O
arrependimento se dá no estado espiritual, mas, também pode ocorrer no
estado corporal, quando bem se compreende a diferença entre o bem e o
mal.
A
conseqüência do arrependimento no estado espiritual é a do arrependido
desejar uma nova encarnação para se purificar. O Espírito compreende as
imperfeições que o privam de ser feliz e por isso aspira a uma nova
existência em que possa expiar suas faltas. (332-975)
332. O Espírito pode abreviar ou retardar o momento da reencarnação?
R:
— Pode abreviá-lo, solicitando-o por suas preces e pode também
retardá-lo, se recuar ante a prova. Porque entre os Espíritos há também
indiferentes e poltrões; mas não o faz impunemente pois sofre com isso,
como aquele que recusa o remédio que o pode curar.
975. Os Espíritos inferiores compreendem a felicidade do justo?
R:
— Sim, e é isso o que os tortura, pois compreendem que estão privados
dela por sua própria culpa. É por isso que o Espírito liberto da matéria
aspira a uma nova existência corpórea, pois poderá abreviar, se for bem empregada,
a duração desse suplício. É então que escolhe as provas que poderão
expiar suas culpas. Porque, ficai sabendo, o Espírito sofre por todo o
mal que fez ou do qual foi causador involuntário, por todo o bem que,
tendo podido fazer, não o fez, e por todo o mal que resultar do bem que deixou de fazer. O Espírito errante não está mais envolvido pelo véu da matéria: é como se tivesse saído de um nevoeiro e vê o que o distancia da felicidade; então sofre ainda mais, porque compreende quanto é culpado. Para ele não existe mais a ilusão: vê a realidade das coisas.
O arrependimento no estado corporal produz a conseqüência de fazer que, já na vida atual,
o Espírito progrida, se tiver tempo de reparar suas faltas. Quando a
consciência o exprobra e lhe mostra uma imperfeição, o homem pode sempre
melhorar-se.
Há
homens que só têm o instinto do mal e parecem inacessíveis ao
arrependimento, porém, todo Espírito tem que progredir incessantemente.
Aquele que, nesta vida, só tem o instinto do mal, terá noutra o do bem e é para isso que renasce muitas vezes,
pois preciso é que todos progridam e atinjam a meta. A diferença está
somente em que uns gastam mais tempo do que outros, porque assim o
querem. Aquele, que só tem o instinto do bem, já se purificou, visto que
talvez tenha tido o do mal em anterior existência.” (804)
804. Por que não outorgou Deus as mesmas aptidões a todos os homens?
“Deus
criou iguais todos os Espíritos, mas cada um destes vive há mais ou
menos tempo, e, conseguintemente, tem feito maior ou menor soma de
aquisições. A diferença entre eles está na diversidade dos graus da
experiência alcançada e da vontade com que obram, vontade que é o
livre-arbítrio. Daí o se aperfeiçoarem uns mais rapidamente do que
outros, o que lhes dá aptidões diversas. Necessária é a variedade das
aptidões, a fim de que cada um possa concorrer para a execução dos
desígnios da Providência, no limite do desenvolvimento de suas forças
físicas e intelectuais. O que um não faz, fá-lo outro. Assim é que cada
qual tem seu papel útil a desempenhar. Demais, sendo solidários entre si todos os mundos,
necessário se torna que os habitantes dos mundos superiores, que, na
sua maioria, foram criados antes do vosso, venham habitá-lo, para vos
dar o exemplo.” (361)
361. Qual a origem das qualidades morais, boas ou más, do homem?
“São as do Espírito nele encarnado. Quanto mais puro é esse Espírito, tanto mais propenso ao bem é o homem.”
361a. Seguir-se-á daí que o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito e o homem vicioso a de um Espírito mau?
“Sim,
mas, dize antes que o homem vicioso é a encarnação de um Espírito
imperfeito, pois, do contrário, poderias fazer crer na existência de
Espíritos sempre maus, a que chamais demônios.”
O homem perverso, que não reconheceu suas faltas durante a vida, sempre as reconhece depois da morte, então, mais sofre, porque sente em si todo o mal que praticou,
ou de que foi voluntariamente causa. Contudo, o arrependimento nem
sempre é imediato. Há Espíritos que se obstinam em permanecer no mau
caminho, não obstante os sofrimentos por que passam. Porém, cedo ou
tarde, reconhecerão errada a senda que tomaram e o arrependimento virá.
Para esclarecê-los trabalham os bons Espíritos e também vós podeis
trabalhar.
