Objetivo:
Explicar como adquirir e desenvolver virtudes, segundo a orientação
espírita.
IDEIAS
PRINCIPAIS
As
virtudes se adquirem, em geral, por meio de provações e repetidos aprendizados,
nas sucessivas experiências reencarnatórias, pois a […] dor, a luta e a
experiência constituem uma oportunidade sagrada concedida por Deus às suas
criaturas, em todos os tempos; todavia, a virtude é sempre sublime e imorredoura
aquisição do espírito nas estradas da vida, incorporada eternamente aos seus
valores, conquistados pelo trabalho no esforço próprio. Emmanuel: O Consolador,
pergunta 253.
A
virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que
constituem o homem de bem […]. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo.
Cap. XVII, item 8.
[…]
Mais vale pouca virtude com modéstia, do que muita com orgulho. Allan Kardec: O
Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVII, item 8.
SUBSÍDIOS
A aquisição e o desenvolvimento de virtudes
exigem esforços e firmeza de propósitos. Que as virtudes não são concessões
divinas, um dom ou graça fornecidos por Deus a alguns Espíritos. São conquistas
individuais, alcançadas por meio de provações e repetidos aprendizados, em
sucessivas experiências reencarnatórias. Emmanuel assevera que
a
[…]
dor, a luta e a experiência constituem uma oportunidade sagrada concedida por
Deus às suas criaturas, em todos os tempos; todavia, a virtude é sempre sublime
e imorredoura aquisição do espírito nas estradas da vida, incorporada
eternamente aos seus valores, conquistados pelo trabalho no esforço próprio.
(1)
Para
o Espiritismo, todas
[…] as virtudes têm seu mérito, porque todas
são sinais de progresso no caminho do bem. Há virtude sempre que há resistência
voluntária no arrastamento dos maus pendores. Mas a sublimidade da virtude
consiste no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem segundas
intenções. A mais meritória é a que se baseia na mais desinteressada caridade.
(2)
A
aquisição de virtudes exige, pois, empenho e persistência. Não é algo que se
consegue de um dia para outro, nem é obtido por meio de graça ou concessão
divina. Neste sentido, os ensinamentos espíritas são claros, “[…] dizendo que
aquele que possui virtude a adquiriu por seus esforços, em existências
sucessivas, despojando-se pouco a pouco de suas imperfeições. A graça é a força
que Deus concede a todo homem de boa vontade para se livrar do mal e fazer o
bem. (3)
1.
Aquisição de virtudes
Importa considerar, contudo, que há pessoas
que não fazem muito esforço para desenvolver virtudes, praticando-as
naturalmente, enquanto que, em outras, o processo é sacrificial. Uma vez que não
há concessão divina, como ensina o Espiritismo, o que se passa, então? Eis o que
os Espíritos da Codificação responderam a Kardec, quanto este lhes fez pergunta
semelhante: (4)
As
[pessoas] que não têm que lutar são aquelas em quem o progresso já está
realizado; lutaram outrora e triunfaram. É por isso que os bons sentimentos não
lhes custam nenhum esforço e suas ações lhes parecem muito naturais; para elas o
bem se tornou um hábito. Deve-se, pois, honrá-las como a velhos guerreiros, pela
posição elevada que conquistaram. Como ainda estais longe da perfeição, esses
exemplos vos espantam pelo contraste e os admirais tanto mais, quanto mais raros
são. Ficai sabendo, porém, que nos mundos mais adiantados do que o vosso, o que
entre vós constitui exceção, lá é a regra […]. Assim se dará na Terra, quando a
Humanidade se houver transformado e quando compreender e praticar a caridade na
sua verdadeira acepção.
Para
nós, Espíritos imperfeitos, mas que desejam melhorar-se, é preciso aproveitar as
oportunidades que Deus nos oferece, cotidianamente, ainda que revestidas na
forma de provações, a fim de que possamos desenvolver
virtudes.
