terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Sobre A VIDA FUTURA


Allan Kardec, in OBRAS PÓSTUMAS sobre A VIDA FUTURA (1ª. Parte)

"O homem não se preocupará com a vida futura senão quando vir nela um fim claro e positivamente definido, uma situação lógica, em correspondência com todas as suas aspirações, que resolva todas as dificuldades do presente e em que se lhe depare coisa alguma que a razão não possa admitir. Se ele se preocupa com o dia seguinte, é porque a vida do dia seguinte se liga intimamente à vida do dia anterior; uma e outra são solidárias; ele sabe que do que fizer hoje depende a sua posição amanhã e do que fizer amanhã dependerá a sua posição no dia imediato e assim por diante.
"Tal tem de ser para ele a vida futura, quando esta não se mais achar perdida nas nebulosidades das abstrações e for uma atualidade palpável complemento necessário da vida presente, uma das fases da vida geral, como os dias são fases da vida corporal. Quando vir o presente reagir sobre o futuro, pela força das coisas, e, sobretudo, quando compreender a reação do futuro sobre o presente; quando, em suma, verificar que o passado, o presente e o futuro se encadeiam por inflexível necessidade, como o ontem, o hoje e o amanhã na vida atual, oh! então suas idéias mudarão completamente, porque ele verá na vida futura não só um fim, como também um meio; não um efeito distante, mas atual. Então, igualmente, essa crença exercerá sem dúvida, e por conseqüência toda natural, ação preponderante sobre o estado social e sobre a moralização da Humanidade.
Tal o ponto de vista donde o Espiritismo nos faz considerar a vida futura."
* * *

 RESUMO:

·   Jesus se refere claramente à vida futura
·   Sem a vida futura, com efeito, a maior parte dos  preceitos de moral de Jesus não teriam nenhuma razão de ser.
·   O dogma da vida futura pode ser considerado como o ponto central do ensinamento do Cristo.
·   Jesus veio nos revelar que existe outro mundo, onde a justiça de Deus se realiza. É esse mundo que ele promete aos que observam os mandamentos de Deus. É nele que os bons são recompensados. Esse mundo é o seu reino, no qual se encontra em toda a sua glória, e para o qual voltará ao deixar a Terra.
·   Jesus se limitou a colocar, de certo modo, a vida futura como um princípio, uma lei da natureza, à qual ninguém pode escapar. Todo cristão, portanto, crê forçosamente na vida futura, mas a idéia que muitos fazem dela é vaga, incompleta, e por isso mesmo falsa em muitos pontos. Para grande número, é apenas uma crença, sem nenhuma certeza decisiva, e daí as dúvidas, e até mesmo a incredulidade.
·   Com o Espiritismo, a vida; futura não é mais simples artigo de fé, ou simples hipótese. É uma realidade material, provada pelos fatos.
·   A descrição da vida futura é de tal maneira circunstanciada, são tão racionais as condições da existência feliz ou infeliz do que nela se encontram, que acabamos por concordar que não podia ser de outra maneira, e que ela bem representa a verdadeira justiça de Deus.

O Espiritismo faz-nos ver a vida terrestre por aquilo que ela é, nos colocando no ponto de vista da vida futura;   

·   pelas provas materiais que dela nos fornece,
·   pela intuição límpida, precisa, lógica que dela nos dá,
·   pelos exemplos que coloca sob nossos olhos, e a ela nos transporta pelo pensamento:
·   é vista, é compreendida;
·   não é mais essa noção vaga, incerta, problemática, que se nos ensina do futuro, e que, involuntariamente, deixa dúvidas;
·   para o Espírita, é uma certeza adquirida, é uma realidade.

O Espiritismo faz mais ainda:   

·   mostra-nos a vida da alma, o ser essencial, uma vez que é o ser pensante, remontando no passado a uma época desconhecida, e se estendendo indefinidamente no futuro, de tal sorte que a vida terrestre, fosse ela de um século, não é mais do que um ponto nesse longo percurso.

Se pois, o homem, eleva seu pensamento de modo a abarcar a vida da alma, forçosamente, chega-se a esta conseqüência, de que assim se percebe a vida terrestre  

·   como uma estação momentânea;
·   que a vida espiritual é a vida real, porque ela é indefinida;
·   que a ilusão é a de tomar a parte pelo todo, quer dizer, a vida do corpo, que não é senão transitória, pela vida definitiva.

