quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Fim de ano

Richard Simonetti

Trinta e um de dezembro. Confraternização entre espíritas.
Falava-se do que se havia ganhado ou perdido, num balanço de fim de ano, cada qual com sua lembrança mais significativa.
– Vendi pequena propriedade; comprei outra maior.
– Realizei o sonho de meu filho: dei-lhe um automóvel zerinho.
– Foi um ano complicado. Perdi bom dinheiro num desastrado aval.
– O meu foi ótimo. Ampliei meu rebanho bovino.
– Passei por experiência terrível! Fui assaltado!

Alguém perguntou:
– E você, Chico, o que nos diz?
O médium sorriu e respondeu com a simplicidade de sempre:
– Todo dia 31 de dezembro, eu penso: Ah! Jesus amado, agradeço-te por mais um ano de trabalho, em que pude continuar no combate às minhas grandes imperfeições.

***

Certa feita, elaborei uma enquete junto a colegas de trabalho, com uma única pergunta:
O que você está fazendo na Terra?
Incrível! Quase todos, mesmo religiosos, não souberam definir com exatidão.
Espíritas que responderam não foram muito além, explicando que, na condição de habitantes de um planeta de provas e expiações, aqui estão para resgatar dívidas, a fim de se habilitarem a viver em planos mais altos habitados por espíritos sem registro nos serasas siderais.
Serasa, como sabemos, prezado leitor, é o serviço público de registro de pessoas com débitos pendentes.
Raros têm consciência de que a finalidade precípua da existência humana é a nossa evolução.
Dores, dissabores, dificuldades, lutas, doenças, males variados, que nos afligem, podem eventualmente funcionar como depuradores espirituais, em face do que fizemos de errado no passado, mas não produzem evolução.
Esta depende do esforço por superarmos nossas imperfeições, harmonizando-nos com os objetivos da existência, já que não foi por mero diletantismo que Deus nos criou.
Isso implica empenho diário de renovação, reflexão, identificação e superação de nossas mazelas...
Se a cada ano que passa cogitarmos de conquistas ou prejuízos materiais, sem nos darmos ao trabalho de avaliar o que fizemos como espíritos imortais, no terreno cultural, espiritual e moral, então, amigo leitor, estaremos marcando passo nos caminhos da evolução.
***

O Espiritismo é bastante claro ao nos ensinar que ninguém retrograda.
Não retornaremos aos estágios primários; ninguém voltará a viver nas árvores, como símios antropóides que já fomos, embora muita gente o mereça.
Mas, se caminhar para trás é impossível, imitar um poste é comum. Multidões fincam-se no terreno da inconsequência, num marca-passo evolutivo. Perdem tempo, comprometem-se na inércia.
Deus inventou a morte para dar uma sacudida nos postes, com o choque da desencarnação, a reintegrá-los na dinâmica de evolução, que pede movimento, aprimoramento, desenvolvimento de potencialidades, crescimento moral, intelectual e espiritual.
***

Antes que a morte nos imponha penosas surpresas, superemos a vocação para poste e assumamos nossos compromissos com a vida.
E que, a cada fim de ano, antes de fazermos um balanço dos eventos envolvendo o homem perecível, avaliemos as realizações do espírito imortal, dispondo-nos a repetir, com Chico Xavier, em oração:
– Ah! Jesus amado, agradeço-te por mais um ano de trabalho, em que pude continuar no combate às minhas grandes imperfeições.

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