segunda-feira, 27 de julho de 2015

POR QUE A REUNIÃO MEDIÚNICA DEVE SER PRIVATIVA?


 "E perguntou-lhe Jesus dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse:
         Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios". (Lc; 8:30)
             
      Na apresentação do livro Desobsessão, Emmanuel, ao explicar a passagem acima citada, nos esclarece que Jesus, ao conversar fraternalmente com o obsesso, pergunta-lhe o nome; o médium, consciente da pressão que sofria por parte das Inteligências conturbadas e errantes, informa chamar-se "Legião" porque eles eram muitos. 

Acerca disso, Emmanuel esclarece que o Cristo entendia-se de forma simultânea com o médium e com as entidades comunicantes e, através desse processo, nos mostra que "desobsessão não é caça a fenômeno e sim trabalho paciente do amor conjugado ao conhecimento e do raciocínio associado à fé". E continua Emmanuel a explicação quanto à necessidade de "vulgarizar a assistência sistemática aos desencarnados (...) por intermédio das equipes de companheiros consagrados aos serviços dessa ordem ". 

André Luiz, ainda nesta obra, também reforça a colocação acima. Ao afirmar que "cada templo espírita deve e precisa possuir a sua equipe de servidores de desobsessão, quando não seja destinada a socorrer as vítimas da desorientação espiritual que lhe rondam as portas, para defesa e conservação de si mesma".


     Allan Kardec, no Projeto 1868, nos diz que "um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação da Doutrina seria a falta de unidade". Em se tratando de "prover a Sociedade de um local convenientemente situado e disposto para as reuniões e recepções", ressalta dentre outros itens, o terceiro, no qual temos o seguinte "um compartimento destinado às evocações íntimas, espécie de santuário, que não seria profanado por nenhuma ocupação estranha  ".

     Kardec também esclarece no artigo 17 de O Livro dos Médiuns, intitulado "Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas", que "as sessões serão particulares ou gerais; nunca serão públicas". Ele assinala que as reuniões particulares possibilitam "(...) os assuntos de estudo que mais tranqüilidade e concentração reclamem, ou que ela julgue conveniente aprofundar, antes de tratá-lo em presença de pessoas estranhas".


     Dentro deste raciocínio, André Luiz, na obra Conduta Espírita, nos informa:
Abster-se da realização de sessões públicas para assistência a desencarnados sofredores, de vez que semelhante procedimento é falta de caridade para com os próprios espíritos socorridos, que sentem torturados, o comentário crescente e malsão em torno de seu próprio infortúnio .



     Ainda segundo André Luiz, agora no livro Desobsessão, temos:

     A desobsessão abrange em si obra hospitalar das mais sérias.



     Compreenda-se que o espaço a ela destinado, entre quatro paredes, guarda a importância de uma enfermaria, com recursos adjacentes da Espiritualidade Maior para tratamento e socorro das mentes desencarnadas, ainda conturbadas ou infelizes.

     Arrede-se da desobsessão qualquer sentido de curiosidade intempestiva ou de formação espetaculosa.


     Coloquemo-nos no lugar dos desencarnados em desequilíbrio e entenderemos, de pronto, a inoportunidade da presença de qualquer pessoa estranha a obra assistencial dessa natureza. (...) Daí nasce o impositivo de absoluto isolamento hospitalar para o recinto dedicado a semelhantes serviços de socorro e esclarecimento, entendendo-se, desse modo, que a desobsessão, tanto quanto possível, deve ser praticada de preferência no templo espírita, ao invés de ambientes outros, de caráter particular.


     Vejamos outras considerações acerca do tema no capítulo 21 do mesmo livro:
     O serviço da desobsessão não é um departamento de trabalho para cortesias sociais que, embora respeitáveis, não se compadecem com a enfermagem espiritual a ser desenvolvida, a benefício de irmãos desencarnados que amargas dificuldades atormentam.

     Ainda assim, há casos em que companheiros da construção espírita-cristã, quando solicitem permissão para isso, podem ter acesso ao serviço, em caráter de observação construtiva; entretanto, é forçoso preservar o cuidado de não acolhê-los em grande número para que o clima vibratório da reunião não venha a sofrer mudanças inoportunas.


