Mesmo que não pareça, pela dor que causa, desiludir-se é bom.
Desiludir-se é sair de uma ilusão, de uma visão distorcida ou equivocada
acerca de alguém, de algo, de alguma circunstância. Portanto, a
desilusão é benéfica, apesar dos dissabores que inicialmente pode
causar. Com o tempo e o amadurecimento, as desilusões passam até a ser
bem-vindas, pois indicam crescimento interior.
As decepções possuem outras características. É expectativa
frustrada. Decepcionar-se é esperar demais de uma situação ou de alguém
e não ter os resultados esperados. Em muitos casos, desilusão e
decepção se fundem num só sentimento de abatimento moral, de desânimo e,
por vezes, de descrença.
Muitos estão decepcionados com a humanidade que, apesar do grande
número de seres moralmente e espiritualmente superiores que por aqui tem
passado, permanece no atraso. Evoluímos muito em técnicas e mesmo em
ciência, mas tão pouco em valores humanos e espirituais. Os apelos do
mundo externo são tão fortes que muitos vivem em sua função. Deles se
nutrem e para eles vivem. A desilusão os aguarda após o retorno à
verdadeira vida.
Outros estão decepcionados com a sociedade que criamos, que valoriza
em demasia o ter, o possuir, e tão pouco o ser, o caráter, as qualidades
e as virtudes morais. Quando falamos de virtudes não nos referimos a
crenças em particular. O homem de bem independe de uma crença. Ele faz
o bem porque é bom, com naturalidade, sem esperar nada em troca.
Não são poucos os que veem nossa humanidade como uma locomotiva
prestes a descarrilar. É como se tivéssemos entrado em alta velocidade
num nevoeiro, sem saber o que vem em seguida. Um mundo de inseguranças e
incertezas, de medos e de sensação de impotência. Estamos tentando
acionar os freios, rever as rotas, corrigir os erros, mas… os que fazem
isso ainda são minoria.
Imenso número de pessoas pelo mundo está decepcionado e desiludido
com a política e com os políticos. Passou o tempo das mentiras, dos
segredos e dos silêncios. Graças à internet quase tudo se torno público
em tempo real e fica difícil, cada vez mais difícil, mentir e ganhar
tempo para manipular o povo.
É errado desprezar a política, pois essa é a vida de relação. Tudo o
que fazemos tem caráter político, seja por ação ou omissão. A política
partidária é outra coisa. Mostra-se esgotada no atual modelo. Não tem
caráter representativo e o pragmatismo favorece grupos. É uma luta
pelo poder, pelo controle, pela condução do povo segundo critérios de
grupos dominantes.
Mas não podemos nos esquecer de que esse mesmo mecanismo pode ser
usado para o bem. Se grupos de pessoas à altura da tarefa assumem o
controle político de nações, esses mecanismos podem servir para a
construção de sociedades justas, equilibradas, mas fraternas, onde o
estímulo ao respeito às diferenças são freqüentes, eliminando – pouco a
pouco -, as disposições mentais para o confronto.
Há muita, muita gente mesmo, decepcionada e desiludida com as
crenças, seitas e religiões. O deus mercado, o bezerro de ouro,
aparentemente – ou temporariamente – venceu. Praticamente tudo gira em
torno do dinheiro e do poder temporal. O Criador anda ausente nos
discursos e preleções. Jesus, Buda, Sócrates e tantos outros luminares
da humanidade, são citados de passagem por mera conveniência retórica;
como uma pitada de sal na mistura de ideias, num esforço para lhes dar
algum sabor.
Nem a Doutrina Espírita vem escapando dessa prática. É natural que
ela se apresente com aspectos novos, como desejava e previa Allan
Kardec. Uma doutrina evolucionária e revolucionária, que acompanhe a
ciência e os conhecimentos humanos, autocorrigindo-se onde e quando
preciso, fazendo das obras do codificador um ponto de partida e não de
chegada. É cada vez menor o número de leitores de obras com certa
densidade e há, até mesmo, desprezo pelo conhecimento.
Quase não há mais pesquisa dos aspectos científicos da
paranormalidade. Há pouca ou nenhuma reflexão filosófica e sobram
repetições de trechos evangélicos, muitas vezes mal alinhavados, mal
interpretados ou claramente adaptados a interesses de grupos. O senso
crítico, autocrítico e o bom senso, recomendados pelo codificador, andam
igualmente se afastando do movimento espírita que – em certos casos –
se vê às voltas com a mentalidade de rebanho, seguindo pessoas e não
mais a Doutrina Espírita.
Coisa para se pensar!
Autor: Paulo R. Santos
Instituto Espírita Bezerra de Menezes – IEBM – Niterói – RJ
Jornal Informativo “O Espírita Fluminense”
Nº de Edição: 344 – Páginas: 06 e 07 – Setembro / Outubro 2012
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