domingo, 30 de novembro de 2014

Busca interminável

A viagem que cada um de nós realiza em torno de si mesmo, buscando alcançar a liberdade de ação, é desgastante porque é desesperadora. O sentimento de prisão e a sensação de amarras que sentimos, literalmente, em nossos movimentos, nos impedem sempre de agir. Difícil compreender de onde vêm e porque estão tão presentes em nós.
A consciência dessa presença é tão viva que nos dá a impressão de ser um estado natural e, portanto, impossível de ser desfeita. O que torna tudo isso incrível é a necessidade de liberdade de movimentos – e não falamos, apenas, de movimentos físicos, sejam eles de que ordem forem – que convivem, de alguma forma, com essa constante presença em nossas vidas: as amarras.
Apesar da dificuldade, vamos procurar compreender o significado dessa contradição que nos impede de crescer para essa amplidão psíquica que nos é de direito possuir. O sentimento de liberdade – não importam agora as diferentes conceituações que se possam dar a ele – está inserido na própria natureza humana quando da sua criação. Essa liberdade, no nosso entender, não se refere àquela em que cada um pode realizar o que deseja – e muitos apreciariam esse estado de coisas – para satisfazer seus mínimos caprichos; se buscamos isso, basta olhar ao nosso redor para entendermos que a liberdade de cada um encontra limite na liberdade do outro. O direito que exigimos de sermos livres também é o direito do outro.
Esse sentimento ao qual nos referimos é a vontade de alcançar algo acima das amarras que nos prendem ao solo. Quantas vezes, cada um de nós já não desejou, ao olhar para o espaço, projetar-se em um imenso mergulho nessa imensidão. E estamos falando do mergulho físico, literalmente. O sentimento de liberdade ainda se liga ao da sensação que precisamos experimentar. As nossas emoções precisam, ainda, de parâmetros físicos. Por essa razão, quando falamos ou pensamos em tal conceito, nos imaginamos voando ou, para aqueles que preferem, mergulhando nas profundezas do oceano, ou ainda em altas velocidades procurando chegar mais depressa a lugar algum.
É muito pouco comum o ser humano perceber, com clareza, qual a liberdade que ele experimenta e qual realmente deseja. A confusão é evidente tendo-se em conta que o mundo que nos cerca é basicamente estruturado em razão de vivências sensitivas. Necessidade do Espírito para o seu crescimento! Assim, apesar de em algumas ocasiões experimentarmos essa liberdade "física" – mesmo que por breves instantes – acabamos retornando ao solo e nos sentimos amarrados. Duas necessidades que aparentemente se contrapõem, mas absolutamente importantes para aprendermos a separá-las e vivenciá-las, cada uma no seu momento.
É importante levarmos em consideração que o processo de identificação, separação e vivência conceitual pode ser o mesmo do crescimento físico pelo qual passamos da infância à maturidade. Nossos primeiros contatos com o mundo material se iniciam através do tato e muito lentamente passamos da fase do concreto para a conceitual. Por exemplo, primeiro sentimos a mesa (sensação física, táctil) para depois entendermos que a mesma palavra significa não só aquela mesa que primeiro nos serviu de parâmetro, mas todo e qualquer objeto que tenha a mesma finalidade. Transportando para o conceito de liberdade é inevitável depararmos com tal similitude. Entretanto, enquanto não abandonarmos a idéia de girar ao redor de nós mesmos, nessa busca interminável, nenhum passo conseguiremos dar em direção ao sentimento idealizado. O máximo que poderemos alcançar é, indubitavelmente, o realizado por causa da nossa total limitação psíquica de apreender o verdadeiro significado de liberdade.
No estágio evolutivo em que o homem se encontra, e só podemos falar agora do nosso planeta, esse máximo conquistado representa, por ora, uma grande vitória. Entretanto, é imprescindível levar-se em conta que, apesar de o tempo trabalhar a nosso favor, não podemos adiar mais a decisão de nos preparar- mos para o verdadeiro mergulho. Jesus nos deixou, em passagem evangélica, a confirmação de que somos muito mais capazes do que julgamos ser, e diz claramente que poderíamos ser como ele era e realizar o que ele realizava. O Mestre conhecia a alma humana; sabia de toda a potencialidade e também de todos os seus medos.
O ser e o realizar como ele significa, no nosso ponto de vista, o movimentar-se dentro do mais profundo respeito com toda a obra divina, a começar por si próprio. Entendemos que esse respeito só se dá na medida em que conhece- mos o objeto da nossa preocupação; na medida em que reconhecemos, em todos os cantos, a obra divina. Sem essa premissa verdadeira, dificilmente seremos capazes de nos reconhecermos como tal e, portanto, de nos respei- tarmos. Mas, quando isso acontece, iniciamos a preparação para o mergulho dentro de nós mesmos. No reconhecimento do outro como parceiro – porque também criatura do mesmo Criador – e não mais como adversário na conquista do direito de ser livre, vamos desenvolver o que há de mais precioso nessa batalha pessoal: a FRATERNIDADE. Quando nos reconhecemos como iguais – detentores dos mesmos direitos – nos sentimos em condições de compreender o outro em toda a sua capacidade de, aliado a nós, ser agente modificador de tudo que nos cerca. Essa possibilidade que se abre ao Espírito em luta na busca de sua liberdade, proporciona o encontro com seu EU, com sua consciência cósmica, dando-lhe a certeza de que sua liberdade está na união das duas vertentes que se lhe apresentam, no início, como sendo contraditórias: a vertente material – vida de sensações, limitada, e a vertente espiritual – vida consciencial, não limitada.
A aparente dualidade que o ser humano vivencia é que lhe traz esse desespero e a sensação de estar preso a amarras. Essa dualidade é necessária. O que se torna dispensável é a valorização que se dá apenas a uma delas, pois somente através da experiência material pode o Espírito crescer em entendimento de suas verdadeiras potencialidades, como obra de Deus - criado para ser perfei- to, dentro de toda a relatividade possível - mas, inevitavelmente, destinado a ser foco de luz a clarear outros corações, que um dia estarão vivendo as mes- mas angústias e os mesmos medos que hoje experimentamos.

sábado, 29 de novembro de 2014

Células-tronco embrionárias para transplantes, uma bênção

O Governo Federal lançou no dia 20/04/2005 o primeiro edital que permitiu o financiamento de pesquisas com células-tronco no país. Foram liberados R$ 11 milhões dos ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia. A verba se destinou a financiar projetos de pesquisas básicas (experimentações in vitro), pré-clínicas (experimentos com animais) e clínicas (experimentos em seres humanos) que tivessem o objetivo de desenvolver procedimentos inovadores em terapia celular. Também poderiam ser pesquisadas células-tronco adultas da medula óssea e do cordão umbilical e células-tronco embrionárias, incluídas no edital por causa da lei de biossegurança.(1)
Com aprovação da Lei de Biossegurança os cientistas do Brasil estão autoriza- dos a realizar pesquisas em células-tronco embrionárias, inequivocamente, uma das mais promissores áreas da medicina na atualidade.(2) Mas, as pes- quisas com células-tronco só podem ser realizadas se elas forem obtidas através de fertilização in vitro e estiverem congeladas há mais de três anos. (3)
Para os que não conhecem o assunto, informamos que células-tronco são um tipo de célula que pode se diferenciar e constituir diferentes tecidos no organis- mo. Esta é uma capacidade especial, porque as demais células geralmente só podem fazer parte de um tecido específico (por exemplo: células da pele só podem constituir a pele). Outra capacidade especial das células-tronco é a auto-replicação, ou seja, elas podem gerar cópias idênticas de si mesmas.(4)
Por causa destas duas capacidades, as células-tronco têm sido objeto de inten- sas pesquisas hoje, pois poderiam no futuro funcionar como células substitutas em tecidos lesionados ou doentes, como nos casos de Alzheimer, Parkinson e doenças neuromusculares em geral, ou ainda no lugar de células que o organismo deixa de produzir por alguma deficiência, como no caso de diabetes. Entretanto cabe dizer que a aplicação imediata ainda está longe. (5)
Por enquanto, sobram esperanças e faltam pesquisas que, embora aceleradas, ainda estão em estágio inicial. Há preocupação do Ministério da Saúde com a euforia desmesurada do uso das células-tronco. Elas são uma promessa de cura, não um milagre como se o paciente fosse soltar a muleta e sair andando".