Haverá
Espíritos que, sem serem maus, se conservam indiferentes à sua sorte,
aliás, há Espíritos que de coisa alguma útil se ocupam. Estão na
expectativa. Mas, nesse caso, sofrem proporcionalmente. Devendo em tudo
haver progresso, neles o progresso se manifesta pela dor. Esses
Espíritos, desejam sem dúvida, abreviar seus sofrimentos, mas falta-lhes
energia bastante para quererem o que os pode aliviar. Quantos
indivíduos se contam, entre nós, que preferem morrer de miséria a
trabalhar?
Os
Espíritos vêem o mal que lhes resulta de suas imperfeições, contudo há
os que agravam suas situações e prolongam o estado de inferioridade em
que se encontram, fazendo o mal como Espíritos, afastando do bom caminho
os homens, estes são os de arrependimento tardio e assim procedem,
mas, também, pode acontecer que, depois de se haver arrependido, o
Espírito se deixe arrastar de novo para o caminho do mal, por outros
Espíritos ainda mais atrasados. (971)
971. É sempre boa a influência que os Espíritos exercem uns sobre os outros?
“Sempre
boa, está claro, da parte dos bons Espíritos. Os Espíritos perversos,
esses procuram desviar da senda do bem e do arrependimento os que lhes
parecem suscetíveis de se deixarem levar e que são, muitas vezes, os que
eles mesmos arrastaram ao mal durante a vida terrena.”
971a. Assim, a morte não nos livra da tentação?
“Não,
mas a ação dos maus Espíritos é sempre menor sobre os outros Espíritos
do que sobre os homens, porque lhes falta o auxílio das paixões
materiais.”
Vêem-se
Espíritos, de notória inferioridade, acessíveis aos bons sentimentos e
sensíveis às preces que por eles se fazem. Contudo existem outros
Espíritos, que os supomos mais esclarecidos, revelarem um endurecimento e
um cinismo, dos quais coisa alguma consegue triunfar, mas a prece só
tem efeito sobre o Espírito que se arrepende. Com relação aos que,
impelidos pelo orgulho, se revoltam contra Deus e persistem nos seus
desvarios, chegando mesmo a exagerá-los, como o fazem alguns desgraçados
Espíritos, a prece nada pode e nada poderá, senão no dia em que um
clarão de arrependimento se produza neles.” (664)
664.
Será útil que oremos pelos mortos e pelos Espíritos sofredores? E,
neste caso, como lhes podem as nossas preces proporcionar alívio e
abreviar os sofrimentos? Têm elas o poder de abrandar a justiça de Deus?
“A
prece não pode ter por efeito mudar os desígnios de Deus, mas a alma
por quem se ora experimenta alívio, porque recebe assim um testemunho do
interesse que inspira àquele que por ela pede e também porque o
desgraçado sente sempre um refrigério, quando encontra almas caridosas
que se compadecem de suas dores. Por outro lado, mediante a prece,
aquele que ora concita o desgraçado ao arrependimento e ao desejo de
fazer o que é necessário para ser feliz. Neste sentido é que se lhe pode
abreviar a pena, se, por sua parte, ele secunda a prece com a
boa-vontade. O desejo de melhorar-se, despertado pela prece, atrai para
junto do Espírito sofredor Espíritos melhores, que o vão esclarecer,
consolar e dar-lhe esperanças. Jesus orava pelas ovelhas desgarradas,
mostrando-vos, desse modo, que culpados vos tornaríeis, se não fizésseis
o mesmo pelos que mais necessitam das vossas preces.”
Nota de Allan Kardec: Não
se deve perder de vista que o Espírito não se transforma subitamente,
após a morte do corpo. Se viveu vida condenável, é porque era
imperfeito. Ora, a morte não o torna imediatamente perfeito. Pode, pois,
persistir em seus erros, em suas falsas opiniões, em seus preconceitos,
até que se haja esclarecido pelo estudo, pela reflexão e pelo
sofrimento.
A
expiação se cumpre durante a existência corporal, mediante as provas a
que o Espírito se acha submetido e, na vida espiritual, pelos
sofrimentos morais, inerentes ao estado de inferioridade do Espírito.
Não
basta o arrependimento durante a vida para que as faltas do Espírito se
apaguem e ele ache graça diante de Deus, o arrependimento concorre para
a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado.
Se,
diante disto, um criminoso disser que, cumprindo-lhe, em todo caso,
expiar o seu passado, nenhuma necessidade tem de se arrepender, resulta
tornar-se mais longa e mais penosa a sua expiação, desde que ele esteja
obstinado no mal.
