. Muitas vezes elas acreditam que o brilho e o encantamento da vida se encontram no outro e não nelas mesmas. Sua vida tem um encantamento, um brilho, algo de especial porque é sua, apenas sua. Independentemente do que você esteja fazendo, sua vida pode ser intensa, prazerosa, simplesmente pelo fato de ser sua e por você ser único. Cada um de nós pode ser uma pessoa especial para si mesmo.”

“A solidão é a condição do ser humano no mundo. Todo ser humano está só. Esta é a grande questão da existência, mas não significa uma coisa negativa nem que precise de uma solução definitiva. Ou seja, a solução não é acabar com a solidão, não é deixar de sentir angústia, suprimindo este sentimento.

A solução não é encontrar uma pessoa para preencher o vazio existencial, não é encontrar um hobby ou uma atividade. A solução não é se matar de trabalhar e se concentrar nisso para não se sentir sozinho. Também não é encontrar uma estratégia para driblar a solidão. A solução é aceitar que se está só no mundo. Simplesmente isso. E sabendo-se só no mundo, viver a própria vida, respeitar a própria vontade, expressar os próprios sentimentos, buscar a realização dos próprios desejos. Quando se faz isso, a vida se enche de significado, de um brilho especial.”

“O objetivo não é fingir que a solidão não existe, não é buscar a companhia dos outros, porque mesmo junto com os outros você está e sempre será solitário. O outro é muito importante para compartilhar, trocar. O outro é muito importante para a convivência, mas não para preencher a vida, não para dar sentido e significado a uma outra existência. A presença do outro nos ajuda, compartilhando, mostrando a parte dele, dando aquilo que não temos e recebendo aquilo que temos para dar, efetivando a troca. Mas o outro não é o elemento fundamental para saciar a angústia ou para minimizar a condição de solidão”.
“Cada um de nós nasceu só, vive só e vai morrer só”.
A experiência de cada um de nós é única. O nascimento é uma experiência única, pois ninguém nasce pelo outro. Da mesma forma que a morte é uma experiência única, pois ninguém morre pelo outro. E a vida inteira, cada momento, cada segundo da existência, é uma experiência única, pois ninguém vive pelo outro.

NA VISÃO ESPÍRITA

O VERBO NA CRIAÇÃO TERRESTRE

“Jesus reuniu nas Alturas os intérpretes divinos do seu pensamento. Viu-se, então, descer sobre a Terra, das amplidões dos espaços ilimitados, uma nuvem de forças cósmicas, que envolveu o imenso laboratório planetário em repouso. Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que cobria toda a Terra.

Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada, com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens.

O homem primitivo falava, porém não como o homem: alguns sons guturais, acompanhados de gestos, os precisos para responder às suas necessidades mais urgentes. Fugia da sociedade e buscava a solidão; ocultava-se da luz e procurava indolentemente nas trevas a satisfação de suas exigências naturais. Era escravo do mais grosseiro egoísmo; não procurava alimento senão para si; chamava a companheira em épocas determinadas, quando eram mais imperiosos os desejos da carne e, satisfeito o apetite, retraía-se de novo à solidão sem mais cuidar da prole.

O homem primitivo nunca ria; nunca seus olhos derramavam lágrimas; o seu prazer era um grito e a sua dor era um gemido. Com o passar dos tempos as famílias foram se unindo, formando tribos, se amalgamando, cruzando tipos, elegendo chefes e elaborando as primeiras regras de vida em comum.
A partir daí a raça humana acelera o seu processo de crescimento interior desenvolvendo cada vez mais o senso gregário, ora para se proteger dos predadores, ora para se proteger das intempéries ora para a preservação da espécie.

Não poderia ser diferente, pois esta forma complexa e perfeita é composta de uma porção material perfeitamente elaborada em sua estrutura física, onde cada elemento desta construção ocupa o real espaço para o desenvolvimento de suas funções divinas, e sua contra-parte essência, que anima e dá sentido a esta maravilhosa estrutura, mantendo-se fiel através dos tempos à centelha divina que a criou, tendo a perfeita união destas duas partes, proporcionada pela ação de uma substância parte material e parte essência que, proporciona-lhe, cumprir a sua missão a cada existência.

Tudo provém da Unidade e volve à Unidade. O Universo é o Uno na sua constituição, resultado do Psiquismo Divino que tudo envolve e dinamiza.
Em se tratando de um mundo de provas e expiações é necessário compreender que há necessidade de ampliarmos os nossos conhecimentos e sentimentos.
Com os primeiros, valorizaremos cada vez mais a vida espiritual e conseqüentemente a nossa imortalidade. Com os segundos ampliaremos a nossa vida de relação com os nossos semelhantes realçando a nossa caminhada evolutiva, que em conjunção com as duas alçaremos vôo em direção à angelitude.

