sábado, 19 de julho de 2014

A Responsabilidade de Cada Um Carlos Iglesia


Permitam-me voltar mais uma vez ao tema dos eventos que estão sendo noticiados diariamente pela mídia. Muito possivelmente não há como um indivíduo deixar de acompanhar - tal o desenvolvimento dos sistemas de comunicação atuais - os conflitos que se estendem nas mais diversas escalas, desde as tragédias pessoais, passando pelos problemas do panorama político nacional até os grandes choques entre nações. É um verdadeiro desenrolar de más notícias que mais parecem saídas daqueles sermões apocalípiticos do passado, quando se ameaçavam as ovelhas desgarradas com toda sorte de punições divinas.
 
Mesmo considerando-se que todas as épocas da humanidade foram sujeitas a tragédias, maus administradores ou povos belicosos e dando-se o devido desconto ao fato das más notícias receberem destaque maior que as boas notícias, ainda assim parece que passamos por momentos diferenciados na experiência humana. Os eventos encontram-se concentrados em um período pequeno de tempo e com impacto em escala mundial. 
 
Não há como negar, o mundo está em transformação, as certezas de ontem se esvaem rapidamente e os alicerçes das novas edificações do porvir começam a ser cavados. Por um lado o egoísmo chegou ao auge, com a valorização absoluta do imediatismo material em detrimento a posse dos valores espirituais, e por outro há um sentimento generalizado de que são necessárias mudanças urgentes nas estruturas que formam nossas sociedades. Sentimento generalizado de que os caminhos atuais são insustentáveis e que se algo não for modificado a humanidade estagnará na situação de conflito permanente, onde pessoas e mesmo sociedades inteiras buscam sempre levar vantagem sobre as demais.
 
Mudanças urgentes que coloquem o foco das sociedades humanas no progresso do bem estar integral do homem, no equilíbrio entre a necessidade de subsistência e a necessidade de conquistar níveis mais avançados de compreensão. Compreensão do nosso papel como seres inteligentes da criação, auxiliares de Deus na sua obra e, portanto, responsáveis pela nosso bem e do nosso próximo. Compreensão que, deixando de lado o egoísmo, promova uma fraternidade verdadeira.
 
Somente pela educação do ser, pelo desenvolvimento dessa compreensão em cada indivíduo, será possível transformar o sentimento generalizado da necessidade de mudança em uma mudança real. Educação verdadeira que coloque em sua dimensão correta a necessidade de se viver adequadamente neste mundo, usando de forma honesta todas as capacidades físicas e intelectuais para atingir-se o bem estar possível, frente a realidade de que somos seres espirituais em estadia temporária por aqui. Seres espirituais em processo de evolução, solidários uns com os outros, sujeitos as mesmas leis de causa e efeito e destinados a perfeição.
 
E neste ponto entra a responsabilidade de cada um de nós, que já tivemos a oportunidade de nos aproximar do conhecimento espírita, que é o de sermos agentes desta educação. Agentes não somente no sentido de participarmos de instituições espíritas - atividade sem dúvida importante - mas também de buscarmos vivenciar na prática cotidiana aquilo que professamos. Educação pela demonstração viva de uma vida comprometida com valores sólidos, pela exemplificação de que existe um caminho a ser seguido, de que o desequilíbrio moral evidenciado pela mídia não é a única alternativa existencial.
 
Não me entendam mal, não estou postulando espetáculos de grandeza espiritual, dos quais penso que a maioria de nós - de mim pelo menos tenho certeza - está muito longe. Estou me referindo a coisas mais simples, como, por exemplo, nos portarmos no nosso trabalho cotidiano com a mesma integridade com que nos portamos na Casa Espírita. De ter como nossos colegas do dia-a-dia as mesmas atitudes de solidariedade construtiva como a que temos no trabalho assistencial. De lidar como nossos fornecedores e clientes com a mesma honestidade de propósitos com a que lidamos com os companheiros que nos buscam para eventos doutrinários conjuntos. De darmos a nossa família a mesma atenção e paciência que damos aos que nos buscam a orientação doutrinária. De sermos honestos inclusive com nossos filhos dando-lhes não somente uma cultura primorosa mas formando-lhes o caráter na demonstração de que fazemos exatamente aquilo que ensinamos aos outros.
 
De nunca negarmos, a quem quer que seja, a manifestação de nossa confiança na providência divina, expressa através de atitudes corretas, mesmo que - diante dos negócios do mundo - elas nos desfavoreçam em relação a companheiros ainda iludidos pelos ganhos materiais.
 
São os velhos "não servir a dois senhores" e "brilhe a sua luz", que Jesus ensinou a cerca de 2.000 anos, e que continuam carecendo de aplicação mais firme de nós. Não podemos servir a Deus e ao mundo ao mesmo tempo. Podemos sim servir a Deus no mundo, através do nosso agir correto no mundo, e é essa a nossa responsabilidade, conosco mesmo e com o próximo.
 


Este artigo serviu de Editorial para o Boletim GEAE, Ano 12, Número 496 - 2005 e está reproduzido com autorização do autor

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