quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Reciclagem Mediúnica - I - Pontos básicos

Leda Marques Bighetti

I - Pontos básicos

Conforme o tema, visa esta série, retomar conceitos, atualizá-los pedagogicamente buscando maior amplitude do trabalho e melhores resultados.
Trabalharemos pontos básicos da Mediunidade objetivando recordar:
  1. conceito e função.
  2. como receber e atender aqueles que buscam a casa espírita com a sensibilidade exacerbada ou se mostrem interessados na educação da faculdade.
  3. a prática mediúnica.
a-1) Conceito e função - Mediunidade é uma faculdade, isto é, uma capacidade, aptidão inata, disposição, tendência humana natural pela qual se estabelecem as relações entre Espíritos encarnados e desencarnados. Não é um poder oculto que se possa fazer instalar num indivíduo através de práticas rituais ou pelo "poder misterioso" de quem quer que seja.Pertence ao campo da comunicação e portanto destina-se ao ato de emitir, transmitir, receber mensagens por meio de processos convencionais, que através da linguagem falada ou escrita, quer de outros sinais, símbolos ou aparelhamentos técnicos especializados sonoro ou visual. Desenvolve-se, naturalmente, no sentido de aumentar, ampliar, progredir, melhorar, crescer, nas pessoas de maior sensibilidade para a captação mental e sensorial de coisas e fatos do mundo espiritual que nos cercam e nos afetam com suas vibrações psíquicas e afetivas. Da mesma forma que a inteligência e as demais faculdades humanas, desenvolve-se no processo de relação; quanto mais se estuda, conhece e usa, mais amplitude e sutileza. Esse processo é cíclico ou seja, processa-se por etapas sucessivas em espiral progressiva. O mesmo não se dá com o seu uso, que pode ser bom ou mau, conforme as qualidades (valores morais) daquele que a exerce.
a-2) Aspectos pelos quais se exterioriza - A Mediunidade é uma só e um todo (como faculdade), mas pode ser encarada em seus vários aspectos funcionais (de uso, serventia) e que são caracterizados como formas variadas de sua manifestação.
Para efeito metodológico, Kardec a divide em duas grandes áreas bem diferenciadas:
  • mediunidade de efeitos físicos
  • mediunidade de efeitos inteligentes
Efeitos físicos - aquelas que se traduzem por efeitos sensíveis tais como: ruídos, movimentos, deslocação de corpos sólidos. Para que aconteça, faz-se mister a intervenção de uma ou mais pessoas dotadas de especial aptidão, onde por efeito de suas organizações, há emanação maior de fluido animalizado, mais ou menos fácil de combinação com o fluido universal, e com os quais o Espírito, por ação da vontade, dá vida momentânea a determinados objetos produzindo assim fenômeno.
Efeitos inteligentes - para ser caracterizado como tal, há que exteriorizar-se como um ato livre e voluntário, exprimindo uma intuição ou respondendo a um pensamento.
Recorde-se que não encontraremos um fenômeno a ser catalogado apenas como efeito físico ou inteligente. No caso, por exemplo, das mesas girantes (ponto inicial da Doutrina Espírita) vimo-la mover-se, levantar, dar pancadas, responder questões propostas, sob a influência de um ou mais médiuns - efeito físico. Demonstravam, porém, uma intuição - efeito inteligente - ao mudar de lugar, ao se erguer alternadamente sob um pé ou outro, conforme se lhe indicavam; ao responder perguntas conforme o número de toques combinados, ao executar movimentos conforme se lhe ordenavam. Ao realizar tais aspectos demonstrava haver uma inteligência oculta que demonstrava sua vontade ou respondia a uma ordem ou pensamento exteriorizados nos fatos ostensivos.
Essas duas áreas, esses dois aspectos pelos quais se exteriorizava a Mediunidade, fez Kardec perceber que ele a estudava de forma geral, englobando todos os casos ou pessoas.
Percebe ele que a realidade era outra, uma vez que havia elementos que espontaneamente ou não forneciam fluidos, enquanto outros pouco ou nada ofereciam no sentido de não possibilitar a realização dos acontecimentos. Havia pessoas que exteriorizavam o sentir, o pensar de outras mentes enquanto outras nada percebiam.
Estudando, pesquisando, auxiliado pelos Espíritos na Codificação, encontra nessa divisão fenomênica, duas grandes áreas de função, isto é, duas formas ou modos naturais de uso, serventia, utilidade e as designa como:
  • mediunidade generalizada
  • mediunato
