sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Reciclagem Mediúnica - O Centro Espírita e o Prolema Mediúnico - Leila Marques Bighetti VIII

XVIII - O Centro Espírita e o "problema mediúnico"

De uma ou outra forma, reportagens, filmes ou outros enfoques publicitários, abordam amiúde questões pertinentes à comunicação com os Espíritos. Dificilmente atendem à serenidade, importância e pureza doutrinária, permanecendo na superficialidade ou nos enfoques do fantástico, sobrenatural, maravilhoso.
Tal fato, desperta em muitos o desejo de explicações, de achar remédio para crises, dores, respostas enfim. Entre ir aqui e ali acabam chegando ao Centro Espírita.
Cresce a responsabilidade da casa espírita uma vez que esta não poderá, sob pena de diluir a grandeza doutrinária, improvisar a respeito de passado e futuro; explicar raízes e porquês das conjunturas pessoais em respostas imediatistas e simplórias.
O Espiritismo não tem compromisso em fazer proselitismo, converter, convencer alguém a que mude de crença tornando-se espírita. Requererá muita leitura, estudo, análise, reflexão, requisitos imprescindíveis, insubstituíveis para sua compreensão e talvez um dia, incorporar-se ou não, porém voluntariamente, a família espírita.
Daí a tarefa do Centro, daqueles que também por adesão consciente, racional e voluntária, militando nas várias áreas do trabalho, auxiliam os recém chegados, num verdadeiro processo de alfabetização.
Espiritismo exige dedicação ao estudo disciplinado, permanente, atualizador, aberto ao outros campos do conhecimento em inter-relacionamento com a Doutrina Espírita. Não dá para ficar só no que se ouve. Deter-se aí, leva a elaborar, emitir, explicações pessoais, transformadoras estas dos conceitos espíritas em preconceitos, onde as descrições controvertidas, vulgarizadas nas conversas sem base, expandem, disseminam um "entender" bitolado, dogmático que nada tem a ver com o doutrinário.
Comunicação de Espíritos; mediunidade é um dos assuntos que se enquadram nesses raciocínios. Além de ser percebida, divulgada, como já vimos, no campo do mistério, também entendida como problema, doença, fraqueza mental. Um parente, um amigo, o vizinho, diz que a dor de cabeça, a insônia, a irritabilidade, a impaciência que alguém sente, pode ser proveniente de um desencarnado que em desequilíbrio, necessitado de algo ou vingando, se "encosta", provocando as mazelas e dores. Aceita essa ação, após várias outras providências busca-se o Centro Espírita.
O espírita, isto é, aquele que estuda, que trabalha em si o conhecimento, sabe que ninguém "encosta" em ninguém, sem que haja conveniência, aquiescência, conivência mútua, onde, sentimentos, pensamentos, vibrações estabelecem as ligações psíquicas em sintonia "(…) na identidade ou harmonia vibratória, no grau de semelhança de dois ou mais Espíritos encarnados ou desencarnados".
Essa sintonia tem como fundamento, a afinidade moral, decorrendo desta, o estabelecimento e manutenção das relações. Conforme os sentimentos/pensamentos mantidos tal a companhia espiritual atraída.
Em "O Espírito e o Tempo", o prof. Herculano Pires trabalha magnificamente essa situação explicando a "fusão fluídica" que se dá entre o perispírito do encarnado e desencarnado, ocorrendo daí alterações no psiquismo de ambos, que se mantém juntos alimentando-se mutuamente.
Sem esse conhecimento básico, muitos centros e pessoas que se dizem espíritas, agem, interpretando esse acontecimento no mal, corriqueiro, na afirmação categórica de que, os acontecimentos são devidos ao problema mediúnico, Necessário "desenvolver" essa mediunidade para que desapareçam os sintomas.
Piora, quando se apresenta o diagnóstico de obsessão, encaminhando-se para trabalhos específicos, a fim de que, se manifeste o Espírito que está incomodando e seja daí "retirado".
Entenda-se que a Doutrina Espírita, tem como real essa influenciação dos desencarnados sobre os encarnados (e vice-versa), mas daí a diagnosticar, já num primeiro contato, que os acontecimentos menos felizes, sejam de ordem física, moral ou financeira, como decorrentes da mediunidade, convenhamos que no mínimo, está implícita leviandade, onde sobremodo ressalta-se o encarnado como vítima indefesa de desencarnados perversos.
