sábado, 18 de abril de 2015

Evolução da mediunidade na visão espírita

Ao verificarmos a grandiosidade da evolução do ser humano, constatamos que desde os seus primórdios, ou seja, desde as primeiras encarnações humanas, quando este planeta era ainda um mundo primitivo, o seu crescimento foi sempre acompanhado pelo desenvolvimento mediúnico. Citamos, como fonte desse artigo, o belíssimo trabalho de Herculano Pires, na obra o Espírito e o Tempo.
Nos primeiros rudimentos da emancipação humana, chamaremos não de mediunidade, mas de “mediunismo”, que são as práticas da mediunidade na sua expressão natural, seriam as práticas empíricas da mediunidade.
Na ampulheta do tempo, vamos viajar e situar-nos há aproximadamente 2,7 milhões anos atrás, na era da pedra lascada (Homo Habilis). Nessa fase, onde o homem realizou a descoberta do fogo, também vamos encontrar os princípios do horizonte tribal. Os sentimentos do medo, a falta de discernimento sobre a aniquilação total e o instinto ainda muito aflorado levam o ser daquela época a se reunir em grupos dentro da furna. É nesse silêncio que ele começa a ser visitado pelos entes que se foram e que tentavam a comunicação. A história nos conta que nessa fase nasceram o Culto das Pedras e o Culto dos Crânios. Surge, assim, o culto religioso mais antigo do nosso planeta: o Culto Xamanista, onde aquele que era o mais sensitivo da tribo torna-se o elo de comunicação com o invisível, além de ser responsável pelas curas e previsões da comunidade.

A partir de então, o mediunismo toma outra dimensão. Do horizonte tribal passa para o agrícola, onde o ser humano começa a dominar a natureza e a submetê-la a seu serviço. Surgem o fetichismo, a zoolatria e a mitologia. O culto agora já possui deuses, incluindo o sacrifício de plantas, animais e, mais à frente, de seres humanos.

No horizonte civilizado, o homem passa a ser mais social, deixa de ser um animal gregário, realiza os primeiros juízos éticos e morais (código de Hamurabi). Ele passa a comparar, a medir e a julgar. Embora exista o médium, chamado de oráculo, ou pitonisa, as mensagens são dadas através de processos impessoais: murmúrio de uma fonte que responde, sons de uma gruta e rumores do bosque. Quando o médium responde diretamente, sua resposta imita esses rumores confusos da natureza. Nesses casos, dependia da interpretação sacerdotal, havia um corpo de sacerdotes para interpretar tais ruídos. As exceções representam avanço no processo evolutivo de individualização. Assim, em rituais religiosos, na leitura das estrelas, dos vegetais e das vísceras dos animais mortos, eles buscavam uma visão do futuro das pessoas. Dessa forma, surgiram os oráculos, nos quais mulheres, representantes da mais apurada intuição, eram conhecidas como pitonisas.

Depois do misticismo hindu, do moralismo chinês, da filosofia grega e do sacerdotismo egípcio chegamos ao profetismo hebraico, presente no período de IX até III A.C. Nessa fase já temos a evolução para o monoteísmo. Há a individualização mediúnica na figura do profeta que estabelece as ligações diretas com Deus, sendo ele – o profeta - o elo de ligação entre o céu e a terra. A figura mais notável foi o próprio Moisés.

No último horizonte denominado de espiritual, vamos ter a figura ímpar do Rabi da Galiléia: Jesus de Nazaré. Ele nos revela não um Deus vingativo e guerreiro, mas sim um Deus de amor. Fala-nos que não precisamos de um culto externo para entrar em contato com Deus, que o sacrifício não deve ser feito com plantas ou animais, mas que devemos sacrificar sim, o ego inferior. Ele próprio diz que “não veio destruir a lei, mas dar cumprimento”. Os fenômenos então afloram e surgem por toda a sua caminhada: cegos voltam a enxergar, leprosos recuperam a saúde e, no alto do Tabor, ele se transfigura e conversa com Moisés e Elias.

Tudo maravilhoso e muito importante para a nossa história. Mas também verificamos, ao longo desse tempo, que em nenhum momento o maravilhoso foi capaz de transformar o ser humano. Apesar de toda a fenomenologia parapsíquica efetuada por Moisés, isso não foi suficiente para alterar as disposições morais do povo hebreu, desde aqueles remotos tempos, até os dias atuais. O próprio Senhor de Nazaré realizou fenômenos dos mais expressivos à sua época, sem lograr cativar os daquela ocasião, tampouco sensibiliza a alma dos dias presentes. Nenhum dos seus feitos foi capaz de converter a alma terrena, somente a empolgou.
Kardec cita, na conclusão de O livro dos Espíritos, que a excelência do Espiritismo não se apoia nos fenômenos materiais, mas em sua filosofia. Muitos ainda procuram, embora desinformados, os fenômenos dentro do Centro Espírita. Sendo que o maior ganho para nós, seres endividados do passado, é o entendimento da luminosa mensagem do Evangelho, através da Doutrina Espírita. Doutrina que reedita o pensamento do Mestre na sua mais pura simplicidade. Ela esclarece “de onde eu vim?” e “para onde vou?” quando tantos de nós já fizemos essas perguntas, e milhares de outros ainda se encontram perdidos em interrogações vãs. A Doutrina Espírita é doutrina libertadora, é a doutrina da responsabilidade. A doutrina em que podemos ver e sentir o amor e o saber caminharem juntos.
Terminamos este artigo apontando a questão 798 de O Livro dos Espíritos e o item 25 do capítulo XVIII, de A Gênese.
- “O Espiritismo se tornará crença geral ou continuará sendo professado apenas por algumas pessoas?”
Resposta: “Certamente ele se tornará crença geral e marcará uma Nova Era na História da Humanidade, porque está na Natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos [...] Sua marcha, porém, será mais rápida que a do Cristianismo, porque é o próprio Cristianismo que lhe abre o caminho e serve de apoio. [...]”.

O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da Humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade, pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange. O Espiritismo, mais do que qualquer outra doutrina, está apto a secundar o movimento regenerador, por isso ele é contemporâneo desse movimento. Surgiu no momento em que podia ser útil, visto que também para ele os tempos são chegados. [...]”

Sidnei Rocha
Fonte: FEAK

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