Para os Espíritos, os embriões que ficam armazenados(congelados) tanto podem ter ou não ter Espíritos ligados. Seja pelo fato do endividamento com humanidade, ou segundo Joanna de Angelis para fugirem de seus perseguidores e assim levados a "estagiar" nestes embriões congelados, passando por um período de dormência, período este em que estariam livres das perseguições obsessoras e em fase preparatória para um possível retorno ao orbe.(7)
Colocado o tema, uma indagação se apresenta: teriam os embriões congelados, nos quais se encontram as células-tronco embrionárias, potencial de vitalidade que não se pode transformar (para alguns destruir)? Eis a questão!
Nos últimos meses, vários religiosos e especialistas vêm se reunindo, em várias partes do Orbe para discutir esses avanços da ciência e suas controvertidas questões éticas. Alguns crêem ser um "aborto".
Ponderando-se sobre os importantes apontamentos de Joanna, não podemos desconsiderar também que os Mentores espirituais, especialistas da área, são inteligentes o suficiente para saberem que tal ou qual óvulo será ou não destinado à produção de células-tronco para fins terapêuticos, e, portanto, nenhum Espírito deverá estar ligado a ele. Ou, então, estaremos entronizando a força vigorosa da imprevisibilidade, do "acaso".
Embriões humanos congelados têm ou não Espírito ligado a ele? Como observamos acima, Joanna explicou que há casos em que pode haver e há casos que não há. A questão 356 de O Livro dos Espíritos explica que pode haver o desenvolvimento de gestação sem Espírito. André Luiz elucida o mecanismo deste processo na segunda parte do livro Evolução em Dois Mundos, considerando que o molde perispiritual é o materno dado pelo comando espiritual da mãe que deseja muito ter o filho. (8)
A propósito, na questão 136-a do "Livro dos Espíritos", se reenfatiza "(...) A vida orgânica pode animar um corpo sem alma (...)" (9), idéia essa que nos remete a refletir sobre a possibilidade de que possam existir embriões sem que Espíritos estejam a eles ligados. E, mais ainda, não se estaria cometendo um grande equívoco, a geração possível de milhares de vidas congeladas (descartáveis) à espera da morte? Vale meditar um pouco mais profundamente sobre esta questão!
É interessante trazer para a discussão o fato de que pesquisadores da Escola de Medicina de Cardiff, em Gales, anunciaram recentemente que estão produzindo embriões humanos sem usar esperma, buscando tornar menos polêmica a utilização de blastócitos (10) para a utilização de células-tronco. O método, divulgado pela revista New Scientist, utiliza apenas a proteína PLC-Zeta, encontrada no esperma, responsável pela divisão celular. Os embriões se desenvolvem sem os cromossomos masculinos e, portanto, não resultariam num processo de procriação. O uso de células-tronco retiradas de embriões humanos – geralmente descartados em clínicas de reprodução assistida – enfrenta sérias resistências em vários países. Muitos consideram esses embriões como seres vivos, pois caracterizam a vida a partir da fecundação do óvulo pelo espermatozóide. (11)
Joanna de Ângelis, sabendo da importância dessas pesquisas, ressalta: "(...) Verdadeira bênção, o transplante de órgãos concede oportunidade de prosseguimento da existência física, na condição de moratória, através da qual o Espírito continua o périplo orgânico. Afinal, a vida no corpo é meio para a plenitude - que é a vida em si mesma, estuante e real ".(12) Não podemos deixar de reconhecer que o corpo físico é a máquina divina que o Senhor nos empresta para a confecção de nossa felicidade na Terra.(13)
Não podemos permanecer na ignorância e a ciência tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinou. Kardec ensina que nos instruímos pela força das coisas. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram nas idéias pouco a pouco; germinam durante séculos; depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que deixou de estar em harmonia com as necessidades novas e com as novas aspirações.(14)
Toda tecnologia nova gera polêmicas. Dentre os argumentos dos que se opõem à técnica terapêutica com células-tronco está o temor de que se vai gerar um comércio de óvulos e embriões. A ser factível essa realidade, vamos estagnar a ciência? Para o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Eduardo Krieger, o financiamento de pesquisas com células-tronco embrioná- rias representa a confiança da sociedade nos cientistas brasileiros. "O cientista hoje tem uma enorme preocupação de que o avanço da ciência seja voltado para a sociedade. A comunidade científica amadureceu e está em condições de produzir esse conhecimento". (15)
Em verdade a busca de conhecimento é necessidade básica do homem. E quanto à fobia do mau uso das células-tronco pensamos que a Ciência aprenderá a lidar melhor com as técnicas que envolvem a clonagem, tornando-a mais simples e segura. Quanto à sua disseminação, dependerá dos programas da Espiritualidade. (16)
Para os que crêem que os cientistas estariam subvertendo a ordem divina ao manipular células-tronco embrionárias, importa recordar-lhes que transgressão à ordem da natureza são a criança subnutrida, cidades bombardeadas, atos terroristas, doentes sem tratamento, trabalhadores sem emprego. Subversão da ordem divina será sempre a forma como tratamos as pessoas, não como venham a nascer.(17) Os que hoje se opõem às pesquisas científicas em questão poderão garantir, com máxima segurança, que no futuro não se beneficiarão dessa inovadora proposta de terapia humana?

FONTES:
1- O edital para a seleção de projetos está disponível no endereço eletrônico do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
2- Censo realizado pela SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida) revela a existência de 9.914 embriões congelados nas 15 maiores clínicas de reprodução brasileiras. Desses, 3.219 estão congelados há mais de três anos, critérios essenciais para a utilização em pesquisas com células-tronco (CTs) embrionárias aprovadas pela Lei de Biossegurança.
3- Revista Veja de 3 de Março de 2005.
4- As células-tronco utilizadas nos experimentos em andamento são retiradas, basicamente: 1) da medula óssea do paciente,2) da placenta e cordão umbilical de recém nascidos e 3) de embriões humanos.
5- Lygia da Veiga Pereira, do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP).
6- Jornal O Estadão, edição de 2/03/2005.
7- Franco, Divaldo Pereira. Dias Gloriosos, Ditado pelo Espírito Joanna de Angelis. Salvador: Ed. LEAL, 1999.
8- Xavier, Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos, Ditado pelo Espírito André Luiz. 5ª Ed. 2a. parte. Rio de Janeiro, RJ: Ed FEB, 1972.
9- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 2003, perg. 136-a.
10- O blastócito é um aglomerado de 100 a 200 células.
11- Jornal O Estadão de 2 de dezembro de 2004.
12- Franco, Divaldo Pereira. Dias Gloriosos, Ditado pelo Espírito Joanna de Angelis. Salvador/Ba: Ed. LEAL, 1999, Cf. Cap. Transplantes de Órgão.
13- Xavier, Francisco Cândido. PENSAMENTO E VIDA - ditado pelo Espírito Emmanuel. 3ª Ed. Rio de Janeiro, RJ: Ed. FEB, 1972.
14- Comentário à questão 783 de O Livro dos Espíritos.
15- Jornal Correio Braziliense, edição de 21 de abril de 2005.
16- Do livro: Reencarnação: Tudo o que você precisa Saber ed.CEAC Bauru/SP.
17- Simonetti, Richard. Reencarnação: Tudo o que você precisa Saber, Bauru/SP ed.CEAC, 2003.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A convivência conjugal