Pelo conhecimento da lei natural, física da afinidade/sintonia onde "(…) semelhantes se atraem, contrários se repelem", abre-se vasto campo de série de procedimentos, a requerer ações conscientes que iniciar-se-ão na mudança, sutilização do clima psíquico.
Em "O Livro dos Espíritos", cap. IX, ensinam os Espíritos a Allan Kardec, que os encarnados não são seres passivos na influenciação mediúnica. Explicando como e porque os desencarnados são capazes de incitar o homem ao mal, colocam:
  • "Nossa missão é a de te por no bom caminho, e quando más influências agem sobre ti, és tu que as chamas, pelo desejo do mal porque os Espíritos inferiores vêm em teu auxílio no mal, quando tens a vontade de o cometer. Eles não podem ajudar-te no mal, senão quando tu desejas o mal".
Sobre a indagação de como ou se é possível afastar essa ação, ensinam:
— "Sim (é possível), porque eles só se ligam aos que os solicitam por seus desejos ou os atraem por seus pensamentos".
Se somos inclinados ao mal, se nos comprazemos em aspectos menores colocamo-nos em meio, atraímos nuvem de Espíritos que incrementarão esses pensamentos. Rodear-nos-ão também outros que tentarão despertar-nos para o Bem (…)" o que faz com que se reequilibre a balança e te deixe senhor de ti"
Por superficial que seja a leitura destas respostas, ressalta que, a vontade do encarnado é que estabelece os vínculos espirituais; é ele o ser totalmente ativo, é o agente. Se não fosse assim, como ficaria o livre-arbítrio?
Mediunidade em si mesma, é uma faculdade neutra, um instrumento de trabalho do Espírito que tanto pode ligar-se e ser usada para o Bem ou para o Mal.
O indivíduo, o médium despreparado, desconhecedor pode deixar se envolver, ficando sob a influência de mentes inferiores, vingativas, inimigas, que, do outro lado da vida planejam, esperam o momento propício (quando a sintonia se abre) para levar sim, pessoas ao desespero.
A Doutrina Espírita, estudando, sistematizando leis que norteiam o fenômeno, dá condições para que se trabalhe esses acontecimentos, de modo que o envolvido não venha a perder-se na complexidade de situações que ignora, tanto as causas, como a maneira de interpretar e lidar.
Mediunidade é apenas uma das manifestações do psiquismo. Seu exercício ordenado e tranqüilo é perfeitamente compatível com as atividades normais, no dia-a-dia da existência.
Exige cuidados?
Como toda potencialidade em ação, seu uso exige atenção, critérios, firmeza, bom comportamento humano, estudo metódico e bem orientado dos livros básicos e dos subsidiários comprometidos com a Doutrina Espírita, exercício, hábito da prece; designação de hora e local para exteriorização da faculdade em trabalho no grupo harmonioso; nunca sozinho exposto às fantasias e influências de encarnados ou desencarnados menos avisados. Esse processo de renovação moral que decorre, desencadeia o processo educativo, na formação de hábitos sadios no Bem.
Não sendo portanto - problema, tragédia conflito destaca-se como tarefa nobre, onde através da intermediação, fluirá socorro, ajuda, despertamento, auxílio, esperança para tantos que também, desconhecedores ou invigilantes, caminham em dores e enganos.
O Centro Espírita necessita conhecer, pensar, avaliar com sua Diretoria, em que linha caminha com a Mediunidade, tendo claro que a casa espírita necessita ser, cada vez mais, núcleo de libertação, que se alcança através do estudo aprofundado que dialoga, pondera, esclarece; das avaliações que se mostrando realidades indica as renovações, adequações ou mudanças que se façam necessárias.
Nesse trabalho, sem impor, forçar, o Centro Espírita desperta o freqüentador a conhecer-se e achar em si os pontos frágeis a serem fortalecidos, trabalhados.
Não mais o Centro Espírita que se detém nos atavismos, cultivando a mentalidade do medo no desconhecido, no maravilhoso, no mistério, no medo, onde só alguns "sabem", detendo em círculo vicioso, processos que se arrastam sem encenar com libertação.

Bibliografia a acrescentar:

  • Editorial SBEE - 1989
  • Evolução para o 3.° milênio - C. T. Rizzini, cap. IV
  • O Espírito e o Tempo - J. H. Pires - IV parte
  • O Livro dos Espíritos - Allan Kardec - cap. IX
  • Crônicas de um e de outro - Luciano dos Anjos
  • H. C. de Miranda, estudo 74

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