A primeira - mediunidade generalizada - corresponde à mediunidade natural, mediunidade que todos possuem e que permanece pelo próprio desconhecimento em estado de estagnação, inércia, como manifestações moderadas, quase imperceptíveis.
A segunda - mediunato - corresponde o compromisso, ou seja, o indivíduo está investido espiritualmente de sensibilidade maior para finalidades específicas na encarnação. É a mediunidade ativa que exige desenvolvimento e aplicação durante a vida do médium.
a-3 e 4) Importância desse conhecimento para o dirigente da Casa Espírita e/ou responsável pelos trabalhos mediúnicos
A falta desse conhecimento acarreta dificuldades e inconvenientes na prática mediúnica, particularmente nos trabalhos do Centro.
Mediunidade generalizada é uma disposição natural do Espírito para expandir-se, projetar-se e entrar e/ou manter-se em relação com outros Espíritos. Funcionando a mente como núcleo emissor/receptor de pensamentos mantendo-nos sempre em conversas, mesmo sem o perceber. Muitos dos nossos aparentes monólogos são diálogos com outras mentes, verdadeira "inquirições mentais", seja com o fim de avaliar-nos espiritualmente ou para fins obsessivos. Um Espírito, por exemplo, sugere mentalmente o nome ou a figura de uma pessoa. Começamos a pensar nela e a desfilar na mente os dados, que temos, as idéias que fazemos dela, ajudando ao obsessor que evidentemente tem seus objetivos. De outras vezes, pretendendo saber qual é nossa posição em determinado caso/acontecimento, oferecemo-lhe idéias, franqueando-lhe nossos pontos fracos através dos quais passa ele a envolver-nos no desencadear de verdadeiro processo obsessivo. Os pensamentos, os solilóquios do homem, são observados por testemunhas invisíveis, boas ou más que influenciam ou são influenciadas numa proporção maior ou menor dependendo também do nível de conscientização desse processo. Essa mediunidade é imanente ao nosso psiquismo.
Pelo desconhecimento dessa mecânica natural, muitas pessoas mantém pela alimentação recíproca dos pensamentos afins, mentes que passam a se impor. Perturbadas, com toda a aparência de obsediadas, chegam à Casa Espírita buscando ajuda. De modo geral, são consideradas "médiuns em desenvolvimento", quando na realidade são apenas vítimas da própria invigilância que mantém a companhia de Espíritos em desequilíbrio em campo psíquico afim. Por esse e outros motivos, realmente estão envolvidos em processos obsessivos, mas não são médiuns. Precisam de tratamento (conscientização, renovação, etc., etc.) evangelização, entendimento do funcionamento/função do campo mental, passes, água fluída, trabalho pessoal, somatória de providências através das quais opera-se na dinamização da vontade a mudança do campo mental, onde selecionando-se companhias, liberam-se obsessores/obsediados.
Essas pessoas não são aptas, não devem ser convidadas a participar de sessões "sentar-se à mesa"- não estão investidas de mediunato, não precisam, nem podem desenvolver (fazer crescer para intercambiar) sua mediunidade estática. Essa servir-lhe-á para que o indivíduo se guie na vida de forma plena através desse contacto natural, pela seleção que aprende a fazer das companhias que escolhe. A obsessão ocasional, por sua vez, serviu-lhe para aproximá-lo de si mesmo, conhecer seu potencial, aprender a lidar com ele, despertar-lhe ou reanimar-lhe o sentimento moral e encaminhá-lo assim para um sentido mais elevado em sua maneira de viver, na busca das sintonias mentais benéficas, diferenciando-as e afastando as prejudiciais.
Entenda-se pessoas que apresentam essa mediunidade não estão desprovidas de recursos mediúnicos. Ao contrário, podem ser muito sensíveis, intuitivas, dispondo de percepções eficazes em inúmeras circunstâncias. Kardec surge como exemplo - não possuindo mediunato, usa seu potencial seletivo através da instrução, do discernimento, do bom senso, da análise, reflexão em grau tão elevado que lhe permitiu solidificar e estruturar a Doutrina em bases seguras, a vencer hostilidade e investidas.
Os dirigentes de sessão e de Centros Espíritas não podem desconhecer esse aspecto da função mediúnica, circunstância esta que evitará enganos e problemas no trato das manifestações mediúnicas.

Bibliografia:

Kardec, Allan - O Livro dos Médiuns, 226 - 1.° e 2.°; cap. II - 60; cap. IV - 72 - VIII - XIII - XIV - cap. III - 65.
Pires, H. - Mediunidade - cap. I e II

(Jornal Verdade e Luz Nº 170 de Março de 2000)

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