quarta-feira, 27 de julho de 2016

As muitas moradas

Nas infindáveis constelações de sóis e galáxias quê flutuam sobre as cabeças dos homens, reflete-se o incomensurável Amor de Deus, garantindo às criaturas a oportunidade do aprendizado e a construção da evolução segundo suas opções livres diante das leis inderrogáveis que regem a Vida de Seus filhos.
Muitas moradas representando as muitas chances de evolução contrastam com a velha fórmula do Céu e do Inferno apregoada até hoje por muitas religiões, que resumem o Universo a um paraíso de beatitudes ou a uma fornalha de crueldades.
Incompatíveis com o senso de evolução gradual e permanente, tais religiões não sabem como vencer as contradições existentes entre a Bondade e a Justiça de Deus quando ensinam que, vivendo uma única vez, a alma tem seu destino fixado de forma definitiva no venturoso Éden de delícias ou no temível Tártaro de sofrimentos. Algo muito semelhante a uma escola que só possuísse uma única classe de primário e que, observando o desempenho dos alunos durante um ano, ao final do curso conferisse o diploma universitário aos aprovados, enviando os reprovados para um forno crematório.
As concepções do Paraíso e do Inferno, como resultante Jesus, como o professor responsável por ela, orienta seus alunos iniciantes sobre o código da alfabetização espiritual, relatando que a aprovação para os próximos estágios depende, fundamentalmente, do entendimento dos mecanismos das leis do Espírito. Com essa lição bem entendida e colocada em prática, os alunos poderão ingressar em estágios mais adiantados, nas outras salas de aula da grande Escola do Universo.
Então, a todos ensina a necessidade de serem simples, pacíficos, brandos e humildes de coração, solidários, fraternos, sinceros e verdadeiros. De se apartarem do mal, do orgulho e do egoísmo para que tenham a base firme sobre a qual serão edificadas as outras lições do porvir.
As muitas moradas são as outras esferas que servem, em diferentes níveis, como planos evolutivos para a imensidão das almas existentes, essas sim, contadas ao infinito, e que povoam os rincões do Universo sem limites.
Daí estarem os Espíritos Amigos, acompanhando o destino das criaturas para ampará-las nos exercícios diários através dos quais cada um conseguirá juntar as letrinhas, compreender a construção das palavras e, por conseguinte, entender a estrutura das frases. Com isso a criatura se inserirá no contexto dos que compreendem o Alfabeto Divino e podem ocupar o seu lugar na ordem da Vida como novos Agentes de Deus, Ajudantes do Criador, Cooperadores do progresso, Administradores da Justiça, Servidores do Amor, Instrutores de Almas, Engenheiros de novas Civilizações, tudo isto como tarefa missionária desempenhada na grande escola universal.
Bezerra, Jerônimo, Adelino e outros irmãos aqui vistos como cooperadores responsáveis eram e são os ajudantes em tarefa.
As Igrejas da Terra desempenhariam a função de aglutinadoras da Luz através dos ensinamentos espirituais, decifrando-os aos seus frequentadores através da explicação dos detalhes de funcionamento desse mecanismo aos que procurassem compreendê-los.
No entanto, fruto das distorções evolutivas e dos defeitos humanos, boa parte das religiões vilipendiaram o tesouro espiritual e, ao invés de oferecerem aos seus rebanhos o Verdadeiro Alimento, canalizaram seus interesses para as conquistas de vantagens imediatas, falando de Jesus, mas cultuando o Bezerro de Ouro. Aos que procuram seu abrigo e ensinamento em seus templos, reduziram as lições à multiplicação de cerimônias ou rituais herméticos ou místicos, sem aprofundarem as coisas, impondo-lhes a crença cega em dogmas ilógicos de uma teologia confusa e balofa, de olho nas carteiras e valores de seus fiéis.
Deixando-se arrastar pelo canto das sereias, inúmeras instituições religiosas não têm-se demonstrado firmes o suficiente para manterem a nau cristã no caminho reto do desinteresse material alfabetizando seus alunos humanos com a lógica das leis espirituais, preferindo confundir seus adeptos com a troca de favores ou de interesses, à custa dos quais, conseguirão ingresso nas vantagens do Céu.
Jesus deixara muito claro essa questão falando sobre as dificuldades dos ricos ingressarem no Reino de Deus, através da história do Jovem Rico relatada em Mateus, capítulo 19, versículos 16 a 24:
16    E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna?
17    E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Nâo há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar nu vida, guarda os mandamentos.
18    Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho;
19    Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.
20    Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?
21    Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.
22    E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.
23    Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus.
24    E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.
Obviamente, querido (a) leitor (a), não se pode atribuir ao Cristo qualquer tipo de preconceito contra este ou aquele, notadamente porque, em suas condutas, Jesus jamais deixou de se acercar de pobres e ricos, virtuosos e pecadores.
O que se entende dessas palavras, no entanto, é que aqueles que já se entregaram ao reino do mundo desfrutando suas benesses e facilidades, raramente estão dispostos a abdicar de tudo o que lhes garante superioridade, respeito, admiração ou inveja alheia para, por vontade própria, caminhar na direção oposta, enfileirando-se com os desprezados, com os derrotados, com os que não são admirados. As lutas que o reino do mundo impõem aos seus adeptos ou seguidores são demasiadamente atrozes para que alguém que já tenha conquistado algumas de suas regalias se disponha a se desfazer delas.
Observem-se as condutas das personagens desta história. As derrocada material pelo insucesso do negócio, a perda da fonte de abastecimento fácil, a necessidade de procurar trabalho digno para a conquista do salário decente, a perda do luxo representaram para a maioria deles um retrocesso inconcebível.
Boa parte preferiu embrenhar-se no cipoal do crime ou mergulhar no lodo da depravação para garantir as aparências do mundo. Fugir da vergonha, aliar-se com outros poderosos, procurar favores à sombra dos endinheirados, agredir aqueles que já não lhes podem sustentar os prazeres, são comportamentos comuns à maioria dos que já se vestiram das púrpuras ilusórias, nas opulências levianas de um mundo de ostentação e superficialidades, aparências e mentiras.
Como aceitarão uma mudança tão radical em seu estilo de vida?
A evolução coloca os alunos diante das provas necessárias, tanto para a avaliação de suas conquistas quanto para a demonstração de suas fragilidades. No primeiro caso, o acerto e a correção de condutas revelam um aprendiz capacitado, que assimilou as lições que lhe foram ministradas. No segundo caso, a reação rebelde, agressiva ou leviana se incumbe de demonstrar o despreparo do aluno e, então, sua urgente necessidade de lições mais eficazes na construção do abecedário divino dentro da alma.
Livro Herdeiros do Novo Mundo, cap. 31, Espírito Lúcius – psicografia de André Luiz Ruiz.

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