Allan Kardec, in OBRAS PÓSTUMAS sobre A VIDA FUTURA (1ª. Parte)
"O
homem não se preocupará com a vida futura senão quando vir nela um fim
claro e positivamente definido, uma situação lógica, em correspondência
com todas as suas aspirações, que resolva todas as dificuldades do
presente e em que se lhe depare coisa alguma que a razão não possa
admitir. Se ele se preocupa com o dia seguinte, é porque a vida do dia
seguinte se liga intimamente à vida do dia anterior; uma e outra são
solidárias; ele sabe que do que fizer hoje depende a sua posição amanhã e
do que fizer amanhã dependerá a sua posição no dia imediato e assim por
diante.
"Tal
tem de ser para ele a vida futura, quando esta não se mais achar
perdida nas nebulosidades das abstrações e for uma atualidade palpável
complemento necessário da vida presente, uma das fases da vida geral,
como os dias são fases da vida corporal. Quando vir o presente reagir
sobre o futuro, pela força das coisas, e, sobretudo, quando compreender a
reação do futuro sobre o presente; quando, em suma, verificar que o
passado, o presente e o futuro se encadeiam por inflexível necessidade,
como o ontem, o hoje e o amanhã na vida atual, oh! então suas idéias
mudarão completamente, porque ele verá na vida futura não só um fim,
como também um meio; não um efeito distante, mas atual. Então,
igualmente, essa crença exercerá sem dúvida, e por conseqüência toda
natural, ação preponderante sobre o estado social e sobre a moralização
da Humanidade.
Tal o ponto de vista donde o Espiritismo nos faz considerar a vida futura."
* * *
RESUMO:
· Jesus se refere claramente à vida futura
· Sem a vida futura, com efeito, a maior parte dos preceitos de moral de Jesus não teriam nenhuma razão de ser.
· O dogma da vida futura pode ser considerado como o ponto central do ensinamento do Cristo.
· Jesus veio nos revelar que existe outro mundo, onde a justiça de Deus se realiza. É esse mundo que ele promete aos que observam os mandamentos de Deus. É nele que os bons são recompensados. Esse mundo é o seu reino, no qual se encontra em toda a sua glória, e para o qual voltará ao deixar a Terra.
· Jesus se limitou a colocar, de certo modo, a vida futura como um princípio, uma lei da natureza, à qual ninguém pode escapar. Todo cristão, portanto, crê forçosamente na vida futura, mas a idéia que muitos fazem dela é vaga, incompleta, e por isso mesmo falsa em muitos pontos. Para grande número, é apenas uma crença, sem nenhuma certeza decisiva, e daí as dúvidas, e até mesmo a incredulidade.
· Com o Espiritismo, a vida; futura não é mais simples artigo de fé, ou simples hipótese. É uma realidade material, provada pelos fatos.
· A descrição da vida futura é de tal maneira circunstanciada, são tão racionais as condições da existência feliz ou infeliz do que nela se encontram, que acabamos por concordar que não podia ser de outra maneira, e que ela bem representa a verdadeira justiça de Deus.
O Espiritismo faz-nos ver a vida terrestre por aquilo que ela é, nos colocando no ponto de vista da vida futura;
· pelas provas materiais que dela nos fornece,
· pela intuição límpida, precisa, lógica que dela nos dá,
· pelos exemplos que coloca sob nossos olhos, e a ela nos transporta pelo pensamento:
· é vista, é compreendida;
· não é mais essa noção vaga, incerta, problemática, que se nos ensina do futuro, e que, involuntariamente, deixa dúvidas;
· para o Espírita, é uma certeza adquirida, é uma realidade.
O Espiritismo faz mais ainda:
· mostra-nos
a vida da alma, o ser essencial, uma vez que é o ser pensante,
remontando no passado a uma época desconhecida, e se estendendo
indefinidamente no futuro, de tal sorte que a vida terrestre, fosse ela
de um século, não é mais do que um ponto nesse longo percurso.
Se
pois, o homem, eleva seu pensamento de modo a abarcar a vida da alma,
forçosamente, chega-se a esta conseqüência, de que assim se percebe a
vida terrestre
· como uma estação momentânea;
· que a vida espiritual é a vida real, porque ela é indefinida;
· que a ilusão é a de tomar a parte pelo todo, quer dizer, a vida do corpo, que não é senão transitória, pela vida definitiva.
