domingo, 1 de maio de 2016

COMO VIVEM OS ESPÍRITOS 2 – UMBRAL

2 – UMBRAL


Uma curiosidade comum dos seres humanos, ao menos para os que acreditam haver vida após a morte, é saber aonde vamos quando o desencarne físico ocorre. Há correntes de pensamentos que entendem que a alma, uma vez desligada do corpo, mergulha num todo que seria o próprio Ser ou corpo divino; uma gota de água absorvida pelo oceano com perda da consciência e, consequentemente, da individualidade. Outras admitem que tal alma encontre diante de si três possibilidades: o céu ou paraíso para “eleitos” ou “salvos”, o inferno para os grandes pecadores, ambas as situações em caráter definitivo, ou o purgatório, estado transitório, de onde, após algum tempo de grandes aflições, poderá obter também a salvação.

O Espiritismo não admite penas ou gozos eternos. A respeito tecemos diversos comentários no tópico “Reencarnação”, o qual recomendamos seja consultado. O Umbral talvez guarde paralelo com o Tártaro pagão e o Inferno cristão, com a diferença de que seus habitantes não permanecem ali eternamente. A verdade é que, justamente por esta razão, estaria mais associado à idéia do Purgatório, pois que este, como frisamos, seria a única região provisória da alma depois da experiência carnal.

O Umbral é constituído por regiões espirituais de grandes sofrimentos para onde seguem os Espíritos que desencarnaram com pesado endividamento moral, consumado aqui na Terra. Muito próximas à crosta planetária e mesmo em furnas abaixo de sua superfície, essas regiões são muito bem descritas pelo autor espiritual André Luiz, onde ele próprio ficou por oito anos e descreveu a experiência através da psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Tal destino decretado pelo mau uso do livre-arbítrio individual, não constitui propriamente um castigo divino, mas uma consequência natural dos atos praticados que infringiram as leis de Deus. A permanência nesses ambientes está condicionada ao número de faltas, sua gravidade e à dureza de coração, que retarda o toque rependimento, impedindo o auxílio sempre disponível dos socorristas espirituais.

No momento que voltam seu olhar humilde para Deus, reconhecem os erros e manifestam o desejo sincero de reparação, o Pai permite que os bons Espíritos os retirem de lá, conduzindo-os para colônias espirituais onde recebem os tratamentos necessários, inclusive o refazimento perispiritual e mental a primeira etapa e os estágios preparatórios à sua próxima encarnação em etapas subsequentes.

Ao desencarnar, o Espírito ou alma será atraído automaticamente para regiões espirituais cuja frequência vibracional lhe corresponda. E isto ocorre em função da densidade de seu perispírito que, por sua vez, carrega em si todas as impressões causadas, positivas ou desequilibradas, pelos atos praticados na sua última existência. Muitas vezes, o Espírito, por ignorar completamente a nova situação de desencarnado e impossibilitado de desligar-se de imediato do mundo material, permanece perambulando, semiconsciente, pelo antigo lar, pelas ruas, pelo cemitério. De outras, a permanência nas faixas mais próximas da Terra decorre de decisão pessoal motivada por projetos de perseguição e vingança, quando milhares deles, atrasados moralmente, renteiam conosco em todos os lugares, interferem em nossos pensamentos e demais atividades, imiscuindo-se em tudo.

Verdade que dentre essa numerosa população de desencarnados há aqueles que se envolvem conosco com fins de auxílio e proteção. “Descem” de planos mais elevados em tarefas normais ou missionárias, pois que o mundo espiritual não é feito de ociosidade, mesmo para os mais evoluídos, o que lhes seria um tormento. Continuam atuantes por necessidade de aperfeiçoamento e para cumprir com o dever de colaborar com a obra de Deus.

Muitos Espíritos, após desencarnar, são conduzidos diretamente para locais mais salutares, como as colônias, e a seguir encaminhados a hospitais para recuperação dos reflexos condicionados de enfermidades que lhes vitimaram os corpos físicos, ou apenas para um certo tempo de repouso. Outros passam a integrar grupos de readaptação e depois, instruídos, e sempre por força do mérito pessoal e respeitando-se seu livre-arbítrio, a iniciar estudos e, seja ou quando capacitados, a colaborar nos serviços da colônia ou fora dela.

Uma das atividades que sabemos ocorrer no exterior das colônias, além do socorro a encarnados, é a atuação junto a Espíritos que habitam as chamadas zonas umbralinas. Grandes criminosos, agentes fomentadores de sofrimentos individuais e coletivos, seres que devotaram a existência, às vezes, várias delas e sistematicamente, a práticas hediondas, suicidas, avarentos insaciáveis, sexólatras, abusadores do poder, enfim, todos aqueles que, desrespeitando as leis divinas do amor, da caridade e do perdão, perderam-se no labirinto trágico das paixões dissolventes e ali se reúnem por afinidade.

As descrições que os autores espirituais e mesmo médiuns em desdobramento perispiritual fazem desses locais são aterradoras. O sofrimento ali é atroz e durará até que uma réstia de luz regeneradora consiga penetrar aquelas almas mortificadas. Um dos quadros mais pungentes ali presenciados é a visão das vítimas da sanha assassina ou do momento do próprio aniquilamento pelo ato tresloucado do suicídio. Fome, frio, escuridão, odores fétidos, matérias viscosas e repugnantes são as sensações que, para os habitantes dali, parecem de caráter físico e absolutamente reais, além das dores morais da desesperança, do suplício de julgar que ficarão ali para sempre. Por isso que, sob este ponto de vista, reafirmamos a semelhança do Umbral com o Inferno cristão. Enquanto o arrependimento não bater à porta do coração, Deus permite que eles acreditem na eternidade da pena para que, sofridos e vergados em seu orgulho, admitam um poder superior e busquem, pelo auxílio da oração, uma oportunidade de recomeçar, reparar e reconstruir.

São clássicas as descrições de André Luiz sobre as expedições movidas por Espíritos tarefeiros do Bem até essas regiões densas, magneticamente perigosas e de sofrimentos lancinantes, onde milhares de irmãos nossos expiam suas insanidades e, vencidos, rogam ao Pai um ato de piedade. E como Ele, ao ditado evangélico, não quer que nenhuma de suas ovelhas se perca, permite aos socorristas resgatá-los à medida que demonstrem chance e desejo sincero de recuperação.

São conduzidos, em geral, para as próprias colônias e ali submetidos a demorados tratamentos, até que um dia as circunstâncias íntimas e enquadradas no plano coletivo, permitam que sejam encaminhados para uma nova reencarnação, durante a qual poderão colocar em prática os propósitos renovadores do Bem, expiando ainda na forja da vida carnal os males praticados anteriormente, corrigindo rotas, desatando elos de discórdias, liberando as algemas de ódios seculares e enfrentando provas que, se bem-sucedidas, lhes proporcionarão dias mais venturosos no futuro.

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