Narra o evangelista João que uma das primeiras manifestações públicas de Jesus, revelando os seus poderes espirituais, ocorreu nas bodas de Caná, onde também estava presente a sua mãe. Consagrava, assim, o Mestre o valor e a importância do casamento e da constituição da família.
Também a Doutrina Espírita ressalta o valor e a necessidade para o próprio desenvolvimento do ser humano, não só em seu aspecto material, como, também, no espiritual o encontro do homem e da mulher no casamento.
Encontramos em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, o esclarecimento de que: "o casamento é um progresso na marcha da humanidade" e que "a abolição do casamento seria uma regressão à vida dos animais", conforme questões números 695 e 696.
A constituição da família começa, basicamente, com a formação do casal: marido e mulher.
A solidez e a continuidade do casamento dependem da convivência conjugal harmoniosa fundamentada na autenticidade, na honestidade e na compreensão de cada componente do par das suas possibilidades e limitações.
Ao longo dos séculos e dos milênios preponderou a posição do homem no comando da mulher e mesmo dos filhos.
Essa fase está marcada pelo predomínio da força física do homem, da mulher na função de procriadora e criadora, a sua dependência econômica do homem e usos e costumes que cerceavam a sua liberdade.
Porém, no processo contínuo da evolução do ser humano e da sociedade, o domínio do mundo exterior não depende mais da força física, a mulher teve reconhecidos muitos dos seus direitos (ainda que recentemente ) e ela tem possibilidade de não ser mais dependente economicamente do marido e ter exercício de sua cidadania, bem como os usos e costumes da sociedade mudaram muito, nos últimos cem anos.
O ambiente do lar mudou muito. Onde imperava o domínio do marido e a submissão da mulher, hoje deve existir a vivência democrática, quando direitos e deveres devem ser respeitados reciprocamente. No entanto, o homem ainda traz fortes traços culturais do "machismo" que, por incrível que pareça, começam a lhe ser inculcados pela própria mãe (o que acontece ainda hoje).
Desta forma, os conflitos entre os casais têm sido intensos, desgastantes e avassaladores para ambos e com terríveis conseqüências para os filhos.
O Mestre Jesus recomendou que "amássemos o próximo como a nós mesmos", e o próximo mais próximo de nós é a esposa ou o marido. Então o amor entre ambos é fundamental para a harmonia do lar; no entanto, temos que considerar que a palavra "amor" é muito ampla e não especifica como deve ser exercitado em cada situação em que a palavra é usada.
O sentimento do amor deve ser expresso de forma concreta em cada relacionamento humano e para exercê-lo é preciso atentar, muitas vezes, para coisas que parecem insignificantes, mas sem elas ele não será exercitado.
Assim, não só a religião indica-nos a excelência do amor, como também a Psicologia oferece-nos "dicas" para vivenciá-lo no dia-a-dia.
Quando surge um problema, para saber se estamos sabendo enfrentá-lo, se estamos "num beco sem saída" ou se é apenas uma questão transitória, os psicólogos propõem algumas pistas:
1. Se o conflito faz o marido ou a mulher ser rejeitado pelo outro.
2. Os dois falam sobre o problema, mas não atingem a solução.
3. Cada uma das partes ou mesmo uma só assume posição radical e não aceita ceder.
4. Quando falam sobre o problema, não alcançam a solução e permanecem frustrados e magoados.
5. Seus diálogos, e principalmente quando tratam do assunto, não revelam interesse de solução, nem de afetividade, menos, ainda, de bom humor.
6. No decorrer do tempo o casal se torna mais radical, passando a se ofender reciprocamente durante o diálogo.
7. A ofensa torna o clima entre os dois mais tenso, as posições mais arraigadas e conflitantes e cada vez mais difícil a conciliação e o entendimento.
8. No decorrer da crise, um se separa emocional e sentimentalmente do outro.
Sem dúvida é muito doloroso ver ou passar por tal situação, porém os psicólogos esclarecem que nem tudo está perdido. É possível superar as farpas e os obstáculos.
O bom caminho começa por um dividir com o outro os seus sonhos e anseios. A interminada e não saudável discussão sinaliza diferenças profundas entre o par, que necessita ser estudada e compreendida.
Algumas providências podem ser úteis:
1. Aprender a ouvir o parceiro.
2. Ao tratar com o parceiro sobre um problema é preciso moderação e inicialmente procurar controlar-se emocionalmente.
3. Embora mostrando o erro, revelar-se mais tolerante e compreensivo com o outro.
4. Aceitar, quando for o caso, a necessidade de reparação do erro ou da falha cometida, sendo consciente de que nenhum ser humano é perfeito e está a salvo de cometer erros.
5. Observar que seu parceiro quando discute é mais apaziguador do que você pensa, desde que você saiba o que e como escutar.
A Doutrina Espírita esclarece-nos que o homem e a mulher são Espíritos eternos que estão em um processo permanente de evolução. Nesse processo, às vezes, a convivência é difícil, mas é natural que assim seja, pois cada pessoa é diferente, tem pontos de vista diferente, sente e pensa diferente.
O importante é que, na diversidade, saibamos encontrar os pontos de diferença, e tanto quanto possível eles se constituam em pontos de encontro e de enriquecimento mental, intelectual, sentimental e espiritual de um para com o outro.
Vale lembrar, outrossim, que a formação e vivência espiritual é muito importante para essa harmonização do casal. Não basta ter religião, é preciso "ter religiosidade".
A oração e o estudo do Evangelho no lar constituem importante instrumento de entendimento e pacificação para o casal. Então estaremos tentando amar a nossa esposa ou o nosso marido, na realização do que ensinou Jesus: "Amai-vos uns aos outros".

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Chamamento ao trabalho

Manuel Marciano não sabia mais o que fazer. Sua companheira caíra em processo de obstinada obsessão. Havia tentado de tudo: tudo o que a medicina, de então, e suas poucas posses lhe poderiam proporcionar. Nada dera resultado! O quadro se agravara a tal ponto que ele, filhos e amigos mais chegados já estavam à beira do desespero!
– Não é possível que Deus – pensava ele – possa deixar que uma mãe de família, boa, trabalhadora, honesta, de repente, se transforme numa caricatura de mulher, sem cor, sem vida, incapaz de reagir à perturbação que fazia o sofrimento de todos!
Foi quando um colega de trabalho, a quem ele respeitava muito, aconselhou-o com convicção: – Procure Dona Anita!
Dona Anita era uma jovem senhora espírita que exercia sua atividade mediúnica na cidade de Astolfo Dutra, Minas Gerais. Desenvolvera vidência, audição, incorporação, desdobramento. Psicografava, às vezes, quando necessário. Com o tempo desabrochou nela o dom de curar, tarefa em que ela usava sempre e unicamente preces, passes e água fluidificada. Vivia para a doutrina e para os sofredores que diariamente batiam à sua porta. Disponível, a qualquer hora do dia ou da noite! Tinha tempo. Deus lhe dera apenas onze filhos para criar e encaminhar. Onze filhos só, porque o décimo segundo não chegou a nascer; voltou com ela, quando já estava no oitavo mês de gestação!
Manuel Marciano ainda não a conhecia. Mudara para Astolfo Dutra havia pouco tempo. Dela já ouvira falar algumas vezes, mas não a conhecia pessoalmente. Aceitou o conselho do amigo e foi procurá-la naquele mesmo dia. Do serviço, findo o trabalho, foi direto à casa daquela senhora à busca de socorro.
Dona Anita ouviu-o com a mesma atenção com que atendia a todos. Fechou os olhos, orou, silenciosamente, e lhe disse com carinho:
– Senhor Manuel, o sofrimento de sua mulher é a forma que a Providência Divina está utilizando para despertá-lo para o trabalho com Jesus! É compromisso seu assumido antes de nascer. O senhor mesmo poderá curá-la! E fará isso, facilmente, a partir do momento em que se dispuser a resgatar o compromisso assumido!
Entregou-lhe um vidro pequeno com água fluidificada que a esposa deveria tomar e convidou-o a freqüentar as reuniões de estudo na Cabana Espírita Abel Gomes.
Pouco tempo depois, com a mulher completamente restabelecida, Manuel Marciano passava a integrar a equipe de trabalho daquela prestigiosa casa de oração.
Durante muitos anos, todos os dias, após o serviço, víamos o Sr. Manuel percorrer as ruas da cidade socorrendo com passes a domicílio diversos companheiros necessitados que pediam sua ajuda.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Processo educativo da reencarnação

A reencarnação não seria parte do processo educativo do Espírito imortal se ela, como Lei Divina, não objetivasse o aprimoramento espiritual.
Quando cursamos a escola, em seus diferentes graus, precisamos receber as informações teóricas, mas, também, os exercícios práticos que nos consolidem o conhecimento adquirido.
Na escola do renascimento receberemos as lições das dificuldades e lutas, dores e tentações. Nas amplas lições da vida encontraremos afeições que o rastro do tempo consolidou e nos aquecem o coração; todavia, pelo mesmo processo, rentearão conosco, no ambiente da família ou nos círculos de trabalho, antigos desafetos impondo-nos a dificuldade da convivência e do relacionamento tranqüilo, manifestando-se a aversão oculta ou ostensiva.
Às vezes desfrutaremos a tranqüilidade do clima social, não obstante enfrentemos os tensos conflitos dentro do lar, pois a Lei da Reencarnação impor-nos-á sempre a necessidade do reajuste com aqueles que nos desarmonizamos no passado mais distante.
Descortinando o entendimento da reencarnação, devidamente associada, à Lei de Ação e Reação, compreenderemos que quem nos fere, de maneira contundente, são aqueles mesmos que colocamos as pedras nas mãos, ensinando-os a atirarem-nas no próximo. Quem, na atualidade, usa a palavra para nos ferir, caluniar, magoar, podem ser os que adestramos no uso impensado e negativo da palavra e que fariam coro com as nossas condenações injustas.
Hoje, convivemos com almas generosas que nos apóiam, nos estimulam e nos ensinam, agasalhando-nos a alma no seu clima amoroso, todavia recebemos, ainda, as farpas cruéis que arremessamos, no passado, chegando-nos, na atualidade, por pessoas que foram as nossas vítimas.
Lançando o olhar de entendimento sobre o caminho da vida eterna, desejemos compreender para amar.
Nesse sentido, amar não será a atitude passiva da aceitação ingênua de tudo que nos circunvolve, inclusive no confronto com quem nos desajustamos, no passado.
Esse sentimento de amor deverá trazer implícita a necessidade do entendimento dos atos justos e injustos que nós praticamos, bem como os perpetrados pelos nossos desafetos.
Impõe-nos a auto-educação dos sentimentos e emoções e, também, a obrigação de ajudarmos com clareza, realidade e justiça os nossos agressores, a fim de reajustem seus comportamentos, pois o mal não é bom para ninguém.
Se o nosso próximo não nos compreende, vamos saber, dentro do possível, porque ele age dessa maneira; se ele tiver razão corrijamo-nos, senão tiver esforcemo-nos para esclarecê-lo em seus equívocos.
No processo educativo da reencarnação, ao nos defrontarmos com problemas cujas causas estão enraizadas no passado distante ou no tempo mais próximo, foquemos a resposta justa, exercitando a compreensão correta e a ação adequada à solução pretendida.
Essa é a vivência do amor, orientando-nos na longa caminhada para a perfeição que, como filhos de Deus, somos susceptíveis.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A paz inquieta