Já
desde esta vida poderemos ir resgatando as nossas faltas, reparando-as.
Mas, não creiamos que as resgatemos mediante algumas privações pueris,
ou distribuindo em esmolas o que possuirmos, depois que morrermos,
quando de nada mais precisamos. Deus não dá valor a um arrependimento
estéril, sempre fácil e que apenas custa o esforço de bater no peito. A
perda de um dedo mínimo, quando se esteja prestando um serviço, apaga
mais faltas do que o suplício da carne suportado durante anos, com
objetivo exclusivamente pessoal. (726)
726.
Visto que os sofrimentos deste mundo nos elevam, se os suportarmos
devidamente, dar-se-á que também nos elevam os que nós mesmos nos
criamos?
“Os
sofrimentos naturais são os únicos que elevam, porque vêm de Deus. Os
sofrimentos voluntários de nada servem, quando não concorrem para o bem
de outrem. Supões que se adiantam no caminho do progresso os que
abreviam a vida, mediante rigores sobre-humanos, como o fazem os bonzos,
os faquires e alguns fanáticos de muitas seitas? Por que de preferência
não trabalham pelo bem de seus semelhantes? Vistam o indigente;
consolem o que chora; trabalhem pelo que está enfermo; sofram privações
para alívio dos infelizes e então suas vidas serão úteis e, portanto,
agradáveis a Deus. Sofrer alguém voluntariamente, apenas por seu próprio
bem, é egoísmo; sofrer pelos outros é caridade: tais os preceitos do
Cristo.”
Só por meio do bem se repara o mal e a reparação nenhum mérito apresenta, se não atinge o homem nem no seu orgulho, nem no seus interesses materiais.
De
que serve, para sua justificação, que restitua, depois de morrer, os
bens mal adquiridos, quando se lhe tornaram inúteis e deles tirou todo o
proveito?
De que lhe serve privar-se de alguns gozos fúteis, de algumas superfluidades, se permanece integral o dano que causou a outrem?
De que lhe serve, finalmente, humilhar-se diante de Deus, se, perante os homens, conserva o seu orgulho? (720-721)
720. São meritórias aos olhos de Deus as privações voluntárias, com o objetivo de uma expiação igualmente voluntária?
“Fazei o bem aos vossos semelhantes e mais mérito tereis.”
720a. Haverá privações voluntárias que sejam meritórias?
“Há:
a privação dos gozos inúteis, porque desprende da matéria o homem e lhe
eleva a alma. Meritório é resistir à tentação que arrasta ao excesso ou
ao gozo das coisas inúteis; é o homem tirar do que lhe é necessário
para dar aos que carecem do bastante. Se a privação não passar de
simulacro, será uma irrisão.”
721.
É meritória, de qualquer ponto de vista, a vida de mortificações
ascéticas que desde a mais remota antigüidade teve praticantes no seio
de diversos povos?
“Procurai
saber a quem ela aproveita e tereis a resposta. Se somente serve para
quem a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísmo, seja qual for o
pretexto com que entendam de colori-la. Privar-se a si mesmo e trabalhar
para os outros, tal a verdadeira mortificação, segundo a caridade
cristã.”
Nenhum
mérito, não é bem o termo, haverá em assegurarmos, para depois de nossa
morte, emprego útil aos bens que possuímos, mas isso sempre é melhor do
que nada. A desgraça, porém, é que aquele, que só depois de morto dá, é
quase sempre mais egoísta do que generoso. Quer ter o fruto do bem, sem
o trabalho de praticá-lo. Duplo proveito tira aquele que, em vida se
priva de alguma coisa; o mérito do sacrifício e o prazer de ver felizes
os que lhe devem a felicidade. Mas, lá está o egoísmo a dizer-lhe: O que
dás tiras aos teus gozos; e, como o egoísmo fala mais alto do que o
desinteresse e a caridade, o homem guarda o que possui, pretextando suas
necessidades pessoais e as exigências da sua posição! Ah! Lastimai
aquele que desconhece o prazer de dar; acha-se verdadeiramente privado
de um dos mais puros e suaves gozos. Submetendo-o à prova da riqueza,
tão escorregadia e perigosa para o seu futuro, houve Deus por bem
conceder-lhe, como compensação, a ventura da generosidade, de já neste
mundo pode gozar. (814)
814. Por que Deus a uns concedeu as riquezas e o poder, e a outros, a miséria?
“Para
experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas
provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto,
sucumbem com freqüência.”
