Ao verificarmos a grandiosidade da evolução do ser humano,
constatamos que desde os seus primórdios, ou seja, desde as primeiras
encarnações humanas, quando este planeta era ainda um mundo primitivo, o
seu crescimento foi sempre acompanhado pelo desenvolvimento mediúnico.
Citamos, como fonte desse artigo, o belíssimo trabalho de Herculano
Pires, na obra o Espírito e o Tempo.
Nos primeiros rudimentos da emancipação humana, chamaremos não de
mediunidade, mas de “mediunismo”, que são as práticas da mediunidade na
sua expressão natural, seriam as práticas empíricas da mediunidade.
Na ampulheta do tempo, vamos viajar e situar-nos há aproximadamente 2,7 milhões anos atrás, na era da pedra lascada (Homo Habilis).
Nessa fase, onde o homem realizou a descoberta do fogo, também vamos
encontrar os princípios do horizonte tribal. Os sentimentos do medo, a
falta de discernimento sobre a aniquilação total e o instinto ainda
muito aflorado levam o ser daquela época a se reunir em grupos dentro da
furna. É nesse silêncio que ele começa a ser visitado pelos entes que
se foram e que tentavam a comunicação. A história nos conta que nessa
fase nasceram o Culto das Pedras e o Culto dos Crânios. Surge, assim, o
culto religioso mais antigo do nosso planeta: o Culto Xamanista, onde
aquele que era o mais sensitivo da tribo torna-se o elo de comunicação
com o invisível, além de ser responsável pelas curas e previsões da
comunidade.
A partir de então, o mediunismo toma outra dimensão. Do horizonte
tribal passa para o agrícola, onde o ser humano começa a dominar a
natureza e a submetê-la a seu serviço. Surgem o fetichismo, a zoolatria e
a mitologia. O culto agora já possui deuses, incluindo o sacrifício de
plantas, animais e, mais à frente, de seres humanos.
No horizonte civilizado, o homem passa a ser mais social, deixa de
ser um animal gregário, realiza os primeiros juízos éticos e morais
(código de Hamurabi). Ele passa a comparar, a medir e a julgar. Embora
exista o médium, chamado de oráculo, ou pitonisa, as mensagens são dadas
através de processos impessoais: murmúrio de uma fonte que responde,
sons de uma gruta e rumores do bosque. Quando o médium responde
diretamente, sua resposta imita esses rumores confusos da natureza.
Nesses casos, dependia da interpretação sacerdotal, havia um corpo de
sacerdotes para interpretar tais ruídos. As exceções representam avanço
no processo evolutivo de individualização. Assim, em rituais religiosos,
na leitura das estrelas, dos vegetais e das vísceras dos animais
mortos, eles buscavam uma visão do futuro das pessoas. Dessa forma,
surgiram os oráculos, nos quais mulheres, representantes da mais apurada
intuição, eram conhecidas como pitonisas.
Depois do misticismo hindu, do moralismo chinês, da filosofia grega e
do sacerdotismo egípcio chegamos ao profetismo hebraico, presente no
período de IX até III A.C. Nessa fase já temos a evolução para o
monoteísmo. Há a individualização mediúnica na figura do profeta que
estabelece as ligações diretas com Deus, sendo ele – o profeta - o elo
de ligação entre o céu e a terra. A figura mais notável foi o próprio
Moisés.
No último horizonte denominado de espiritual, vamos ter a figura
ímpar do Rabi da Galiléia: Jesus de Nazaré. Ele nos revela não um Deus
vingativo e guerreiro, mas sim um Deus de amor. Fala-nos que não
precisamos de um culto externo para entrar em contato com Deus, que o
sacrifício não deve ser feito com plantas ou animais, mas que devemos
sacrificar sim, o ego inferior. Ele próprio diz que “não veio destruir a
lei, mas dar cumprimento”. Os fenômenos então afloram e surgem por toda
a sua caminhada: cegos voltam a enxergar, leprosos recuperam a saúde e,
no alto do Tabor, ele se transfigura e conversa com Moisés e Elias.
Tudo maravilhoso e muito importante para a nossa história. Mas também
verificamos, ao longo desse tempo, que em nenhum momento o maravilhoso
foi capaz de transformar o ser humano. Apesar de toda a fenomenologia
parapsíquica efetuada por Moisés, isso não foi suficiente para alterar
as disposições morais do povo hebreu, desde aqueles remotos tempos, até
os dias atuais. O próprio Senhor de Nazaré realizou fenômenos dos mais
expressivos à sua época, sem lograr cativar os daquela ocasião, tampouco
sensibiliza a alma dos dias presentes. Nenhum dos seus feitos foi capaz
de converter a alma terrena, somente a empolgou.
Kardec cita, na conclusão de O livro dos Espíritos, que a excelência
do Espiritismo não se apoia nos fenômenos materiais, mas em sua
filosofia. Muitos ainda procuram, embora desinformados, os fenômenos
dentro do Centro Espírita. Sendo que o maior ganho para nós, seres
endividados do passado, é o entendimento da luminosa mensagem do
Evangelho, através da Doutrina Espírita. Doutrina que reedita o
pensamento do Mestre na sua mais pura simplicidade. Ela esclarece “de
onde eu vim?” e “para onde vou?” quando tantos de nós já fizemos essas
perguntas, e milhares de outros ainda se encontram perdidos em
interrogações vãs. A Doutrina Espírita é doutrina libertadora, é a
doutrina da responsabilidade. A doutrina em que podemos ver e sentir o
amor e o saber caminharem juntos.
Terminamos este artigo apontando a questão 798 de O Livro dos Espíritos e o item 25 do capítulo XVIII, de A Gênese.
- “O Espiritismo se tornará crença geral ou continuará sendo professado apenas por algumas pessoas?”
Resposta: “Certamente ele se tornará crença geral e marcará uma Nova
Era na História da Humanidade, porque está na Natureza e chegou o tempo
em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos [...] Sua marcha,
porém, será mais rápida que a do Cristianismo, porque é o próprio
Cristianismo que lhe abre o caminho e serve de apoio. [...]”.
O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da Humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade,
pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela
amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange. O
Espiritismo, mais do que qualquer outra doutrina, está apto a secundar o
movimento regenerador, por isso ele é contemporâneo desse movimento.
Surgiu no momento em que podia ser útil, visto que também para ele os
tempos são chegados. [...]”
Sidnei Rocha
Fonte: FEAK
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