Estes dias, pediram-me que falasse sobre a paz. Lembrei-me de Gandhi, tratado na escola como o símbolo-mor da luta contra as desigualdades, a injustiça e a violência. E do seu lema a "não-violência", a insubordinação "passiva", que de passiva não tinha nada, pois minou a resistência de seus opositores, apenas com diálogo e posicionamento.
Recordei-me, também, de Francisco de Assis, retratado por catequistas (já que fui católico até os onze anos de idade) e, depois, por expositores espíritas, e que, igualmente, representou a paz em outro dado momento histórico, justamente porque pregava a ação compreensiva, de perdão às ofensas, de amor incondicional, propugnando primeiro agir, depois aguardar pela reação de outrem e, mesmo que esta não fosse bem-intencionada e produtiva, entendia o agir do semelhante como condição de seu próprio estado evolutivo, que não permitia outra "resposta". Mas, o que mais me encantou, neste contexto, foi lembrar uma definição de José Fernandes de Oliveira (o Padre Zezinho) das canções e das poesias, o trovador de Maria, que dizia: É preciso ter paz inquieta!
Fiquei, então, a imaginar a profundidade e a extensão desse preceito, porque, a princípio, paz tem a ver com serenidade, tranqüilidade, normalidade. E a inquietude, do contrário, remete-nos à idéia do transitório, do revolucionário, da luta contra aquilo que julgamos estar descompassado, impróprio e injusto. Penso, em verdade, que Zezinho infundia-nos a coragem para a luta, não significando, com isso, que ela teria de alçar mão de armas violentas, agressivas e destruidoras. O potencial da "paz inquieta" estaria na revolução íntima, um certo inconformismo com o "estado posto", a realidade que nos assusta, e com a qual, evidentemente, não compactuamos.
Existem, pois, armas e "armas". Há momentos de ataque e defesa, de tentativa e de recuo, nos mais diversificados setores de nossa vida, e nos mais distintos cenários em que estejamos atuando. Recordando das variadas situações de nossa existência (algumas mais próximas, outras bem mais remotas) podemos perceber, com certa isenção e, até, franqueza na análise, quando foi-nos possível "lutar" por nossos ideais, fazendo com que outros percebessem nossa opinião, quando, definitivamente, pudemos influenciar nas mudanças, e, outras, em que não estávamos "com a verdade" e, por questões de sobrevivência (das relações de convivência, de conquistas anteriores, de empregos, etc.), tivemos que "dar o braço a torcer", aceitando decisões democráticas ou a voz de quem, naquele momento, teve mais força.
Penso, outrossim, que a paz inquieta deve mover o homem de bem em todas as circunstâncias da vida, sobretudo aquelas em que, ao perceber a fuga aos objetivos reais, a injustiça, a maldade e os vícios de comportamento humano, seja-nos possível lutar, com as armas que dispomos, para alterar o "status quo" vigente. Assim, qualquer indivíduo, no âmbito de suas capacidades, habilidades e especialidades, deve agir construtivamente no cenário social, demonstrando seu inconformismo com tudo o que lhe parecer indevido, desleal e antifraterno, num trabalho que, no somatório, possa representar, mais à frente, a melhoria das condições (psicológico-espirituais) do habitat terreno.
A inquietude pacífica de Zezinho, creia-me, é contagiante. Ela te pega de surpresa, num final de dia, num intervalo de almoço, durante as "viagens" mentais que todos temos, sem hora marcada... Ela nos aponta "o que" está errado (seja em nós, seja no ambiente exterior), nos impulsionando, a princípio, à mudança. Já ouvi dizer que "a primeira intenção é boa, é impulsionadora", seria como a voz de nossa consciência verdadeira, ou o sussurro daqueles amigos (invisíveis) que nos tutelam e nos auxiliam. Nem sempre ficamos com a "primeira" intuição e, por isso, muitas vezes, a paz inquieta se aquieta tanto que esquecemos ou desistimos de agir. Mas isto já é assunto para outra conversa... Por hora, que possamos evitar que a paz inquieta esmoreça. Vamos lá?

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Mediunidade natural... íssima

José Stipp voltara de Piracicaba querendo curar todo mundo! Retornara mais espírita do que eu! Com uma fé capaz de transportar montanhas! Um dia desses lhe conto quem é esse José Stipp.
Havia em Garça. interior do Estado de São Paulo, um rapazinho completamente perturbado que andava perdido pelas ruas. Era um tipo popular; todos gostavam muito dele. Conhecido pelo apelido de Mazarope, por causa de sua semelhança com o humorista famoso.
Recolhemo-lo em nossa casa, demos-lhe banho, casa e comida. E o Zé queria dar-lhe também a cura! Queria porque queria que fizéssemos uma sessão em benefício dele.
- Fazer sessão, sem médium, Zé? – indagava eu.
Ele dizia que conhecera duas senhoras, médiuns: Dona Maria, cozinheira da pensão onde almoçávamos e uma sua (dela) vizinha. Dona Alzira. Que ele até já havia conversado com elas. Insistiu tanto que eu não pude negar.
Uma sexta-feira, à noite, em torno de uma mesa improvisada, em nossa casa de morada, lá estávamos nós, os quatro, para a sonhada reunião: Dona Maria, a cozinheira, Dona Alzira, a vizinha, o Zé Stipp e eu!
Li uma página de O Evangelho segundo o Espiritismo e, quando ia fazer a prece inicial, eis que batem fortemente à porta! Era meu futuro cunhado Walter que acabava de chegar de Lucélia, onde trabalhava como vendedor nas Lojas Brasileiras, e que viera passar o fim de semana conosco.
Não podia haver situação mais embaraçosa. O Walter era - era não - é desses rapazes que nada leva a sério; não acreditava em nada; fazia chacota de tudo! O tipo perfeito do cidadão que não pode participar de qualquer trabalho daquela natureza. Disse-lhe o que estávamos pretendendo fazer exatamente no momento em que ele chegou, e pedi-lhe que desse umas voltas pela cidade e só voltasse uma hora depois.
Aí ele pediu pra ficar. Implorou que o deixássemos participar da reunião; que ele tinha certeza que poderia ajudar.
Deixamos. Feita a prece, uma coisa extraordinária aconteceu. Nunca vira nada igual. Walter entrou em transe e começou a receber espíritos. Um atrás do outro. Passividade absoluta. Segurança plena em todas as comunicações! Foi o único "médium" a trabalhar nessa noite. A reunião fora um sucesso!
Ao final, abobado, sem saber nada do que tinha acontecido na sessão, tivemos que socorrê-lo com passes e água fluidificada para desintoxicá-lo dos fluidos que o faziam tremer como vara verde!