Para ver as coisas conforme a vida futura, dir-se-á, é preciso uma inteligência pouco comum,
   
·   um espírito filosófico que não se saberia encontrar nas massas;
·   de onde seria preciso concluir que, com poucas exceções, a Humanidade se arrastará sempre no terra-a-terra.

É um erro;   

·   para se identificar com a vida futura não é preciso uma inteligência excepcional, nem grandes esforços de imaginação, porque cada um dela leva consigo a intuição e o desejo;
·   mas a maneira pela qual se a apresenta, geralmente, é muito pouco sedutora, uma vez que oferece por alternativa as chamas eternas ou uma contemplação perpétua, o que faz com que muitos achem o nada preferível; de onde a incredulidade absoluta em alguns, e a dúvida na maioria. O que faltou até o presente foi a prova irrecusável da vida futura, e  
·   esta prova o Espiritismo vem dá-la, não mais por uma teoria vaga, mas por fatos patentes.

Bem mais, mostra tal como a razão, a mais severa, pode aceitá-la, porque explica tudo, justifica tudo, e resolve todas as dificuldades. Por isso mesmo é que ela é clara e lógica, e está ao alcance de todo o mundo;   

·   eis porque o Espiritismo conduz à crença tantas pessoas que dela tinham se afastado.
A experiência demonstra, cada dia, que o simples artesão, que os camponeses sem instrução, compreendem esse raciocínio sem esforços; colocam-se nesse novo ponto de vista tanto mais de boa vontade quanto nele encontram, como todas as pessoas infelizes, uma imensa consolação, e a única compensação possível em sua penosa e laboriosa existência. 

A vida corpórea é necessária ao Espírito, ou à alma, o que é a mesma coisa, para que possa cumprir no mundo material as funções que lhe são destinadas pela Providência: é um dos órgãos da harmonia universal

·   quanto mais a vida espiritual adquire importância aos olhos do homem, mais ele sente a necessidade de fazer o que for possível para nela assegurar o melhor lugar possível.
·   considerando as coisas deste mundo do ponto de vista extra-corpóreo, o homem, longe de ser excitado pela negligência e pela ociosidade, compreende melhor a necessidade do trabalho.
·   do ponto de vista espiritual, esta necessidade tem sua razão de ser, sua utilidade, e a aceita sem murmurar, porque compreende que, sem trabalho, ficaria indefinidamente na inferioridade e privado da felicidade suprema a que aspira, e que não saberia esperar se não se desenvolve intelectualmente e moralmente.

A vida futura tem para o homem uma outra conseqüência imensa e imediata: 

·   é a de lhe tornar mais suportáveis as tribulações da vida.

Que ele procure se proporcionar o bem-estar, a passar o mais agradavelmente possível o tempo de sua existência sobre a Terra, é muito natural e nada o proíbe. Mas, sabendo que não está neste mundo senão momentaneamente, que um futuro melhor o espera, 

·   atormenta-se pouco com as decepções que experimenta, e, vendo as coisas do alto, toma seus fracassos com menos amargura;
·   permanece indiferente aos tormentos dos quais é alvo da parte dos invejosos e dos ciumentos;
·   reduz ao seu justo valor os objetos de sua ambição, e se coloca acima das pequenas suscetibilidades do amor-próprio.

Livre dos cuidados que se crê o homem que não sai de sua estreita esfera,   

·   pela perspectiva grandiosa que se abre diante dele, não é senão mais livre para se entregar a um trabalho proveitoso para si mesmo e para os outros.

As afrontas, as diatribes, as maldades de seus inimigos não são para ele senão imperceptíveis nuvens num imenso horizonte; não se inquieta mais do que as moscas que zumbem aos seus ouvidos, porque

·   sabe que delas logo estará livre;
·   também todas as pequenas misérias que se lhe suscita, escorregam sobre ele como a água sobre o mármore.

...o resultado da diferença do ponto de vista sob o qual se considera a vida:  

Sem a vida futura há confusões e ansiedade;
Com a vida futura há calma e serenidade.


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