A
época talvez nos seja propícia a reflexões em torno do que nos aguarda
no novo ano, prestes a iniciar-se. Talvez pudéssemos, neste momento,
efetuar um balanço íntimo da nossa postura diante da mediunidade, da
tarefa mediúnica que abraçamos em nome de Jesus. Será que, de fato,
efetuamos progressos, do ponto de vista da mediunidade, ao longo deste
ano? Será que servimos com disposição? Será que nos encorajamos um
tanto mais no que se refere à renúncia? Será que não recusamos o
contato com as entidades sofredoras, com aquelas que de nós se
aproximaram durante as nossas reuniões semanais, com o propósito de
ouvir uma palavra amiga, de conforto, de esclarecimento? Será que nós
mesmos não fomos um obstáculo ao exercício da mediunidade? Será que não
impedimos que as nossas possibilidades medianímicas deslanchem?
Porque, muitas vezes, na condição de médiuns, não conseguimos nos
isentar dos nossos problemas pessoais e trazemos para a reunião as
nossas mazelas, os nossos melindres, os nossos rescaldos; trazemos para
a reunião os nossos aborrecimentos e, não raro, aqui, nos colocamos a
mentalmente esgrimar com os companheiros com os quais não nos
afinizamos, com os que consideramos como nossos desafetos ou, então, com
as nossas lembranças, lembranças de problemas que deixamos lá fora, em
casa, no ambiente de trabalho profissional…
Forçoso
chegarmos à conclusão que, se muito nos foi possível realizar, por
outro lado, muito deixamos de fazer, não por falta de cobertura
espiritual daqueles que nos tutelam do Mais Alto, mas, sem dúvida,
porque nós mesmos, médiuns nos Dois Planos da Vida, nos constituímos em
obstáculo quase inamovível, no cumprimento de dever.
Um
ano praticamente se passou, mais um ano, e seria interessante que nós
efetuássemos as contas, não as contas alheias mas aquelas que nos dizem
respeito… Quantas vezes não deixamos de comparecer ao compromisso, por
espírito de desagravo ou para enviar aos companheiros determinadas
“mensagens” de nossa desaprovação pessoal, em decisões com as quais não
concordamos?
Sem dúvida, existe sempre prejuízo para os tarefeiros espirituais, quando a equipe mediúnica não corresponde à expectativa.
Os companheiros espirituais empenham o seu tempo, a sua dedicação, as
suas esperanças, mas o prejuízo maior fica sempre com o médium;
permanece com o grupo de irmão encarnados que se mostraram vulneráveis
ao assédio das entidades infelizes, as quais lhes vampirizam o
psiquismo, com o intuito de atrasar-lhes o passo na senda do progresso;
no entanto também carecemos de considerar o problema da auto-obsessão…
Somos vítimas de coisas que não existem, alimentamos a imaginação
doentia, tiramos conclusões falsas e, assim, nos prejudicamos
sensivelmente, porque acalentamos uma idéia, uma emoção que passa a ser
dentro de nós um foco de enfermidades espirituais… Quantos não
mostram, infelizmente, vocação para o desequilíbrio fácil? Quantos não
se exaltam se exasperam, se revelam suscetíveis? Quantos não absorvem
emanações deletérias, vibrações negativas e as incorporam com muito
maior facilidade do que incorporam as entidades espirituais enfermas,
que aqui comparecem pedindo caridade?…
Os
médiuns, porque possuem as faculdades sensoriais à flor da pele,
experimentam com maior facilidade as influências negativas e, não raro,
as somatizam, ou seja, as transformam em sintomas físicos que nada mais
representam que sintomas espirituais camuflados, de desequilíbrio, de
desgaste emocional, de pensamentos doentios sistematicamente
cultivados. Quantos os que ainda não conseguiram se despojar de
determinadas idéias que os acompanham, desde muitos meses? Quantas
idéias haveremos de levar conosco para o ano que se inicia idéias que
não correspondem à realidade, que nos acorrentam na disposição de
servir, nos impedindo de tomar a iniciativa de cooperar mais
decididamente em prol da Causa que abraçamos!
Seria
extremamente valioso que cada medianeiro efetuasse a sós, no silêncio
de suas reflexões, um balanço de suas atividades, de sua postura diante
da Doutrina, questionando-se a respeito do que tem feito com o talento
da mediunidade que o Senhor lhe concedeu para ser multiplicado em
benefício de muitos,
porquanto, se aqui os nossos irmãos médiuns estão lidando com entidades
desencarnadas, estão somando experiências, adquirindo lucidez,
melhorando a sintonia, para que lá fora, no dia-a-dia, lidem com maior
proveito com as entidades encarnadas, dentro do lar, na vida social…
Essas entidades encarnadas, que carecem dos recados do Mais Além, se
nomeiam filhos, sobrinhos, irmãos, tios, amigos próximos…
Reflitamos
neste contexto e procuremos enfrentar a nova etapa, nas primícias do
Terceiro Milênio da Era Cristã, para que a mediunidade nos seja um
instrumento útil ao progresso e não um obstáculo, um fardo que nos pese
excessivamente aos ombros.
Precisamos
confiar mais. Com extrema facilidade posterga deveres espirituais,
dando evidência às atividades materiais, às quais, a rigor, ele se
dedica praticamente o dia inteiro; o dia todo quase, o homem encarnado
está absorvido pelas atividades materiais e acha penoso, ao fim do
período, consagrar-se durante alguns minutos às atividades de natureza
espiritual. A todo momento, consulta o relógio para ver se a reunião
está prestes a terminar, a todo instante se inquieta, se impacienta, se
aflige, porque não consegue sustentar a concentração, não consegue
orar, não tem firmeza e se rende, inapelavelmente, aos receios, aos
medos, às fobias, as síndromes mais variadas que lhe vampirizam o
psiquismo, e ele se deixa encarcerar, se deixa envolver, olvida que uma
reunião tal como esta pode significar, para o espírito o que significa
um oásis, em pleno deserto, para o beduíno cansado.
Livro: Falando de mediunidade
Autor: Bacelli, Carlos A.; Fernandes, Odilon.
Site: Luz do Espiritismo – Grupo Espírita Allan kardec
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