domingo, 23 de novembro de 2014

Transplantes na concepção espírita

Nas práticas médicas de todas as especialidades , o transplante de órgãos é a que demonstra com maior clareza a estreita relação entre a morte e a nova vida, o renascimento das cinzas como Fênix: o mitológico pássaro símbolo da renovação do tempo e da vida após a morte.(1)
A temática "doação de órgãos e transplantes" é bastante coetâneo no cenário terreno. Sobre o assunto as informações instrutivas dos Benfeitores Espirituais não são abundantes. O projeto genoma, as investigações sobre células-tronco embrionárias e outras sinalizam o alcance da ciência humana. Os transplantes , em épocas recuadas repletas de casos de rejeição, tornaram-se práticas hodiernas de recomposição orgânica. O esmero "in-vivo" de experiências visando regeneração de células e a perspectiva de melhoria de vida caminham adiante , em que pese às pesquisas ensaiarem, ainda, as iniciantes marchas. Isso torna auspiciosa a expectativa da ciência contemporânea. Contudo, o receio do desconhecido paira no imaginário de muitos.
Alguns espíritas recusam-se a autorizar, em vida, a doação de seus próprios órgãos após o desencarne, alegando que Chico Xavier não era favorável aos transplantes. Isso não é verdade! Mister esclarecer que Chico Xavier quando afirmou "a minha mediunidade, a minha vida, dediquei à minha família, aos meus amigos,ao povo. A minha morte é minha. Eu tenho este direito. Ninguém pode mexer em meu corpo; ele deve ir para a mãe Terra", fê-lo porque quando ainda encarnado Chico recebeu várias propostas [inoportunas] para que seu cérebro fosse estudado após sua desencarnação. Daí o compreensível receio de que seu corpo fosse profanado nesse sentido.
Não podemos esquecer que se hoje somos potenciais doadores, amanhã, poderemos ser ou nossos familiares e amigos potenciais receptores. "Para a maioria das pessoas, a questão da doação é tão remota e distante quanto à morte. Mas para quem está esperando um órgão para transplante, ela significa a única possibilidade de vida!"(2) Joanna de Angelis sabendo dessa importância ressalta "(...) Verdadeira bênção, o transplante de órgãos concede oportunidade de prosseguimento da existência física, na condição de moratória, através da qual o Espírito continua o périplo orgânico. Afinal, a vida no corpo é meio para a plenitude - que é a vida em si mesma, estuante e real" (3)
Em entrevista à TV Tupi em agosto de 1964, Francisco Cândido Xavier comenta que o transplante de órgãos, na opinião dos Espíritos sábios, é um problema da ciência muito legítimo, muito natural e deve ser levado adiante. Os Espíritos, segundo Chico Xavier, não acreditam que o transplante de órgãos seja contrário às leis naturais. Pois é muito natural que, ao nos desvencilharmos do corpo físico, venhamos a doar os órgãos prestantes a companheiros necessitados deles, que possam utilizá-los com proveito. (4)
A doação de órgãos para transplantes é perfeitamente legítima. Divaldo Franco certifica: se a misericórdia divina nos confere uma organização física sadia, é justo e válido, depois de nos havermos utilizado desse patrimônio, oferecê-lo, graças as conquistas valiosas da ciência e da tecnologia, aos que vieram em carência a fim de continuarem a jornada(5)
Não há, também, reflexos traumatizantes ou inibidores no corpo espiritual, em contrapartida à mutilação do corpo físico. O doador de olhos não retornará cego ao Além. Se assim fosse, que seria daqueles que têm o corpo consumido pelo fogo ou desintegrado numa explosão?(6)
Quando se pode precisar que uma pessoa esteja realmente morta? conforme a American Society of Neuroradiology morte encefálica é o estado irreversível de cessação de todo o encéfalo e funções neurais, resultante de edema e maciça destruição dos tecidos encefálicos apesar da atividade cardiopulmonar poder ser mantida por avançados sistemas de suporte vital e mecanismo e ventilação".(7)
A grande celeuma do assunto é a morte encefálica, na vigência da qual órgãos ou partes do corpo humano são removidos para utilização imediata em enfermos deles necessitados. Estar em morte encefálica é estar em uma condição de parada definitiva e irreversível do encéfalo, incompatível com a vida e da qual ninguém jamais se recupera.(8)  Havendo morte cerebral, verificada por exames convencionais e também apoiada em recursos de moderna tecnologia, apenas aparelhos podem manter a vida vegetativa, por vezes por tempo indeterminado. É nesse estado que se verifica a possibilidade do doador de órgãos "morrer" e só então seus órgãos podem ser aproveitados - já que órgãos sem irrigação sangüínea não servem para transplantes. Seria a eutanásia? Evidentemente que caracterizar o fato como tal carece de argumentação científica (...) para condenarem o transplante de órgãos: a eutanásia de modo algum se encaixaria nesses casos de morte encefálica comprovada.(8)
A medicina, no mundo todo, tem como certeza que a morte encefálica, que inclui a morte do tronco cerebral(10), só terá constatação através de dois exames neurológicos, com intervalo de seis horas, e um complementar. Assim, quando for constatada cessação irreversível da função neural, esse paciente estará morto, para a unanimidade da literatura médica.
Questão que também amiudemente é levantada é a rejeição do organismo após a cirurgia. Chico Xavier nos vem ao auxílio, explicando: André Luiz considera a rejeição como um problema claramente compreensível, pois o órgão do corpo espiritual está presente no receptor. O órgão perispiritual provoca os elementos da defensiva do corpo, que os recursos imunológicos em futuro próximo, naturalmente, vão suster ou coibir.(11) Especialistas, a partir de 1967, desenvolveram várias drogas imunossupressoras (ciclosporina, azatiaprina e corticóides), para reduzir a possibilidade de rejeição, passando então os receptores de órgãos a terem uma maior sobrevida.(12) Estatisticamente, o que há é que a taxa de prolongamento de vida dos transplantes é extremamente elevada. Isso graças não só às técnicas médicas, sempre se aperfeiçoando, mas também pelos esquemas imunossupressores que se desenvolveram e se ampliaram consideravelmente, existindo atualmente esquemas que levam a zero por cento (0%) a rejeição celular aguda na fase inicial do transplante, que é quando ocorrem.(13)
André Luiz explica que quando a célula é retirada da sua estrutura formadora, no corpo humano, indo laboratorialmente para outro ambiente energético, ela perde o comando mental que a orientava e passa, dessa forma, a individualizar-se; ao ser implantada em outro organismo [por transplante, por exemplo], tenderá a adaptar-se ao novo comando [espiritual] que a revitalizará e a seguir coordenará sua trajetória.(14) Condição essa corroborada por Joanna de Angelis quando expõe: (...) transferido o órgão para outro corpo, automaticamente o perispírito do encarnado passa a influenciá-lo, moldando-o às suas necessidades, o que exigirá do paciente beneficiado a urgente transformação moral para melhor, a fim de que o seu mapa de provações seja também modificado pela sua renovação interior, gerando novas causas desencadeadoras para a felicidade que busca e talvez ainda não mereça.(15)
Os Espíritos afirmaram a Kardec que o desligamento do corpo físico é um processo altamente especializado e que pode demorar minutos, horas, dias, meses.(16) Embora com a morte física não haja mais qualquer vitalidade no corpo, ainda assim há casos em que o Espírito, cuja vida foi toda material, sensual, fica jungido aos despojos, pela afinidade dada por ele à matéria. (17) Todavia, recordemos de situação que ocorre todos os dias nas grandes cidades: a prática da necropsia, exigida por força da Lei, nos casos de morte violenta ou sem causa determinada: abre-se o cadáver, da região esternal até o baixo ventre, expondo-se-lhe as vísceras toracoabdominais.(18) Não se pode perder de vista a questão do mérito individual. Estaria o destino dos Espíritos desencarnados à mercê da decisão dos homens em retirar-lhes os órgãos para transplante, em cremar-lhes o corpo ou em retalhar-lhes as vísceras por ocasião da necropsia?! O bom senso e a razão gritam que isso não é possível, porquanto seria admitir a justiça do acaso e o acaso não existe!(19)
Em síntese, a doação de órgãos para transplantes não afetará o espírito do doador, exceto se acreditarmos ser injusta a Lei de Deus e estarmos no Orbe à deriva da Sua Vontade. Lembremos que nos Estatutos do Pai não há espaço para a injustiça e o transplante de órgãos (façanha da ciência humana) é valiosa oportunidade dentre tantas outras colocadas à nossa disposição para o exercício da amor.
FONTES:

