COMO VIVEM OS ESPÍRITOS 2 – UMBRAL
2 – UMBRAL
Uma curiosidade comum dos seres humanos,
ao menos para os que acreditam haver vida após a morte, é saber aonde
vamos quando o desencarne físico ocorre. Há correntes de pensamentos que
entendem que a alma, uma vez desligada do corpo, mergulha num todo que
seria o próprio Ser ou corpo divino; uma gota de água absorvida pelo
oceano com perda da consciência e, consequentemente, da individualidade.
Outras admitem que tal alma encontre diante de si três possibilidades: o
céu ou paraíso para “eleitos” ou “salvos”, o inferno para os grandes
pecadores, ambas as situações em caráter definitivo, ou o purgatório,
estado transitório, de onde, após algum tempo de grandes aflições,
poderá obter também a salvação.
O Espiritismo não admite penas ou gozos
eternos. A respeito tecemos diversos comentários no tópico
“Reencarnação”, o qual recomendamos seja consultado. O Umbral talvez
guarde paralelo com o Tártaro pagão e o Inferno cristão, com a diferença
de que seus habitantes não permanecem ali eternamente. A verdade é que,
justamente por esta razão, estaria mais associado à idéia do
Purgatório, pois que este, como frisamos, seria a única região
provisória da alma depois da experiência carnal.
O Umbral é constituído por regiões
espirituais de grandes sofrimentos para onde seguem os Espíritos que
desencarnaram com pesado endividamento moral, consumado aqui na Terra.
Muito próximas à crosta planetária e mesmo em furnas abaixo de sua
superfície, essas regiões são muito bem descritas pelo autor espiritual
André Luiz, onde ele próprio ficou por oito anos e descreveu a
experiência através da psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Tal destino decretado pelo mau uso do
livre-arbítrio individual, não constitui propriamente um castigo divino,
mas uma consequência natural dos atos praticados que infringiram as
leis de Deus. A permanência nesses ambientes está condicionada ao número
de faltas, sua gravidade e à dureza de coração, que retarda o toque
rependimento, impedindo o auxílio sempre disponível dos socorristas
espirituais.
No momento que voltam seu olhar humilde
para Deus, reconhecem os erros e manifestam o desejo sincero de
reparação, o Pai permite que os bons Espíritos os retirem de lá,
conduzindo-os para colônias espirituais onde recebem os tratamentos
necessários, inclusive o refazimento perispiritual e mental a primeira
etapa e os estágios preparatórios à sua próxima encarnação em etapas
subsequentes.
Ao desencarnar, o Espírito ou alma será
atraído automaticamente para regiões espirituais cuja frequência
vibracional lhe corresponda. E isto ocorre em função da densidade de seu
perispírito que, por sua vez, carrega em si todas as impressões
causadas, positivas ou desequilibradas, pelos atos praticados na sua
última existência. Muitas vezes, o Espírito, por ignorar completamente a
nova situação de desencarnado e impossibilitado de desligar-se de
imediato do mundo material, permanece perambulando, semiconsciente, pelo
antigo lar, pelas ruas, pelo cemitério. De outras, a permanência nas
faixas mais próximas da Terra decorre de decisão pessoal motivada por
projetos de perseguição e vingança, quando milhares deles, atrasados
moralmente, renteiam conosco em todos os lugares, interferem em nossos
pensamentos e demais atividades, imiscuindo-se em tudo.
Verdade que dentre essa numerosa
população de desencarnados há aqueles que se envolvem conosco com fins
de auxílio e proteção. “Descem” de planos mais elevados em tarefas
normais ou missionárias, pois que o mundo espiritual não é feito de
ociosidade, mesmo para os mais evoluídos, o que lhes seria um tormento.
Continuam atuantes por necessidade de aperfeiçoamento e para cumprir com
o dever de colaborar com a obra de Deus.
Muitos Espíritos, após desencarnar, são
conduzidos diretamente para locais mais salutares, como as colônias, e a
seguir encaminhados a hospitais para recuperação dos reflexos
condicionados de enfermidades que lhes vitimaram os corpos físicos, ou
apenas para um certo tempo de repouso. Outros passam a integrar grupos
de readaptação e depois, instruídos, e sempre por força do mérito
pessoal e respeitando-se seu livre-arbítrio, a iniciar estudos e, seja
ou quando capacitados, a colaborar nos serviços da colônia ou fora dela.
Uma das atividades que sabemos ocorrer
no exterior das colônias, além do socorro a encarnados, é a atuação
junto a Espíritos que habitam as chamadas zonas umbralinas. Grandes
criminosos, agentes fomentadores de sofrimentos individuais e coletivos,
seres que devotaram a existência, às vezes, várias delas e
sistematicamente, a práticas hediondas, suicidas, avarentos insaciáveis,
sexólatras, abusadores do poder, enfim, todos aqueles que,
desrespeitando as leis divinas do amor, da caridade e do perdão,
perderam-se no labirinto trágico das paixões dissolventes e ali se
reúnem por afinidade.
As descrições que os autores espirituais
e mesmo médiuns em desdobramento perispiritual fazem desses locais são
aterradoras. O sofrimento ali é atroz e durará até que uma réstia de luz
regeneradora consiga penetrar aquelas almas mortificadas. Um dos
quadros mais pungentes ali presenciados é a visão das vítimas da sanha
assassina ou do momento do próprio aniquilamento pelo ato tresloucado do
suicídio. Fome, frio, escuridão, odores fétidos, matérias viscosas e
repugnantes são as sensações que, para os habitantes dali, parecem de
caráter físico e absolutamente reais, além das dores morais da
desesperança, do suplício de julgar que ficarão ali para sempre. Por
isso que, sob este ponto de vista, reafirmamos a semelhança do Umbral
com o Inferno cristão. Enquanto o arrependimento não bater à porta do
coração, Deus permite que eles acreditem na eternidade da pena para que,
sofridos e vergados em seu orgulho, admitam um poder superior e
busquem, pelo auxílio da oração, uma oportunidade de recomeçar, reparar e
reconstruir.
São clássicas as descrições de André
Luiz sobre as expedições movidas por Espíritos tarefeiros do Bem até
essas regiões densas, magneticamente perigosas e de sofrimentos
lancinantes, onde milhares de irmãos nossos expiam suas insanidades e,
vencidos, rogam ao Pai um ato de piedade. E como Ele, ao ditado
evangélico, não quer que nenhuma de suas ovelhas se perca, permite aos
socorristas resgatá-los à medida que demonstrem chance e desejo sincero
de recuperação.
São conduzidos, em geral, para as
próprias colônias e ali submetidos a demorados tratamentos, até que um
dia as circunstâncias íntimas e enquadradas no plano coletivo, permitam
que sejam encaminhados para uma nova reencarnação, durante a qual
poderão colocar em prática os propósitos renovadores do Bem, expiando
ainda na forja da vida carnal os males praticados anteriormente,
corrigindo rotas, desatando elos de discórdias, liberando as algemas de
ódios seculares e enfrentando provas que, se bem-sucedidas, lhes
proporcionarão dias mais venturosos no futuro.
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