Reformador | Dezembro de 2014
devemos sempre concentrar
todos os nossos esforços nesta
direção; se porém, não for, precisamos
redirecionar a nossa
atenção para o foco real, sem
esquecer também a valiosíssima
e tradicional divulgação.
Em relação à primeira questão,
é preocupante a conduta
de alguns em alterar, acrescentar
ou suprimir palavras e
sentenças contidas em texto
espírita. Muitas passagens dos
Evangelhos foram afetadas por
esta prática, fato previsto por
Jesus, levando-o à promessa
de nos enviar outro Consolador.
Seus ensinos, sabia-o Ele,
seriam esquecidos e deturpados,
pois o Espírito, ainda em
evolução, divisando um ponto
de vista que não consegue
bem compreender ou aceitar,
ao transcrevê-lo ou divulgá-lo,
altera-o, consciente ou inconscientemente,
de modo a ajustar
a ideia às suas limitações de
entendimento, adaptando as
ideias alheias aos seus próprios
princípios e experiências.
Devemos ser fiéis aos conceitos
de outrem, independentemente
se os aceitamos ou
não em nosso íntimo. É regra,
dentro da área de comunicação,
jamais modiJcar o texto de um
autor ao citá-lo, exceto se houver
menção à modiJcação, fazendo
as ressalvas necessárias.
Se desejarmos divulgar opiniões
outras, quando positivas, prá-
tica muito salutar, é imperioso
sermos fiéis ao original.
Considerando a segunda
questão em análise, cremos
ser o desconhecimento a causa
maior, justificando a posição
dos disseminadores da máxima
em avaliação.
Do que conhecemos, há no
livro Estude e viva,
1
escrito com
ditados alternados dos Espíritos
Emmanuel e André Luiz,
um capítulo intitulado Socorro
oportuno, da autoria de Emmanuel
em que se encontra a forma
original da tão propalada
frase. Analisando, contudo, o
seu conteúdo, conclui-se não
ser exatamente esta a proposta
de Emmanuel, conforme segue:
Lembra-te deles, os quase loucos
de sofrimento, e trabalha
para que a Doutrina Espírita
lhes estenda socorro oportuno.
Para isso, estudemos Allan Kardec,
ao clarão da mensagem de
Jesus Cristo, e, ou no exemplo
ou na atitude, na ação ou na palavra,
recordemos que o Espiritismo
nos solicita uma espécie
permanente de caridade – a
caridade da sua própria divulgação.
(Destaques nossos.)
Observa-se no texto menção
a exemplo, atitude e ação, que são
condutas claramente voltadas ao
nosso dia a dia de espíritas. A última
orientação de Emmanuel,
que se refere à palavra, até poderia
ser interpretada por dita ou
escrita, mas, mesmo assim, nada
sugere ser a palavra escrita, entre
as quatro propostas citadas, a representante
da maior caridade a
se fazer pelo Espiritismo.
Além disso, Emmanuel não
elencou prioridades, simplesmente
disse “caridade permanente”.
Esta ligeira reflexão
feita sobre o parágrafo não poderia
apontar para outra dire-
ção, caso contrário, Emmanuel
estaria em contradição com
Allan Kardec.
Plenamente cônscio desta
realidade, o mestre de Lyon, desencarnado
em 31 de março de
1869, comparece em Espírito na
sessão de 30 de abril de 1869, na
Sociedade de Paris, apenas um
mês após a sua desencarnação, e,
em uma comunicação, registra
esta sábia recomendação sob o
título: O exemplo é o mais poderoso
agente de propagação, entre
tantas outras emitidas durante
sua frutífera vida. Esta lúcida
posição do Prof. Rivail consta da
última edição da Revista Espírita,
2
de onde destacamos apenas
um trecho bem objetivo, de interesse
para o caso em exame:
Venho esta noite, meus amigos,
falar-vos por alguns instantes.
[...] Tenho ainda alguns
conselhos a vos dar quanto à
marcha que deveis seguir perante
o público, com o objetivo
de fazer progredir a obra a que
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devotei a minha vida corporal,
e cujo aperfeiçoamento acompanho
na erraticidade.