1- Mário Abbud Filho Ex-Presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos. Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São José do Rio Preto.Membro da American Society Transplant Physician. Membro da International Transplantation Society, disponível acesso em 12/04/2005
2- In Doação de Órgãos e Transplantes de Wlademir Lisso / Cleusa M. Cardoso de Paiva, disponível acesso em 15/04/2004
3- Franco, Divaldo Pereira. Dias Gloriosos, Ditado pelo Espírito Joanna de Angelis. Salvador/Ba: Ed. LEAL, 1999, Cf. Cap. Transplantes de Órgãos
4- Publicada na Revista Espírita Allan Kardec, ano X, n°38
5- Franco, Divaldo Pereira. Seara de Luz, Salvador: Editora LEAL [o livro apresenta uma série de entrevistas ocorridas com Divaldo entre 1971 e 1990.]-
6- Simonetti, Richard. Quem tem medo da morte? - São Paulo /SP: Editora Lumini ,2001
7- In: "Dos transplantes de Órgãos à Clonagem", de Rita Maria P.Santos, Ed. Forense, Rio/RJ, 2000, p. 41
8- Bezerra, Evandro Noleto. Transplante de Órgãos na Visão Espírita, publicado na Revista Reformador- outubro/1998
9- Idem
10- O tronco cerebral, e não o coração, é reconhecido como o organizador e "comandante" de todos os processos vitais. Nele está alojada a capacidade neural para a respiração e batimentos cardíacos espontâneos; sem tronco ninguém respira por si só.
11- Cf. Revista Espírita, Allan Kardec, ano X, n°38
12- Folha de S.Paulo, A3, "Opinião", 15.Maio.2001
13- Entrevista com o Prof. Dr. Flávio Jota de Paula Médico da Unidade de Transplante Renal do HC/FMUSP. 1º Secretário da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Diretor da I Mini Maratona de Transplantados de Órgãos do Brasil. Publicado em Prática Hospitalar ano IV n º 24 nov-dez/2002
14- Xavier, Francisco Cândido. Evolução em dois Mundos - Ditado pelo Espírito André Luiz. 5ª Ed. Rio de Janeiro, RJ: Ed FEB, 1972, cap. "Células e Corpo Espiritual"
15- Franco, Divaldo Pereira. Dias Gloriosos, Ditado pelo Espírito Joana de Angelis. Salvador: Ed. LEAL, 1999
16- Kardec, Allan,. O Livros dos Espíritos, RJ: Ed FEB/2003, questão n° 155, Cap. XI.
17- Kühl Eurípedes DOAÇÃO DE ÓRGÃOS TRANSPLANTES Entrevista Virtual disponível acesso em 24/04/2005
18- Cf. Bezerra, Evandro Noleto. Transplante de Órgãos na Visão Espírita, publicado na Revista Reformador- outubro/1998
19- Bezerra, Evandro Noleto. Transplante de Órgãos na Visão Espírita, publicado na Revista Reformador- outubro/1998  

sábado, 22 de novembro de 2014

Convite ao bem e às reformas

"Faz-se mister que o mal chegue ao excesso, para tornar compreensível a necessidade do bem e das reformas."
Allan Kardec (em O Livro dos Espíritos, questão 784.)
Muitas pessoas se assombram e se preocupam com os níveis a que chegou a violência e a criminalidade em nossos dias. Mesmo nos ambientes espíritas, há um certo ceticismo no ar quando o assunto é a depuração planetária e o alcance do estágio evolutivo planetário cognominado como regenerativo.

Afinal, nunca se viu tanta incompreensão, ódio, egoísmo e prepotência quanto no cenário atual, levando alguns a afirmarem que o futuro do planeta se encontra ao alcance de um dedo – numa alusão ao fato de que, com tantas armas nucleares disponíveis, o primeiro dirigente mundial que ordenar a detonação de uma bomba irá desencadear uma hecatombe (grande catástrofe, genocídio) de proporções mundiais, podendo dizimar a Humanidade inteira.
Esta circunstância, enquanto perspectiva hipotética, com fundamento de validade e probabilidade de ocorrência, realmente, dá o que pensar. Primeiro, porque coloca o ser humano – espírito encarnado – como refém de si mesmo, haja vista que a produção e estocagem de armas bélicas – cuja justificação ordinária é a da proteção e segurança – significa, sempre, a iminência de sua utilização, sob motivações distintas. Ainda há pouco recordamos da ofensiva norte-americana, respaldada por outras nações influentes e poderosas, mesmo combatida (mas não rechaçada) pelas Nações Unidas (ONU), contra o Iraque, por motivos que apregoavam a existência de perigoso arsenal de armas químicas, em esconderijos e reservatórios pertencentes ao governo árabe. É sabido que, com a invasão e tomada do poder pelas forças estrangeiras naquele país, a diagnose final foi a da inexistência de potencial ofensivo.
Por isso, ainda que vibremos em sentido contrário, é possível que os homens que respondem pelas nações no contexto mundial, em dadas situações, tal qual se verificou no Século XX, com as duas Guerras Mundiais, se utilizem do poderio bélico-armamentista para atingir seus objetivos funestos e, com isso, comprometam o presente e o futuro do planeta, proporcionalmente aos meios escolhidos para tal mister. Ou seja, é imperioso considerar a hipótese de destruição (parcial ou total) da ambiência terrena, não por causas naturais, mas humano-artificiais.
Muitos espíritas, inclusive, em exposições doutrinárias ou artigos exalam certo ufanismo quando perpassam a questão da destruição planetária em conseqüência de uma nova guerra (com armas químicas ou nucleares), afirmando que o Plano Espiritual (ou, em última análise, Deus) não permitiria que tal ocorresse, uma vez que não faria sentido que fosse franqueada, ao livre-arbítrio humano, a deterioração completa da "Sua" obra.
Temos afirmado, ao contrário, tanto em artigos ou palestras acerca da belicosidade humana, quanto em sede de preocupação com a preservação ambiental, que as Leis Divinas, universais, perfeitas e imutáveis, estendem sua aplicabilidade a todas as circunstâncias, por meio de uma absoluta eautomática instrumentalização, não necessitando de qualquer "supervisionamento" ou controle dos Espíritos Superiores, na sua execução. Em outros termos, o mecanismo de aplicação das leis universais (ação e reação, causa e efeito), conforme a dicção do Jovem de Nazaré, em sua oportuna leitura, dá "a cada um segundo suas obras", e, portanto, devolve incondicionalmente ao(s) homem(ns) a competência de gestão de sua(s) vida(s), consoante os ditames e os contornos da lei.
Assim, se optamos por "usar" o planeta sem cuidado ou parcimônia, acreditando serem eternos e inextinguíveis os recursos naturais (que aprendi, em escola fundamental, serem, em sua maioria, não-renováveis), ou, se decidir, a qualquer momento, envolver-se em contendas (locais ou planetárias) com seus desafetos ou oponentes, por meio de estratégias e instrumentos materiais, poderosíssimos por sinal, na atualidade, o homem (e/ou a Humanidade) ficará sujeito ao extermínio, à dizimação e à destruição completa. Nenhum Espírito Elevado poderá, utilizando-se de "dons ou poderes espirituais" interromper ou bloquear a ação (voluntária e deliberada) do homem, já que, isto, se fosse possível, constituiria a própria negação (absoluta) da liberdade de ação espiritual, importando em desrespeito à ordem natural das coisas, o próprio curso evolutivo e suas decorrências.
Vê-se, outrossim, que a aparente pouca iluminação espiritual dos indivíduos (alguns, até, líderes políticos mundiais) ou dos povos se contrapõe aos esforços pessoais e institucionais daqueles que, por exemplo, defendem, pregam e atuam na prática em projetos de desarmamento, conscientização ecológica, pacifismo e preservação ou recuperação ambiental.
Muitos destes, inclusive, aproveitam a oportunidade reencarnatória para a aplicação de seus conhecimentos (inteligência e moralidade) a serviço da Humanidade, em provas ou expiações relevantes e meritórias, procurando, a seu turno, evitar que as "escolhas" humanas possam desembocar nos quadros antes apresentados.
Por fim, a posição de Kardec soa oportuna e real, sobretudo em nossos dias, de visível "tempestade", com tanta iniqüidade, desamor e brutalidade, como um legítimo convite às almas pacificadoras e bondosas para que, juntas e atualmente, se conscientizem quanto à "necessidade do bem e das reformas".

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Doenças: causas e profilaxia

