sexta-feira, 27 de junho de 2014

Desculpe o Transtorno, Estamos em Obras para Atendê-lo Melhor Renato Costa


Numa manhã nublada de verão estava eu descendo movimentada rua da Zona Sul do Rio de Janeiro para levar um de meus filhos à escola quando, não pela primeira vez, passamos por tradicional posto de gasolina da região que se encontrava daquela vez fechado, isolado por faixa com os dizeres que servem de título a este estudo. De outras vezes, a visão da dita faixa nada me tinha evocado, mas, desta feita, uma associação interessante logo me veio à mente.

Por que se isola um posto de gasolina em obras, interditando o acesso aos veículos cujos motoristas procuram os seus serviços? A resposta é fácil, não é mesmo? Faz-se isso porque, em um posto em obras, o piso é quebrado, as construções têm sua tinta velha raspada, mexe-se concreto, carrega-se materiais de um lado para o outro. Mesmo em se supondo que a obra possa ser feita aos poucos, de forma a manter o posto em funcionamento, o atendimento aos clientes fica inevitavelmente prejudicado: mais desgaste para os pneus, a suspensão e o filtro de ar de seus veículos, além de mais sujeira para as roupas do motorista e poluição para seu pulmão. Não é assim que um empresário sensato age. Ao interditar seu posto durante obras, ele quer oferecer seus serviços melhor do que fazia antes, visando agradar os seus clientes antigos e conquistar outros mais, promovendo, desse modo, as suas vendas.

Na vida, muitas vezes, encontramo-nos estressados. São problemas no trabalho, doenças, contratempos, inúmeras agressões que nos afligem e com as quais não sabemos lidar. Em um desses momentos em que nos sentimos com vontade de dar chutes nas paredes, um amigo ou, menos que isso, um simples conhecido, nos dirige a palavra em busca de um conselho, de uma ajuda ou, simplesmente, de um ouvido para desabafar. O que fazemos? Julgando-nos justificados pelo nosso estado estressado, o tratamos com rispidez ou frieza, modos de tratar que nosso entendimento espírita sabe inadequados.

“O que tem um assunto a ver com o outro?”, alguém poderia perguntar. Bem, o que quero dizer é que, quando nos sentimos estressados e nosso estado evolutivo é tal que ainda não sabemos evitar o externar de nosso estresse em atitudes inadequadas frente ao nosso irmão, que, pelo menos, saibamos agir como o dono do posto em obras. 

Tenhamos, em tais casos, a sensatez de nos colocarmos “fechados para obra”, o que podemos fazer nos retirando em silêncio para um canto e entrando em prece restauradora. Uma vez reparados nossos danos emocionais, melhorado o conforto de nossas instalações internas, reformado, enfim, nosso estado de espírito para melhor servir, somente então saiamos do canto ao qual nos havíamos recolhido e abramos novamente nosso coração à caridade cristã, atendendo a todos com alegria e respeito.


Artigo originalmente publicado na Tribuna Espírita, Ano XXIII, No. 125, maio/junho de 2005, João Pessoa, PB.

Nenhum comentário:

Postar um comentário