É muito
freqüente, no meio espírita, quase uma rotina, ouvir-se esta expressão:
“O Senhor (ou a Senhora…) é médium e precisa desenvolver-se”. É o que se
diz, indiscriminadamente, quando alguém se dirige a um centro à procura
de solução para seu caso físico ou espiritual. Poucas, relativamente
falando, são as instituições que têm certo cuidado neste sentido e, por
isso mesmo, examinam primeiramente a situação da pessoa, suas reações,
seu estado emocional, suas ideias e assim por diante. E somente depois
dessa “tomada de contato” é que decidem se é ou não um caso de sessão
mediúnica. Na maioria, porém, manda-se logo para a “mesa de
desenvolvimento”, sem qualquer preparo, sem qualquer observação prévia. A
própria pessoa poderá dizer, consigo mesma, que não sabe o que é isso,
não sabe o que está fazendo, pois apenas lhe disseram que precisa
desenvolver a mediunidade e nada mais… Isso é muito vago.
O
desenvolvimento, chamemo-lo assim, é feito, portanto, de modo
completamente empírico, sem a menor instrução a respeito da mediunidade,
sem que o candidato a médium tenha, pelo menos, alguma noção inicial ou
primária do que seja mediunidade e quais as implicações que ela possa
ter, positiva ou negativamente. Nada disso se diz. O candidato vai às
cegas para a mesa, simplesmente porque o mandaram e nada sabe, afinal,
do papel que está desempenhando ou vai desempenhar. Há boa intenção, não
há dúvida, pois há o desejo de servir, de prestar caridade, como
geralmente se repete em toda parte. É necessário, porém, que haja
condições decorrentes de um conjunto de providências. Lembremo-nos de
que o próprio Allan Kardec, quando dirigia a Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas, em Paris, tinha preocupações, muito sensatas, aliás,
quanto a pessoas que, sem objetivo, sem motivo sério, mas apenas para
“ver como é”, queriam entrar no recinto das sessões mediúnicas.
Allan
Kardec fazia, como se diz hoje, uma espécie de teste com o visitante, a
fim de sondar suas intenções, seu verdadeiro propósito, seus
conhecimentos gerais sobre problemas filosóficos, etc. Não levava
ninguém, portanto, para a mesa de sessões, logo no primeiro momento.
Hoje, no entanto, em muitos casos, procede-se de maneira bem diferente…
Poder-se-á
dizer, em contrapartida, que tudo isso foi no século passado, mas,
atualmente, já não há necessidade desses cuidados. Há, sim. O problema é
o mesmo, ontem e hoje. Sessão mediúnica é trabalho muito sério e de
grande responsabilidade. Justamente por isso, o candidato a
“desenvolvimento” deve receber, pelo menos, algumas instruções gerais,
sobretudo no que diz respeito à parte moral. É preciso que o médium em
desenvolvimento saiba o que está fazendo, o papel que está desempenhando
e, por fim, o uso que deve fazer da mediunidade. São princípios
iniciais, sempre válidos em qualquer tempo.
Além de
tudo, e este ponto é o mais relevante do que se possa pensar, a
mediunidade é um instrumento de experiência espiritual, é um meio, em
suma, é o primeiro passo, digamos, de uma jornada, que se vai
empreender, visando ao melhoramento do homem. Prática mediúnica sem
estudo da Doutrina, sem educação do médium, sem objetivos superiores,
termina sempre caindo na rotina, no hábito, quando não se transforma em
espetáculo, às vezes de mau gosto…
Há,
evidentemente, uma preocupação corrente, na maioria dos casos:
“preparar” médiuns para a caridade. Sim, o desejo é sincero, não
duvidamos, mas não é por este meio. O médium não se “prepara”
simplesmente pelo desenvolvimento, mas pela noção de responsabilidade,
pela educação, pela renovação íntima, pelo conhecimento, enfim.
Autor (a): Deolindo Amorim
Revista Cultura Espírita – ICEB (Instituto de Cultura Espírita do Brasil) – Ano IV – Edição nº 38 – Página: 07 – Rio de Janeiro – Maio/2012.
Livro Pesquisado:
JORGE, José (org.) – Relembrando Deolindo – II – Editora CELD –
Página: 26-28 – Rio de Janeiro – 1994
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