"Na raiz de qualquer enfermidade encontra-se a distonia
do Espírito, que deixa de irradiar vibrações harmônicas,
rítmicas, para descarregá-las com baixo teor..
."
- Joanna de Ângelis
Há que se conhecer os mecanismos do equilíbrio da Vida a fim de evitar-se as situações que possam levar à desarmonia no meio ambiente em que vivemos, provocando as grandes quedas nas distonias geradoras de males sem conto...
Trabalho, meditação, vigilância e oração são termos da equação da harmonia.
Emmanuel enumera algumas situações nas quais, imprevidentemente, resvalamos, caindo no domínio da perturbação e da sombra. São elas:
"Cabeça desocupada; mãos improdutivas; palavra irreverente; conversa inútil; queixa constante; opinião desrespeitosa; tempo indisciplinado; atitude insincera; observação pessimista; gesto impaciente; conduta agressiva; comportamento descaridoso; apego demasiado; decisão facciosa, comodismo exagerado; afeição intemperante..."
No mesmo patamar dos estudos costumeiramente realizados por André Luiz e Manoel P. de Miranda, respectivamente através das mediunidades de Francisco C. Xavier e Divaldo Franco, vem agora Joanna de Ângelis por intermédio deste afirmar:
"A Vida orgânica é resultado da harmonia vibratória do ser que equilibra as células nos campos onde se aglutinam, dando forma aos órgãos e estas ao corpo físico, com suas complexidades, através das quais exterioriza o psiquismo.
Um erro de comunicação entre a consciência e o corpo favorece a desorganização molecular, propiciando a instalação de doenças.
Em razão da causalidade física, moral ou emocional, o distúrbio surgirá nos equipamentos correspondentes, daí decorrendo os fenômenos perturbadores.
A energia vitalizadora que o Espírito irradia, preservando a harmonia psicofísica, resulta dos pensamentos e atos a que o mesmo se afervora.
A enfermidade de qualquer natureza é uma guerra que se apresenta nas paisagens do ser. Encontrando dissonantes os campos vibratórios que constituem os equipamentos da maquinaria humana, instalam-se as colônias microbianas perniciosas, que passam a predominar no organismo. Os macrófagos, encarregados de defender as outras células, face à deficiência energética deixam-se destruir e perdem a força que os vitaliza, cedendo espaço aos invasores maléficos.
(...) Na mesma ordem estão os conflitos, os transtornos psicológicos, os distúrbios fóbicos e outros da área psiquiátrica. Mesmo quando a sua psicogênese se encontra na hereditariedade, nos fatores estressantes, nos sócio-econômicos, nos psicossociais e emocionais, as causas reais se originam do ser espiritual, que é sempre o agente de todos os acontecimentos que dizem respeito ao ser humano.
Esse feixe de energia pensante, que é o Espírito, age, e, ao fazê-lo, preserva a capacidade que lhe é peculiar ou perturba-a de acordo com o direcionamento das suas manifestações.
Exteriorizada a ação, mental ou física, ondas de energia carregadas de força viajam no rumo que objetiva, e, conforme a sua qualidade - positiva ou negativa - potencializa ou desconectam os núcleos do corpo intermediário - perispírito - resultando em capacidade de saúde ou receptividade a doenças.
Para o tentame do reequilíbrio e bem-estar, a interiorizarão do ser e o pensamento carregado de amor constituem os valores que reparam as engrenagens supersensíveis do modelo organizador biológico, restabelecendo-lhe a harmonia e, no caso psíquico, refazendo os campos nos quais se movimentam os neuropeptídios e outras células nervosas.
Todo conflito procede do ser que pensa, do direcionamento das suas aspirações, das suas atitudes próximas como remotas.
(...) Nunca será demasiado propor-se elevação moral e renovação espiritual ao ser humano, autor do próprio destino, considerando-se que, de acordo com aquilo que aspire e faça, proporcionará a si mesmo, hoje ou mais tarde, o resultado da sua escolha.
Introspecção, alegria, reflexão, cultivo de idéias superiores, oração, constituem terapias avançadas, com os seus efeitos vibracionais positivos, em favor de quem os mantenha, produzindo saúde pela recomposição do equilíbrio psicofísico."
Referências Bibliográficas:
Emmanuel/Xavier, F.C. "Caminho Espírita" - Capítulo 36 – FEB.
Joanna de Ângelis/Franco, D.P. "Auto-conhecimento" - Tomo 2 - LEAL

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Auto-aceitação

O nosso aprimoramento, de espíritos eternos, no longo processo da evolução espiritual, precisa contar com a nossa auto-aceitação, através do possível conhecimento que tenhamos de nós mesmos. Não é fácil.
A religião procura nos ajudar, as ciências do comportamento trazem, hoje, suas importantes contribuições. Para podermos nos ajudar, precisamos, cada vez mais, conhecer e, sobretudo, aceitar-nos.
Essa compreensão é tão necessária que Allan Kardec indagou aos Mentores Espirituais:
- Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e resistir à atração do mal?
- Um sábio da antiguidade vo-lo disse: "Conhece-te a ti mesmo". (Questão nº 919 de O Livro dos Espíritos.)
Sob o ponto de vista religioso, Kardec debruça-se sobre o Evangelho de Mateus e nos lembra: "Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam. Porque, se somente amardes os que vos amam, que recompensa tereis disso? Não fazem assim também os publicanos? - Se unicamente saudardes os vossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? - Sede, pois, vós outros perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial". (Mateus, cap. V.vv.44, 46 a 48.) 
A seguir ele analisa o comportamento do homem de bem e comenta: "Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.
Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera." (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 3, parágrafos 12 e 13.) 
Em nosso aprimoramento existe a necessidade da auto-aceitação, pela qual possamos reconhecer as nossas possibilidades e limitações e, sobretudo, não sermos dependentes absolutos da aceitação ou desaprovação dos outros.
Precisamos ter a vontade de ver, de entender, de saber e sermos conscientes, cada vez mais, de nós mesmos. 
Quando percebemos o que pensamos, sentimos e somos, teremos condições de mudanças no aprimoramento da nossa personalidade ou espírito. 
Se nos olharmos em um espelho, poderemos observar certas partes do nosso corpo de que nós não gostamos, sob o ponto de vista estético, e teremos o impulso de não olhar mais para aquela parte, por exemplo: sejam os olhos, a boca ou o nariz. 
No entanto, temos que aceitar aquelas partes, quando não haja recurso financeiro ou condições técnicas para a cirurgia plástica. 
Há pessoas que sentem e dizem: - "Ah, eu não gosto de ver tal parte do meu corpo". Consideremos que gostar é diferente de aceitar. A pessoa pode não gostar, mas ela precisa aceitar aquela parte do seu corpo para psicologicamente estar bem.
Precisamos aceitar o que somos para podermos melhorar e chegarmos àquilo que queremos ser. 
Desta maneira, aproveitemos alguns minutos para "visualizar" um sentimento ou uma emoção que não conseguimos enfrentar com facilidade: dor, medo, insegurança, tristeza, humilhação, inveja, raiva. Depois de focalizar este estado mental ou emocional, procuremos senti-lo sem oferecer resistência, aceitando-o como ele é.
Exemplifiquemos com uma situação em que deveremos falar a um público e temos medo de falar a um grupo de pessoas. 
Deveremos aceitar o medo. Saber que esse medo é natural para a maioria das pessoas. Procuremos controlar a situação. Após a aceitação do medo e das reações que ele provoca: aumento do batimento cardíaco, respiração mais rápida, pode haver até aumento de transpiração, desenvolver procedimentos que nos ajudem a enfrentar a situação e não fugirmos dela. Inspirar e expirar profundamente, aceitar a alteração orgânica como natural, pensarmos que é um estado mental e emocional passageiro, enfrentarmos a situação desconfortante e falarmos o que tem que ser dito. 
Com o passar do tempo assumiremos o controle orgânico e as idéias fluirão com mais facilidade. Finalmente sentiremos grande alívio e bem-estar por termos exercitado a auto-aceitação, enfrentado o medo e nesse estado intelectual e emocional de auto-aceitação termos vencido o problema.
Essa técnica de auto-aceitação preconizada por muitos psicólogos vem nos ajudar no processo psicológico e espiritual do auto-aprimoramento, se pudermos aplicá-la sempre que tivermos desafios pela frente. 
Ao lado do "conhece-te a ti mesmo ", usemos, também, o "aceita-te a ti mesmo".

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Casa Espírita: escola, hospital e templo

