Livres da matéria, os Espíritos usam o
pensamento para se comunicarem entre si e com os encarnados. Para eles o
pensamento é tudo. (1). Quando o pensamento está em algum lugar, a alma está
também, uma vez que é a alma que pensa. O pensamento é um atributo da
alma. (2)
Os Espíritos podem, muitas vezes, conhecer os
nossos pensamentos mais secretos, principalmente, aquilo que desejaríamos
ocultar a nós mesmos; nem atos, nem pensamentos podem ser dissimulados para
eles. Assim sendo, pareceria mais fácil ocultar-se uma coisa a uma pessoa
viva, pois não o podemos fazer a essa mesma pessoa depois de morta, pois
quando nos julgamos bem escondidos, temos muitas vezes ao nosso lado uma
multidão de Espíritos que nos veem.
A ideia que fazem de nós, os Espíritos que
estão ao nosso redor e nos observam, depende da capacidade evolutiva do
observador, assim, os Espíritos levianos riem das pequenas traquinices que
nos fazem, e zombam das nossas impaciências. Os Espíritos sérios lamentam as
nossas trapalhadas e tratam de nos ajudar.
Os Espíritos influem sobre os nossos
pensamentos e as nossas ações, e nesse sentido, a influência deles é maior
do que podemos supor, porque muito frequentemente são eles que nos dirigem.
Temos pensamentos próprios e outros que nos
são sugeridos, ou seja, a nossa alma é um Espírito que pensa e não podemos
ignorar que muitos pensamentos nos ocorrem, a um só tempo, sobre o mesmo
assunto e frequentemente bastante contraditórios. Pois bem: nesse conjunto
há sempre os nossos e os dos Espíritos, e é isso o que nos deixa na
incerteza, porque temos em nós duas ideias que se combatem. Para distinguir
os nossos próprios pensamentos dos que nos são sugeridos, temos que, quando
um pensamento nos é sugerido, é como uma voz que nos fala. Os pensamentos
próprios são, em geral, os que nos ocorrem no primeiro impulso. De resto,
não há grande interesse para nós nessa distinção, e é frequentemente útil
não o sabermos, assim, o homem pode agir mais livremente e, se decidir pelo
bem, o fará de melhor vontade, e se tomar o mau caminho a sua
responsabilidade será maior.
Os homens de inteligência e de gênio, algumas
vezes, as ideias surgem de seu próprio Espírito, mas frequentemente lhes são
sugeridas por outros Espíritos, que os julgam capazes de as compreender e
dignos de as transmitir. Quando eles não as encontram em si mesmos, apelam
para a inspiração; é uma evocação que fazem, sem o suspeitar.
Se fosse útil que pudéssemos distinguir
claramente os nossos próprios pensamentos daqueles que nos são sugeridos,
Deus nos teria dado o meio de fazê-lo, como nos deu o de distinguir o dia e
a noite. Quando uma coisa permanece vaga é que assim deve ser para o nosso
bem.
O primeiro impulso pode ser bom ou mau,
segundo a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom para aquele que ouve
as boas inspirações.
Para distinguir se um pensamento sugerido vem
de um bom ou de um mau Espírito, devemos aprender que os bons Espíritos não
aconselham senão o bem, assim, cabe a nós distinguir e escolher.
Os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal
com a intenção de nos fazer sofrer como eles, ou seja, eles o fazem por
inveja dos seres mais felizes e porque ainda se sentem pertencer a uma ordem
inferior e estarem com a consciência pesada a lhe cobrarem a reparação dos
seus erros.
Também podemos dizer que os espíritos
imperfeitos são os instrumentos destinados a experimentar a fé e a
constância dos homens no bem. Nós, como Espíritos, devemos progredir na
ciência do infinito, e é por isso que passamos pelas provas do mal até
chegarmos ao bem.