Neste
sentido, ouçamos o conselho do apóstolo Pedro, tão a
propósito:
Por
isso mesmo, aplicai toda a diligência em juntar a vossa fé a virtude, à virtude
o conhecimento, ao conhecimento o autodomínio, ao autodomínio a perseverança, à
perseverança a piedade, à piedade o amor fraterno e amor fraterno a caridade. (2
Pedro, 1:5-7. Bíblia de Jerusalém)
A
recomendação de Pedro nos faz refletir que o desenvolvimento de , virtudes
envolve a melhoria integral do ser humano, independentemente do ` contexto em
que este se situe: no lar, no ambiente profissional, no templo religioso, nos
locais de lazer, etc. A mensagem demonstra que a aquisição de um valor moral, ou
virtude, leva á conquista de outro, e, assim, sucessivamente, até que o
indivíduo se transforme em pessoa de bem.
Assinala o apóstolo que o primeiro desses
valores é a fé. Assim, é preciso acreditar, firmemente, que a bondade e a
misericórdia divinas nos amparam em qualquer situação. O segundo refere-se ao
conhecimento que, por iluminar a consciência, ensina fazer o que é certo perante
os diferentes desafios da vida. Por sua vez, sabendo o que fazer, o conhecimento
produz o autodomínio, que nada mais é do que a vontade inteligentemente
administrada. O terceiro valor, resultante da fé e do conhecimento, é a prática
da perseverança que, por oferecer fortaleza moral, tempera o caráter, tornando-o
mais forte, ainda que a pessoa esteja submetida a grandes dificuldades. O quarto
valor é a piedade, ou seja, a capacidade de ter misericórdia para com o
sofrimento do próximo. A pessoa piedosa amplia a sua capacidade de empatia,
procurando, em qual quer situação, colocar-se no lugar do outro. Aprende, então,
a não julgar as ações do próximo, condição necessária para a aquisição e
desenvolvimento do amor fraterno, que é a base da prática da caridade, a última
virtude, e que coroa as demais.
Emmanuel
analisa mais o assunto, tendo como base a mesma citação de Pedro, mas traduzida
por João Ferreira de Almeida, que consta assim: […] E à ciência temperança, e à
temperança paciência e à paciência piedade. (2 Pedro,
1:6.)
Aprender sempre, instruir-nos, abrilhantar o
pensamento, burilar a palavra, analisar a verdade e procurá-la são atitudes de
que, efetivamente, não podemos prescindir, se aspirarmos à obtenção do
conhecimento elevado; entretanto, milhões de talentosos obreiros da evolução
terrestre, nos séculos que se foram, esposaram a cultura intelectual, em sentido
único, e fomentaram opressões que culminaram em pavorosas guerras de extermínio.
Incapazes de controlar apetites e paixões, desvairaram-se na corrida ao poder,
encharcando a terra com o sangue e o pranto de quantos lhes foram vítimas das
ambições desregradas. Toda grandeza de inteligência exige moderação e equilíbrio
para não desbordar-se em devassidão e loucura. Ainda assim, a temperança e a
paciência, por si só, não chegam para enaltecer o lustre do cérebro. […] O
apontamento do Evangelho, no entanto, é claro e preciso. Não vale a ciência sem
temperança e toda temperança pede paciência para ser proveitosa, mas para que
esse trio de forças se levante no campo da alma, descerrando-lhe o suspirado
acesso aos mundos superiores, é necessário que o amor esteja presente, a
enobrecer-lhes o impulso, de vez que só o amor dispõe de luz bastante para
clarear o presente a santificar o porvir. (5)
Em
outra oportunidade, o benfeitor espiritual assinala, fazendo o fechamento do
tema:
[…]
É forçoso coroar a fé e a bondade com a luz do conhecimento edificante. Todos
necessitamos esperar no Infinito Amor, todavia, será justo aprender “como”;
todos devemos ser bons, contudo, é indispensável saber “para quê”. Eis a razão
pela qual se nos impõe o estudo em todos os lances da vida, porquanto, confiar
realizando o melhor e auxiliar na extensão do eterno bem, realmente demanda
discernir. (6)
2.