Aquele
que, em artigo de morte, reconhece suas faltas, quando já não tem tempo
de as reparar, o arrependimento lhe apressa a reabilitação, mas não o
absolve. Diante dele se desdobra o futuro que jamais lhe é trancado para
reparar as suas faltas.
171 - Em que se funda o dogma da reencarnação?
R.
— Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o
bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o
arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre
da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se?
Não são filhos de Deus todos os homens? Somente entre os homens
egoístas é que se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os
castigos sem perdão.
Nota de Allan Kardec: Todos
os Espíritos tendem à perfeição, e Deus lhes proporciona os meios de
consegui-la com as provas da vida corpórea. Mas, na sua justiça,
permiti-lhes realizar em novas existências, aquilo que não puderam fazer
ou acabar numa primeira prova.
Não
estaria de acordo com a eqüidade, nem segundo a bondade de Deus,
castigar para sempre aqueles que encontraram obstáculos ao seu
melhoramento, independentemente de sua vontade, no próprio meio em que
foram colocados. Se a sorte do homem fosse irrevogavelmente fixada após a
sua morte, Deus não os teria tratado com imparcialidade.
A
doutrina da reencarnação, que consiste em admitir para o homem muitas
existências sucessivas, é a única que corresponde à idéia da justiça de
Deus com respeito aos homens de condição moral inferior; a única que
pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois
oferece-nos o meio de resgatarmos os nossos erros através de novas
provas. A razão assim nos diz, e é o que os espíritos nos ensinam.
homem
que tem a consciência da sua inferioridade encontra na doutrina da
reencarnação uma consoladora esperança. Se crê na justiça de Deus, não
pode esperar que, por toda a eternidade, haja de ser igual aos que
agiram melhor do que ele. O pensamento de que essa inferioridade não o
deserdará para sempre do bem supremo, e de que ele poderá conquistá-lo
através de novos esforços, o ampara e lhe reanima a coragem. Qual é
aquele que, no fim da sua carreira, não lamenta ter adquirido demasiado
tarde uma experiência que já não pode aproveitar? Pois esta experiência
tardia não estará perdida: ele a aproveitará numa nova existência.
* * *
O “bom ladrão”
Um dos malfeitores suspensos à cruz o insultava, dizendo: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”. Mas o outro, tomando a palavra, o repreendia: “Nem
sequer temes a Deus, estando na mesma condenação? Quanto a nós, é de
justiça: estamos pagando por nossos atos; mas ele não fez nenhum mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com teu reino”. Ele respondeu: “Em verdade, eu te digo, hoje estará comigo no Paraíso”.
Lucas 23:39-43
ARREPENDIMENTO
Sentimento
de pesar causado por violação de uma lei ou da conduta moral: resulta
na livre aceitação do castigo e na disposição de evitar futuras
violações. Essa é a definição da ética, e refere-se mais particularmente
à lei e à moral humanas. Segundo a religião (sobretudo segundo o
Cristianismo) é o sentimento de pesar que se apossa em virtude de falta
cometida por atos, palavras ou pensamentos, os quais ela preferiria não
ter praticado, dito ou concebido, e que a conduz ao propósito de mudar
de atitude ou de comportamento e ao desejo de penitenciar-se. Na
verdade, a simples disposição de evitar futuras violações, ou de
penitenciar-se, cheio de unção e contrição, é de valor relativo. Válido
sob todos os aspectos é o arrependimento que leva à reparação da falta
cometida. Sentir-se pesaroso, bater o “mea culpa” e entregar-se a
penitências pode ter, de fato tem um valor meramente subjetivo: ameniza a
angústia do que errou. Mas o que realmente se espera é que este repare
seu erro de modo objetivo: se por palavras ofendeu, busque o perdão do
ofendido; se por atos causou dano ou destruiu, indenize o prejudicado,
reconstrua o destruído ; se por pensamentos desejou o mal ou prevaricou,
conscientize-se disso fundamente, reeduque-se, conheça-se a si mesmo e
moralmente se transforme para viver em paz com a própria consciência.
Moderna Enciclopédia Brasileira
182 - O remorso é uma punição?
R:
— O remorso é a força que prepara o arrependimento, como este é a
energia que precede o esforço regenerador. Choque espiritual nas suas
características profundas, o remorso é o interstício para a luz, através
do qual recebe o homem a cooperação indireta de seus amigos do
Invisível, a fim de retificar seus desvios e renovar seus valores
morais, na jornada para Deus.
Emmanuel no livro “O Consolador”
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