A missão dos bons Espíritos é a de nos porem
no bom caminho, e quando más influências agem sobre nós, somos nós mesmos
que as chamamos, pelo desejo do mal, porque os Espíritos inferiores, também,
vêm em nosso auxílio para nos fazer praticar o mal quando temos a vontade de
o cometer. (3) Assim, se somos inclinado ao assassínio, teremos uma nuvem de
Espíritos ainda voltados ao mal fortalecendo esse pensamento em nós,
contudo, quando temos a vontade de fazer o bem, também, teremos junto a nós,
Espíritos bons que tratarão de nos influenciar para o bem, isso faz com que
se reequilibre a balança, assim, Deus deixa à nossa consciência a escolha da
rota que devemos seguir, e a liberdade de ceder a uma ou a outra das
influências contrárias que se exercem sobre nós.
O homem pode se afastar da influência dos
Espíritos que o incitam ao mal, porque eles só se ligam aos que os solicitam
por seus desejos ou os atraem por seus pensamentos.
Os Espíritos cuja influência é repelida pela
vontade (4) do homem renunciam às suas tentativas, ou seja, quando nada têm
para fazerem, abandonam o campo. Não obstante, espreitam o momento
favorável, como o gato espreita o rato.
O melhor meio para neutralizar a influência
dos maus Espíritos e fazendo o bem e colocando toda a nossa confiança em
Deus, assim, repelimos a influência dos Espíritos inferiores e destruímos o
império que desejam ter sobre nós. Devemos evitar de dar ouvidos as
sugestões dos Espíritos que suscitam em nós os maus pensamentos, que
insuflam a discórdia e excitam em nós todas as más paixões. Desconfiemos
sobretudo daqueles que exaltam o nosso orgulho, porque eles aproveitam das
nossas fraquezas. Eis porque Jesus nos ensinou através da oração dominical:
"Senhor, não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal!"
Nenhum Espírito recebe a missão de fazer o
mal; quando ele o faz, é pela sua própria vontade e consequentemente terá de
sofrer as consequências (5). Deus pode deixá-lo fazer para nos provar, mas
jamais o ordena, assim, cabe a nós afastar essa espécie de Espírito.
Quando experimentamos um sentimento de
angústia, de ansiedade indefinível, ou de satisfação interior sem causa
conhecida, isso pode ser consequência de um efeito das comunicações que, sem
o saber, tivemos com os Espíritos, ou das relações que tivemos com eles
durante o sono.
Os Espíritos que desejam incitar-nos ao mal
aproveitam a circunstância, mas frequentemente a provocam, empurrando-nos
sem o percebermos para o objeto da nossa ambição. Assim, por exemplo, um
homem encontra no seu caminho uma certa quantia: não acreditemos pois que
foram os Espíritos que puseram o dinheiro ali, mas eles podem dar ao homem o
pensamento de se dirigir naquela direção, e então lhe sugerem apoderar-se
dele, enquanto outros lhe sugerem devolver o dinheiro ao dono. Acontece o
mesmo em todas as outras tentações.
NOTAS:
(1) Ver Allan Kardec, O Livro dos
Espíritos, item 100, Escala Espírita.
(2) Ver Allan Kardec, O Livro dos
Espíritos, item 89a, Forma e Ubiquidade dos Espíritos e
O Livro dos Médiuns, primeira parte, cap. II, item 7..
(3) Ver Allan Kardec, O Livro dos
Médiuns, segunda parte, cap. VI, item 100, questão 11.
(4) A vontade não é uma entidade, uma
substância e nem mesmo uma propriedade da matéria mais eterizada: é o
atributo essencial do Espírito, ou seja, do ser pensante. (Ver Allan Kardec,
O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. VIII, Laboratório
do Mundo Invisível, item 131.)
(5) Diz o texto francês: "et par
conséquent il en subit les conséquences". Em geral, nas traduções,
procura- se corrigir a repetição. Preferimos respeitá-la, mesmo porque nos
parece destinada a dar ênfase ao fato. (Nota. de J. Herculano Pires)
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