terça-feira, 8 de julho de 2014

NOSSAS DUAS FATALIDADES Fernando A. Moreira

O homem, Espírito encarnado, possui duas fatalidades; a primeira é inerente ao próprio corpo; somos seres finitos e a morte invariavelmente ocorrerá mais dia, menos dia, pois é inevitável e a única certeza da vida. Todos nós desencarnaremos. É nossa fatalidade biológica.
“A morte não pode ser o término, porém simplesmente a junção, isto é, o umbral pela qual passamos da vida corpórea para a vida espiritual, donde volveremos ao proscênio (palco) da Terra, afim de representarmos os sublimes atos do drama grandioso e sublime que se chama Evolução.” (1)
Embora sabedores disso, estamos sempre procurando fugir, driblar, afastar ou esquecer esta realidade, esta finitude que nos incomoda.
    
O Espírito desligado do corpo físico, retorna ao Mundo Espiritual, sua verdadeira pátria. Continuará no moto contínuo: encarnação, intermissão, reencarnação, no seu caminho evolutivo.  Os Espíritos podem estacionar ou evoluir; mas a estagnação muito prolongada, face a lei da evolução, sujeita o Espírito a reencarnações compulsórias.
    
Assim, afirma Ernesto Bozzano: ”Nem livre arbítrio, nem determinismo absoluto na encarnação, mas liberdade condicionada.” (2)
   
O Espiritismo veio “matar a morte” e mostrar que o Espírito é imortal, mas eternamente submisso das leis divinas e entre elas, a Lei do Progresso. “Sendo este uma condição da natureza humana, não está no poder humano opor-se-lhe. É uma força viva cuja ação pode ser retardada, mas nunca anulada.”. (3)
    
A Lei do Progresso é, pois, fatal para o Espírito, que inexoravelmente seguirá o caminho da evolução e da felicidade. É nossa fatalidade espiritual.
    
Quando Jesus nos convocou usando as palavras, “Sede perfeitos como vosso Pai Celestial o é” (4) colocou o verbo no imperativo, que determina assim que a perfeição, embora relativa, tem que ser atingida, evidenciando o caminho na busca eterna por ela, que é o destino de todos nós, único compatível com a bondade, a misericórdia e a justiça infinitas de Deus. “Fomos criados para a felicidade, a glória e a luz; esse é o determinismo divino!” (5)
  
As leis divinas são imutáveis, mas também misericordiosas, porque Ele nos dotou do livre arbítrio para nossa glória; só há glória quando há mérito. Deus quer que alcancemos esta nossa felicidade, através de nossos próprios méritos. A “graça” só vem depois do nosso merecimento.
    
A Doutrina Espírita nos mostra que devido a essência do  nosso Criador, nós nunca seremos deserdados, pois é inconciliável com ela, a nossa condenação a penas eternas, e alcançaremos através de reencarnações sucessivas, o que foi determinado, pois seremos todos não o que queremos, mas o que devemos ser; a lei do progresso, da reencarnação e de causa e efeito, estão também aneladas ao amor, à misericórdia e à justiça, no rosário iluminado da infinita grandeza divina.

Na Boa Nova, confere Jesus novos prismas à Divindade.

Não um Deus cruel, terrível, ciumento, vingativo e implacável, “que rega a terra com o sangue humano, que ordena o massacre e o extermínio dos povos, sem excetuar as mulheres, as crianças e os velhos, e que castiga aqueles que poupam as vítimas; já não é um Deus injusto, que pune um povo inteiro pela falta de seu chefe, que se vinga do culpado na pessoa do inocente, que fere os filhos pela falta dos pais; mas um Deus clemente, soberanamente justo e bom, cheio de mansidão e misericórdia, que perdoa o pecador arrependido. (...) Já não é o Deus que quer ser temido, mas que quer ser amado”.  (6)
  
Mahtama Ghandi ao ser perguntado por um repórter, o que achava do perdão declarou:“Eu nunca perdoei ninguém!”. O entrevistador estranhou tal resposta e retrucou: “Mas o senhor prega o perdão, a não violência, como inúmeras vezes ouvi declarar, como pode nunca ter perdoado?”.  E  ele  impassível concluiu: “Eu nunca perdoei, porque nunca me ofendi.”
  
A exemplo de Deus, que não se ofende com as nossas faltas, mas apenas, como pai amoroso, nos dá novas oportunidades e sempre, infinitamente mais do que “setenta vezes sete”, através de encarnações sucessivas, não num processo punitivo, mas nitidamente. educativo e para assim educar Deus, por Jesus, nos apontou o caminho e exige de nós a reforma íntima, para  nossa reabilitação. Este caminho é a rota da Lei, que às vezes nos remete à provas ou expiações, à aflições, às vezes incômodas, é verdade, mas necessárias e indispensáveis ao burilamento de nosso Espírito.

Poderemos, no entanto, minimizar o mal que fizemos, na edificação do bem, que devemos e podemos fazer e isso depende apenas de nós.
“(...) tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados.”  (7)
Jesus, nosso mestre, modelo e estrela-guia nos legou o cintilo de suas parábolas, a iluminar nossa trajetória; cabe a nós orientarmo-nos na sua direção, calcando o Evangelho, porque “a cada um será dado segundo as suas obras.” (8)

A Doutrina Espírita “é a chave; a porta é Jesus.” Ela nos cobra uma reforma íntima, veículo para nossa evolução espiritual e o nosso consequente merecimento. É oportuna a lembrança da afirmação de Kardec:
 “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações. (9)
Façamos desse nosso corpo, o veículo de nossa regeneração; esta estrada estelar é longa, não tardemos no caminho, na busca incessante e transcendental do plano sidéreo  da nossa felicidade.

Vale lembrar este trecho de Casimiro Cunha no poema Espiritismo: (10)

“Se buscas o Espiritismo,
norteia-te em sua luz;
Espiritismo é uma escola,
e o Mestre Amado é Jesus.

É a claridade bendita
do bem que aniquila o mal,
o chamamento sublime,
da vida espiritual.”

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BIBLIOGRAFIA

(1)  CALLIGARIS, Rodolfo.. As Leis Morais. 6ª Ed. Rio de Janeiro: FE, 1991, pg 99.
(2)  MIRANDA, Hermínio. Diversidade de Carismas. Publicações Lachâtre, 2ª ed., 1994., vol. I, pgs 299 e 300
(3)  KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB, 68ªed.,perg 781, pg. 364.
(4)  MATEUS, 5:48,
(5)  HOFFMANN, Ricardo Ronzani, Mundo Espírita. Maio, 2003, Os Três Montes, pg 02. Curitiba, Paraná.
(6)  KARDEC, Allan. A Gênese, Ed. FEB, Rio de Janeiro, 1980,
(7)  PEDRO (Epístola - I Pedro, 4:8)
(8)  MATEUS 16, 27.
(9)  KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo,FEB, 111ª Ed., cap XII-4, pg 276.
(10) SIMONETTI, Richard: ‘A Curva da Estrada’, Reformador, agosto 2001, pg 8. 

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