Por Alexandre Fontes da Fonseca
“Dada
a vossa constituição física, a carne alimenta a carne, do contrário o homem
perece. A lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que mantenha suas
forças e sua saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois, tem que se
alimentar conforme o reclame a sua organização”.
(Sociedade de Paris, 4 de Julho de 1863. Médium: Sr. A. Didier)
O sacrifício da carne foi severamente condenado pelos grandes filósofos
da antiguidade. O Espírito elevado revolta-se à idéia de sangue e, sobretudo, à
idéia de que o sangue é agradável à Divindade. E notai bem, que aqui não se
trata de sacrifícios humanos, mas unicamente de animais oferecidos em
holocausto. Quando o Cristo veio anunciar a Boa-Nova, não ordenou sacrifícios
de sangue: ocupou-se unicamente do Espírito. Os grandes sábios da antiguidade
igualmente tinham horror a estas espécies de sacrifícios e eles próprios só se alimentavam
de frutos e raízes. Na terra os incarnados têm uma missão a cumprir: têm o
Espírito que deve ser nutrido pelo Espírito, o corpo com a matéria; mas a
natureza da matéria influi - compreende-se facilmente - sobre a espessura do
corpo e, em consequência, sobre as manifestações do Espírito. Os temperamentos
naturalmente muito fortes para viver como os anacoretas5 fazem bem, porque o esquecimento da carne leva
mais facilmente à meditação e à prece. Mas para viver assim, geralmente seria
necessária de uma natureza mais espiritualizada que a vossa, o que é impossível
com as condições terrestres. E como, antes de tudo, a natureza jamais age contra o bom
senso, é impossível ao homem submeter-se impunemente a essas privações. Pode
ser-se bom cristão e bom espírita e comer a seu gosto, desde que seja razoável. É uma
questão algo leviana para os nossos estudos, mas não menos útil e proveitosa". (os grifos são nossos).
Essa mensagem explica que a dieta sem o uso da carne é melhor, pois isso “leva mais
facilmente à meditação e à prece”.Isso aconteceria, pois, segundo Lamennais, a
natureza da matéria influi nas manifestações do Espírito. Podemos comparar a
situação com os vícios. Aquele faz uso de uma droga, por exemplo, impregna seu
perispírito de vibrações que limitarão suas manifestações no mundo espiritual.
Da mesma forma, o uso de uma dieta menos carnívora torna o perispírito menos
“espesso” (usando aqui uma palavra que Lamennais usou no texto) o que permite
que ele tenha mais facilidade em elevar seu pensamento em prece.
Porém, Lamennais, de modo responsável, deixou claro
que a dieta vegetariana dependeria do aprimoramento espiritual da nossa
Humanidade terrestre, o que ainda não ocorre. Daí adverte que “a natureza
jamais age contra o bom senso, é impossível ao homem submeter-se impunemente a
essas privações”. Por isso a questão 723 acima não condena o uso da carne.
Sobre privações, a questão 724 do Livro dos Espíritos3 recomenda:
“Sim, se praticar essa privação em benefício dos outros. Aos olhos de Deus, porém, só há mortificação, havendo privação séria e útil. Por isso é que qualificamos de hipócritas os que apenas aparentemente se privam de alguma coisa”.
Portanto, a recomendação de Emmanuel e André Luiz é
válida e está de acordo com o Espiritismo, mas não deve ser considerada uma
exigência para a realização de um bom trabalho espírita ou uma boa reunião
mediúnica. Lembremos, afinal, que Jesus em Mateus, Cap. 15 e vers. 11 disse
que: "Não é o que entra pela boca que contamina o homem; mas o que sai da
boca, isso é o que o contamina”.E, para aprimorar o que sai de “nossa boca” e
de nossos atos, devemos nos esforçar pela reforma íntima e no estudo
doutrinário.
[2]
André Luiz, psicografia de F. C Xavier, Missionários
da Luz, FEB, 26ª Edição (1995).
[3]
A. Kardec, O Livro dos
Espíritos, Editora FEB, 76a Edição, (1995).
[4]
Lamennais, Revista Espírita Dezembro, pp. 387—388 (1863).
[5]
Anacoreta é uma pessoa que se retira a um local isolado para dedicar-se a
meditação e oração.
[6] D. P. Franco e J. R. Teixeira, Diretrizes
de Segurança, Editora FRATER, 8ª Edição (2000).
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