Tendo os fariseus perguntado a Jesus quando viria o reino de Deus,
ele respondeu: O reino de Deus não vem com mostras exteriores. Por isso
ninguém poderá dizer: ei-lo aqui, ou ei-lo acolá, pois o reino de Deus
está dentro de vós.
Concluímos da resposta do Mestre que o reino de Deus está em nós
próprios. Não obstante, é ele mesmo quem assim nos adverte: Buscai em
primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça; tudo o mais vos será
dado por acréscimo. Como ? Buscar aquilo que está em nós? E depender
dessa pesquisa todo o nosso bem?
A explicação nos é dada pela seguinte parábola: O reino de Deus é
semelhante a um tesouro oculto no campo, que foi encontrado por um
homem, o qual, movido de grande gozo, foi vender tudo que possuía e
adquiriu aquele campo.
Agora podemos entender: o reino de Deus está em nosso Espírito mesmo,
porém oculto e ignorado. Possuir e ignorar que possui, equivale a não
possuir. Ter e não saber que tem, é como se não tivesse. Daí a
necessidade de procurá-lo. E, pelo dizer da semelhança, é de inestimável
valor esse tesouro ou reino de Deus. Tanto assim, que todo aquele que o
descobre, coloca-o desde logo acima de tudo o mais. Este asserto é
corroborado por outra parábola : O reino de Deus é semelhante a um
negociante de pérolas que, encontrando uma de subido valor, foi vender
tudo o que possuía e a comprou.
Já sabemos algo de importante sobre o caso. Mas, que será, afinal, o
reino de Deus e que idéia devemos fazer desse tesouro oculto em nosso
Espírito? O reino de Deus é o conjunto de energias e faculdades que
jazem latentes em nossa alma. E’ o reino da vida, da imortalidade e do
poder, do qual só nos apercebemos depois que começamos a sentir em nós
as vibrações da vida espiritual, cuja atividade se exerce através do
amor e da justiça, empolgando nosso ser. Que é, de fato, o reino da
força que tudo vence, nos diz este outro apólogo: O reino de Deus é
semelhante a uma semente de mostarda, que um homem semeou no campo. Esta
semente é, na verdade, a menor de todas; mas, depois de haver crescido,
é a maior de todas as hortaliças, e se faz árvore, de sorte que as aves
do céu fazem ninhos em seus ramos. Tal é como o Mestre revela a
incomparável energia de ação e de expansão que se esconde no reino de
Deus. E que essa ação se verifica através do sentimento da justiça,
sabemos por esta admoestação do Senhor: Se a vossa justiça não for
superior à dos escribas é fariseus, não possuireis o reino de Deus.
O roteiro, portanto, que conduz ao tesouro oculto é um só: o
cumprimento do dever, a prática do bem, a conduta reta. “Nem todo o que
me diz Senhor! Senhor! entrará no reino de Deus, mas somente aqueles que
fizerem a vontade de meu Pai. Naquele dia, muitos me dirão: Senhor, em
teu nome nós profetizamos, expelimos demônios e obramos maravilhas. Mas
eu lhes direi abertamente: Não vos conheço; apartai-vos de mim, vós que
vivestes na iniqüidade.” E o Rei, então, dirá: Vinde, benditos de meu
Pai; possuí como herança o reino que vos está destinado desde a fundação
do mundo. Pois tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de
beber; era forasteiro, e me recolhestes; estava nu, e me vestistes;
enfermo e preso, e me visitastes. Então, perguntarão os justos: Quando,
Senhor, te vimos com tais necessidades e te assistimos? E o Rei
retrucará:” Em verdade vos digo que quantas vezes o fizestes a um dos
meus irmãos mais pequenos, a mim o fizestes.”
Sabemos então, já, o que é o reino de Deus, onde se oculta, e o que nos cumpre fazer para possuí-lo.
LIVRO: EM TORNO DO MESTRE
AUTOR: PEDRO DE CAMARGO – PSEUDÔNIMO VINICIUS
EDITORA: FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA – 6ª EDIÇÃO – BRASILIA – DF
ANO DE PUBLICAÇÃO: 1939 (PAG. 204 – 206).
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