sábado, 21 de janeiro de 2017

Silêncio

Aumenta volumosamente a balbúrdia no mundo.
Não há respeito pelo silêncio.
A barulheira aturde a criatura humana, cuja constituição física e emocional apresenta limites para a zoada, em face dos decibéis suportáveis.
Como conseqüência, as pessoas perderam o tom de equilíbrio nas conversações, nos momentos de júbilo, nas comunicações fraternais.
Grita-se, quando se deveria falar, produzindo uma competição de ruídos e de vozes que perturbam o discernimento e retiram a harmonia interior.
As pessoas engalfinham-se em competir na emissão do volume de voz, tornando as conversações desagradáveis e agressivas.
Quando se fala em tonalidade normal, já não se ouve, em face do hábito enfermiço do vozerio.
Esteja-se no lar, no restaurante, na oficina de trabalho, no clube, em qualquer lugar público, e torna-se quase impossível uma conversação agradável e produtiva.
As músicas deixam, a pouco e pouco, de ser harmônicas para se apresentarem ruidosas, sem nenhum sentido estético, expressando os conflitos e as desordens emocionais dos seus autores, numa tormentosa conspiração para o desaparecimento do sentido de equilíbrio da vida humana.
Os diálogos mais parecem discussões calorosas em que se debate com ardor, em competição injustificável e tormentosa, do que propriamente uma conversa prazerosa.
A arte da conversação cede lugar aos temas vazios de significado e de edificação, permanecendo adstrita a vulgaridades e queixas com que mais se entorpecem ou se irritam os indivíduos.
O alto volume dos ruídos externos retira o sentido do prazer de ouvir-se, em decorrência da agressão ao aparelho auditivo.
Cada qual, por isso mesmo, impõe o volume da sua voz, dos ruídos do lar, das comunicações e divertimentos através dos rádios e das televisões.
Tem-se a impressão de que se perdeu o direito de experienciar o silêncio ou, pelo menos, de escutar-se em níveis suportáveis e agradáveis, mediante os quais as ondas sonoras produzam empatia e bem-estar.
O desrespeito grassa por todo lado, em razão da falta de educação generalizada. Os pais, indiferentes ao programa de dignificação dos filhos, deixam-nos praticamente aos próprios cuidados, ou concedem-lhes o excesso de liberdade em detrimento daquela que pertence aos outros. Tornam os filhos ruidosos, voluntariosos, desobedientes, agressivos, quando contrariados ou não. Desaparece a disciplina que deve existir em toda parte, favorecendo o bom entendimento entre todos.
As vozes são estridentes e os atos, rebeldes, desrespeitosos às demais pessoas, tornando-se provocantes.
Há um predomínio de violência em tudo, nos sentimentos, nas conversações, nas atividades do dia-a-dia.
A animosidade gratuita paira no ar, revelando a insensatez social e o desequilíbrio individual.
O egoísmo, com todos os famanazes que lhe constituem o séquito, impõe-se, retirando os direitos que pertencem às demais pessoas.
Há demasiado ruído no mundo, atormentando as criaturas.




Reserva-te o prazer do silêncio, diariamente, por alguns momentos.
O silêncio interior conceder-te-á harmonia, ensejando-te reflexões saudáveis e renovadoras. Mediante o seu contributo, disporás de um arsenal precioso de conceitos para apresentares, quando conversando, mantendo elevado o nível das propostas verbais, porque possuis discernimento e conseguiste armazenar idéias valiosas.
Abordando temas edificantes, gerarás hábitos de equilíbrio e de bem-estar, que te propiciarão paz interior e convivência agradável com os outros, agindo com sabedoria e não te permitindo engalfinhar nos debates da frivolidade, das reclamações e da revolta muito do agrado dos insensatos, daqueles que não pensam e somente falam sem dizer nada educativo.
A voz é instrumento delicado e de alta importância na existência humana. Sendo o único animal que consegue articular palavras, modulando o som e produzindo harmonia, o ser humano deve utilizar-se do aparelho fônico na condição de instrumento precioso e de cujo uso dará contas à Consciência Cósmica que lhe concedeu o admirável tesouro.
Por falta de silêncio interior, escasseia o externo, produzindo conseqüências danosas.
Mediante a disciplina consegue-se reverter a situação vigente, não se permitindo cair na competição verbal.
Essa disciplina estende-se ao comportamento que deve apresentar-se produtivo, ensejando convivência equilibrada em que o respeito à conduta do outro faça-se primacial.
Nem impor-se aos demais, tampouco permitir-se conduzir pelos outros, somente porque se vivem momentos de desajustes.
Assim procedendo, os hábitos saudáveis ocuparão todos os espaços existenciais, propondo meios de construir-se uma sociedade equilibrada.
Mediante a disciplina adquire-se a consciência da vida, amadurecimento psicológico, compreensão dos valores que devem ser adquiridos a benefício de si mesmo, resultando em bem-estar do próximo.
Certamente que não se torna necessário abandonar o mundo, a fim de refugiar-se numa caverna, no deserto ou no alto de um penhasco, para fazer silêncio interior. Basta que sejam cultivadas idéias propiciadoras de alegria e de renovação íntima.
Aquele que adquire o hábito de pensar bem, nunca experimenta solidão, estando acompanhado pelos pensamentos que lhe preenchem os espaços mentais e, por efeito, os físicos, irradiando satisfação pessoal e agradecimento à vida pelas suas inigualáveis concessões.
Retira-te, portanto, para as paisagens ricas de vibração do teu mundo interior e observa-lhes os conteúdos de beleza, de paz, de bênçãos.
Nesses, momentos, poucos que sejam, mas constantes, aprenderás a descobrir as páginas ocultas de que se constitui a vida, que irás desdobrando-as, uma a uma, de forma que te felicitarás com a beleza nelas guardada.




Jesus, o Sublime Comunicador, cuja dúlcida voz inebriava de harmonia as multidões, viveu cercado sempre pelas massas, sofreu-as, compadeceu-se delas, mas não se deixou aturdir pela sua insânia e necessidades.
Logo depois de as atender, recolhia-se ao silêncio, fugindo do bulício, a fim de penetrar-se mais pelo amor do Pai, renovando os sentimentos de misericórdia e de compreensão, a fim de que o cansaço que surge na balbúrdia não Lhe retirasse a ternura das palavras e das ações.
Necessitas, sim, de silêncio interior, para melhores reflexões e programações dignificantes em qualquer área do comportamento humano em que te encontres.
Aprende a calar e a meditar, a harmonizar-te e a não perder a serenidade na multidão desarvorada e falante.

Divaldo Franco, por Joanna de Ângelis - Jesus e Vida

Nenhum comentário:

Postar um comentário