É natural que nós,
trabalhadores da seara espírita, esperemos ser admitidos em alguma tarefa,
depois da inexorável viagem de volta ao Mundo Espiritual. Muito justo
acalentemos doces esperanças de cooperação ativa no Mundo Maior, diante dos
relatos de Benfeitores, que nos mostram atividades constantes e nobres exemplos
de dedicação ao Bem. Entretanto, devemos meditar profundamente sobre a
qualificação exigida dos trabalhadores no Além. Aqui na Crosta, em nome da
fraternidade, da tolerância, ou mesmo por pieguice, são aceitos até
cooperadores com pouca noção de responsabilidade, muitos dos quais não têm
coragem para abandonar de vez as tarefas, mas também não a têm para se
esforçarem, no sentido de se capacitarem a fim de darem melhor conta delas.
No livro “Nosso Lar”,
podemos ver algumas situações vivenciadas por André Luiz, quando se candidatou
ao trabalho. Quem observa atentamente as suas experiências, verificará que não
basta apenas querer participar de alguma atividade no Mundo Espiritual, pois
além do conhecimento específico da tarefa em que pretenda colaborar, o Espírito
deve ter uma profunda consciência da necessidade de vivenciar os ensinamentos
do Evangelho, através do esforço no cultivo da humildade, da benevolência, da
tolerância e da disciplina. Na obra “Os Mensageiros”, ele anota as instruções
do nobre instrutor Aniceto, que lhe passa algumas noções do regulamento a ser
observado por aqueles que se candidatavam a trabalhar com ele.
Aniceto, o instrutor
espiritual, revela-se, ao longo da obra, Espírito que alia bondade imensa a
conhecimento profundo. Trata-se de verdadeiro modelo de virtudes, entre as
quais se destaca a disciplina, tanto para si, quanto para aqueles que trabalham
com ele. Aqui na Terra, se chefiando alguma equipe na seara espírita, por certo
encontraria forte resistência entre alguns trabalhadores, que o julgariam
excessivamente exigente.
André Luiz registra,
nos capítulos 2 e 3, algumas recomendações dele aos candidatos. Nos capítulos
de 9 a 12, lê-se o relato de vários Espíritos que, embora bem preparados antes
da encarnação, falharam no desempenho das tarefas a que se propuseram, talvez
porque não tenham tido os alertamentos que temos agora!
Eis alguns tópicos dos
capítulos 2 e 3:
Nosso serviço é
variado e rigoroso. O departamento de trabalho, afeto à nossa responsabilidade,
aceita somente os cooperadores interessados na descoberta da felicidade de
servir. Comprometemo-nos, mutuamente, a calar toda espécie de reclamação.
Ninguém exige expressão nominal nas obras úteis realizadas, e todos respondem
por qualquer erro cometido. Achamo-nos, aqui, num curso de extinção das velhas
vaidades pessoais, trazidas do mundo carnal. Dentro do mecanismo hierárquico de
nossas obrigações, interessamo-nos tão somente pelo bem divino. Consideramos
que toda possibilidade construtiva vem de nosso Pai e esta convicção nos
auxilia a esquecer as exigências descabidas de nossa personalidade inferior.
Mais adiante, Tobias
comenta a função do Centro de Mensageiros:
Este serviço é a cópia
de quantos se vêm fazendo nas mais diversas cidades espirituais dos planos superiores.
Preparam-se aqui numerosos companheiros para a difusão de esperanças e
consolos, instruções e avisos, nos diversos setores da evolução planetária. Não
me refiro tão só a emissários invisíveis. Organizamos turmas compactas de
aprendizes para a reencarnação. Médiuns e doutrinadores saem daqui às centenas,
anualmente. Tarefeiros do conforto espiritual encaminham-se para os círculos
carnais, em quantidade considerável, habilitados pelo nosso Centro de
Mensageiros.
Diante do que diz
Tobias, não seria prudente examinarmos a possibilidade de termos sido
preparados para alguma tarefa relacionada à difusão do Espiritismo? Não seria,
por certo, a consulta a um médium o meio de nos certificarmos se temos algum
compromisso firmado antes da nossa atual encarnação. Bastaria que observássemos
quais as oportunidades de trabalho que nos são oferecidas, buscando na oração a
lucidez necessária para nos esclarecermos, mesmo porque, as referências aos que
fogem dos compromissos são preocupantes:
Saem milhares de
mensageiros aptos para o serviço, mas são muito raros os que triunfam. Alguns
conseguem execução parcial da tarefa, outros fracassam de todo. O serviço
legítimo não é fantasia. É esforço sem o qual a obra não pode aparecer nem
prevalecer.
Aqui na Terra, quantas
vezes não são ouvidas reclamações quanto às exigências de um companheiro
guindado à posição de dirigente de um grupo de trabalho? Ao solicitar
observância de horário, assiduidade, seriedade na execução da tarefa aos
companheiros, quantas vezes recebe demonstrações de desagrado, não raro via
comentários descaridosos? Aniceto, se encarnado, dificilmente escaparia de ser
tachado de “mandão”, ao expressar-se assim:
Esclareça ao novo
candidato os nossos regulamentos e venham juntos para as instruções após o
meio-dia.
André Luiz, que já
assimilara as normas de trabalho, pondera:
Notei que o trabalho
no Posto se desenvolvia em ambiente da mais bela camaradagem, não obstante o
respeito natural às noções de hierarquia.
Diante do que acabamos
de ver, ao ser-nos atribuída uma tarefa, podemos sentir-nos na posse de
belíssima oportunidade de serviço no Bem, porta adentro da nossa própria
individualidade. Assim, pois, animados desse entendimento de reforma íntima,
aproveitemos as oportunidades que nos são concedidas, aqui na Terra, onde as
exigências são menores. Se as aproveitarmos convenientemente agora, estaremos
nos capacitando a integrar, desde já, equipes de trabalho no Mundo Espiritual
durante o sono físico, conforme nos revela André Luiz no livro “Missionários da
Luz”, capítulo 8. Integrados nas tarefas espirituais desde agora, teremos
maiores chances de nelas permanecermos quando desencarnarmos. Caso contrário,
teremos – na melhor das hipóteses – longo período de reeducação espiritual
antes de sermos admitidos no trabalho efetivo sob a égide de Jesus.
Por José Passini
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