Entendo assim, que em cumprimento a Lei de Divina, passamos pelas oportunidades reencarnatórias colhendo os frutos da nossa semeadura. E de conformidade com a passagem evangélica que diz: “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”. Necessário se faz sair da nossa solidão egoísta e atendermos aos reclames dos nossos irmãos que são os nossos instrumentos de trabalho pela divina misericórdia. Aí sim, fazendo a nossa parte poderemos dizer: Adeus solidão.
“O outro é o nosso instrumento de libertação”.

O ser humano necessita do calor afetivo de outrem, mediante cuja conquista amplia o seu campo de emotividade superior, desenvolvendo sentimentos que dormem e são aquecidos pelo relacionamento mútuo, que enseja amadurecimento e amor. Concomitantemente, espraia-se esse desejo de manter contato com s expressões mais variadas da vida, nas quais haurem alegria e renovação de objetivos, por ampliar a capacidade de amar e experimentar novas realizações.

O fluxo da vida humana se manifesta através dos relacionamentos das criaturas uma com as outras, contribuindo para uma melhor e mais eficiente convivência social. Nas expressões mais primárias do comportamento, o instinto gregário aproxima os seres, a fim de os preserva mediante a união de energia que permutam, mesmo que sem darem conta.

O desafio do relacionamento é um gigantesco convite ao amor, a fim de alcançar a plenitude existencial.
A ilusão não buscada gera conflitos que são herança de experiências fracassadas, mal vividas deixadas pelo caminho, por falta de conhecimento e de emoção, que vão adquirindo etapa-a-etapa nos processos dos renascimentos do Espírito.

A ilusão resulta, igualmente, da falta de percepção e densidade de entendimento, que se vai esmaecendo e cedendo lugar a realidade, a medida que são conquistados novos patamares representativos das necessidades do progresso.

Até o momento falamos da Solidão como liberdade do ser, como única forma de nos relacionarmos com a nossa missão quando encarnados, mas não podemos esquecer que após o desencarne, continuamos na mesma condição que nos achávamos quando na veste de carne e por conseqüência, o espírito recém chegado do mundo material, traz as suas virtudes e defeitos, os seus medos e ignorância. Então a Solidão que lhe abalava na matéria continua lhe abalando na espiritualidade.

“Descera a noite totalmente, quando penetramos estreita sala, em que um círculo de pessoas se mantinha em oração.

Várias entidades se imiscuíam ali, em meio dos companheiros encarnados, mas em lamentáveis condições, de vez que pareciam inferiores aos homens e mulheres que se fazia componentes da reunião. Apenas o irmão Cássio, um guardião simpático e amigo, de quem o Assistente nos aproximou, demonstrando superioridade moral. Notava-se-lhe, de imediato, a solidão espiritual, porquanto desencarnados e encarnados da assembléia não lhe percebiam a presença e, decerto, não lhe acolhiam os pensamentos.

Ante as interpelações de nosso orientador, informou, algo desencantado:
Por enquanto, nenhum progresso, não obstante os reiterados apelos à renovação. Temos sitiado o nosso Quintino com os melhores recursos ao nosso alcance, mobilizamos livros, impressos e conversações de procedência respeitável, no entanto, tudo em vão… O teimoso amigo ainda não se precatou quanto às duras responsabilidades que assume, sustentando um agrupamento desta natureza…

Áulus buscou reconforta-lo com um gesto silencioso de compreensão e convidou-nos a observar.

Revestia-se o recinto de fluidos desagradáveis e densos”

No trecho acima, de Emmanuel em Nos Domínios da Mediunidade, podemos observar que apesar de estar em situação moral superior aos outro que estavam a sua volta, por se sentir só e não ter compreendido a sua missão, o companheiro espiritual necessita de maior apoio daqueles mais evoluídos e apesar de não estar atento à situação, Aulus assim mesmo tenta reconforta-lo e instruí-lo.

Na mesma forma, por várias vezes sentimo-nos só e desamparado, a medida que evoluímos em nossos estudos, pois cada vez que vamos entendendo o que nossos amigos espirituais nos transmitem, a medida que conseguimos por em prática os benditos ensinamentos do Mestre, mais o nosso círculo de pessoas afins vai se estreitando, pois poucos buscam a “porta estreita”.

Esta Solidão é meramente aparente, pois quanto mais estudamos, mais nos afastamos do lugar comum, do mundo material com seus prazeres efêmeros, é como se entendêssemos o que o Mestre disse em “Estar no Mundo sem ser do Mundo”, dessa forma a solidão ao invés ser um martírio, passa a ser um estágio prazeroso e indispensável para que possamos renovar nossas forças e sedimentar o nosso conhecimento, para que possamos conviver e evoluir neste mundo de Provas e Expiações.