O que vos recomendo, principalmente
e antes de tudo, é a tolerância,
a afeição, a simpatia de
uns para com os outros e também
para com os incrédulos.
[...]
As brochuras, os jornais, os
livros, as publicações de toda
sorte são meios poderosos de
introduzir a luz por toda parte,
mas o mais seguro, o mais íntimo
e o mais acessível a todos é o
exemplo na caridade, a doçura e
o amor. (Destaques nossos.)
Vale a pena o registro quando,
mais à frente, nesta mesma
mensagem, Allan Kardec, destaca
a importância da Gdelidade:
Que o mais perfeito acordo, a
maior simpatia e a mais singular
abnegação reinem no seio da
Comissão. Espero que ela saiba
cumprir com honra, Fidelidade e
consciência o mandato que lhe é
confiado. (Destaque nosso.)
Cremos ser o texto claro e
suficiente, sem dar margem a
outras interpretações, atestando
a preocupação de Allan Kardec
ao recomendar ser o exemplo o
mais seguro, íntimo, acessível e
poderoso (este último está no
título da mensagem) agente de
divulgação da Doutrina, exemplo
este intimamente direcionado
à conduta caridosa, entre
todos, sejam ou não espíritas.
Nada há a estranhar, considerando
também o primeiro livro
escrito por Allan Kardec, O livro
dos espíritos,
3
quando, ao tratar
do tema A Prece, registrou:
Poderemos utilmente pedir a
Deus que perdoe as nossas faltas?
“Deus sabe discernir o bem do
mal; a prece não esconde as
faltas. Aquele que a Deus pede
perdão de suas faltas só o obtém
mudando de proceder. As boas
ações são a melhor prece, por
isso que os atos valem mais que
as palavras.” (Destaques nossos.)
O senso comum confirma
serem os atos mais valiosos que
mil palavras e poderíamos, por
extensão, dizer também valer
mais do que mil textos, imaginando
a palavra dita e a escrita.
Assim o diz igualmente a máxima
popular: “A palavra convence,
o exemplo arrasta”.
Não há nesta análise, nenhuma
oposição à boa prática
da divulgação doutrinária, por
qualquer meio lícito e mídia
possível. Tal conduta, importante,
nobre, meritória e permanente,
conforme recomenda
Emmanuel, sempre será bem-
-vinda e louvada.
Entretanto, dada a inquestionável
força do exemplo, cremos
deveria o mesmo receber a
máxima atenção dos espíritas:
na família; na atividade profissional;
na seara religiosa e na
sociedade, o que representa,
isto sim, a maior caridade a ser
feita pela Doutrina.
Agindo assim, nos faremos
(re)conhecidos dentro do organismo
social por muito nos
amarmos; seremos identificados
na coletividade como praticantes
da verdade, da honestidade,
da honradez, da lisura no falar e,
principalmente, no agir, ou seja,
Fiéis cumpridores da lei de justiça, de amor e de caridade. Dessa
forma nos tornaremos divulgadores
vivos da Doutrina onde
estivermos, verdadeiros propagandistas
dos princípios do Espiritismo,
atraindo todos os desejosos
dos bons exemplos; dos
homens íntegros; dos seguidores
e praticantes da ética e da moralidade,
tão escassos em nossa
sociedade moderna. Em poucas
palavras: dos homens de bem.
REFERÊNCIAS:
1 XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.
Estude e viva. Pelos Espíritos Emmanuel
e André Luiz. 14. ed. 2. imp. Brasí-
lia: FEB, 2013. cap. 40.
2
KARDEC, Allan. Revista espírita: jornal
de estudos psicológicos. ano 12, n.
6, jun. 1869. Trad. Evandro Noleto Bezerra.
3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
Dissertações Espíritas, p. 257.
3
____. O livro dos espíritos. Trad.
Guillon Ribeiro. 93. ed. 1. imp. (Edição
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