Para ver as coisas conforme a vida futura, dir-se-á, é preciso uma inteligência pouco comum,
· um espírito filosófico que não se saberia encontrar nas massas;
· de onde seria preciso concluir que, com poucas exceções, a Humanidade se arrastará sempre no terra-a-terra.
É um erro;
· para
se identificar com a vida futura não é preciso uma inteligência
excepcional, nem grandes esforços de imaginação, porque cada um dela
leva consigo a intuição e o desejo;
· mas
a maneira pela qual se a apresenta, geralmente, é muito pouco sedutora,
uma vez que oferece por alternativa as chamas eternas ou uma
contemplação perpétua, o que faz com que muitos achem o nada preferível;
de onde a incredulidade absoluta em alguns, e a dúvida na maioria. O
que faltou até o presente foi a prova irrecusável da vida futura, e
· esta prova o Espiritismo vem dá-la, não mais por uma teoria vaga, mas por fatos patentes.
Bem
mais, mostra tal como a razão, a mais severa, pode aceitá-la, porque
explica tudo, justifica tudo, e resolve todas as dificuldades. Por isso
mesmo é que ela é clara e lógica, e está ao alcance de todo o mundo;
· eis porque o Espiritismo conduz à crença tantas pessoas que dela tinham se afastado.
A
experiência demonstra, cada dia, que o simples artesão, que os
camponeses sem instrução, compreendem esse raciocínio sem esforços;
colocam-se nesse novo ponto de vista tanto mais de boa vontade quanto
nele encontram, como todas as pessoas infelizes, uma imensa consolação, e
a única compensação possível em sua penosa e laboriosa existência.
A
vida corpórea é necessária ao Espírito, ou à alma, o que é a mesma
coisa, para que possa cumprir no mundo material as funções que lhe são
destinadas pela Providência: é um dos órgãos da harmonia universal.
· quanto
mais a vida espiritual adquire importância aos olhos do homem, mais ele
sente a necessidade de fazer o que for possível para nela assegurar o
melhor lugar possível.
· considerando
as coisas deste mundo do ponto de vista extra-corpóreo, o homem, longe
de ser excitado pela negligência e pela ociosidade, compreende melhor a
necessidade do trabalho.
· do
ponto de vista espiritual, esta necessidade tem sua razão de ser, sua
utilidade, e a aceita sem murmurar, porque compreende que, sem trabalho,
ficaria indefinidamente na inferioridade e privado da felicidade
suprema a que aspira, e que não saberia esperar se não se desenvolve
intelectualmente e moralmente.
A vida futura tem para o homem uma outra conseqüência imensa e imediata:
· é a de lhe tornar mais suportáveis as tribulações da vida.
Que
ele procure se proporcionar o bem-estar, a passar o mais agradavelmente
possível o tempo de sua existência sobre a Terra, é muito natural e
nada o proíbe. Mas, sabendo que não está neste mundo senão
momentaneamente, que um futuro melhor o espera,
· atormenta-se pouco com as decepções que experimenta, e, vendo as coisas do alto, toma seus fracassos com menos amargura;
· permanece indiferente aos tormentos dos quais é alvo da parte dos invejosos e dos ciumentos;
· reduz ao seu justo valor os objetos de sua ambição, e se coloca acima das pequenas suscetibilidades do amor-próprio.
Livre dos cuidados que se crê o homem que não sai de sua estreita esfera,
· pela
perspectiva grandiosa que se abre diante dele, não é senão mais livre
para se entregar a um trabalho proveitoso para si mesmo e para os
outros.
As
afrontas, as diatribes, as maldades de seus inimigos não são para ele
senão imperceptíveis nuvens num imenso horizonte; não se inquieta mais
do que as moscas que zumbem aos seus ouvidos, porque
· sabe que delas logo estará livre;
· também todas as pequenas misérias que se lhe suscita, escorregam sobre ele como a água sobre o mármore.
...o resultado da diferença do ponto de vista sob o qual se considera a vida:
Sem a vida futura há confusões e ansiedade;
Com a vida futura há calma e serenidade.
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