domingo, 16 de março de 2014

SOBRE AS ALMAS GÊMEAS

Por Carlos Augusto Abranches

Dizem os conformados, com um leve toque de humor, que há três mulheres na vida de cada homem: a que ele ama, a que o ama e aquela com quem ele acaba se casando. Acredito que para a mulher, a mesma situação se repete. Se o ato de casar para alguns é somente uma forma de evitar a solidão, para outros significa avanço natural do fenômeno do amor e, para terceiros, acaba sendo verdadeira expiação, a durar por longo tempo.
Na vida de muitos, todavia, a grande questão existencial está em encontrar a tão esperada alma gêmea. Há os que acreditam na eleita e no eleito, que chegarão um dia pelas vias do destino. Alguns dedicam tanto tempo à procura que, cansados de não encontrar a(o) parceira(o) ideal, passam a zombar da vida, desiludidos. Outros encontram dezenas delas(es) e, a cada nova conquista, percebem que a anterior não era bem aquilo que esperavam, transferindo para a próxima todos os anseios de um coração imaturo, ainda sem estrutura para aprofundar sentimentos e consolidar afetos reais.

A pergunta a se fazer nesta circunstância é esta: diante do homem em elaboração que ainda somos, em processo de crescimento rumo à integridade plena do ser, estamos preparados para conviver em absoluta harmonia com nosso ser amado? Levando-se em consideração a herança de vidas anteriores, em que nem sempre fomos felizes nas relações amorosas, merecemos essa convivência, nós que ainda não aprendemos a dizer com disposição um "bom dia" para o vizinho?

Os Espíritos nos orientam a voltar um pouco a atenção para nossas tendências de caráter emocional e observar se, nos meandros da conduta particular, ainda tropeçamos na falta de equilíbrio emotivo, dando mostras claras de que estamos longe da possibilidade de desfrutar integralmente de uma relação plenamente afim, por falta de lastro evolutivo em termos espirituais.

É óbvio que existem casais felizes, fortalecendo vínculo através do tempo, relacionamento que nos serve inclusive de lição, para que aprendamos como agir, de nossa parte, junto ao parceiro que elegemos para a partilha das horas.

Uma certeza, porém, o Espiritismo nos traz: a de que se vencermos a dura batalha das diferenças pessoais com os que estão sempre conosco, estaremos preparando terreno para o começo de um convívio repleto de paz e felicidade, em futuro próximo. Que não se despreze aqui a decisão, muitas vezes dolorosa, do divórcio que, em determinadas circunstâncias, é a única alternativa para se evitar o agravamento da situação conjugal.
O Espírito Maia de Lacerda, no livro Seareiros de Volta, pg. 159, faz uma afirmação esclarecedora e corajosa. Ele diz que "é necessário meditar no estudo da afinidade sexual e espiritual, porquanto muitos irmãos, além de adotarem o comportamento de lesar almas dignas que lhe merecem a afeição, se desvairam à procura de outros parceiros de novidade emotiva, interrompendo serviços absolutamente imprescindíveis para eles no quadro da reencarnação, com a desculpa de haverem encontrado afinidades queridas do passado ou Espíritos eleitos pelo destino, fantasiando aventuras perniciosas com o rótulo de conquistas superiores que ainda não fizeram por merecer".

Pensemos um pouco nisso, para avaliar com maior profundidade se temos encontrado boas soluções para melhorar nossos relacionamentos.

Carlos Augusto Abranches é escritor e jornalista.

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