sexta-feira, 17 de abril de 2015

Sedutora mídia


Escritores, jornalistas, romancistas, telenovelistas, oradores, enfim, todas as pessoas que se utilizam de uma caneta, computador, câmera ou microfone no exercício de sua profissão, têm uma responsabilidade específica e direta sobre a conseqüência que vai provocar – no leitor ou ouvinte ou espectador – aquilo que diz ou escreve.
As novelas maciçamente assistidas, que as emissoras de TV transmitem nos horários nobres, são um exemplo típico da influência que exercem na população: imitação de figurinos, repetição de falas e bordões, comportamentos, etc.
Será que os autores das novelas sabem aquilatar as conseqüências dos exemplos terríveis que colocam no ar, ao vivo e a cores, para a grande massa de expectadores desses programas largamente consumidos? Exemplos que se constituem em aulas de bandidagem e de crueldades inomináveis, levando pessoas vulneráveis a se sentirem autorizadas a fazer igual, repetir atitudes, copiar comportamentos que as conduzem a situações infelicitantes vida a fora.
Léon Tolstoi, no prefácio do livro “Sublimação”, de Yvonne do Amaral Pereira, presta contundente depoimento acerca do suicídio de Anna Karenina – personagem de um dos seus mais famosos romances – que inspirou gesto igual a muitas mulheres vítimas de descontroladas paixões. Esses fatos fizeram dele, segundo suas próprias palavras, uma pessoa atormentada, que carregava na consciência o peso de um remorso que o acompanhou pela vida, comprometendo a sua paz.
O “quarto poder” – expressão usada para definir o poder da mídia em relação aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário – tem a incrível capacidade de manipular a opinião pública, a ponto de ditar regras de comportamento e de influenciar nas escolhas dos indivíduos. Joga com as emoções da população, favorecendo o interesse de terceiros em busca de fama e conquista de audiência. É uma guerra das mais ferrenhas.
Agora, já se fala no “quinto poder” – o mundo da propaganda e da publicidade – que fascina multidões de consumistas vorazes, que se permitem aceitar tudo o que o talento criativo de seus profissionais joga no ar e no psiquismo das pessoas, através da imprensa falada, escrita, televisada e da mídia virtual.  Nem todos são capazes de identificar esse polvo cruel e desumano que, com os seus tentáculos, envolve as mentes dos desavisados imprimindo-lhes, subjetivamente, a marca do desejo incontrolável de possuir o produto anunciado. Mais cruel e mais desumana é a publicidade infantil que cria consumidores precoces, afetando igualmente crianças, filhas de famílias em situação de risco social, as quais crescem frustradas e amarguradas por não terem a mínima chance de adquirir os produtos anunciados que, para elas, significam a felicidade. Nos países mais desenvolvidos existem leis que restringem a publicidade infantil, para que a população infanto-juvenil abstenha-se de desenvolver a necessidade do consumismo desenfreado.
Na questão 209, do livro O CONSOLADOR, Emmanuel discorre sobre os efeitos produzidos pelo labor intelectual na Terra asseverando que “o homem de inteligência que vende a sua pena, a sua opinião e o seu pensamento no mercado da calúnia, do interesse, da ambição e da maldade cultiva espinhos e agrava responsabilidades pelas quais responderá um dia, quando houver despido a indumentária do mundo, para comparecer ante as verdades do Infinito”.
Porém, não podemos generalizar. A veiculação de textos e programas com mensagens positivas existe em menor escala, mas existe, levando aos leitores e espectadores mais seletivos e mais exigentes bons produtos, que se constituem em um alimento saudável para o espírito. Há no mercado editorial livros e revistas de excelente conteúdo. Os canais convencionais, a TV aberta, a Internet e a indústria cinematográfica também oferecem produtos de qualidade superior. Isso significa que o consumidor final desses produtos tem a opção de escolher o que mais lhe apraz. Compete a ele decidir com que tipo de alimento vai se nutrir espiritualmente.
Sonhamos com o dia em que essa guerra por audiência e pela ambição desmedida em estar no topo da lista dos que vendem mais dará lugar a uma mídia que seduza pelos valores morais, pela nobreza dos sentimentos, pela excelência do caráter bem formado, pelo interesse único em bem servir a humanidade. Exatamente assim, no melhor estilo das grandes civilizações. Como? Fazendo a nossa parte. Quando? Agora. Por quê? Simplesmente porque nós merecemos.
Maria das Graças Vidigal
Fonte: FEAK


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