domingo, 17 de janeiro de 2016

Reciclagem Mediúnica - Perguntas IV - Leda Marques Bighetti VIII


Perguntas IV


12 - É possível encontrar contradições entre os Espíritos?

Sim uma vez que eles não pensam da mesma forma. Cada um tem uma bagagem, está num degrau evolutivo, de um modo que a apreciação sobre um mesmo ponto será variável. Admitir todos pensando igual, seria imaginá-los em mesmo nível o que é impossível, uma vez que os Espíritos nada mais são do que a Humanidade desencarnada. As comunicações terão o cunho da ignorância ou saber que lhes seja peculiar no momento; o da superioridade ou inferioridade moral que os caracterize. Necessário conhecer, saber a "Escala Espírita", uma vez que como os homens há entre os Espíritos inteligências com todas as nuances e diferenças. Cuidado portanto quando sem análise, cegamente seguimos o Espírito, simplesmente porque ele falou, disse etc. (LM 229)

Para que serve então o ensino dos Espíritos se não oferecem eles mais certeza que o ensino humano? (LM 300, 2.°)

Ao homem compete, como lembramos acima, analisar, distinguir. Assim como não aceitamos com igual confiança o ensino de todos os homens, igualmente devemos proceder com os Espíritos. Os superiores jamais se contradizem e a linguagem é sempre a mesma - mudará a forma da expressão para adequá-la ao entendimento de quem ouve mas a idéia fundamental é a mesma.

Em síntese, parte das contradições que se dizem encontrar nas comunicações espíritas derivam de:
Ignorância de certos Espíritos.
Embuste dos Espíritos inferiores que por maldade ou malícia usam o nome de outro Espírito e dizem justamente o contrário do que ele havia dito em outro lugar ou outro dia.
Da vontade do próprio Espírito que fala segundo o tempo, o lugar e as pessoas e que pode julgar conveniente não dizer tudo a toda gente.
Insuficiência da linguagem humana para exprimir ou explicar as coisas do mundo espiritual.
Da deficiência ou insuficiência dos médiuns que nem sempre permitem ao Espírito expressar plenamente seu pensamento, enfim, que cada um interpreta o que ouve, lê ou o que o outro fala segundo suas idéias, preconceitos ou pontos de vista que tem sobre o assunto. Assim só o estudo, a observação aexperiência e a isenção de todo o sentimento de amor próprio pode ensinar a distinguir esses diversos aspectos.

13 - Quem trabalha com Mediunidade, a que outra ocorrência precisa estar atento?

É necessário estar atento com as mistificações, isto é, com enganos, ilusões, burlas, abuso de credulidade proveniente de encarnados e desencarnados, que requerem em qualquer dos casos cautela e firmeza para não se deixar iludir.

14 - Haveria um meio de nos preservarmos dela?

O médium ou aquele que estuda, certamente terá muito mais facilidade de perceber engodos quando desperto para o fim essencial do Espiritismo, que é o crescimento do homem no seus aspecto moral, espiritual e conseqüente melhoramento da Humanidade, ouvir, analisar e perceber nas instruções dos Espíritos conteúdos que envolvam estes aspectos. As mensagens dos Espíritos que não enganam ou mistificam consiste em emitir raciocínios visando tudo quanto possa ser útil ao Espírito imortal.

Quando porém, procurarmos os Espíritos ou nos Espíritos indicações para uso pessoal, honras, riquezas, paixões ou quaisquer assuntos fúteis ou materiais, sem dúvida, conviveremos com Espíritos enganadores. Quando vemos portanto os Espíritos como substitutos dos adivinhos e feiticeiros - com segurança - seremos enganados, uma vez que estaremos lidando com Espíritos tão materializados e inferiores quanto nós mesmos, incapazes de perceberem o conjunto, detidos ainda nas particularidades, nos detalhes, nos imediatismos. Conclui-se que só é mistificado quem merece.

15 - Como explicar - há pessoas que nada perguntam e que são enganadas pelos Espíritos que vêm espontaneamente sem serem chamados?

Realmente essas pessoas nada perguntam, entretanto se comprazem em ouvir, o que dá na mesma. Se fossem vigilantes, se acolhessem com prudência, análise e reserva tudo quanto se afasta do objetivo essencial do Espiritismo, esses Espíritos levianos não as tomaria por joguete.

16 - Por que Deus permite que pessoas sinceras que aceitam o Espiritismo de boa fé sejam mistificadas?

Precisamos recordar que os Espíritos mistificadores usam de astúcia para nós difícil de imaginar. Dispõem, arquitetam, planejam com arte, combinam meios de persuadir, que realmente podem resultar em problemas para os que não se achem em guarda.