O caráter filosófico da Doutrina Espírita fundamenta a fé na razão. Para crer é preciso saber. E para que servem os saberes aos quais a Doutrina Espírita nos dá acesso? Justamente para alicerçar a fé raciocinada, que pode oferecer ao homem um roteiro seguro de bem viver.
No entanto, é importante que associemos aos princípios doutrinários as nossas próprias descobertas, num processo constante de autoconhecimento e autoburilamento. Pois se apenas ouvirmos o que os outros sabem, sem aplicar as lições da Doutrina à vida, estacionaremos no círculo de luz do conhecimento alheio, sem alçar o vôo da verdadeira libertação.
Espiritismo exige estudo. E se ainda não temos no Brasil uma tradição de leitura, como se costuma dizer, cresce a importância do estudo em grupo, na Casa Espírita que, nesse sentido, é literalmente uma escola.
Porém, por mais intelectualizados sejam os conhecimentos filosóficos do Espiritismo, a Casa Espírita é uma escola de almas, e por isso não se detém apenas no saber, mas a partir dele alcança o sentir e o ser. Seu objetivo é educar o Espírito, individualidade imortal. Os conceitos e as informações que divulga são instrumentos facilitadores para a conquista do bem-estar íntimo, proporcionando uma relativa felicidade, possível de se alcançar na própria existência terrena, mesmo no estágio evolutivo em que nos encontramos.
Mas o núcleo espírita, além de escola, é também chamado de hospital, idéia que nos remete a um lugar destinado a tratamento de enfermidades, para a recuperação da saúde. E o que é saúde? Pelo conceito da OMS, não é simples ausência de enfermidade, é mais. É bem-estar físico, psíquico e social. Do ponto de vista holístico, já se acrescenta a esses três aspectos mais uma instância – a espiritual, não com a marca religiosa, mas como uma potencialidade do ser.
Assim, podemos afirmar que, na Casa Espírita, tem-se o mesmo conceito, ampliado pela certeza da concretude do Espírito. Porque, se o Centro Espírita é um hospital de almas, ao orientá-las no caminho do equilíbrio, cria condições para a conquista do bem-estar psíquico, físico e, conseqüentemente, social. A medicina ali desenvolvida não trata de curas do corpo, mesmo que pela profilaxia do perdão e do despertar da consciência até nos possibilite alcançá-las, através da fé que transforma as matrizes distônicas do Espírito, responsáveis pelos transtornos orgânicos. Porém, as enfermidades da almasão o objeto principal de tratamento.
E quais seriam as grandes enfermidades da alma? Nós as conhecemos. Dentre elas o orgulho, a vaidade, o ciúme, o egoísmo, a inveja e suas máscaras.
A Doutrina Espírita nos oferece as vacinas para que possamos erradicar essas doenças, dando condições ao homem para que conquiste melhor qualidade de vida, não só na existência terrena, como no Mundo Espiritual.
Mas por que também se diz ser a Casa Espírita um templo ou uma casa de oração? A palavra templo é associada à religião, e religião, por sua vez, à igreja. No entanto, Espiritismo não é igreja, isto é, não constitui uma organização hierárquica, com pessoas ungidas para esta ou aquela função; nem se apóia em dogmas e rituais. É religião, do ponto de vista filosófico que, alicerçado na metodologia científica, aponta-nos o caminho da Moral Divina. Através do constante tratamento espiritual a que nos submetemos, na Casa Espírita, descobrimos que ao retomarmos as conexões com a nossa origem - a que chamamos Deus – restabelecemos também as conexões com nós mesmos, com os outros, e temos maiores possibilidades de alcançar o equilíbrio. Para isso é inegável a importância da prece, expressão de religiosidade, como conseqüência da filosofia e da ciência, esses pilares sobre os quais se apóia o caráter moral libertador do Espiritismo
A Casa Espírita, em relação à prece, oferece ambiente que facilita o recolhimento. Daí, o templo.
Enfim , uma Casa Espírita é sempre um dínamo de amor em ação, caridade que liberta.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Alimento da alma



Em primoroso capítulo do livro Nosso Lar, o Benfeitor desencarnado André Luiz considera o amor como o alimento da alma. Discorrendo a respeito do tema, o Espírito mostra que o ser espiritual necessita do contato com pessoas simpáticas para trocar com essas pessoas energias de afeto, fundamentais ao seu bem-estar e ao seu equilíbrio biopsico-socio-espiritual.

Uma lei natural, que tem a sua explicação no próprio magnetismo, faz com que as pessoas afins se aproximem, formando grupos de relação. Sem a troca de afeto, o indivíduo adoece e pode vir a desencarnar.

Não raramente, identificamos casais muito unidos, que envelhecem de forma afetuosa e que a desencarnação de um deles leva, misteriosamente, a enfermidade e desencarnação do outro, sem explicação técnica plausível.

Curiosamente, a ciência oficial começa a descobrir essa lei. A mais importante revista de medicina do mundo (N Eng/Med) acaba de publicar um estudo que confirma cientificamente esse princípio. 

O estudo mostrou que nossa saúde depende intimamente da saúde das pessoas que convivem conosco. Muitos cônjuges, anteriormente sadios, adoeceram após o falecimento do parceiro.

Pesquisas realizadas anteriormente mostraram que pessoas que vão ao médico com acompanhantes têm mais chance de melhora clínica e enfermos hospitalizados saem mais cedo do hospital se recebem um número maior de visitas. Outros estudos mostraram que as pessoas casadas vivem mais e adoecem menos que as solteiras e que jovens que convivem bem com os pais, mantendo com eles uma relação de cordialidade, serão velhinhos muito mais saudáveis do que os outros jovens.

É sempre atual a recomendação de Jesus: Cuide do seu próximo como da pupila de seus olhos. 

O que fazemos de bom, útil ou generoso para as pessoas de nossa relação retorna pra nós, de uma forma ou de outra. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Respeitar sim, repetir não

Sabemos que os textos evangélicos sofreram muitas alterações ao longo dos séculos, para atender a interesses do mundo, ditados pelo culto do poder e da ambição, ou até pela fé ingênua e cega que pretendia converter, fazendo concessões. Nesse processo, incorporaram-se rituais e crenças mágicas, muito anteriores a Jesus, dando-se-lhes estatuto cristão.
A fé raciocinada encara sem medo esses fatos, já constatados pela História, e busca a essência dos ensinamentos do Mestre. Aliás, já nos advertia Kardec, no primeiro parágrafo da introdução a “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “Podem dividir-se em cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. As quatro primeiras têm sido objeto de controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente inatacável”.
O ensino moral do Evangelho é inatacável, sem dúvida. É o evangelho propriamente dito. O mais pode até ser lenda, ou é, pelo menos, questionável, passível de investigação histórica e científica. Portanto, não há por que se repetirem, em nosso meio, velhas abordagens fantasiosas que vestem Jesus de magia e ilusão. O Mestre se basta, dispensa enfeites que não concorrem para amadurecer o Espírito, como é o caso das festas marcadas no calendário oficial.
Tais festas representam uma tradição dos católicos e, embora merecendo nosso respeito, não fazem o menor sentido para a Doutrina Espírita. Portanto, não se justifica nas escolinhas de evangelização a comemoração de datas como a Páscoa, nos moldes do convencionalismo cristão.
É certo, porém, que as crianças trazem informações veiculadas pelos meios de comunicação, pela família, pela escola e que não devemos agredi-las com doutrinações radicais, negando tudo o que conhecem e vivenciam no mundo. Mas podemos aproveitar esses saberes, para construir o novo ou resgatar, adequadamente, o ponto de vista histórico e cultural.
No caso da Páscoa, é preciso situá-la entre as  festas ligadas a rituais de fertilidade e seus símbolos, dissociando-a da figura de Jesus, com o cuidado de não repetir a crença de que Ele a instituiu ou de que lhe deu outro sentido, assumindo a posição do cordeiro sacrificado nessa época pelos judeus, para justificar a ressurreição e dar ao corpo do Deus a função de alimento.
O mito do deus morto e do deus ressurrecto é comum a muitas culturas da antiguidade. Quando Jesus encarnou entre nós, essa crença já era conhecida e os judeus, de sua parte, haviam conferido a ela características próprias, associando-a a episódio que remonta ao tempo de  sua submissão ao Egito.
Jesus insere-se naquele contexto, é verdade, e participa dos eventos da época, mas frisa: “Meu reino não é deste mundo”. E mais: “Não quero sacrifício, mas misericórdia.”
Recuperemos a formação da palavra sacrifício: sacro + ofício. Na realidade, o Mestre da Galiléia rompe o ciclo de repetição dos velhos rituais e propõe o mandamento do amor. Misericórdia é expressão do amor. Não cobrava Jesus oferendas nos templos, nem rituais mágicos, como aquele que se realizava na páscoa. Não pretendia que se lhe oferecessem ofícios sagrados, mas sim que praticássemos a caridade.
A Terceira Revelação nos convida, através do Espírito de Verdade: “Amai-vos e instruí-vos”. Portanto, o conhecimento que nos traz a própria Doutrina assinala um compromisso com o estudo, ensejando a oportunidade de superar uma mentalidade mágica para alcançar o direcionamento da fé, pela razão. Assim, a evangelização espírita não precisa comemorar as festas da tradição cristã, mas deve constituir a festa de todo dia, porque oferece roteiro seguro para a vida e suas surpresas.
Este terceiro milênio do calendário ocidental está marcado, ao que parece, por descobertas científicas arrojadas e por inquietantes constatações da História, provocando a derrubada de velhas crenças. Se, inadvertidamente, repetimos tais crenças na Casa Espírita, estaremos entravando o progresso e perdendo a chance de esclarecimento que o próprio Espiritismo nos oferece.
A criança e o jovem precisam desenvolver uma fé robusta e vigorosa que resista não só aos ventos das novidades – com as quais são alvejados pela escola, pela mídia, pela comunicação virtual – mas também aos embates da vida. Educar-se pelo Evangelho à luz do Espiritismo é abrir uma janela para o futuro, é atravessar a linha do horizonte da acomodação, é libertar-se do velho círculo das ilusões.
Respeitar sim, repetir não. Essa deveria ser a postura dos evangelizadores na casa espírita, diante dos atavismos da tradição cristã.