     Quanto à chegada inesperada de doentes, temos as seguintes considerações: Quando ocorrer (...) a chegada de enfermos ou de obsidiados sem aviso prévio, sejam adultos ou crianças, necessário que o discernimento do conjunto funcione, ativo. (...) O doente e os acompanhantes podem ser admitidos por momentos rápidos, na fase preparatória dos serviços programados, recebendo passes e orientação para que se dirijam a órgãos de assistência ou doutrinação competentes (...) Findo o socorro breve, retirar-se-ão do recinto.

     Ainda a respeito da privatividade da reunião mediúnica, retiramos de O Livro dos Médiuns o seguinte trecho: "Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este feixe tanto mais força terá, quanto mais homogêneo for" .

      Já no capítulo 4 da obra Obsessão-Desobsessão, temos:
     O ministério da desobsessão só deve ser realizado em equipe. (...) o bom êxito dos trabalhos de desobsessão depende muito da equipe de encarnados, que precisa estar ciente de suas responsabilidades.

     A equipe de encarnados tem assim funções específicas e de grande responsabilidade, mas, ela se submete, a seu turno, àquela outra equipe – a espiritual – que é em verdade a que dirige e orienta os trabalhos em todo o seu desenrolar.

     Quando o grupo de encarnados é harmônico, isto é, quando já está afeiçoado aos trabalhos de mediunidade socorrista e coloca-se como dócil instrumento a serviço dos Amigos Espirituais, a reunião cresce em produtividade, porque então as duas equipes trabalharão em consonância e a programação será executada de comum acordo (...).

     No capítulo 2 da mesma obra, temos a seguinte colocação: "O aposento destinado à reunião de desobsessão é, dentro do Templo Espírita, o local onde são medicadas, mais diretamente, as almas".

     A respeito do livro Os Mensageiros, de André Luiz, quando, no capítulo 4, o autor espiritual nos fala sobre os desencarnados inconformados com o desencarne, Suely explica que:
     (...) A sala onde se realizam os trabalhos mediúnicos representa para tais seres a possibilidade de entrarem em contato com os que ainda estão na Terra e de receber destes as vibrações magnéticas que carecem.(...) Motivo pelo qual ele não é um trabalho para principiantes, visto que exige dos participantes a exata noção da gravidade dos momentos que ali serão vividos (...) Por isto é que jamais devem ser abertos ao público.

     A sala reservada para tais atividades foi comparada por André Luiz a uma sala cirúrgica, que requer isolamento, respeito, silêncio e assepsia, onde só entram os que se prepararam antecipadamente. Como também é isolada de olhares indiscretos e curiosos.


      Hermínio C. Miranda, no livro Diálogo com as Sombras, nos diz que:
     (...) somente em casos excepcionais se justifica a presença de pessoas estranhas ao grupo, nos trabalhos de desobsessão. Sob condições normais, ela não é necessária à tarefa que nos incumbe junto aos obsidiados que buscam o socorro de um grupo mediúnico. (...) a presença de pessoas perturbadas, no ambiente onde se desenrola o trabalho mediúnico, pode provocar incidentes e dificuldades insuperáveis (...) como regra geral, deve ser preservada a intimidade do trabalho mediúnico. (...) o grupo pode perfeitamente assistir os companheiros encarnados sob a provação da obsessão, sem introduzi-los no seu ambiente de trabalho.(...) Os benfeitores espirituais dispõem de recursos mais seguros e eficazes para isso, não havendo necessidade de correr riscos indevidos.


     O Livro Série Evangelho e Espiritismo: Mediunidade, da UEM, esclarece quanto à seguinte pergunta: "As reuniões mediúnicas devem ou podem ser públicas?" E, sobre ela, tem-se a seguinte resposta: "De acordo com a Codificação, não devem ser públicas e também por uma questão de segurança e de caridade para com os necessitados".

     No livro Recordações da Mediunidade, Yvonne Pereira diz, com muita propriedade, que:
     (...) Não convirá ao obsidiado assistir às sessões realizadas a seu benefício durante o estado agudo do mal, nem o obsessor deverá ser doutrinado por seu intermédio.(...) O obsidiado, afeito às vibrações dominantes de seu opositor, não estará em condições de se prestar à comunicação normal necessária, é antes um enfermo necessitado de tratamento e não um médium, propriamente .


     O relato encontrado no capítulo "O Psicoscópio" do livro Nos Domínios da Mediunidade, também nos esclarece quanto à privacidade necessária a uma reunião mediúnica:

      – Esta é a casa espírita onde encontraremos nosso ponto básico de experiências e observações.