Ora pode ser o recado particular, com época determinada, indicações precisas, detalhadas e relativas aos interesses materiais. Ora, testam através da cobiça na revelação de tesouros ocultos, anúncios de heranças ou outras fontes de riquezas. Outras vezes ainda com nomes importantes, teorias pessoais, sistemas científicos ousados, enfim tudo quanto se afaste do objetivo moral das comunicações.

Um encarnado experiente pode ser mistificado?

Colhemos na Revista Espírita Mensal - Informação n.° 68 - a seguinte entrevista com Francisco Cândido Xavier, a qual transcrevemos:

1 - Foi você vítima de mistificação algumas vezes?

FCX - Muitas.

E até hoje isso acontece ou pode acontecer?

FCX - Sim.

2 - Por que sucede isso a você, que já psicografou tantos livros?

FCX - Decerto que o mundo espiritual permite que eu passe por essas provações para mostrar-me que receber livros dos Instrutores Espirituais não me cria privilégio algum, que estou apenas cumprindo um dever e que sou um médium tão falível quanto qualquer outro, com necessidade constante de vigilância, oração, trabalho e boa vontade.

Outro exemplo, encontramos em Paulo quando da sua estada em Filipes. Havia ali célebre pitonisa, cujas palavras eram interpretadas como oráculo infalível. Na primeira pregação estava ela presente. Terminada a exposição do Apóstolo a moça em altos brados se põe a exclamar:

— Recebei os enviados do Deus Altíssimo! (…) Eles anunciam a salvação! (…).

Paulo e Silas ficaram um tanto perplexos, mas nada disseram.

No dia seguinte, porém, repetiu-se o fato atirando-lhes a jovem elogios e títulos pomposos.

Paulo atento espera e tão logo termina a pregação na praça, ao começar a moça a gritar: "— Recebei os mensageiros da redenção! Não são homens, são anjos do Altíssimo, o convertido de Damasco desceu da tribuna a passos firmes e, aproximando-se da locutora dominada por estranha influência, intimou a entidade manifestante em tom imperativo:

— Espírito perverso, não somos anjos, somos trabalhadores do Evangelho; em nome de Jesus Cristo, ordeno-te que te retires para sempre! Proíbo-te em nome do Senhor, estabeleceres confusão entre as criaturas, incentivando interesses mesquinhos do mundo em detrimento dos sagrados interesses de Deus.

O fato provocou enorme admiração popular.

O próprio Silas, que de algum modo se comprazia ao ouvir os elogios da pitonisa e os interpretava como conforto espiritual estava boquiaberto, e tão logo se vê a sós com Paulo pergunta-lhe:

— Acaso não falava ela em nome de Deus? Sua propaganda não seria para nós valioso auxílio?

Paulo sorriu e sentenciou:

— Porventura Silas, poder-se-á na Terra julgar qualquer trabalho antes de concluído? Aquele Espírito poderia falar em Deus mas não vinha de Deus. Que fizemos para receber elogios? Dia e noite, estamos lutando contra as imperfeições de nossa alma. Jesus mandou que ensinássemos, a fim de aprendermos duramente. Não ignoras como vivo em trabalho com o espírito dos desejos inferiores. Então? Seria justo aceitarmos títulos imerecidos quando o Mestre rejeitou o qualificativo de "bom"? Claro que se aquele Espírito viesse de Jesus, outras seriam as suas palavras. Estimularia nosso esforço, compreendendo nossas fraquezas".

Essas duas passagens mostram ser comum a aproximação de entidades mistificadoras porém isto de forma alguma quer dizer que o médium ou um grupo está obsediado. Servirão sim, para o alerta de que tudo deve ser submetido ao "crivo da razão". Como lembra Erasto "(…) Melhor repelir dez verdades do que admitir uma só falsidade. Caso seja a verdade, que neste momento estamos recusando, justamente porque é a verdade dia mais ou dia menos ela se imporá". É melhor ser cuidadoso do que se comprometer.

Lembrar que o mistificador é um Espírito necessitado e que os Amigos Espirituais permitem que venham a um grupo, para que recebam ajuda. Ele só se imporá a este caso ache brechas que lhe propiciem a ação. Caso o médium e o grupo esteja atento, recebê-lo, levá-lo a entender com firmeza mas educadamente que não está enganando ninguém, mas sempre a si mesmo.

Na mistificação portanto há mentira, engodo, engano que os desencarnados tentam passar para os encarnados. Não confundir com Animismo (já estudado VERDADE E LUZ n.° 164) onde o desajuste psíquico do médium tenta passar consciente ou inconscientemente seu mundo mental.
Acrescer na Bibliografia original:
Revista Espírita Informação n.° 68
Paulo e Estevão - Emmanuel, cap. VI

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