O desenvolvimento de virtudes
Sem sombra de dúvida, as virtudes são
qualidades desenvolvidas pelo Espírito ao longo de suas vivências
reencarnatórias e em suas estadias no plano espiritual. Como o Espírito jamais
retrograda, sempre que ele retorna ao plano físico, traz consigo o produto de
suas conquistas, tanto no plano intelectual como no moral. Como o processo
evolutivo é continuo, desenvolve aprendizados que ainda necessitam de
burilamento. É assim que, retornando à encarnação, passa pela fase de infância
que lhe oferece melhores condições para adquirir e/ou desenvolver
virtudes.
[…] Os Espíritos só entram na vida corporal
para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A fragilidade dos primeiros anos os
torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los
progredir. É quando se pode reformar o seu caráter e reprimir seus maus
pendores. Esse é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada pela qual
terão de responder. […]. (7)
Se
a criança recebe boa educação no lar, sobretudo a moral, seu Espírito é
fortificado e a sua conduta se revela de acordo com os princípios do bem,
principalmente se já ocorreu aprendizado anterior, refletidas em suas boas
tendências. A repetição dos bons atos, em nova reencarnação, tem o poder de
fixar não só competências intelectuais, mas em desenvolver valores morais ,
embrionários ou não.
A
importância da educação dos sentimentos nas crianças, que resulta a aquisição de
virtudes, é destacada pelo confrade Jason de Camargo quando afirma: “[…] as
crianças aprendem aquilo que vivem.” (8)
Se uma criança vive com críticas, ela aprende
a condenar. Se uma criança vive com zombarias e ridículo, ela aprende a ser
tímida. Se uma criança vive com vergonha e humilhação, ela aprende a se sentir
culpada. Se uma criança vive com incentivo e estímulo, ela aprende a ter e
sentir confiança. Se uma criança vive com retidão e imparcialidade, ela aprende
a conhecer a justiça e a ser justa. Se uma criança vive com aceitação, amizade e
amor, ela aprende que o mundo é um ótimo lugar para se viver.
(8)
Importa
considerar que nem sempre é suficiente a pessoa ter nascido com a inclinação
para o bem: é preciso que a sua vontade em se transformar em pessoa melhor seja
exercitada constantemente, de forma que o desejo de ser bom se evidencie em
ações concretas: “A virtude não é veste de gala para ser envergada em dias e
horas solenes. Ela deve ser o nosso traje habitual A virtude precisa fazer parte
da nossa vida, como alimento que ingerimos cotidianamente, como o ar que
respiramos a todo instante.” (9)
A virtude não é para a ostentação: é para uso
comum. É falsa a virtude que aparece para os de fora, e não se verifica para os
familiares. Quem não é virtuoso dentro do seu lar, não o será na vida pública,
embora assim aparente. Ser delicado e afável na sociedade, deixando de manter
esses predicados em família, não é ser virtuoso, mas hipócrita. A virtude não
tem duas faces, uma interna, outra externa: ela é integral, é perfeita sob to
dos os aspectos e prismas. Não há virtude privada e virtude pública: a virtude é
uma e a mesma, em toda parte. O hábito da virtude, quando real, reflete-se em
todos os nossos atos, do mais simples ao mais complexo, como o sangue que
circula por todo corpo. As conjunturas difíceis, as emergências perigosas, não
alteram a virtude quando ela já constitui o nosso modo habitual de vida.
[…].
Ainda
segundo Jason de Camargo, a técnica para solidificar qualquer virtude é “[…]
aprendê-la, analisá-la e repeti-la nas atividades práticas do cotidiano. […]
Quanto mais vão sendo repetidos os atos relativos à mesma perfeição, tanto mais
fácil será praticá-los com esforço cada vez menor, até a liberação ou dispensa
de qualquer energia consciente. […]. (10)
[…] O hábito da virtude é fruto de porfiada
conquista. Possuí-la é suave e doce. Praticá-la é fonte perene de infinitos
prazeres. A dificuldade não está no exercício da virtude, mas na ~ oposição que
lhe faz o vício., que com ela contrasta. É necessário destronar um elemento,
para que o outro impere. O vício não cede lugar sem luta. A virtude nos diz:
eis-me aqui, recebei-me, dai-me guarida em vosso coração; mas lembrai-vos de
que, entre mim e o vício, existe absoluta incompatibilidade. Não podeis servir a
dois senhores. (11)
O
desenvolvimento de virtudes representa significativo desafio na superação das
próprias imperfeições e dos impulsos dominadores das paixões inferiores. Nessa
situação, o homem deve usar a razão, mantendo-a sob o seguro controle da
vontade, para que um roteiro de melhoria espiritual seja planejado e
seguido.