Entramos. Atravessamos largo recinto, em que estacionavam numerosas entidades menos felizes de nosso plano; o orientador esclareceu:

 – Vemos aqui o salão consagrado aos ensinamentos públicos. Todavia, o núcleo que buscamos jaz situado em reduto íntimo, assim como o coração dentro do corpo. (grifos nossos)

Escoados alguns instantes, penetramos acanhado aposento, onde se congregava reduzida assembléia, em silenciosa concentração mental.(...) Sabem que não devem abordar o mundo espiritual sem a atitude nobre e digna que lhes outorgará a possibilidade de atrair companhias edificantes....

     Ainda sobre o tema proposto, temos os seguintes trechos:

     (...) a desobsessão deve ser praticada no templo espírita, ao invés de ambientes outros, de caráter particular. No templo espírita, os instrutores desencarnados conseguem localizar recursos avançados do plano espiritual para o socorro a obsidiados e obsessores.

     Uma reunião mediúnica de caráter público é um risco desnecessário, porque vêm pessoas portadoras de sentimentos os mais diversos, que irão perturbar, invariavelmente, a operação da mediunidade.

     A reunião mediúnica não deve ser de caráter público, porque teria feição especulativa, exibicionista, destituída de finalidade superior, atitudes tais que vão de encontro negativamente aos postulados morais da doutrina.

     Obreiros devotados, sob a direção de técnicos e diretores (...) preparavam o recinto reservado à pratica dos fenômenos (...). Enquanto isso, foi solicitada ao diretor espiritual do Centro em questão a fineza de recomendar ao diretor espiritual terreno, por via mediúnica, absolutamente não permitir assistência leiga ou desatenciosa aos trabalhos daquela noite, os quais seriam importantes e delicados...

     Considerando todo material aqui reunido, podemos concluir que um grupo harmonizado com o trabalho mediúnico está preparado para compreender a angústia e a desarmonia dos espíritos comunicantes, não comprometendo, dessa forma, o equilíbrio e o andamento da tarefa. Todavia, se uma pessoa leiga participar de uma reunião mediúnica que não seja privada, com certeza, esse ato exigirá do plano espiritual cuidados adicionais para que a sessão possa se realizar de maneira harmônica, uma vez que muitas pessoas não estão preparadas para possíveis revelações que possam surgir, muitas vezes muito íntimas ou pessoais. O trabalho mediúnico, principalmente a reunião de desobsessão, como diz Hermínio Miranda, "não é para ser divulgado, nem exibido como espetáculo público".

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ANDRÉ LUIZ (Espírito). Desobsessão. [ditado pelo espírito André Luiz;  psicografado por  Francisco  Cândido  Xavier  e  Waldo  Vieira] – Rio de Janeiro: FEB, 1987, 9. ed., p.13, 77, 89, 95.
–––––––. Conduta Espírita. [ditado pelo espírito André Luiz; psicografado por Waldo Vieira] – Rio de Janeiro: FEB,1987, 13.ed., cap.24, p. 90.
–––––––. Nos Domínios da Mediunidade.  [ditado pelo espírito André Luiz; psicografado por Francisco Cândido Xavier] – Rio de Janeiro: FEB, 1985. 14.ed., cap. 2 , p. 21.
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 2005, 37. ed., p.339.
–––––––. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 2005, 75. ed., cap. XXX – art. 17-21, p. 448-9; cap. XIX, p. 427, item 331.
SCHUBERT, Suely C. Obsessão-Desobsessão. Rio de Janeiro:FEB,1995, 10.ed., cap. 4, p.134 – 3. parte.
MIRANDA, Hermínio. Diálogo com as Sombras. Rio de Janeiro: FEB, 1995, 9.ed., p.86.
UEM – União Espírita mineira. Série: Evangelho e Espiritismo - Mediunidade. Belo Horizonte: 1986.
PEREIRA, Yvonne A. Recordações da Mediunidade. Rio de Janeiro: FEB, 2002, 10. ed., item 6, p. 211.
–––––––. Memórias de um Suicida. Rio de Janeiro: FEB, 1987, 14. ed., cap.6, p.143.
FEB – Conselho Federativo. Orientação ao Centro Espírita. Brasília: FEB, 1988, 3.ed.  "Reunião de Desobsessão", cap. 6,  item 7 d.
FRANCO, Divaldo e TEIXEIRA, Raul. Diretrizes de Segurança. Niterói: Ed. Frater, 5.ed., p. 62, questão 42.

Ver também Livro Dimensões Espirituais do Centro Espírita, de Suely Caldas Schubert, Pg. 185, 186

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