Na mesma forma de sua concepção divina, o Homem necessita do convívio com o seu semelhante para que possa se relacionar com o mundo a sua volta e dar prosseguimento a sua evolução.

De todos os seres que habitam o nosso orbe, o Homem é o único que necessita de cuidados adicionais após o seu nascimento, pois todos o animais ao nascerem se tornam independentes e de imediato buscam se sustentar e se desenvolver. Apenas o Homem precisa de cuidados maternos após o seu nascimento, por período maior do que os outros.

A longa demora de sua independência é plenamente entendida, pois em seu estágio de evolução, o Homem necessita do convívio com aqueles que ombrearam no passado e que por motivos diversos deixaram questões a serem resolvidas, tais como ofensas, mágoas, injustiças e até mesmo atos de barbáries, que com o advento da reencarnação lhe é facultado a chance de desenvolver o amor por aquele que no passado sofreu a sua ofensa e com isso cumprir com a sua nobre missão.

Se observarmos, com passar das épocas, podemos observar que cada vez mais as crianças nascem mais independentes, mais evoluídas, exemplificando a evolução da raça, porém somente com a remissão de nossos erros passados é que poderemos nos considerar livres destes compromissos e retomarmos a nossa caminhada rumo a angelitude.

O homem solidário jamais se encontra solitário.

O egoísta, em contrapartida, nunca está solícito, por isto, sempre atormentado.

Possivelmente, o homem que caminha a sós se encontre mais sem solidão, do que outros que, no tumulto, inseguros, estão cercados, mimados, padecendo disputas, todavia sem paz nem fé interior.

A fé no futuro, a luta por conseguir a paz íntima, eis os recursos mais valiosos para vencer-se a solidão, saindo do arcabouço egoísta e ambicioso para a realização edificante onde quer que se esteja.
Reservar um tempo diário para a meditação e um outro para a reflexão, independentemente das pressões do cotidiano, é fundamental.

Fonte de ilusões é o ser humano acreditar que está no controle da vida, vinculando sua felicidade a elementos externos. Esse controle pertence a Deus, numa visão de religiosidade cósmica.

Devemos lembrar que o Pai nunca deixa os filhos desamparados, assim, se te vês presentemente sem laços domésticos, sem amigos certos na paisagem transitória do planeta, é que Jesus te enviou a pleno mar de experiência, a fim de provares tuas conquistas em supremas lições.


CONCLUSÃO

Com tudo o que foi exposto acima, pudemos observar que o Homem, parte integrante e ativa do Universo, a partir da sua evolução, nasce só, vindo da Unidade, inicialmente atuando isoladamente, mas devido ao seu instinto gregário, sai de sua solidão para através de seu instinto genésico, iniciar sua interação com o mundo que o cerca, para dar os primeiros passos de sua evolução no orbe terrestre e a partir da crescente interação com a vida, vai perdendo o medo de se sentir só e compreende que o estado de solidão é ilusório pois sempre estaremos acompanhados e agora não mais como um ser isolado e sim como parte de um todo, constatando que como o Universo é UNO, tudo tende a unidade e a medida em que se vai evoluindo, retorna a solidão, não mais como um ser claudicante e parcial, não mais com o medo da dúvida, mas com a certeza da plenitude da essência para finalmente cumprir a sua missão.

A mãe natureza é sábia quando determinou que cada ser vivo precisa de uma parte de sua vida para ficar só, constatado quando temos sono e temos que dormir para nos refazermos.

Quando estamos nos recolhemos em prece estamos experimentamos momentos de solidão.
Quando estamos concentrados lendo estamos sós.
Quando estamos trabalhando compenetradamente, estamos sós.

Em nenhum dos estados acima experimentamos a sensação de desconforto, pois em nenhum destes sentimos culpa, mas se as pessoas não se aproximam de nós, se as pessoas se aproximam e nós não aceitamos, se a vida nos impõe um isolamento geográfico ou um isolamento físico, aí sim a nossa culpa é despertada através de um grande sentimento de desconforto e por diversas vezes, cedemos a esta culpa, se isolando, pois não temos coragem de enfrentar as nossas debilidades e nos escondemos de nós mesmos, desempenhando o papel de coadjuvante em nossa própria estória, cedendo cada vez mais àqueles que se esforçam para que não vençamos, deixando de fazer valer o motivo para que viemos neste mundo como uma alma vivente.

Walter Araújo Machado

BIBLIOGRAFIA

O homem a Procura de Si Mesmo – Rollo May
Ser e Tempo – Martin Heidegger
A Caminho da Luz – Emannuel
Os Exilados de Capela – Edgard Armond
O Despertar do Espírito – Joanna de Angelis
Amor Imbatível Amor – Joanna de Angelis
O Homem Integral – Joanna de Ângelis