Segundo
Emmanuel, a vontade exerce fundamental papel, considerando que a “[…] vontade é
gerência esclarecida e vigilante governando todos os setores da ação mental. A
Divina Providência concedeu-a por auréola luminosa à razão, depois da laboriosa
e multimilenária viagem do ser pelas províncias obscuras do instinto. […].
(12)
Ser
virtuoso significa desenvolver bons hábitos, ter senso de dever e pautar as
ações de acordo com o bem. Esta é a regra, e não há como fugir dela: “[…]
Virtude sem proveito é brilhante no deserto. Inteligência sem boas obras é
tesouro enterrado. […] Em qualquer parte a vida te conhece pelo que és, mas
apenas te valoriza pelo que fazes de ti.” (13)
O
Espírito André Luiz nos lembra que a virtude “[…] não é flor ornamental. É fruto
abençoado do esforço próprio que você deve usar e engrandecer no momento
oportuno.” (14)
Acrescenta,
por fim, Emmanuel:
Virtude,
quanto acontece à pedra preciosa lapidada, não surgirá no mostruário de nossas
realizações sem burilamento e sem sacrifício. Se desejamos construí-la, em
nossos corações, é imprescindível não nos acovardemos diante das oportunidades
que o mundo nos oferece. […] Recordemos que o trabalho e a luta são os
escultores de Deus, criando em nós as obras-primas da vida. Quem pretende,
porém, a fuga e o repouso indébitos, certa mente desistirá, por tempo
indefinido, do esforço de aprimoramento, transformando-se em sombra entre as
sombras da estagnação e da morte. (15)
Referências:
1. XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador.
28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, pergunta 253, p. 206.
2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Questão
893, p. 535.
3. Idem - O Evangelho segundo o Espiritismo.
Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Introdução
IV, item XVII, p. 52.
4. Idem - O Livro dos Espíritos. Op. Cit.
Questão 894, p. 536.
5. XAVIER, Francisco Cândido. Palavras de
vida eterna. Pelo Espírito Emmanuel. 33 ed. Uberaba [MG]: CEC, 2005. Cap. 121,
p. 258-259.
6. Idem - Cap. 122, p.
261.
7. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Op.
Cit. Questão 385, p. 281.
8.
CAMARGO, Jason de. Educação dos sentimentos. Porto Alegre: Letras de Luz, 2001.
Capítulo: A psicologia aplicada, p. 102.
9.
VINÍCIUS. Nas pegadas do mestre. 12. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Capítulo: A
virtude, p. 21.
10.
CAMARGO, Jason de. Educação dos sentimentos. Op. Cit. Cap. 15, p.
178.
11.
VINÍCIUS. Nas pegadas do mestre. Op. Cit., p. 22.
12.
XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 2, p. 13-14.
13.
Idem - Bênção de paz. Pelo Espírito Emmanuel. 7. ed. São Bernardo do Campo:
GEEM, 1981. Cap. 54, p. 135.
14.
Idem - Agenda Cristã. Pelo Espírito André Luiz. 43 ed. Rio de Janeiro: FEB,
2005, Cap. 29, p. 95.
15.
Idem - Correio fraterno. Por Espíritos Diversos. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB,
1998. Cap. 56 (Virtude, mensagem do Espírito Emmanuel), p. 129
130.
Fonte:
http://bibliadocaminho.com/ocaminho/Tematica/EE/Estudos/EadeP1T3M3R7.htm
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